Uma noite não é o bastante
Uma noite não é o bastante
Por: Silvana Barbosa
Capítulo 1

Stephen James Beckinsale deu uma boa espiada na fachada do bar na outra calçada e parou um instante, estudando o ambiente. A maior parte do grupo formado pelo pessoal do escritório já atravessava a rua e se aglomerava na porta de entrada. As letras grandes e luminosas anunciavam o lugar como “O Encanto da Lua”, enquanto letras menores, piscando, faziam alarde de “música ao vivo todas as noites”. Stephen sorriu, imaginando o que haveria lá dentro, e, com seu português ainda carregado de sotaque nova-iorquino, indagou ao colega que estava mais próximo dele, o gerente administrativo Ethan Owerton:

— É isto que os brasileiros chamam “pé sujo”, Ethan?

Ethan soltou uma risada alta. Já vivia no Brasil há três anos, então estava mais do que familiarizado com gírias e ambientes locais, e divertiu-se com a expressão pejorativa na boca de seu amigo e conterrâneo. O novo diretor executivo, Stephen, havia chegado cerca de três meses antes, dos Estados Unidos, aonde se situava a matriz da White Corp, e apesar de toda a afabilidade e integração imediata com o pessoal da empresa de comunicação, pela primeira vez aceitava sair com os colegas, embora houvesse recebido inúmeros convites anteriormente para participar da happy hour semanal. O executivo devia estar achando que estava sendo levado para a maior “roubada” de sua vida nesse momento, e que os companheiros o traziam para um ambiente sujo e mal frequentado.

— Não, não é um botequim “pé sujo”, apesar de estar escrito “bar” na porta. Fique tranquilo, vai gostar. Sei que está acostumado a ambientes mais requintados, mas hoje viemos relaxar, não degustar um jantar cinco estrelas regado a vinhos de safras especiais!  

Stephen deu de ombros. Agora era tarde para voltar atrás, e não tinha escolha a não ser entrar no jogo.

— Vamos lá, chefe! — gritaram, animadamente, duas funcionárias brasileiras, da área de comunicação digital, Celeste e Débora, já na porta.

— Estou indo — respondeu, abrindo seu sorriso.

— Tsc, tsc, tsc — replicou Ethan, sacudindo a cabeça, bem humorado. — Se abrir esse sorriso de ator de cinema lá dentro, meu amigo, a mulherada vai ficar atrás de você, e perderei minhas chances de arrumar uma gata hoje!

— Não vou atrapalhar, juro! — Riu Stephen.

— Se não queria atrapalhar os outros rapazes, deveria ter vindo de máscara, Stephen. — Brincou Lee Davis, o gerente da área de vendas, também norte americano, residente no Brasil havia aproximadamente um ano.

— Você está falando do quê? Está fora do páreo há seis meses — emendou Ethan, referindo-se ao fato do colega ter se casado seis meses atrás, com uma bela carioca que conhecera apenas dois meses após sua chegada às terras brasileiras.  

— É verdade. Estou bem servido, obrigado! — respondeu Davis, prontamente. — E estou muito agradecido por ter vindo para cá antes do Stephen. Imagine só se ao invés de conhecer-me na praia como aconteceu, Ana conhece o bonitão “sarado” aqui? Pobre de mim...

—“Sarado”, o que é sarado? — Stephen franziu as sobrancelhas, procurando o significado da palavra em sua memória. Havia aprendido o português quase às pressas, em um curso particular e intensivo, e algumas expressões ainda lhe causavam dúvidas.

— É gíria para quem vai à academia, tem corpo forte, blá, blá... Como você, Stephen.

— É, aqui dizem “saradão”, “malhador”.... — o outro amigo completou, rindo.

Stephen riu. Já estava habituado às brincadeiras com seu visual, que o aproximava mais de um modelo surfista do que de um executivo de uma multinacional. De fato estava bem confortável com seus cabelos louros ondulados, a barba clara curta e bem aparada, e os olhos de um azul escuro e profundo. Afinal, as damas norte-americanas simplesmente adoravam sua aparência, e pela reação percebida desde que aportara no Rio de Janeiro, as brasileiras também. E juntando a isso sua boa estrela, era um sucesso com as mulheres.

 Embora Stephen não houvesse usufruído de sua boa sorte com nenhuma brasileira ainda. Simplesmente não se sentira atraído por aquelas a quem havia sido apresentado desde que chegara ao país, nem mesmo com as que ocasionalmente cruzavam com ele em restaurantes e lojas, por mais bonitas que fossem. Os flertes femininos eram correspondidos por mera cortesia, numa demonstração de gentileza masculina que massageava os egos das beldades que lhe dirigiam sorrisos sensuais ou comentários que continham convites implícitos. Contornava o assédio com bom humor, escapulindo diplomaticamente de investidas indesejadas.

 E não iria mais abrir mão de sua vida social só porque sua libido estava estagnada havia meses. Afinal, podia se divertir com seus novos amigos e colegas de trabalho, certo?

Não se incomodava de ficar sozinho. Sempre fora um homem mais preocupado com qualidade do que com quantidade. Sendo assim, esperava pacientemente o momento em que alguma moça realmente lhe chamaria atenção. Então romperia o celibato voluntário a que se entregara desde que Carly saíra de sua vida.  

Mas não pensaria em Carly, nem na decepção que sentira com ela. Era passado. E passado enterrado. Já estava pronto para outra. Só faltava essa outra aparecer.              

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