Stephen apressou-se em pedir o mesmo.
—Tem tempo para sentar-se um pouco? — Stephen empurrou um banquinho na direção dela e sentou-se ao seu lado. Estava encantado de vê-la tão de perto, olhando para ele diretamente. Era mesmo gata! Qual era a expressão de baixo calão que os office-boys da filial São Paulo haviam lhe ensinado, assim que ele aportou no Brasil, para designar mulher bonita ou o que elas faziam os homens sentirem? Pensou um pouco. “Tesão”, era isso, “tesão”. Nada elegante, sabia, mas era uma expressão perfeita para o momento! Aquela mulher era um tesão. O que ele sentia agora? Também tesão.
Serena sentou-se, sem ter muita escolha, enquanto bebericava seu vinho, apertando firme o seu copo. Legal, se safara de Chico e já estava numa situação da qual também queria escapar o mais breve possível. Haveria outro salvador no recinto?
— Não me apresentei diretamente a você, mas certamente ouviu meu nome. Stephen.
— E o meu você já sabe, senhor herói, é Serena.
— Seu herói não quer ser chamado de “senhor”!
Serena deu um sorriso que, tinha certeza, deveria ter saído mais parecido uma careta. Estava muito quente ali ou era impressão sua? Bebeu seu vinho mais rápido.
— Ah, claro... desculpe!
— Vai comer algo, Serena? — indagou Luíza, aproximando-se.
— Não, estou sem fome, obrigada.
— Certo. — A bartender afastou-se novamente.
—Tem certeza que não quer pedir algo para comer? Imagino que gaste muita energia no palco. — Stephen esforçou-se para não descer o olhar para o decote dela, mas percebia a pele morena brilhando com pequenas gotinhas de suor, o que o fez esfregar as mãos nas pernas das calças, ansiosamente, controlando-se para não estender os dedos e tocá-la, conferindo-lhe a temperatura e textura, e enxugar as gotículas. Pior, ainda visualizou estar fazendo isso com a ponta da língua.
— Realmente estou sem apetite no momento. — Na verdade sentia o estômago dando voltas e saltos ornamentais. Estava nervosa, não por causa de Chico e nem do público agitado, mas sim por causa da presença de Stephen.
O executivo percebeu que apesar do tom informal e afável, ela estava tensa, e parecia ansiar por afastar-se dele. Antes que conseguisse entabular uma conversa de verdade, a cantora havia sorvido todo o líquido transparente de seu copo e preparava-se para levantar.
— Precisa voltar já?
Ela não pôde evitar sorrir diante da cara tristonha e do tom de voz suplicante:
— Sinto muito. Meu tempo de descanso acabou. — Apontou para o palco. — De qualquer modo, mais uma vez, obrigada. Realmente não tenho como agradecer a ajuda que me deu hoje.
— Que tal me pagar uma pizza como agradecimento?
— O quê? — Ela surpreendeu-se.
Stephen sorriu. Tinha certeza que se a convidasse de outro modo, ela lhe diria um sonoro “não”, mas com aquela abordagem... quem sabe? Ele repetiu:
— Que tal me pagar uma pizza como agradecimento? Por meu ato de bravura?
Serena deu uma boa risada, daquelas que reviram um homem por dentro. Stephen remexeu-se no assento, ansioso com a resposta que ela daria.
— Não me diga que meu herói não tem grana para uma pizza?
Se ela soubesse que Stephen Beckinsale tinha o mais alto cargo da White na divisão brasileira, que era um dos principais sócios na matriz em Nova Iorque, uma das cabeças mais privilegiadas e bem pagas da empresa, e que fora designado para coordenar as filiais no Brasil todo, não estaria rindo. E o CEO da multinacional não achou favorável contar-lhe sobre seus cargos e atribuições naquele momento. Deu de ombros, fazendo bico como um menino infeliz:
— Para você ver...
— Mas seus amigos da White poderiam pagar, decerto.
Ops! Ele piscou, e pensou rápido:
— Não salvei nenhum deles. Salvei você...
— Não quero parecer mal agradecida, mas... — Ela mordeu o lábio inferior.
Stephen esforçou-se para não enlaçá-la naquele instante e ele mesmo morder aquele lábio. Depois de morder, ele passaria a língua nele, e em seguida... Sacudiu a cabeça, tentando concentrar-se em uma boa coisa a dizer e convencê-la a sair com ele. Procurou manter uma expressão bem inofensiva ao insistir:
— Só a pizza, juro. Bem, talvez um refrigerante também... Só isso, sem grandes prejuízos. E você escolhe o local, o mais... — Pensou um instante, e completou, com um sorriso inocente —, o mais barato.
Ela sorria, mas sua cabeça balançava negativamente.
— Ah, Serena, uma pizza não custa tão caro! E não se esqueça que seu amigo grandão ali vai ficar te observando para ver se saiu mesmo comigo ou se estava mentindo... — Apontou para o homem alto que os olhava discretamente a um canto.
— Hum... — Era verdade, mas também havia um tantinho de chantagem ali.
— Sou inofensivo, garanto.
Serena pensou um pouco. Nenhum funcionário da White Corp jamais havia se excedido nos modos dentro do bar, sempre pagavam corretamente, e eram educados com os funcionários, dos garçons até o gerente. Supôs que o bonitão ao seu lado também seria cortês. Afinal, que mal poderia haver em dividir uma pizza? Invariavelmente saía do trabalho com fome, e nunca havia nada interessante para comer no apartamento que dividia com Luíza e Joana. Além disso, Stephen não poderia fazer nada maluco dentro de uma pizzaria, poderia?
— Jure que não vou me arrepender disso.
— Palavra de super-herói! — Ele levou a mão ao peito.
— Vai mesmo me esperar?
— Com certeza. — A bela ainda tinha dúvidas?
— Olha, super-gringo, só uma pizza, heim?
— Combinado!
Ela sorriu, e se afastou em direção ao palco, balançando suavemente os quadris.
Stephen acompanhou, hipnotizado, os movimentos dela, com um sorriso preso nos lábios.
— Olha aqui, rapaz! — chamou Luíza.
Ele voltou-se, sobressaltado, na direção da ruiva do balcão.
— Sim?
— Não me importa a sua cara de anjo simpático. Se fizer besteira, eu, os seguranças e os caras da banda, faremos picadinho de você. E vamos começar nas partes baixas, para doer mais, então comporte-se!Stephen pensou em rir, mas o tom de voz da moça não era nada brincalhão. ****As pessoas adoravam um Revival, e Serena adorava dar isso a elas. Mesclava músicas do anos 80, 90 e 2000, e o público vibrava!Serena cochichou com seus amigos da banda, trocando algumas ideias, e logo em seguida tomou assento em seu banquinho mais uma vez. Começou cantando “Trouble” (encrenca), da cantora Pink, sorrindo e se balançando sobre o assento. Encontrou o olhar de Stephen e fez um movimento divertido com as sobrancelhas e os olhos, cantando diretamente para ele, com um sorriso ainda mais peralta do que antes, ao brincar sobre compromisso na canção anterior. Os colegas em volta de Stephen logo captaram a comunicação entre a cantora e
Quando chegou a vez da última canção, “Kiss”, Stephen sentiu-se tremer, e logo o corpo começou a ficar tenso. A música era muito sexy, e o baixista de longos cabelos negros e traços angulosos, que havia emprestado o chapéu anteriormente a Serena se aproximou para fazer uma coreografia sensual com ela, abandonando seu instrumento. O americano nunca sentiu tanta apreensão ao ouvir a melodia de Prince como naquele momento.— Ela vai beijar o Diogo, aquele ali com cara de índio, mas não fique aborrecido. Ele é só um amigo. Nós aqui somos todos muito “amigos”.Stephen voltou-se imediatamente para encarar o homem que estava falando com ele num tom de clara provocação. Era o tal Chico, e o executivo não se surpreendeu. Não sabia exatamente o que acontecia entre o segurança e Serena, e o que de fato interrompera, mas podia detectar uma moça em apuros a quilômetros de distância, e isso era bem óbvio pela expressão corporal dela e seu olhar ansioso. Ela pedia ajuda, e Stephen a atendeu prontame
— Você só canta em inglês?— Não. Atendo a demanda dos clientes. Seu pessoal, por exemplo, ama o repertório em inglês, o que era de se esperar, tendo em vista a maioria ter nascido nos Estados Unidos, então gostam de vir às sextas, quando sua música é a mais tocada. Amanhã percorro os ritmos latinos, canto de Santana a Buena Vista Social Club. Domingo é dia de música romântica, de qualquer nacionalidade, e uma amiga nos acompanha com seu sax.Stephen a olhou intensamente, enquanto ela estava distraída, pondo mais refrigerante no copo. Imaginou-se ouvindo as canções românticas na voz de Serena. Mais do que isso, imaginou-se dançando com ela, inclinando-a num tapete felpudo com baladas famosas tocando ao fundo, enquanto faziam amor e ela gemia em seus braços.— Às segundas eu e os meninos descansamos, graças a Deus, sendo substituídos por um pessoal bem legal do samba, e nos outros dias, prevalece a MPB. Mas geralmente dou uma canja para o público, e atendo a pedidos. — ela cortou mais
Decidindo abandonar a tentativa de levá-la para uma sessão particular de música em seu apartamento, pelo menos por enquanto, mudou de assunto, aproveitando que ela não o rechaçara por completo:— Você não costuma beber álcool? — Tomou um gole de seu saboroso chopp. Estava um pouco curioso, pois a vira beber vinho antes, mas recusara bebida alcoólica veementemente quando fizeram seus pedidos na pizzaria.— Só com meus amigos, ou quando estou sozinha em minha casa.— Por quê? — Surpreendeu-se. — Você é fraca para bebidas?— Não, a questão não é bem essa...— E qual é?— Prefiro manter-me bem sóbria quando não piso em terreno firme.— Acho que estou um pouquinho ofendido com essa resposta... Serena fitou o homem estrangeiro. Gostava de olhar nos olhos da pessoa com quem falava, e aparentemente ele também fazia uso desse recurso, que testava tanto a sinceridade quanto a índole do interlocutor. Não o conhecia o bastante, mas uma coisa parecia bem clara: não era um homem que precisasse us
Serena soltou suas mãos da pressão dele.— Isso que você está falando é ridículo — resmungou.— Não. Acha que é o primeiro cliente bonitão que me cerca? Já trabalho cantando faz tempo, senhor Stephen, e já passei por isso antes! Fiz algumas tentativas com uns rapazes que me admiravam no bar, todas com péssimo resultado para mim. Eu sofri, me senti humilhada. Essa é a razão pela qual não fico de conversa com os clientes. Não saio com eles. Nem mesmo procuro fazer amizade com eles. Não funciona. Os homens sempre confundem tudo.— Você não pode me comparar a outros homens!Serena deu um sorriso sem alegria, e suspirou:— É seu instinto de macho alfa falando, o predador que existe no ser humano tem necessidade de vencer quando se sente provocado, e admito que muito do meu repertório é bem provocante, então posso representar um desafio. Mas garanto que se você apenas passasse por mim pela rua, mal me olharia. Além do mais, todos sabem que depois que um desafio é vencido, acaba a graça.Ste
Podia ficar durante toda a noite conversando com Serena. Sim, conversando. Poderia se contentar com isso. Não para sempre, evidente, mas podia esperar até que ela confiasse nele o bastante para entregar seu corpo, e com um pouco de sorte, talvez também o coração. Em troca poderia dar-lhe o seu. Por que não? Afinal, estava morando no Brasil, não havia nenhuma previsão — e nem vontade — de retornar aos EUA, já vira em cada uma das filiais espalhadas pelas terras tupiniquins, casamentos ou uniões de sucesso entre norte-americanos e brasileiras, então por que não arriscar também? Serena era realmente tudo que ele havia dito antes, bonita, esperta, divertida. E devia ser um furacão na cama. Se ele soubesse conduzir as coisas do modo certo, talvez em um mês ou dois estivessem morando juntos, sob o mesmo teto. Seria fantástico! — Acho que devemos ir, antes que os funcionários nos expulsem. — Stephen pediu a conta e pagou. Olhou Serena intensamente. — Da próxima vez a levarei a um cinco
— Mas... não vá pensar que vai dormir comigo na minha cama, entendido?— Bem entendido! — Deu um grande sorriso.— Você vai dormir na sala — insistiu Serena, desconfiada do sorriso dele.— Claro.Não havia dúvidas que era um apartamento feminino, até o aroma indicava isso, bem como os toques pessoais de cada moradora. Serena já havia dito que dividia o lar, e as despesas, com as duas amigas do bar, mesmo assim ele se surpreendeu que fosse tão aconchegante e arrumado. As garotas eram organizadas e caprichosas com a decoração, apesar de Stephen perceber que era um local modesto. Registrou a informação de que elas não deviam ganhar um salário alto, e provavelmente precisavam abrir mão de várias coisas que desejariam, somente para manter um teto sobre suas cabeças.A criatividade ali suplantava o luxo. Mas era eficiente, e ele apreciava isso.Se a história com Serena vingasse, e ele estava disposto a empenhar-se nisso, poderia ajudar com as despesas sem que isso as insultasse? Afinal, com
Afastaram a mesinha de centro da sala, arrumaram os cobertores sobre o tapete, improvisando uma cama macia, larga e convidativa.— O albergue está pronto! — ela anunciou, pondo as mãos na cintura e apreciando seu trabalho.— Ficou ótimo! — Stephen tirou a blusa de botões rapidamente, ficando apenas com a camiseta de malha que usava por baixo. Por um momento Serena manteve a respiração suspensa, ao vê-lo abrir os botões da camisa. Ficou um pouco decepcionada por ele estar usando outra peça por baixo, mas julgou que assim era melhor. Mais seguro para a saúde dela, certamente, afinal estava com taquicardia só de imaginá-lo de dorso nu, imagine se o visse despido de fato? Falta de ar, gagueira e infarto, certamente! — Eu... estou suada, sabe? E preciso de um banho! — Precisava escapar da presença dele, antes que fizesse uma tolice.Stephen voltou-se para ela, tão rápido como um tigre, os olhos azuis arregalados. Lambeu o lábio inferior, involuntariamente, imaginando-a nua no chuveiro,