Capítulo 7

Stephen apressou-se em pedir o mesmo.

—Tem tempo para sentar-se um pouco? — Stephen empurrou um banquinho na direção dela e sentou-se ao seu lado. Estava encantado de vê-la tão de perto, olhando para ele diretamente. Era mesmo gata! Qual era a expressão de baixo calão que os office-boys da filial São Paulo haviam lhe ensinado, assim que ele aportou no Brasil, para designar mulher bonita ou o que elas faziam os homens sentirem? Pensou um pouco. “Tesão”, era isso, “tesão”. Nada elegante, sabia, mas era uma expressão perfeita para o momento! Aquela mulher era um tesão. O que ele sentia agora? Também tesão.

 Serena sentou-se, sem ter muita escolha, enquanto bebericava seu vinho, apertando firme o seu copo. Legal, se safara de Chico e já estava numa situação da qual também queria escapar o mais breve possível. Haveria outro salvador no recinto?

— Não me apresentei diretamente a você, mas certamente ouviu meu nome. Stephen.

— E o meu você já sabe, senhor herói, é Serena.

— Seu herói não quer ser chamado de “senhor”!

Serena deu um sorriso que, tinha certeza, deveria ter saído mais parecido uma careta. Estava muito quente ali ou era impressão sua? Bebeu seu vinho mais rápido.

— Ah, claro... desculpe!

— Vai comer algo, Serena? — indagou Luíza, aproximando-se.

— Não, estou sem fome, obrigada.

— Certo. — A bartender afastou-se novamente.

—Tem certeza que não quer pedir algo para comer? Imagino que gaste muita energia no palco. — Stephen esforçou-se para não descer o olhar para o decote dela, mas percebia a pele morena brilhando com pequenas gotinhas de suor, o que o fez esfregar as mãos nas pernas das calças, ansiosamente, controlando-se para não estender os dedos e tocá-la, conferindo-lhe a temperatura e textura, e enxugar as gotículas. Pior, ainda visualizou estar fazendo isso com a ponta da língua.

— Realmente estou sem apetite no momento. — Na verdade sentia o estômago dando voltas e saltos ornamentais. Estava nervosa, não por causa de Chico e nem do público agitado, mas sim por causa da presença de Stephen.    

O executivo percebeu que apesar do tom informal e afável, ela estava tensa, e parecia ansiar por afastar-se dele. Antes que conseguisse entabular uma conversa de verdade, a cantora havia sorvido todo o líquido transparente de seu copo e preparava-se para levantar.

— Precisa voltar já?

Ela não pôde evitar sorrir diante da cara tristonha e do tom de voz suplicante:

— Sinto muito. Meu tempo de descanso acabou. — Apontou para o palco. — De qualquer modo, mais uma vez, obrigada. Realmente não tenho como agradecer a ajuda que me deu hoje.

— Que tal me pagar uma pizza como agradecimento?

— O quê? — Ela surpreendeu-se.

Stephen sorriu. Tinha certeza que se a convidasse de outro modo, ela lhe diria um sonoro “não”, mas com aquela abordagem... quem sabe? Ele repetiu:

— Que tal me pagar uma pizza como agradecimento? Por meu ato de bravura?

Serena deu uma boa risada, daquelas que reviram um homem por dentro. Stephen remexeu-se no assento, ansioso com a resposta que ela daria.

— Não me diga que meu herói não tem grana para uma pizza?

Se ela soubesse que Stephen Beckinsale tinha o mais alto cargo da White na divisão brasileira, que era um dos principais sócios na matriz em Nova Iorque, uma das cabeças mais privilegiadas e bem pagas da empresa, e que fora designado para coordenar as filiais no Brasil todo, não estaria rindo. E o CEO da multinacional não achou favorável contar-lhe sobre seus cargos e atribuições naquele momento. Deu de ombros, fazendo bico como um menino infeliz:

— Para você ver...

— Mas seus amigos da White poderiam pagar, decerto.

Ops! Ele piscou, e pensou rápido:

— Não salvei nenhum deles. Salvei você...          

— Não quero parecer mal agradecida, mas... — Ela mordeu o lábio inferior.

Stephen esforçou-se para não enlaçá-la naquele instante e ele mesmo morder aquele lábio. Depois de morder, ele passaria a língua nele, e em seguida... Sacudiu a cabeça, tentando concentrar-se em uma boa coisa a  dizer e convencê-la a sair com ele. Procurou manter uma expressão bem inofensiva ao insistir:

— Só a pizza, juro. Bem, talvez um refrigerante também... Só isso, sem grandes prejuízos. E você escolhe o local, o mais... — Pensou um instante, e completou, com um sorriso inocente —, o mais barato.

Ela sorria, mas sua cabeça balançava negativamente.

— Ah, Serena, uma pizza não custa tão caro! E não se esqueça que seu amigo grandão ali vai ficar te observando para ver se saiu mesmo comigo ou se estava mentindo... — Apontou para o homem alto que os olhava discretamente a um canto.

— Hum... — Era verdade, mas também havia um tantinho de chantagem ali.

— Sou inofensivo, garanto.

Serena pensou um pouco. Nenhum funcionário da White Corp jamais havia se excedido nos modos dentro do bar, sempre pagavam corretamente, e  eram educados com os funcionários, dos garçons até o gerente. Supôs que o bonitão ao seu lado também seria cortês. Afinal, que mal poderia haver em dividir uma pizza? Invariavelmente saía do trabalho com fome, e nunca havia nada interessante para comer no apartamento que dividia com Luíza e Joana. Além disso, Stephen não poderia fazer nada maluco dentro de uma pizzaria, poderia?

— Jure que não vou me arrepender disso.

— Palavra de super-herói! — Ele levou  a mão ao peito.

— Vai mesmo me esperar?

— Com certeza. — A bela ainda tinha dúvidas?

— Olha, super-gringo, só uma pizza, heim?

— Combinado!

Ela sorriu, e se afastou em direção ao palco, balançando suavemente os quadris.

Stephen acompanhou, hipnotizado, os movimentos dela, com um sorriso preso nos lábios. 

— Olha aqui, rapaz! — chamou Luíza.

Ele voltou-se, sobressaltado, na direção da ruiva do balcão.

— Sim?

    

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