Foram duas semanas estranhas e difíceis. Falar com o padre João sobre o casamento apressado e a razão deste, havia sido mais fácil do que Serena esperava.O pároco era um homem amigável, e sua paróquia possuía muitos jovens. Estava habituado a ouvir muitas confissões sobre pecados da carne, e não julgava mal seu rebanho, embora isso não significasse aprovar suas escolhas, se elas quebravam as normas bíblicas estabelecidas. Com bondade ouviu Stephen e Serena, não condenou seus atos, e ainda deixou o casal bem à vontade para escolher a data e horário para seu enlace, segundo a disponibilidade da igreja. E felicitou-os calorosamente pelo bebê, convidando-os a voltar a frequentar as missas, imediatamente. Com os pais de Serena não foi tão simples. O pai teve uma reação áspera à notícia da gravidez, e à mãe se encheram de lágrimas os olhos, embora, Serena suspeitasse, fosse mais pela emoção de saber que seria avó em poucos meses do que pela perda da suposta virgindade da filha. Porque do
Ele sabia que algo estava errado. Havia conseguido superar a frustração que sentira quando Serena negou-se a mudar-se para o apartamento do Leblon antes do casamento, dando a desculpa de que ficaria sozinha durante o dia todo lá, enquanto que em Vila Isabel teria a companhia das amigas. Tudo bem. Stephen relevou. Como não poderia? Pressentiu uma discussão se insistisse. E já haviam discutido o suficiente antes, o que definitivamente não podia ser saudável para seu filho.Gui havia lhe avisado que as mulheres grávidas ficavam mais sensíveis. Felizmente Serena não ficara agressiva. Mas estava muito calada e era impossível ignorar seus olhos tristes. No entanto, quando ele perguntava sobre como ela estava se sentindo, Serena se esquivava, evitando conversar, alegando não existir qualquer problema.Stephen não podia negar que era muito cômodo acreditar no que ela dizia, e deixar o assunto de lado, quando já tinha tantas preocupações com seu trabalho, e com a correria para os últimos ajust
Enquanto ele observava Serena, sua paixão, sua vida, ouvia agora a voz de Lipe, cantando uma canção brasileira sobre a necessidade de amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Era isto mesmo. E admirar aquela mulher, a “sua” mulher, com seu filho no ventre que já se destacava, “seu” menino, como o médico informara no dia mágico em que acompanhara Serena para fazer as ultrassonografias de praxe, dava-lhe um orgulho de macho, absolutamente ancestral.Sentira o coração transbordar naquele momento, certamente como sentiria se ao invés de avisar “É um cavalheiro”, o doutor houvesse informado “É uma dama!”. Não era o sexo da criança o mais importante, mas sim o fato de ver o bebê se mexendo pela tela, de ter a verdadeira e real noção de que afinal de contas, ele e Serena haviam gerado um outro ser vivo! Era fantástico! Um milagre!E a moça sentada na cadeira era um milagre à parte, também. Ela o havia amado, o aceitado, e gerava seu bebê mesmo achando que havia sido traída e abandonada.
— Sabemos o suficiente um do outro! — Ele retrucou, exasperado. Passou as mãos nos cabelos, num gesto impaciente. — E já disse que lamento sobre a minha demora e sobre como se sentiu a respeito. Terei que pedir desculpas o resto da vida?— Não. Não terá. — Os ombros de Serena caíram subitamente.Stephen a observou. Parecia mais cansada que antes, e sua aparência frágil o emocionou e atraiu. Aproximou-se dela e curvou o rosto para beijá-la.Mas, Serena desvencilhou-se.— Não, Stephen. Pare. Já deu. O tom de voz o alarmou. Já deu? O que?Serena não o encarou, mas tornou a falar:— Você não precisa mais pedir desculpas, e nem eu. Isso não tem sentido. Nada disso tem. Nem esse casamento por obrigação.— O que quer dizer?— Que devemos cancelar o casamento antes que as coisas fiquem realmente ruins entre nós. Não estamos no século XV, quando as pessoas se casavam para salvar as aparências, ou por causa de alguma promessa feita no calor da paixão. Sabemos que foi isso, não é, Stephen? Você
— Mamãe!O menino de um ano e meio gritou quando viu a imagem da mãe na televisão.— Sim, é a mamãe. — Stephen respondeu, deitado na cama com o filho que apontava o dedinho gorducho excitadamente — A mamãe é gostosa.Na tela, Serena cantava Cry For Me , de The Weeknd, à frente da banda Paraíso, usando uma calça colante e uma blusa com decote generoso. Stephen sentia salivar cada vez que via a esposa em trajes provocantes. Estava ainda melhor depois da maternidade, com as formas mais arredondadas.— Mamãe gos... gos... — o pequeno tentava repetir a palavra dita pelo pai.— Shhh... não, Lucas. Acho que mamãe não vai gostar que você repita isso — Stephen sorriu e puxou o filho para mais perto dele, distraindo-o com cócegas.O menino começou a rir às gargalhadas.— Do que vocês estão rindo? — perguntou Serena, entrando no quarto e sentando na beira da cama: — Oba! Vamos fazer cosquinhas nesse menino bonito!Juntou-se a Stephen, fazendo cócegas em Lucas.— Ele viu você na chamada para o “D
Sou a Silvana Barbosa, formada em Administração de Empresas, carioca, casada, mãe de dois rapazes, dona de dois cachorros impossíveis, sagitariana, torcedora do Fluminense e do Salgueiro, e autora de histórias românticas desde 2016 quando me lancei no mercado com dois romances de época: "Por você", primeiro livro da série Libertinos, histórias narradas no Reino Unido entre o período regencial e vitoriano e "Olhos de mel, lábios de fogo" onde se desenvolve o difícil relacionamento amoroso de Jean Pierre e camille, no cenário da França do século dezoito. Ainda de forma independente lancei outras histórias, contos e novelas, contemporãneos, fantasia e históricos, e publiquei também de forma impressa com três editoras. A série Libertinos e Olhos de mel, lábios de fogo podem ser adquiridos facilmente em suas versões impressas, além de haver a disponibilidade de leitura digital para quarenta e três obras de minha autoria. Aqui na Buenovela também publiquei A boa garota do policial, uma t
Stephen James Beckinsale deu uma boa espiada na fachada do bar na outra calçada e parou um instante, estudando o ambiente. A maior parte do grupo formado pelo pessoal do escritório já atravessava a rua e se aglomerava na porta de entrada. As letras grandes e luminosas anunciavam o lugar como “O Encanto da Lua”, enquanto letras menores, piscando, faziam alarde de “música ao vivo todas as noites”. Stephen sorriu, imaginando o que haveria lá dentro, e, com seu português ainda carregado de sotaque nova-iorquino, indagou ao colega que estava mais próximo dele, o gerente administrativo Ethan Owerton:— É isto que os brasileiros chamam “pé sujo”, Ethan?Ethan soltou uma risada alta. Já vivia no Brasil há três anos, então estava mais do que familiarizado com gírias e ambientes locais, e divertiu-se com a expressão pejorativa na boca de seu amigo e conterrâneo. O novo diretor executivo, Stephen, havia chegado cerca de três meses antes, dos Estados Unidos, aonde se situava a matriz da White Cor
Os três homens atravessaram a rua para juntar-se ao restante do grupo, que havia entrado no bar. Assim que Davis empurrou a porta de vidro blindado, a música vinda de dentro envolveu Stephen até os ossos.O interior do bar não era muito iluminado, como seria mesmo de imaginar em um ambiente com música ao vivo, mas era bem amplo, limpo e charmoso. Havia muitas mesinhas espalhadas pelo local, todas ocupadas, e uma pista de dança próxima ao palco baixo, onde uma banda tocava ao fundo, sob pequeninas lâmpadas coloridas de neon. À frente dos músicos, sentada num banco alto, estava a cantora, com um foco de mínima intensidade sobre o microfone diante dela, criando um efeito de luz e sombra que remetia a uma boate antiga de subúrbio, dos anos trinta ou quarenta. Era perfeito para a melodia que estava sendo cantada: Smooth operator.Havia um pouco de neblina, efeito criado por gelo seco, e só faltava o aroma de cigarro para lançar a todos, por completo, no clima íntimo e ligeiramente transgre