Capítulo 6

Serena saiu do banheiro de senhoras já sentindo-se melhor, após lavar o rosto, molhar os pulsos e prender os cabelos. Caramba, sentia-se quente, muito quente. E não era por causa da dança, e nem porque o local estava abafado e cheio, nada disso. Ela sabia muito bem qual a razão de estar afogueada, e era aquele deus louro sentado a um canto do bar. Mas não se deixaria abalar por isso, beberia alguma coisa e voltaria ao palco para finalizar sua apresentação. Mal alcançou o corredor e foi abordada por Francisco. Deu um pulo para trás, de susto.

— Chico! Quase me mata do coração!

— Desculpe. Queria falar com você, gata. Você está me evitando a semana toda!

Serena apressou o passo para sair logo do corredor apertado, sendo seguida de perto pelo colega de trabalho. Tudo o que ela menos queria agora era lidar com Francisco, ou Chico — como todos costumavam chamá-lo — um dos segurança-faz-tudo do bar, com quem mantivera um relacionamento amizade-caso. Ficaram juntos algumas vezes, numa época em que sentiam-se muito solitários. Ela sabia muito bem que Chico havia terminado um namoro há algumas semanas e agora queria afogar a dor da rejeição nos braços dela. Só que Serena não desejava mais esse tipo de relação. Na verdade pressentia que o amigo sentia algo mais por ela do que uma simples vontade de fazer sexo para aliviar as tensões.

E ela nem atração física sentia mais por Chico, apesar da beleza negra e máscula, da voz potente e sedutora. Há vários meses não ficavam juntos, e das duas ou três vezes em que acontecera um ato completo, não tinha sido nada ruim, mas agora não havia mais clima, e não queria que a coisa se repetisse. Sentia-se estranha ultimamente, como se algo lhe faltasse. Faltava mesmo, ela sabia, faltava-lhe amor, e as desilusões que sofrera até hoje já eram mais do que suficiente para indicar que ela não tinha muita sorte na área. Porém uma noite na cama de um colega não melhorava a situação em nada, ainda por cima se ele se apaixonasse, e ela não. Aí seria mesmo a gota d’água, pois azedaria uma amizade antiga e tornaria péssimo o clima no bar, um lugar onde amava trabalhar, e que considerava como seu lar.

Apesar de toda a intimidade com Chico, não sabia exatamente o que dizer para ele, qual desculpa usar para livrar-se do acordo firmado quando estavam muito infelizes com suas vidas no campo amoroso. Sentia-se constrangida pela situação, e não tinha ânimo e nem tempo no momento para formular uma boa desculpa ou pensar em algo que a ajudasse a escapar nesse caso.

— Serena, sei que você está sem namorado. Lembra do que combinamos? Quero ver você hoje, posso ir na sua casa depois que o bar fechar?

Oh, meu Deus, e agora? Mordeu o lábio, ansiosa, já perto do balcão onde Luíza e Joana serviam bebidas. Como desejava agora um copo de vinho branco ou uma cerveja gelada para diminuir o estresse!

— Não vai dar, Chico. Eu tenho... hum... um compromisso.

— Quê? Arrumou um cara enfim? — ele indagou, primeiro surpreso, e depois com um sorriso largo: — Conte-me quem é ele, como é.

— Eu... Olha, Chico, é que... — Ela juntou as mãos, e olhou para os próprios dedos, sem saber o que dizer.

— Serena... — Chico franziu as sobrancelhas com expressão desconfiada.

— O compromisso é comigo. É que ainda estamos começando o relacionamento, então ela não sabia exatamente como dizer isso a você.

Tanto Serena como Francisco olharam surpresos para o dono da voz que se intrometia na conversa tão de repente.

Stephen sorriu, e estendeu a mão para Chico.           

— Sou Stephen James Beckinsale.

— Francisco — respondeu, um tanto seco, apertando a mão do homem louro, e apenas para equilibrar melhor as coisas, completou seu nome: — Francisco Elias. Com licença.

Stephen quase riu diante da antipatia imediata e sem disfarces que o outro demonstrou por ele. Lhe agradava uma pessoa franca.

Assim que Chico se afastou, Serena sorriu para Stephen:

— Muito obrigada. Sua intromissão foi providencial, o senhor me salvou de uma situação complicada. — Serena encarou o homem louro, engolindo a saliva com dificuldade. Virgem Santa, ele é ainda melhor visto de perto, pensou, diante do bonitão que a havia impressionado minutos atrás, sentado entre os colegas da empresa White.

— Foi um ato de heroísmo. Só posso classificar assim a coragem para enfrentar um homem do tamanho de seu amigo. Vocês diriam, acho, que ele é um “armário”.

Serena deu uma risada. De fato Chico era grande e forte. Mas, pensando bem, o homem a sua frente, um norte-americano, certamente, não ficava tão atrás assim em tamanho ou largura. Brincou com ele:

— Ora, senhor “Thor”, é muita modéstia sua dizer isso, afinal não estava em desvantagem.

Ele sorriu, e era um sorriso muito, muito bonito. Serena quase perdeu o fôlego. Era uma sorte ter pele morena. Se fosse branca, tinha certeza que teria enrubescido diante dele.

Luíza, debruçada no balcão, olhava para a amiga com interesse.

— Bebe algo, Serena?

— Ah, Lu, por favor, um vinho branco, que não esteja muito gelado — precisava ter cuidado com a garganta.

A amiga arqueou as sobrancelhas, surpresa. Normalmente Serena pediria água. Vinho ou chopp, somente quando estava rodeada por amigos íntimos. Algo a havia deixado tensa. Ou alguém. Talvez o cavalheiro dourado que não desgrudava os olhos da cantora.

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