— Não me importa a sua cara de anjo simpático. Se fizer besteira, eu, os seguranças e os caras da banda, faremos picadinho de você. E vamos começar nas partes baixas, para doer mais, então comporte-se!
Stephen pensou em rir, mas o tom de voz da moça não era nada brincalhão.
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As pessoas adoravam um Revival, e Serena adorava dar isso a elas. Mesclava músicas do anos 80, 90 e 2000, e o público vibrava!
Serena cochichou com seus amigos da banda, trocando algumas ideias, e logo em seguida tomou assento em seu banquinho mais uma vez. Começou cantando “Trouble” (encrenca), da cantora Pink, sorrindo e se balançando sobre o assento. Encontrou o olhar de Stephen e fez um movimento divertido com as sobrancelhas e os olhos, cantando diretamente para ele, com um sorriso ainda mais peralta do que antes, ao brincar sobre compromisso na canção anterior.
Os colegas em volta de Stephen logo captaram a comunicação entre a cantora e ele, e o olharam surpresos:
— Não acredito! — um deles gritou.
— Chefe! — murmurou outro, com admiração.
— Cara, você é bom, heim? — Espantou-se Ethan. — Sabe quantos lá da empresa já tentaram chegar perto da Serena e não conseguiram nada?
Os lábios de Stephen se curvaram num pequeno sorriso:
— Ela só está sorrindo e brincando, fui escolhido aleatoriamente, não quer dizer nada.
— Você é mesmo um cavalheiro, chefe! — Aprovou Juliana, adivinhando que ele só estava sendo discreto.
Mas Stephen sentia-se realmente envaidecido, e um tanto nervoso também. Havia tempo que não saía com uma garota, e Serena parecia o tipo que fazia um homem ficar de cabeça virada. Ela podia ser encrenca, e estava até avisando através da canção, mas estava doido por uma boa confusão...
E Serena de onde estava, encarando os olhos brilhantes do estrangeiro, pensava algo semelhante: Não precisa ser adivinho para saber: esse cara é encrenca, da grossa!
Emendou com “There must be an angel” num ritmo um pouco mais dançante do que os Eurythmics cantavam, “Dont’ cha”, das Pussycats, “Should I stay or should I go”, do The Clash, “Boom boom pow” do Black Eyed Peas, “Let me Love You”, do DJ Snake. A pista estava pegando fogo, e ela já havia abandonado o banquinho, se movimentando de um lado para o outro, incentivando e agitando o público, enquanto os rapazes cabeludos da banda lhe auxiliavam nos coros, animados. Faziam, sem dúvida, um bom time.
“It’s raining men” era o número que faltava para fazer todo mundo ali dentro pular e dançar enlouquecido, e Serena não decepcionou. Cantou com alegria, trocando energia com a multidão que pulsava. Era um show incomum, muito superior ao que se esperaria encontrar em um bar, mesmo um de bom nível como aquele. A banda era mesmo sensacional.
E Stephen estava cada vez mais fascinado. A esta altura já havia sido contagiado pela animação geral e não conseguia mais ficar parado, dançando junto com seu pessoal da White, mas sem conseguir afastar os olhos da sereia poderosa no palco, que vez em quando lhe endereçava olhares que atiçavam ainda mais suas fantasias, fazendo-o esperar ansiosamente pelo fim da noite.
Pelo horário em seu Ômega, a noitada já devia estar perto de acabar. A confirmação veio quando Serena pediu ao público que sugerisse uma música. Depois de muita gritaria, confusão e risadas, a maioria chegou em um consenso e a cantora generosamente combinou cantar três hits escolhidos. Iniciou com “Dancing with myself“, de Billy Idol, depois se apropriou do chapéu de seu baixista e cantou “Smooth criminal”, fazendo seu público gritar ao imitar alguns trejeitos de Michael Jackson. Enquanto ela sacudia o quadril pra frente e para trás, numa alusão ao famoso movimento sexual que o rei do pop gostava de fazer em suas apresentações, Stephen era inundado por pensamentos os mais lascivos a respeito da elasticidade corporal dela. Como era a palavra em português para um homem com o tipo de pensamento que ele estava tendo agora? Ah, sim, a palavra era “pervertido”! Riu baixinho de si mesmo.
Quando chegou a vez da última canção, “Kiss”, Stephen sentiu-se tremer, e logo o corpo começou a ficar tenso. A música era muito sexy, e o baixista de longos cabelos negros e traços angulosos, que havia emprestado o chapéu anteriormente a Serena se aproximou para fazer uma coreografia sensual com ela, abandonando seu instrumento. O americano nunca sentiu tanta apreensão ao ouvir a melodia de Prince como naquele momento.— Ela vai beijar o Diogo, aquele ali com cara de índio, mas não fique aborrecido. Ele é só um amigo. Nós aqui somos todos muito “amigos”.Stephen voltou-se imediatamente para encarar o homem que estava falando com ele num tom de clara provocação. Era o tal Chico, e o executivo não se surpreendeu. Não sabia exatamente o que acontecia entre o segurança e Serena, e o que de fato interrompera, mas podia detectar uma moça em apuros a quilômetros de distância, e isso era bem óbvio pela expressão corporal dela e seu olhar ansioso. Ela pedia ajuda, e Stephen a atendeu prontame
— Você só canta em inglês?— Não. Atendo a demanda dos clientes. Seu pessoal, por exemplo, ama o repertório em inglês, o que era de se esperar, tendo em vista a maioria ter nascido nos Estados Unidos, então gostam de vir às sextas, quando sua música é a mais tocada. Amanhã percorro os ritmos latinos, canto de Santana a Buena Vista Social Club. Domingo é dia de música romântica, de qualquer nacionalidade, e uma amiga nos acompanha com seu sax.Stephen a olhou intensamente, enquanto ela estava distraída, pondo mais refrigerante no copo. Imaginou-se ouvindo as canções românticas na voz de Serena. Mais do que isso, imaginou-se dançando com ela, inclinando-a num tapete felpudo com baladas famosas tocando ao fundo, enquanto faziam amor e ela gemia em seus braços.— Às segundas eu e os meninos descansamos, graças a Deus, sendo substituídos por um pessoal bem legal do samba, e nos outros dias, prevalece a MPB. Mas geralmente dou uma canja para o público, e atendo a pedidos. — ela cortou mais
Decidindo abandonar a tentativa de levá-la para uma sessão particular de música em seu apartamento, pelo menos por enquanto, mudou de assunto, aproveitando que ela não o rechaçara por completo:— Você não costuma beber álcool? — Tomou um gole de seu saboroso chopp. Estava um pouco curioso, pois a vira beber vinho antes, mas recusara bebida alcoólica veementemente quando fizeram seus pedidos na pizzaria.— Só com meus amigos, ou quando estou sozinha em minha casa.— Por quê? — Surpreendeu-se. — Você é fraca para bebidas?— Não, a questão não é bem essa...— E qual é?— Prefiro manter-me bem sóbria quando não piso em terreno firme.— Acho que estou um pouquinho ofendido com essa resposta... Serena fitou o homem estrangeiro. Gostava de olhar nos olhos da pessoa com quem falava, e aparentemente ele também fazia uso desse recurso, que testava tanto a sinceridade quanto a índole do interlocutor. Não o conhecia o bastante, mas uma coisa parecia bem clara: não era um homem que precisasse us
Serena soltou suas mãos da pressão dele.— Isso que você está falando é ridículo — resmungou.— Não. Acha que é o primeiro cliente bonitão que me cerca? Já trabalho cantando faz tempo, senhor Stephen, e já passei por isso antes! Fiz algumas tentativas com uns rapazes que me admiravam no bar, todas com péssimo resultado para mim. Eu sofri, me senti humilhada. Essa é a razão pela qual não fico de conversa com os clientes. Não saio com eles. Nem mesmo procuro fazer amizade com eles. Não funciona. Os homens sempre confundem tudo.— Você não pode me comparar a outros homens!Serena deu um sorriso sem alegria, e suspirou:— É seu instinto de macho alfa falando, o predador que existe no ser humano tem necessidade de vencer quando se sente provocado, e admito que muito do meu repertório é bem provocante, então posso representar um desafio. Mas garanto que se você apenas passasse por mim pela rua, mal me olharia. Além do mais, todos sabem que depois que um desafio é vencido, acaba a graça.Ste
Podia ficar durante toda a noite conversando com Serena. Sim, conversando. Poderia se contentar com isso. Não para sempre, evidente, mas podia esperar até que ela confiasse nele o bastante para entregar seu corpo, e com um pouco de sorte, talvez também o coração. Em troca poderia dar-lhe o seu. Por que não? Afinal, estava morando no Brasil, não havia nenhuma previsão — e nem vontade — de retornar aos EUA, já vira em cada uma das filiais espalhadas pelas terras tupiniquins, casamentos ou uniões de sucesso entre norte-americanos e brasileiras, então por que não arriscar também? Serena era realmente tudo que ele havia dito antes, bonita, esperta, divertida. E devia ser um furacão na cama. Se ele soubesse conduzir as coisas do modo certo, talvez em um mês ou dois estivessem morando juntos, sob o mesmo teto. Seria fantástico! — Acho que devemos ir, antes que os funcionários nos expulsem. — Stephen pediu a conta e pagou. Olhou Serena intensamente. — Da próxima vez a levarei a um cinco
— Mas... não vá pensar que vai dormir comigo na minha cama, entendido?— Bem entendido! — Deu um grande sorriso.— Você vai dormir na sala — insistiu Serena, desconfiada do sorriso dele.— Claro.Não havia dúvidas que era um apartamento feminino, até o aroma indicava isso, bem como os toques pessoais de cada moradora. Serena já havia dito que dividia o lar, e as despesas, com as duas amigas do bar, mesmo assim ele se surpreendeu que fosse tão aconchegante e arrumado. As garotas eram organizadas e caprichosas com a decoração, apesar de Stephen perceber que era um local modesto. Registrou a informação de que elas não deviam ganhar um salário alto, e provavelmente precisavam abrir mão de várias coisas que desejariam, somente para manter um teto sobre suas cabeças.A criatividade ali suplantava o luxo. Mas era eficiente, e ele apreciava isso.Se a história com Serena vingasse, e ele estava disposto a empenhar-se nisso, poderia ajudar com as despesas sem que isso as insultasse? Afinal, com
Afastaram a mesinha de centro da sala, arrumaram os cobertores sobre o tapete, improvisando uma cama macia, larga e convidativa.— O albergue está pronto! — ela anunciou, pondo as mãos na cintura e apreciando seu trabalho.— Ficou ótimo! — Stephen tirou a blusa de botões rapidamente, ficando apenas com a camiseta de malha que usava por baixo. Por um momento Serena manteve a respiração suspensa, ao vê-lo abrir os botões da camisa. Ficou um pouco decepcionada por ele estar usando outra peça por baixo, mas julgou que assim era melhor. Mais seguro para a saúde dela, certamente, afinal estava com taquicardia só de imaginá-lo de dorso nu, imagine se o visse despido de fato? Falta de ar, gagueira e infarto, certamente! — Eu... estou suada, sabe? E preciso de um banho! — Precisava escapar da presença dele, antes que fizesse uma tolice.Stephen voltou-se para ela, tão rápido como um tigre, os olhos azuis arregalados. Lambeu o lábio inferior, involuntariamente, imaginando-a nua no chuveiro,
Serena acordou na penumbra, escutando as vozes provindas da tv que fora esquecida ligada. Tentou levantar-se para desligá-la, e descobriu-se presa ao chão, segura por algo ou alguma coisa. Olhou em volta, um tanto sonolenta, e então lembrou-se que havia deitado no tapete da sala com Stephen. Não era difícil prever que acabaria desmaiando de cansaço naquele ninho macio, vendo uma comédia relaxante. Agora descobrira que não deveria ter deitado, nem relaxado, e muito menos permitido-se adormecer ali.Seu super-gringo havia a enlaçado pela cintura, e tinha quase seu corpo todo colado às costas e ao traseiro dela. Ah, fantástico, estava dormindo de colherzinha com um homem a quem devia manter à distância.Voltou o rosto um pouco para admirá-lo, aproveitando o fato de que estava simplesmente fora de combate nesse momento. Usava os cabelos mais longos do que se deveria esperar de um funcionário de alto cargo numa multinacional, num tom de louro evidentemente queimado pelo sol, e absurdamente