Brincar com os meninos mais ainda? Stephen indagou-se, assustado. Mais um pouco desse tipo de brincadeira e a rapaziada ia sair do local com as calças vergonhosamente úmidas e pegajosas!
Mas Serena realmente queria dizer “brincar”, e então começou a cantar “Single ladies”, ao mesmo tempo em que fazia subir ao palco duas jovens, de improviso, para imitar a coreografia de Beyoncé, principalmente no momento em que repetia o refrão“ Then you should have put a ring on it “(Então deveria ter colocado um anel nisso), indicando o dedo que deveria ter recebido uma aliança. As moças dançavam jogando os cabelos de um lado para o outro, cheias de energia, e os músicos da banda faziam um coro bem humorado.
Stephen riu e relaxou, voltando a sentar-se para beber sua cerveja. Juliana, a telefonista, pôs um copo na frente de Stephen:
— Chefe, toma conta pra mim? — pediu e saiu correndo para perto do palco, querendo participar da brincadeira dançante.
Davis riu da expressão surpresa de Stephen.
— Fui promovido a guardador de bebidas? — Stephen indagou, sorrindo.
— Não se ofenda. Uma moça nunca deixa a bebida dela sem alguém de confiança vigiando, e ela o julga confiável, por isso pediu a você que tomasse conta. O truque sujo pra drogar as meninas aqui tem o apelido de “boa noite, Cinderela”, e Juliana é muito bonita para arriscar-se.
Stephen franziu as sobrancelhas:
—“Boa noite, Cinderela”? Uou... Ainda bem que ela não espera que eu lhe aplique esse golpe. — Stephen olhou rapidamente para o copo. — E o que é isso, afinal?
— Caipirinha, uma mistura nacional bem popular. Prove um pouco, Juliana não vai se importar.
Stephen levou o canudinho à boca, ingerindo a batida saborosa, enquanto seus olhos voltavam a procurar Serena. Quando percebeu, havia bebido todo o drink de Juliana. Olhou o copo, surpreso com sua distração. A cantora tinha realmente um dom impressionante para hipnotizá-lo e tirar-lhe do rumo.
— Shit! — praguejou.
Pediu outra caipirinha ao garçom para repor antes que a música chegasse ao fim, e voltou a sua cerveja, fazendo planos para aquela noite.
****
Serena terminou a canção de Beyoncé, emendou “Shape of You”, de Ed Sheeran, e achou que era uma boa hora de acalmar os ânimos do pessoal. Sem dúvida os hormônios ali ainda estavam em fúria, e provocá-los demais sempre era um perigo para as damas e um risco desnecessário de atiçar brigas entre os muitos machos alfa espalhados no salão. Ainda lembrava-se da última confusão dentro do bar porque dois rapazes disputavam a atenção da mesma moça. Os seguranças tiveram trabalho para apaziguar os brigões e seus amigos, e algumas garrafas de bebidas caras foram quebradas durante o confronto que acabou envolvendo vários rapazes. Felizmente ninguém havia se ferido seriamente, e depois disso os músicos se tornaram redobradamente cuidadosos. Após um pacote de músicas “quentes” vinha sempre uma com efeito calmante, e a banda já havia mexido muito com a libido do público até agora, cantando “Angels”, “Wicked game”, “Sexual healing”, “Human nature” e na sequência Sade e Britney. Por essa razão ela debruçou-se sobre o teclado de Lúcio, pedindo a melodia de “Hunting high and low”, do A-ha. Entre as canções em inglês, essa era uma das que mais tranquilizavam o ambiente, e o sintetizador do amigo dava o efeito do som das gaivotas e do mar batendo. O resultado final era muito bonito e semelhante ao do original.
Sentou-se mais uma vez em seu banquinho, e soltou a voz, enquanto percorria com os olhos o local, sentindo a serenidade começar a se estabelecer, alguns casais tomarem a pista, dançando de forma romântica, e as pessoas que antes estavam em pé voltarem a suas cadeiras. Olhou na direção do pessoal da White Corp, que batia ponto religiosamente todas as sextas-feiras no “Encanto”, e era sempre um grupo animado e participativo. Sorriu de forma amigável para eles quando lhe acenaram efusivamente e por pouco não se perde na canção que já havia cantado mais de mil vezes. A razão do súbito embaralhamento de ideias era um homem sentado entre o pessoal que lhe acenara. Um príncipe encantado louro, que a olhava diretamente, com o corpo ligeiramente inclinado para frente e os cotovelos sobre a mesa, com as mãos entrelaçadas sustentando um queixo que mesmo à distância em que se encontrava, e encoberto por uma bem cortada barba dourado escuro, aparentava ser firme e quadrado. Serena ficou refém do olhar penetrante, e cantou uma boa parte da música encarando-o, até dar-se conta do que estava fazendo. Então estendeu sua boca num sorriso provocante, e desviou o olhar para a outra ponta do bar. Repreendeu-se intimamente. Nunca, nunca encarar um freguês do bar, Serena, nunca! Sabe bem disso! Nem mesmo se esse freguês é um pedaço de mal caminho, e no caso do louro ali, não era só um pedaço, mas o caminho todo. Deus do Céu!
Stephen havia se remexido, irrequieto, quando viu Serena debruçar-se sobre o teclado do seu companheiro de trabalho, favorecendo aos espectadores atentos com uma boa parcela de seus atributos posteriores, arredondados e convidativos, mas quando ela se sentou e começou a cantarolar A-ha com tanta suavidade, aí sim sentiu sua imaginação de fato voar. Fantasiou fazer amor com aquela sereia à beira mar, quando o entardecer e as gaivotas enfeitavam o céu, e o calor era suficiente para deixá-los ainda mais dispostos para um sexo criativo e desinibido.O olhar dela subitamente vindo pairar sobre ele foi um prêmio à parte. Teve vontade de levantar e ir ao seu encontro, tirar-lhe do palco e levá-la imediatamente ao seu apartamento para se amarem a noite inteira. Que mulher tentadora! My God!Pelo que conhecia de cantores de boate — e aquele bar parecia uma — Serena estava desacelerando o público para fazer uma pausa ou encerrar seu trabalho por hoje, então ele manteve-se mais atento ainda aos
Serena saiu do banheiro de senhoras já sentindo-se melhor, após lavar o rosto, molhar os pulsos e prender os cabelos. Caramba, sentia-se quente, muito quente. E não era por causa da dança, e nem porque o local estava abafado e cheio, nada disso. Ela sabia muito bem qual a razão de estar afogueada, e era aquele deus louro sentado a um canto do bar. Mas não se deixaria abalar por isso, beberia alguma coisa e voltaria ao palco para finalizar sua apresentação. Mal alcançou o corredor e foi abordada por Francisco. Deu um pulo para trás, de susto.— Chico! Quase me mata do coração!— Desculpe. Queria falar com você, gata. Você está me evitando a semana toda!Serena apressou o passo para sair logo do corredor apertado, sendo seguida de perto pelo colega de trabalho. Tudo o que ela menos queria agora era lidar com Francisco, ou Chico — como todos costumavam chamá-lo — um dos segurança-faz-tudo do bar, com quem mantivera um relacionamento amizade-caso. Ficaram juntos algumas vezes, numa época
Stephen apressou-se em pedir o mesmo.—Tem tempo para sentar-se um pouco? — Stephen empurrou um banquinho na direção dela e sentou-se ao seu lado. Estava encantado de vê-la tão de perto, olhando para ele diretamente. Era mesmo gata! Qual era a expressão de baixo calão que os office-boys da filial São Paulo haviam lhe ensinado, assim que ele aportou no Brasil, para designar mulher bonita ou o que elas faziam os homens sentirem? Pensou um pouco. “Tesão”, era isso, “tesão”. Nada elegante, sabia, mas era uma expressão perfeita para o momento! Aquela mulher era um tesão. O que ele sentia agora? Também tesão. Serena sentou-se, sem ter muita escolha, enquanto bebericava seu vinho, apertando firme o seu copo. Legal, se safara de Chico e já estava numa situação da qual também queria escapar o mais breve possível. Haveria outro salvador no recinto?— Não me apresentei diretamente a você, mas certamente ouviu meu nome. Stephen.— E o meu você já sabe, senhor herói, é Serena.— Seu herói não que
— Não me importa a sua cara de anjo simpático. Se fizer besteira, eu, os seguranças e os caras da banda, faremos picadinho de você. E vamos começar nas partes baixas, para doer mais, então comporte-se!Stephen pensou em rir, mas o tom de voz da moça não era nada brincalhão. ****As pessoas adoravam um Revival, e Serena adorava dar isso a elas. Mesclava músicas do anos 80, 90 e 2000, e o público vibrava!Serena cochichou com seus amigos da banda, trocando algumas ideias, e logo em seguida tomou assento em seu banquinho mais uma vez. Começou cantando “Trouble” (encrenca), da cantora Pink, sorrindo e se balançando sobre o assento. Encontrou o olhar de Stephen e fez um movimento divertido com as sobrancelhas e os olhos, cantando diretamente para ele, com um sorriso ainda mais peralta do que antes, ao brincar sobre compromisso na canção anterior. Os colegas em volta de Stephen logo captaram a comunicação entre a cantora e
Quando chegou a vez da última canção, “Kiss”, Stephen sentiu-se tremer, e logo o corpo começou a ficar tenso. A música era muito sexy, e o baixista de longos cabelos negros e traços angulosos, que havia emprestado o chapéu anteriormente a Serena se aproximou para fazer uma coreografia sensual com ela, abandonando seu instrumento. O americano nunca sentiu tanta apreensão ao ouvir a melodia de Prince como naquele momento.— Ela vai beijar o Diogo, aquele ali com cara de índio, mas não fique aborrecido. Ele é só um amigo. Nós aqui somos todos muito “amigos”.Stephen voltou-se imediatamente para encarar o homem que estava falando com ele num tom de clara provocação. Era o tal Chico, e o executivo não se surpreendeu. Não sabia exatamente o que acontecia entre o segurança e Serena, e o que de fato interrompera, mas podia detectar uma moça em apuros a quilômetros de distância, e isso era bem óbvio pela expressão corporal dela e seu olhar ansioso. Ela pedia ajuda, e Stephen a atendeu prontame
— Você só canta em inglês?— Não. Atendo a demanda dos clientes. Seu pessoal, por exemplo, ama o repertório em inglês, o que era de se esperar, tendo em vista a maioria ter nascido nos Estados Unidos, então gostam de vir às sextas, quando sua música é a mais tocada. Amanhã percorro os ritmos latinos, canto de Santana a Buena Vista Social Club. Domingo é dia de música romântica, de qualquer nacionalidade, e uma amiga nos acompanha com seu sax.Stephen a olhou intensamente, enquanto ela estava distraída, pondo mais refrigerante no copo. Imaginou-se ouvindo as canções românticas na voz de Serena. Mais do que isso, imaginou-se dançando com ela, inclinando-a num tapete felpudo com baladas famosas tocando ao fundo, enquanto faziam amor e ela gemia em seus braços.— Às segundas eu e os meninos descansamos, graças a Deus, sendo substituídos por um pessoal bem legal do samba, e nos outros dias, prevalece a MPB. Mas geralmente dou uma canja para o público, e atendo a pedidos. — ela cortou mais
Decidindo abandonar a tentativa de levá-la para uma sessão particular de música em seu apartamento, pelo menos por enquanto, mudou de assunto, aproveitando que ela não o rechaçara por completo:— Você não costuma beber álcool? — Tomou um gole de seu saboroso chopp. Estava um pouco curioso, pois a vira beber vinho antes, mas recusara bebida alcoólica veementemente quando fizeram seus pedidos na pizzaria.— Só com meus amigos, ou quando estou sozinha em minha casa.— Por quê? — Surpreendeu-se. — Você é fraca para bebidas?— Não, a questão não é bem essa...— E qual é?— Prefiro manter-me bem sóbria quando não piso em terreno firme.— Acho que estou um pouquinho ofendido com essa resposta... Serena fitou o homem estrangeiro. Gostava de olhar nos olhos da pessoa com quem falava, e aparentemente ele também fazia uso desse recurso, que testava tanto a sinceridade quanto a índole do interlocutor. Não o conhecia o bastante, mas uma coisa parecia bem clara: não era um homem que precisasse us
Serena soltou suas mãos da pressão dele.— Isso que você está falando é ridículo — resmungou.— Não. Acha que é o primeiro cliente bonitão que me cerca? Já trabalho cantando faz tempo, senhor Stephen, e já passei por isso antes! Fiz algumas tentativas com uns rapazes que me admiravam no bar, todas com péssimo resultado para mim. Eu sofri, me senti humilhada. Essa é a razão pela qual não fico de conversa com os clientes. Não saio com eles. Nem mesmo procuro fazer amizade com eles. Não funciona. Os homens sempre confundem tudo.— Você não pode me comparar a outros homens!Serena deu um sorriso sem alegria, e suspirou:— É seu instinto de macho alfa falando, o predador que existe no ser humano tem necessidade de vencer quando se sente provocado, e admito que muito do meu repertório é bem provocante, então posso representar um desafio. Mas garanto que se você apenas passasse por mim pela rua, mal me olharia. Além do mais, todos sabem que depois que um desafio é vencido, acaba a graça.Ste