— O que vocês querem ouvir agora? — ela indagou, simpática, com sua voz encantadora ressoando através do salão graças ao microfone.
— Toxic! Toxic!
Os gritos vinham, em sua maioria, das mesas ocupadas pelo grupo White Corp, e Stephen Beckinsale espantou-se ao descobrir que um dos que mais gritava o nome da música era Ethan. Sério que seu amigo gostava de Britney Spears? Teve que rir. Em poucos segundos todo o bar estava gritando a mesma coisa, e Serena havia apontado o microfone na direção dos clientes, divertindo-se com a algazarra, a mão livre descansando na cintura. Quando os gritos diminuíram, ela voltou a falar:
— Ah! Toda semana vai ser isso? — Ela fingiu aborrecimento: — Vocês não enjoam de sempre escutarem a mesma música?
— Não!!! — gritaram em resposta.
Serena deu uma risada, e o som baixo e rouco que saiu da garganta da moça fez muitos homens no recinto estremecerem. O diretor executivo da White foi um deles.
— Seja feita a vossa vontade! — ela respondeu.
— Oh, boy!
Stephen olhou para Davis, sentado na ponta da mesa, que havia soltado a exclamação em voz alta e agora estava mordendo o lábio. O gerente de vendas percebeu que o diretor o olhava curioso, e debruçou-se sobre a mesa, respondendo a pergunta muda no rosto do outro:
— Cara, a Serena vai dançar, dançar Toxic! Isto é demais até pra mim que sou bem casado!
Vítor deu uma risada, e outros funcionários que estavam próximos a eles também riram. As mulheres da mesa levantaram rapidamente e correram para a pista de dança, junto com alguns rapazes do grupo. Muitas pessoas no bar também abandonaram seus lugares e se aproximaram do palco.
— Você achou quente antes... agora vai suar, amigão — provocou Ethan, cutucando Stephen.
Os primeiros acordes da música começaram a tocar. E a voz de Serena, que antes era puro veludo macio começou a ressoar num sussurro enrouquecido, enquanto ela iniciava, de costas para a assistência, um balanço de quadris que fez Stephen de um salto erguer-se da cadeira.
O balanço de quadris em poucos segundos espalhou-se para o resto do corpo, e a moça se movimentava por completo, numa coreografia que misturava a de Britney em seu famoso clipe, com os gingados das danças brasileiras, gerando um efeito ainda mais sedutor do que o visto originalmente na televisão.
Então ela voltou-se com lentidão para frente, encarando aos rapazes de modo aleatório, mas provocante.
Alguns homens gritaram elogios e assobiaram, incentivando-a.
Mas logo apenas a banda e sua vocalista eram ouvidas.
A voz de Serena criava um atordoamento sensual que rapidamente foi dominando o ambiente, e sua dança completava o conjunto que parecia ter posto em transe todo o público, fazendo-o mover-se sincronizadamente ao som da cantora, num balé sexy e perturbador. Quando ela aproximou-se do guitarrista da banda, um rapaz de cabeleira clara e farta, que lhe deixava com aparência ligeiramente leonina, e este afastou a guitarra para poder colar-se ao traseiro dela, a fim de balançarem juntos numa menção à sedução que Britney Spears mostrava em seu vídeo, provocando espiões, Stephen teve ganas de pular no palco e empurrar o músico, pondo-se ele mesmo atrás da moça, remexendo com ela, abraçando-a firme para que não escapasse nunca. Pôs as mãos nos bolsos para disfarçar a ereção que começara a se manifestar com “Smooth” e já estava alcançando níveis estratosféricos à essa altura. Que absurdo! Não podia desviar os olhos da figura que dominava o palco, e que agora levava a mão aos cabelos, elevando-os e fechando os olhos, como se estivesse recebendo as carícias de um amante, contorcendo o corpo de um modo que tirava o fôlego de quem assistia sua performance. No momento em que ela passou a língua pelos lábios e murmurou: “I think I'm ready now” (acho que estou pronta agora), ele tinha certeza de que não havia um só macho no recinto que não estivesse excitado. Vários casais haviam se formado, e dançavam grudados. A atmosfera sexy era forte e parecia até que o aroma no ar mudara. Feromônios!
Sentiu um alívio tremendo quando a canção enfim terminou. Mais alguns instantes daquela tortura e sua sanidade estaria comprometida para sempre. Nunca havia prestado muito atenção àquela música antes, mas aquela releitura fez o suor escorrer em suas costas. Ethan sorria-lhe com expressão de triunfo e zombaria, o engraçadinho. Stephen ergueu as mãos, em sinal de concordância e rendição. O bar não era um “pé sujo”, e estava gostando muito dali. Até demais.
Um estrondoso aplauso explodiu no ar, acompanhado de gritos empolgados. Serena inclinou-se, agradecendo, e piscou um olho para o público, com um sorriso sapeca.
— Agora vamos brincar com os rapazes, meninas! — ela gritou, devolvendo o microfone ao tripé: — Todas as meninas solteiras!
Brincar com os meninos mais ainda? Stephen indagou-se, assustado. Mais um pouco desse tipo de brincadeira e a rapaziada ia sair do local com as calças vergonhosamente úmidas e pegajosas!Mas Serena realmente queria dizer “brincar”, e então começou a cantar “Single ladies”, ao mesmo tempo em que fazia subir ao palco duas jovens, de improviso, para imitar a coreografia de Beyoncé, principalmente no momento em que repetia o refrão“ Then you should have put a ring on it “(Então deveria ter colocado um anel nisso), indicando o dedo que deveria ter recebido uma aliança. As moças dançavam jogando os cabelos de um lado para o outro, cheias de energia, e os músicos da banda faziam um coro bem humorado.Stephen riu e relaxou, voltando a sentar-se para beber sua cerveja. Juliana, a telefonista, pôs um copo na frente de Stephen:— Chefe, toma conta pra mim? — pediu e saiu correndo para perto do palco, querendo participar da brincadeira dançante.Davis riu da expressão surpresa de Stephen.— Fui p
Stephen havia se remexido, irrequieto, quando viu Serena debruçar-se sobre o teclado do seu companheiro de trabalho, favorecendo aos espectadores atentos com uma boa parcela de seus atributos posteriores, arredondados e convidativos, mas quando ela se sentou e começou a cantarolar A-ha com tanta suavidade, aí sim sentiu sua imaginação de fato voar. Fantasiou fazer amor com aquela sereia à beira mar, quando o entardecer e as gaivotas enfeitavam o céu, e o calor era suficiente para deixá-los ainda mais dispostos para um sexo criativo e desinibido.O olhar dela subitamente vindo pairar sobre ele foi um prêmio à parte. Teve vontade de levantar e ir ao seu encontro, tirar-lhe do palco e levá-la imediatamente ao seu apartamento para se amarem a noite inteira. Que mulher tentadora! My God!Pelo que conhecia de cantores de boate — e aquele bar parecia uma — Serena estava desacelerando o público para fazer uma pausa ou encerrar seu trabalho por hoje, então ele manteve-se mais atento ainda aos
Serena saiu do banheiro de senhoras já sentindo-se melhor, após lavar o rosto, molhar os pulsos e prender os cabelos. Caramba, sentia-se quente, muito quente. E não era por causa da dança, e nem porque o local estava abafado e cheio, nada disso. Ela sabia muito bem qual a razão de estar afogueada, e era aquele deus louro sentado a um canto do bar. Mas não se deixaria abalar por isso, beberia alguma coisa e voltaria ao palco para finalizar sua apresentação. Mal alcançou o corredor e foi abordada por Francisco. Deu um pulo para trás, de susto.— Chico! Quase me mata do coração!— Desculpe. Queria falar com você, gata. Você está me evitando a semana toda!Serena apressou o passo para sair logo do corredor apertado, sendo seguida de perto pelo colega de trabalho. Tudo o que ela menos queria agora era lidar com Francisco, ou Chico — como todos costumavam chamá-lo — um dos segurança-faz-tudo do bar, com quem mantivera um relacionamento amizade-caso. Ficaram juntos algumas vezes, numa época
Stephen apressou-se em pedir o mesmo.—Tem tempo para sentar-se um pouco? — Stephen empurrou um banquinho na direção dela e sentou-se ao seu lado. Estava encantado de vê-la tão de perto, olhando para ele diretamente. Era mesmo gata! Qual era a expressão de baixo calão que os office-boys da filial São Paulo haviam lhe ensinado, assim que ele aportou no Brasil, para designar mulher bonita ou o que elas faziam os homens sentirem? Pensou um pouco. “Tesão”, era isso, “tesão”. Nada elegante, sabia, mas era uma expressão perfeita para o momento! Aquela mulher era um tesão. O que ele sentia agora? Também tesão. Serena sentou-se, sem ter muita escolha, enquanto bebericava seu vinho, apertando firme o seu copo. Legal, se safara de Chico e já estava numa situação da qual também queria escapar o mais breve possível. Haveria outro salvador no recinto?— Não me apresentei diretamente a você, mas certamente ouviu meu nome. Stephen.— E o meu você já sabe, senhor herói, é Serena.— Seu herói não que
— Não me importa a sua cara de anjo simpático. Se fizer besteira, eu, os seguranças e os caras da banda, faremos picadinho de você. E vamos começar nas partes baixas, para doer mais, então comporte-se!Stephen pensou em rir, mas o tom de voz da moça não era nada brincalhão. ****As pessoas adoravam um Revival, e Serena adorava dar isso a elas. Mesclava músicas do anos 80, 90 e 2000, e o público vibrava!Serena cochichou com seus amigos da banda, trocando algumas ideias, e logo em seguida tomou assento em seu banquinho mais uma vez. Começou cantando “Trouble” (encrenca), da cantora Pink, sorrindo e se balançando sobre o assento. Encontrou o olhar de Stephen e fez um movimento divertido com as sobrancelhas e os olhos, cantando diretamente para ele, com um sorriso ainda mais peralta do que antes, ao brincar sobre compromisso na canção anterior. Os colegas em volta de Stephen logo captaram a comunicação entre a cantora e
Quando chegou a vez da última canção, “Kiss”, Stephen sentiu-se tremer, e logo o corpo começou a ficar tenso. A música era muito sexy, e o baixista de longos cabelos negros e traços angulosos, que havia emprestado o chapéu anteriormente a Serena se aproximou para fazer uma coreografia sensual com ela, abandonando seu instrumento. O americano nunca sentiu tanta apreensão ao ouvir a melodia de Prince como naquele momento.— Ela vai beijar o Diogo, aquele ali com cara de índio, mas não fique aborrecido. Ele é só um amigo. Nós aqui somos todos muito “amigos”.Stephen voltou-se imediatamente para encarar o homem que estava falando com ele num tom de clara provocação. Era o tal Chico, e o executivo não se surpreendeu. Não sabia exatamente o que acontecia entre o segurança e Serena, e o que de fato interrompera, mas podia detectar uma moça em apuros a quilômetros de distância, e isso era bem óbvio pela expressão corporal dela e seu olhar ansioso. Ela pedia ajuda, e Stephen a atendeu prontame
— Você só canta em inglês?— Não. Atendo a demanda dos clientes. Seu pessoal, por exemplo, ama o repertório em inglês, o que era de se esperar, tendo em vista a maioria ter nascido nos Estados Unidos, então gostam de vir às sextas, quando sua música é a mais tocada. Amanhã percorro os ritmos latinos, canto de Santana a Buena Vista Social Club. Domingo é dia de música romântica, de qualquer nacionalidade, e uma amiga nos acompanha com seu sax.Stephen a olhou intensamente, enquanto ela estava distraída, pondo mais refrigerante no copo. Imaginou-se ouvindo as canções românticas na voz de Serena. Mais do que isso, imaginou-se dançando com ela, inclinando-a num tapete felpudo com baladas famosas tocando ao fundo, enquanto faziam amor e ela gemia em seus braços.— Às segundas eu e os meninos descansamos, graças a Deus, sendo substituídos por um pessoal bem legal do samba, e nos outros dias, prevalece a MPB. Mas geralmente dou uma canja para o público, e atendo a pedidos. — ela cortou mais
Decidindo abandonar a tentativa de levá-la para uma sessão particular de música em seu apartamento, pelo menos por enquanto, mudou de assunto, aproveitando que ela não o rechaçara por completo:— Você não costuma beber álcool? — Tomou um gole de seu saboroso chopp. Estava um pouco curioso, pois a vira beber vinho antes, mas recusara bebida alcoólica veementemente quando fizeram seus pedidos na pizzaria.— Só com meus amigos, ou quando estou sozinha em minha casa.— Por quê? — Surpreendeu-se. — Você é fraca para bebidas?— Não, a questão não é bem essa...— E qual é?— Prefiro manter-me bem sóbria quando não piso em terreno firme.— Acho que estou um pouquinho ofendido com essa resposta... Serena fitou o homem estrangeiro. Gostava de olhar nos olhos da pessoa com quem falava, e aparentemente ele também fazia uso desse recurso, que testava tanto a sinceridade quanto a índole do interlocutor. Não o conhecia o bastante, mas uma coisa parecia bem clara: não era um homem que precisasse us