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Lisa Mary
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Em um vestido romântico rendado, atraí a atenção dos fiéis na principal igreja de Metz, a tão respeitada igreja matriz. Os bancos de madeira se preenchiam com pessoas que esperavam educadamente pelo início da missa, dividindo o espaço entre os ricos e os pobres. Em um salto modesto, foi a primeira vez em que eu estava usando algo abaixo dos joelhos. O sol que reluzia sobre meus cabelos recém pintados em castanho claro realçava o tom da minha pele pela manhã. Eu emanava pureza. Em tons discretos e frios, minha presença contrabalanceava com as pessoas em suas roupas com cores divertidas para a missa no domingo de manhã.
Indo em direção ao banco próximo ao altar, sentei-me educadamente, sempre sorridente. Eu estava frequentando as missas durante uma semana e consegui me aproximar de algumas pessoas na intenção de parecer amigável. Uma parte dos meus cabelos caiu sobre meus ombros, mas logo tratei de passá-lo para trás da orelha, mantendo a ingenuidade aparente. Todos se viraram indiscretamente para verem a invejável família entrar. Assim como famosos em um reality show, eles estavam em grupo. Se sentaram nos primeiros bancos longos de madeira, ao lado de onde eu estava. Mantive os pés juntos e as mãos sobre os joelhos, segurando a pequena bolsa de cor branca, e evitei olhá-los, como se mantivesse a atenção no padre que acabara de rezar o Pai Nosso, iniciando a missa. Enquanto analisava o padre e fugia dos sermões religiosos, organizava os pensamentos para parecer sorridente e emanar pureza durante o evento que aconteceria após a missa.
Por favor, que isso dê certo...
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Vicente François
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Revirando alguns contratos sobre a mesa, no escritório de meu pai, ajeitei-me na cadeira, inalando profundamente.
—Isso é loucura. Ele não percebeu que assinou um plano falido? O que pensa que somos? —Reclamei, prestando atenção no olhar de meu pai sobre mim. Apoiando os cotovelos sobre os braços da majestosa poltrona, cruzou os dedos, me desafiando com o olhar.
—Filho, precisa se acalmar. Teremos uma reunião hoje à noite e eu não quero que estejamos com os nervos à flor da pele guardando ressentimentos com eles. Além do mais, você não tinha um evento religioso pra ir? —Disse, arrumando os papeis sobre a grande mesa oval.
—Missa.
—Como? —Papai piscou me olhando, erguendo as sobrancelhas para mim.
—Não chame de simples “evento religioso”. —Fiz as aspas com os dedos no ar, estreitando os olhos. —É uma missa. Por que insiste em se distanciar de Jesus?
—Filho, eu apenas estou tentando ser modesto com você, não acredito nessas coisas.
—Vamos conosco? A mamãe e a Charlotte estão se aprontando. Por que não vem?
—Eu estou morrendo, mas não significa que decida mudar de ideia e comprar um triplex no além. Vá ao seu evento e se divirta bastante, mas não exagere com as bebidas. Você sempre fica muito maleável quando isso acontece.
—Nós oramos, pai. —Desistente, relaxei os olhos e encarei um ponto aleatório no escritório espaçoso.
—Que seja. Apenas retorne sóbrio, eu quero tratar de negócios com você durante o almoço. —Ressaltou.
Não era fácil permanecer dentro do mesmo ambiente que meu pai e manter os pensamentos frios e organizados. Eu me esforçava até mesmo para manter um tom de voz agradável, quando sabia seu temperamento agressivo e arrogante. Inclinado a comparecer à missa, levantei-me da cadeira e saí de seu escritório, o deixando rodeado por papeis. Meu pai não era uma pessoa que gostava de outras pessoas, ele sempre disse que o ser humano é desprezível aos olhos de qualquer pessoa racional. Ele se referia até mesmo a própria imagem.
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A caminho da porta da sala, encontrei Charlotte e mamãe descendo o lance de escadas e esperei pelas duas, parado de mãos postas. Charlotte me analisou dos pés à cabeça, sorrindo de canto de boca.
—Se eu não te conhecesse diria que você vai se casar. Por que insiste tanto nessas formalidades? —Reclamou, se aproximando em passos largos que fizeram barulho sobre o chão de madeira. Charlotte tombou a cabeça para trás e revirou os olhos, sorrindo. —Eu odeio tanto você por isso...
—Isso é fé, uma coisa que você não entende. —Senti em meu peito suas mãos arrumando meu blazer preto puro. Logo se afastou quando percebeu mamãe vindo em minha direção.
—Okay, devemos nos apressar. Charlotte, minha filha, não perturbe tanto o seu irmão. O seu pai já consegue fazer isso muito bem-feito. —Mamãe me olhou com carinho, garantindo seu amor para mim, com um olhar doce acompanhado um sorriso sincero e modesto. —Eu não acredito nele, mas se você acredita, então ele se torna real para mim. —Disse ela e me depositou um beijo na bochecha quando Charlotte se afastou.
Não demoramos muito para sair de casa. Charlotte reclamou durante toda a viagem e minha mãe tentou defender os meus argumentos. Fiz questão de dirigir, mas sempre mantinha o carro entre os seguranças, que faziam um comboio perfeito para qualquer lugar que fôssemos. Essa era a lei na família François.
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Não demorou muito e nós finalmente chegamos à igreja. Charlotte sentou-se ao lado de nossa mãe nos primeiros bancos de madeira próximos ao altar e eu caminhei bem atrás, passando os olhos pelos detalhes da igreja decorada para a grande missa. Seria o evento de ação de graças após a missa e eu estava pronto para ofertar uma generosa quantia, visando beneficiar os fiéis.
Estava acostumado a ser conhecido e me sentir amado em todos os lugares que eu entrava, mas uma pessoa intrigante pareceu permanecer olhando para o padre, prestando atenção em cada palavra do Pai Nosso, sem que, sequer, me percebesse chegar. Eu me recompus endireitando os ombros, e então me sentei na ponta do banco próximo ao banco dela.
Passei os olhos por ela, discretamente, a analisando: Tom de pele aparentemente macio, branca, mas não pálida. Uma parte de seu cabelo caía sobre o ombro direito enquanto a pele do pescoço no lado esquerdo ficara exposta para mim, inocentemente. Percebia as pessoas falando com ela e sendo retribuídas sorridentes. Ela parecia gentil e paciente; e os outros gostavam se ficar ao seu lado.
Decidi esvaziar a mente para poder orar pelo meu pai e implorar ao Deus supremo que o deixasse ficar vivo por um pouco mais tempo. Eu queria que ele vivesse por longos anos. Eu queria que ele vivesse.
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A missa terminou e todos fomos encaminhados para a parte externa da igreja. Um jardim imenso com grama verde, flores coloridas e algumas mesas que compunham as barracas que precisavam de voluntários para ajudar nas vendas de alguns doces, produzidos artesanalmente pelos membros da igreja na esperança de arrecadarem fundos para a grande reforma.
Charlotte e mamãe se refrescavam sob uma tenda intencionada para bebês e pessoas sensíveis ao sol, se distanciando das pessoas. Havia moradores de rua recebendo doações, e pessoas comprando doces por todos os lados. Em meio aquelas muitas pessoas espalhadas pelo jardim da igreja, eu me distraía quando senti meu celular vibrando dentro do bolso e tive que verificar. Era uma mensagem do meu pai, que me forçara a responder. Enquanto digitava, ouvi uma voz feminina aparentemente feliz oferecendo-me Profiteroles.
Enviei a mensagem que estava digitando para meu pai e joguei o celular dentro do bolso da calça, erguendo o queixo na direção daquela voz doce e gentil.
É ela... A garota que fez nascer uma ruga em minha testa.
Bobo, pisquei rapidamente, passando a língua entre os lábios. Meus passos aceleraram, encarando os doces para não olhar diretamente para ela.
—E então, senhor? Você prefere esses aqui? Dizem que eles são os melhores. Particularmente eu gosto deles durante um chá, eles servem muito bem. —Falou, apontando pelos doces perfeitamente alinhados sobre a mesa.
Limpei a garganta quase me escondendo atrás da timidez, e finalmente direcionei o olhar para ela. Bochechas ruborizadas pelo sol e lábios naturalmente avermelhados. Ela parecia ter saído diretamente de um comercial... Ou talvez eu apenas estivesse exposto ao sol por tempo mais que suficiente. Estávamos entre muitas pessoas, mas ainda assim o cheiro suave de seu perfume alcançou minhas narinas, fazendo-me inalar profundamente em câmera lenta, sentindo o frescor na boa sensação.
—Senhor?
Pisquei por um par de vezes, recobrando a consciência.
—Ugh, sim. Claro. Eu vou querer um de cada, por favor. —Me esforcei para manter um tom de voz agradável. Ela parecia tão frágil que sentia vontade de tirá-la daquele lugar rodeado por pessoas apressadas.
Com um sorriso nos lábios e olhos brilhantes, ela me serviu os doces em sacolas de papel, e me entregou um por um, cuidadosamente. Era caprichosa, atenciosa, tão bonita de se ver que me deixou intrigado.
—Quanto? —Perguntei, tirando o celular do bolso. Tentando ser imparcial eu acabei parecendo frio.
—Ôh, senhor... Apenas trinta e oito euros. —Espremeu os lábios, desviando o olhar de mim.
Por que aparenta ficar tímida diante de um assunto que envolve dinheiro? É apenas dinheiro... Meus pensamentos trabalhavam para me manter paciente e calmo, embora dentro de mim, as coisas estivessem confusas e questionáveis.
Eu estava me preparando para pagar, buscando a carteira dentro do bolso do blazer, quando percebi um homem estranho tomar minha frente. Ele pôs as mãos sobre a mesa e encarou a garota inocente, com um olhar intimidador sobre ela. Virei em sua direção e o encarei, topando em seu ombro.
—Você é cego? —O questionei, mantendo o olhar frio sobre ele.
—O que disse?
—Não percebe que não é a sua vez?
—E daí? —Olhou-me com desdém, dando de ombros.
—E daí que você precisa esperar.
—E se eu não quiser? —Virou-se totalmente para mim, equilibrando sua altura à minha.
—E daí que se você não esperar eu serei obrigado a chamar meus seguranças...
—Claro, você se esconde atrás dos escravos.
—... Para afastarem as pessoas e me deixarem quebrar a sua cara, em paz. —Argui a cabeça, o olhando com superioridade.
Estávamos prestes a nos desafiar, quando a moça saiu de trás da mesa, vindo para perto de nós apressadamente. Ela ficou entre o homem com aparência descuidada, e eu, e aquilo fez nascer dentro de mim, um sentimento de dó.
—Por favor, por favor... Não façam isso aqui. A igreja precisa muito dessa arrecadação para fazermos a grande reforma, e além do mais têm pessoas humildes e sofridas que precisam de comida também. Nós estamos fazendo de tudo para termos um evento pacífico. Por favor... Não façam isso. —Pediu, amedrontada.
O homem passou os olhos por ela e depois por mim, desistindo de suas atitudes. Percebi a garota respirar aliviada e dei um passo para a frente, pondo a mão sobre sua testa.
—Moça, você parece quente e cansada. Não quer descansar um pouco? —Perguntei, preocupado, encolhendo a mão de volta ao corpo.
—Não. Não é justo. Eu me inscrevi para ajudar essas pessoas e preciso fazer isso até o final dessa manhã. Eu não quero fracassar, eu não poderia. —Explicou, ainda amedrontada pelo que quase aconteceu.
—Muito bem, então eu vou lhe ajudar com isso. —Ela me olhou, estreitando os olhos de cenho franzido. —Eu vou ficar na barraca e te ajudar a vender todos os seus doces.
A garota limpou a garganta, passando a mão pelo braço.
—É que... Você precisa se inscrever e ter a autorização do diácono para fazer isso. —Passou os olhos pela grama, quase encarando os próprios pés.
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O padre estava falando com alguns fiéis enquanto se aproximava do jardim, rodeado por pessoas que queriam lhe cumprimentar. Humildemente, me distanciei da garota bonita e me aproximei ao padre, chamando sua atenção. Passei a mão pela nuca, esfregando a pele levemente nervoso.
—Senhor padre, eu poderia falar com vossa santidade?
Ele passou os olhos por mim, e esticou o braço em minha direção. Fomos nos distanciando das pessoas e eu o levei até a barraca da moça enquanto conversávamos.
—Pode falar, filho. —Respondeu, mantendo o mesmo tom de voz baixo e grave.
—Senhor padre, eu poderia participar das vendas do evento? Eu não tenho interesses econômicos lucrativos, apenas a boa ação e um interesse pessoal me basta. —Confessei. Não poderia mentir para um padre em solo sagrado. Eu jamais me perdoaria.
—Pode sim, filho. Mas, não sei se seria seguro para alguém como você. Eu sou padre, mas sei que você e sua família não são pessoas comuns, e tenho consciência de que se estão aqui podem, possivelmente, atrair pessoas má intencionadas. —Explicou, pondo a mão sobre meu ombro.
—Eu corro esse risco, senhor.
Ele sorriu para mim, e balançou a cabeça, aceitando minhas explicações. —Encontre uma barraca na qual você se identifique com as vendas e a igreja lhe agradecerá pela boa ação, meu bom rapaz. Feliz Dia de Ação de Graças, filho. —Disse ele e então se despediu de mim, indo em direção a tenda projetada para os membros da igreja.
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Eu estava pronto para revelar a boa notícia para a garota bonita, quando avistei um dos meus seguranças falando próximo ao ouvido de Charlotte, e franzi o cenho, parando os passos entre as pessoas. O que está acontecendo?
Confuso e petrificado, observei a cena não percebendo que a garota acenava em minha direção. Se eu ficar e ajudá-la, posso não saber o que está acontecendo com minha mãe e minha irmã. Mas, se eu for até elas, eu perco a chance de ajudar a garota e a igreja. E agora? O que eu faço com isso?
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3 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Não tinha nada pelo que eu tivesse mais desprezo que fiéis conservadores me olhando prontos para chicotearem com suas línguas contra meus pecados. Estando naquela igreja, eu apenas queria correr o mais rápido possível para longe dos membros idiotas daquele inferno, e acabei me inscrevendo para me voluntariar na venda dos doces. Eu ficaria com o dinheiro de tudo o que vendesse, fácil, fácil. Eu percebi Charlotte e a senhora François passando em frente à barraca da qual eu estava cuidando, e as duas se direcionaram até a tenda que o padre mandou fazer para as mães com crianças e pessoas sensíveis. Meus olhos buscavam por Vicente quando o celular vibrou dentro da pequena bolsa branca, obrigando-me a atender. —Cadê o idiota do seu irmão? —Perguntei, ranzinza. Ele ainda não estava por perto. —Está tão pura, Lisa Mary... Se eu não te conhecesse diria que se converteu. —Sua voz pareceu sarcástica, debochando. —Diga, esse tom de cabelo tão claro não combina muito com voc
4 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Era só abrir os olhos e sentir que eu estaria em contato total com a realidade, então por isso permaneci com os olhos fechados e me permiti beijá-lo por um pouco mais de tempo. A obrigação de ser uma boa moça me forçou a recobrar a consciência e eu apoiei as mãos contra seu peito, empurrando lentamente. Virei o rosto para o lado, e por mais que eu quisesse arrancar suas roupas feito um animal, ainda assim eu fui obrigada a me manter pura e falsamente ingênua. Percebi Vicente se controlando para não insistir em me beijar novamente, e meus olhos encontraram os dele. Estava ansioso. Seu peito subia e descia como se fosse explodir, embora tentasse se controlar. —Isso não foi certo... Senhor François. Você... Você... Não pode fazer isso na casa de Deus. —Disse ofegante, tentando controlar a respiração. A luz logo foi voltando e eu olhei seus olhos negros de luxúria. Ele deu dois passos para trás e pôs uma mão sobre a ponta de uma mesa velha, passando a outra pelo peito
5 Lisa Mary ⤝⥈⤞ —Nós somos amigos? —Aceitei o apoio e deslizei minha mão pelo seu bíceps, provocando-o de maneira que me fez parecer inocente. Vicente limpou a garganta e tossiu seco, piscando na tentativa de parecer decente. —Sim, n-nós somos. —Afirmou e então endireitou a cabeça, afirmando a postura. Nós então trocamos alguns passos até os poucos degraus e subimos até a varanda. Nos aproximamos da porta e ele a abriu. A governanta me analisou dos pés à cabeça e bloqueou o sorriso irônico que quase escapou em seus lábios, nos cumprimentando. No entanto, meu nervosismo quase expeliu pelos poros quando olhei sobre seu ombro direito e avistei Charlotte sentada na poltrona, ao lado de sua mãe que também estava em outra poltrona. —Senhor François, por favor, deixe que eu leve o seu casaco. A casa está aquecida, você vai acabar ficando soado. —Disse a governanta, esticando os dedos em direção à Vicente. —Obrigado. —Ele virou de costas para ela, saindo do meu lado momentaneamen
5 parte IILisa Mary⤝⥈⤞ Eu estava começando a observar o ambiente luxuoso e imparcial. Era como se os objetos daquela casa apenas existissem para sustentar o ego das pessoas que moravam ali. A imensidão dos corredores se alinhava perfeitamente com os móveis retos e limpos, em tons que escalonavam do preto para o cinza e se espalhava em branco e tons de areia. Apenas alguns quadros grandes e extravagantes que compunham o mural da família, demonstrava que naquela mansão moravam pessoas e não apenas o interesse de capa de revista que faziam matérias sobre “as mansões mais luxuosas da França”, ou coisas desse tipo. Enquanto caminhava ao lado da senhora François, por um corredor extenso, ouvi a origem da família, coletando o máximo de informações que eu pude. Mantive as mãos em frente ao corpo o tempo inteiro enquanto caminhava comportada e tímida, sempre com a imagem de uma boa moça puritana em construção. —Bom, como você já deve ter percebido, o Vicente tem uma aparência Irlandesa e,
5 parte IIIVicente François ⤝⥈⤞ As palavras de meu pai refletiram em minha cabeça e deixou uma ruga em minha testa. Depois daquela conversa, ele me mostrou alguns modelos que estava interessado em colocar em prática, mas depois disso me liberou, permitindo que eu finalmente fosse atrás de Lisa Mary. Descendo as escadas, encontrei a empregada carregando, cuidadosamente, uma bandeja de prata bem decorada. São os doces preferidos da minha mãe... Eu me aproximei da empregada. —Pra quem são esses doces? —Levantei a mão em direção á bandeja, indicando os doces.—Senhor François, são para a Madame e a sua nova visita. Elas estão no jardim de inverno e sua mãe me pediu que levasse algo refrescante, mas também doce para comerem. Limpei a garganta em uma tosse seca, e estiquei as mãos para a frente, flexionando os dedos uma única vez. —Deixe que eu levo, pode ir. Obrigado. —Mas, senhor... —Pode ir. —Peguei a bandeja e acelerei os passos pelo corredor, equilibrando com cuidado. Não p
6 Vicente François ⤝⥈⤞ Eu tive a oportunidade de desfrutar de uma manhã calma, apesar de todo o alvoroço na igreja. Nunca havia me sentido tão confortável ao lado de alguém novo, como estava me sentindo na presença de Lisa Mary. Era algo totalmente fora do meu cotidiano. Eu queria tanto que ela ficasse, que eu quase cheguei a ligar para Sebastian e ordenar que atrasasse na entrega do carro, mas a imagem do Audi cruzando os grandes portões da entrada, tirou o meu chão. Lisa Mary, ao ouvir o som selvagem do motor veloz, olhou por cima dos ombros e rapidamente tirou a mão do apoio em meu braço, quase me bloqueando. Ela virou-se totalmente ao avistar o luxuoso carro azul e um sorriso largo se espalhou em seus lábios na companhia de um arfar. —Ele já veio! —Se surpreendeu. —Com licença... Senti como se a chegada daquele carro fosse a nossa despedida, e cheguei a expirar com força. Embora o sol esquentasse minha pele dentro das vestes, meu sopro se destacou em uma fumaça em frente ao
7 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Dizer que foi uma tarefa fácil permanecer na carne de uma boa moça fingida foi fácil, é uma mentira descarada. Eu sentia como se a qualquer momento eu pudesse tocar o meu rosto e me sujar com a máscara podre que havia vestido sobre a face. No entanto, havia me saído tão bem quanto qualquer atriz de cinema, e isso me deu orgulho. Vicente era realmente um homem atencioso, calmo, educado e, por muitas vezes, irritantemente controlado. Antes que fôssemos embora, percebi que ele havia caído em meu jogo de indução de sentimentos. Enquanto eu o provocava, fazia parecer que ele estava sentindo tudo isso sozinho, e quase o deixei no limite. Percebia sua respiração pesada, e quando passei os olhos pelos dedos de suas mãos, avistei ele apertando o punho como uma forma de se controlar para não me beijar inesperadamente, e tenho que admitir que aquilo estava me deixando satisfeita. A maneira como me olhava era quase como se fosse me canonizar. Eu estava cumprindo com minha pa
8 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Retornei para casa e, finalmente pude descansar no conforto do meu lar. Estava há horas sem comer nada e fui cozinhar algo leve para não parecer inchada. Senti o cansaço me vencendo quando subi as escadas de volta para o quarto e meus olhos pesaram, indicando que eu precisava dormir, ao menos um pouco. Tomei um banho quente ouvindo “Oh! Darling”, e me deitei para dormir depois desse ritual. Parecia como em um sonho, eu me sentia um pouco menos conturbada diante de uma situação tão estressante quanto ter que assumir uma falsa personalidade. Em um sono profundo, ouvi meu celular vibrando sobre a mesa de cabeceira e estremeci na cama, virando-me para o lado. Encolhi os dedos dos pés sob o cobertor, tentando me refugir do castigo em ter que despertar. Bati com a mão sobre o telefone e o arrastei pela mesinha até mim. Quem deve ser agora... Atendi aquela chamada e a voz no outro lado me fez despertar em um susto. —Oi, eu não sabia que horas ligar pra você, mas..., c