5 parte III
Vicente François
⤝⥈⤞
As palavras de meu pai refletiram em minha cabeça e deixou uma ruga em minha testa. Depois daquela conversa, ele me mostrou alguns modelos que estava interessado em colocar em prática, mas depois disso me liberou, permitindo que eu finalmente fosse atrás de Lisa Mary. Descendo as escadas, encontrei a empregada carregando, cuidadosamente, uma bandeja de prata bem decorada.
São os doces preferidos da minha mãe...
Eu me aproximei da empregada.
—Pra quem são esses doces? —Levantei a mão em direção á bandeja, indicando os doces.
—Senhor François, são para a Madame e a sua nova visita. Elas estão no jardim de inverno e sua mãe me pediu que levasse algo refrescante, mas também doce para comerem.
Limpei a garganta em uma tosse seca, e estiquei as mãos para a frente, flexionando os dedos uma única vez.
—Deixe que eu levo, pode ir. Obrigado.
—Mas, senhor...
—Pode ir. —Peguei a bandeja e acelerei os passos pelo corredor, equilibrando com cuidado.
Não precisei andar muito para ouvir a voz de minha mãe falando algo sobre suas rosas favoritas, e direcionei os passos para o jardim de inverno, como a empregada havia dito.
⤝⥈⤞
Encontrei uma expressão sorridente no rosto de minha mãe e um sorriso lento nos lábios tímidos de Lisa. À primeira vista, reuni a imagem em uma cena e jurei que guardaria pelo resto da vida; entrando no jardim logo em seguida.
—Eu ouvi dizer que haviam pedido doces, então... Cá estou eu, o doceiro. —Segurando a bandeja, empurrei a porta de vidro com o cotovelo e entrei, deixando que batesse quando passei.
—Eu tive que roubar ela de você, ou a Charlotte a jogaria pelas escadas. —Mamãe ainda se controlava de uma crise de risos causada por algum motivo desconhecido entre as duas.
—Ela te disse alguma coisa? —Perguntei, inclinando-me entre as duas para colocar a bandeja sobre a mesinha de madeira que estava no centro das quatro cadeiras confortáveis.
—Não, tudo bem. Ela só é um pouco serena, mas parece ser boa pessoa. —Seu tom de voz era tão baixo que quase chegava a ser inaudível.
—Você tem um bom coração mesmo. Charlotte é uma peste... —Franzi o cenho, reprimindo o sorriso. —Bom, do que estavam rindo? —E me sentei na cadeira ao lado de Lisa, apoiando as mãos sobre as coxas.
—Assuntos de mulher, meu filho. —Minha mãe secou o canto dos olhos, desfazendo o sorriso aos poucos. —Bom, já que você chegou para fazer companhia a sua amiga, eu vou falar com o seu pai. Temos que programar a viagem do fim de semana, eu não quero que nada saia de maneira inesperada. —Disse minha mãe, passando a mão sobre a bandeja, e pegou um doce. —Lisa, querida, pegue o que quiser e fique à vontade. Você é bem-vinda aqui. —Soltou uma piscadela para Lisa, se levantando da cadeira.
—Obrigada, senhora François. —Disse Lisa, mantendo as mãos juntas, uma sobre a outra.
Eu olhava para ela, mas não tinha seu olhar em mim. Estava sempre encarando um ponto fixo da sala, ou passando os olhos pelas janelas iluminadas. Seu bloqueio me fazia querer avançar de uma maneira que eu não conseguia entender, e isso me destruía inteiramente por dentro.
⤝⥈⤞
—É... Então, eu mandei o segurança ir buscar o seu carro. Não deve demorar muito, afinal de contas, é um Audi. —Pus a mão sobre o braço da cadeira dela, mas tirei quando percebi seu desconforto.
Lisa virou o rosto, olhando pela janela.
Respirei fundo, espremendo as próprias coxas. Sentia meu corpo inteiro reclamar o desinteresse de Lisa, e isso me corroía até os ossos. Eu me levantei e a olhei, sem me aproximar mais do que deveria.
—Eu já pedi perdão por ter beijado você, o que quer que eu faça agora? —Supliquei.
—Não estou reclamando mais do seu beijo.
—E o que é então?
—Eu não sei como dizer isso... —Sua voz ficou mais tímida e ela finalmente me olhou, se preparando para falar. Eu não queria olhar, mas seu busto coberto subia e descia enquanto eu quase implorava para que mostrasse um pouco mais. —Eu estou com vergonha por estar aqui, eu nunca saio para conhecer pessoas novas. —E espremeu os lábios, desviando o olhar novamente.
Fiquei estupefato. Algo dentro de mim, congelou minhas pernas e meu olhos grandes avistaram sua expressão, casando-se perfeitamente com suas palavras. Ela me olhou novamente e, com meu encorajamento, dei dois passos para a frente, esticando a mão em sua direção.
—Hm? —Soltou um som de dúvida.
—Venha comigo. —Pedi, ainda com a mão esticada. Lisa pôs sua mão macia sobre a minha e se apoiou, levantando-se da cadeira. —Você tem grandes planos pra hoje? —E olhei nos olhos, ficando diante da mesma. Eu não conseguia desviar meus olhos de seu rosto quando estávamos tão próximos.
—Não, nada demais. —Ela piscou, olhando em meus olhos fixamente. Seus lábios se abriram e fecharam, mas não emitiu som.
—Então será que você me acompanharia em um passeio a cavalo até que seu carro chegue? —Tratei de me corrigir pelo tempo. —Como eu disse, não vai demorar.
—Eu sei montar a cavalo. —Sorriu timidamente.
—Sério? Então isso é perfeito. —Nem me preocupei em deixar escapar um sorriso tão largo a ponto de franzir minha bochecha, marcando as linhas de expressões. —Vem, a gente pode ir ao estábulo. Meus cavalos geralmente são mansos. São bem diferentes dos cavalos da Charlotte, você precisa ver...
Eu flexionei o braço para ela que o aceitou como apoio, e então nós dois cruzamos o jardim de inverno e saímos, deixando os lanches quase intocáveis sobre a mesinha de madeira. Lisa Mary era uma companhia que, por algum motivo, eu não queria deixar de ter. E isso me fez sofrer com antecipação por sua partida, quando o carro chegasse. Eu não queria que ela fosse embora tão rapidamente, de mim.
⤝⥈⤞
6 Vicente François ⤝⥈⤞ Eu tive a oportunidade de desfrutar de uma manhã calma, apesar de todo o alvoroço na igreja. Nunca havia me sentido tão confortável ao lado de alguém novo, como estava me sentindo na presença de Lisa Mary. Era algo totalmente fora do meu cotidiano. Eu queria tanto que ela ficasse, que eu quase cheguei a ligar para Sebastian e ordenar que atrasasse na entrega do carro, mas a imagem do Audi cruzando os grandes portões da entrada, tirou o meu chão. Lisa Mary, ao ouvir o som selvagem do motor veloz, olhou por cima dos ombros e rapidamente tirou a mão do apoio em meu braço, quase me bloqueando. Ela virou-se totalmente ao avistar o luxuoso carro azul e um sorriso largo se espalhou em seus lábios na companhia de um arfar. —Ele já veio! —Se surpreendeu. —Com licença... Senti como se a chegada daquele carro fosse a nossa despedida, e cheguei a expirar com força. Embora o sol esquentasse minha pele dentro das vestes, meu sopro se destacou em uma fumaça em frente ao
7 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Dizer que foi uma tarefa fácil permanecer na carne de uma boa moça fingida foi fácil, é uma mentira descarada. Eu sentia como se a qualquer momento eu pudesse tocar o meu rosto e me sujar com a máscara podre que havia vestido sobre a face. No entanto, havia me saído tão bem quanto qualquer atriz de cinema, e isso me deu orgulho. Vicente era realmente um homem atencioso, calmo, educado e, por muitas vezes, irritantemente controlado. Antes que fôssemos embora, percebi que ele havia caído em meu jogo de indução de sentimentos. Enquanto eu o provocava, fazia parecer que ele estava sentindo tudo isso sozinho, e quase o deixei no limite. Percebia sua respiração pesada, e quando passei os olhos pelos dedos de suas mãos, avistei ele apertando o punho como uma forma de se controlar para não me beijar inesperadamente, e tenho que admitir que aquilo estava me deixando satisfeita. A maneira como me olhava era quase como se fosse me canonizar. Eu estava cumprindo com minha pa
8 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Retornei para casa e, finalmente pude descansar no conforto do meu lar. Estava há horas sem comer nada e fui cozinhar algo leve para não parecer inchada. Senti o cansaço me vencendo quando subi as escadas de volta para o quarto e meus olhos pesaram, indicando que eu precisava dormir, ao menos um pouco. Tomei um banho quente ouvindo “Oh! Darling”, e me deitei para dormir depois desse ritual. Parecia como em um sonho, eu me sentia um pouco menos conturbada diante de uma situação tão estressante quanto ter que assumir uma falsa personalidade. Em um sono profundo, ouvi meu celular vibrando sobre a mesa de cabeceira e estremeci na cama, virando-me para o lado. Encolhi os dedos dos pés sob o cobertor, tentando me refugir do castigo em ter que despertar. Bati com a mão sobre o telefone e o arrastei pela mesinha até mim. Quem deve ser agora... Atendi aquela chamada e a voz no outro lado me fez despertar em um susto. —Oi, eu não sabia que horas ligar pra você, mas..., c
9 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Senti minha ansiedade escalando a impaciência quando o carro estacionou. Ouvindo suas palavras. Eu queria outra posição naquele carro e eu não estava me referindo aos bancos. Apesar de todos os meus planos para que aquele encontro estivesse exatamente da maneira como eu havia planejado, eu sentia como se minha vida estivesse desmoronando. Eu não podia ficar tão vulnerável diante dele. Ainda paralisada com as mãos sobre as coxas, Vicente chamou meu nome, agarrando o guardanapo sobre suas coxas e o arremessou no centro da mesa, mantendo a mão no local. —Lisa? —Tamborilou os dedos sobre a mesa a espera de minha resposta. Eu não fazia ideia do motivo pelo qual me recusava a ser no mínimo, espontânea em sua presença, mas aceitei. Pisquei, agitando a cabeça para embaralhar os pensamentos, até que meus olhos alcançaram uma expressão confusa de Vicente. No alto de sua sobrancelha aquela ruga intrigante tomava um espaço curto, e ele ergueu a mão até o topete teimoso, alis
10 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Percebi minha ousadia, mas tive que prosseguir. Aquele homem precisava de um empurrão e eu não conseguia mais me controlar dentro da calcinha. Ao som do bipe, as portas do elevador se abriram, obrigando-nos a nos separar. Para fingir que não estava sóbria, cambaleei para fora do elevador, sentindo meu corpo ser puxado quando Vicente agarrou suas mãos em minha cintura e me uniu á ele, garantindo que eu não cairia. —Eu vou deixar você em casa e depois disso vou embora. Não quero que pense que... Eu seria capaz de me aproveitar de você nesse estado. —Olhou-me sério e pareceu ofendido com suas próprias ações. Irritante! O que você quer? Ser canonizado? Pisquei, engolindo duramente. Em silêncio, caminhamos até seu carro e saímos do estacionamento, entrando no comboio de seguranças novamente. Percebia sua aflição, mas ele manteve suas mãos no volante para não deslizar em mim. Percebendo que eu não havia colocado o cinto de segurança, Vicente olhou-me sereno e inclino
11 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Aquela noite me levou a crer que eu precisava tê-lo tanto quanto ele me queria e, quando tudo acabou, ele me tirou a venda dos olhos com delicadeza, se saboreando em minha respiração ofegante sobre corpo quente e suado. Eu me deleitei sobre a cama, repousando ao seu lado para descansarmos. A noite acabou como um suspiro exausto e nós dormimos. ⤝⥈⤞ O clarão que a luz do dia ocupava pelos espaços do meu quarto me forçou a abrir os olhos, ao som de “Oh Pretty Woman” e o barulho do chuveiro compunham o início do meu dia. Inalei fundo no despertar, sentindo o aroma de erva doce que emanava pelo quarto. Como eu pude dormir desse jeito... Joguei os pés para fora da cama, equilibrando-me sobre a palma das mãos. Decidi ignorar o mundo rodando em torno de mim, consequente da sonolência que eu ainda sentia como resultado da noite anterior. Ele havia acabado comigo como um cavalo e eu sentia meus quadris reclamarem de uma maneira satisfatória. Estava nua, então n
12 Vicente François ⤝⥈⤞ Eu me despedi de Lisa, mesmo sabendo que a deixaria decepcionada. Eu não quero ser o cara que leva você pra cama e dá o fora na manhã seguinte. Eu realmente gostaria de poder escolher você para ser o meu compromisso principal nessa manhã, e nem meus desejos consigo realizar. Saindo de sua casa, avistei meus seguranças acordados dentro dos carros, para minha surpresa. A culpa pesou sobre os meus ombros, mas eu precisava me manter firme para encará-los e seguir para a indústria. —Bom dia, rapazes. —Ergui a cabeça, vendo a porta de meu carro ser aberta por Sebastian. —Houve um equívoco de última hora e... Bom, eu não pude permitir que trocassem os turnos, já que não dava pra chamar ninguém. Vou até a Indústria, então vamos seguir o mesmo comboio, mas quando me deixarem lá, sigam pra suas casas e retornem apenas durante a noite para o turno de vocês. —Sim, senhor. —Obedientes, confirmaram, entrando em seus carros para organizarem a rota perfeita. ⤝⥈
13 Vicente François ⤝⥈⤞ Após a saída fervorosa de Charlotte, meu pai e eu conversamos, ao lado de minha mãe, sobre os planos dele para meu início ao poder, e nós passamos a manhã discutindo sobre os detalhes. ⤝⥈⤞ 13 Lisa Mary ⤝⥈⤞ A saída repentina de Vicente fez nascer em mim, uma dúvida cruel. Ele gostou? Quando Vicente se despediu de mim, eu o observei se distanciando do jardim e entrando em seu carro após dois segundos de conversa com os seguranças cansados em frente à casa de campo. Pela janela, o sol incomodava os meus olhos, mas ainda assim eu me mantive atenta em cada movimento seu. Recuei em passos curtos de volta para a cama quando percebi os carros saindo simetricamente, e me joguei sobre a cama, expirando forte. —Eu preciso de um emprego. E eu precisava. Como iria conseguir explicar para Vicente que eu não tinha herança, mas vivia misteriosamente em uma casa grande, sem dinheiro nenhum? Eu precisava urgentemente encontrar algo no que me disfarçar. Havia