98Vicente François⤝⥈⤞Meu coração acelerava cada vez mais enquanto o elevador descia. Saindo da caixa de metal, acelerei os passos pelo estacionamento, sendo escoltado pelos meus seguranças.Eu estava tendo um ataque de pânico.Como eu vou finalizar isso? Como eu vou saber que terei que dizer um adeus definitivo? Como eu explico pro meu coração que não tem mais volta? O que eu vou dizer pra aquela criança que vai crescer sem a mãe? Como eu vou explicar o que fomos?Enquanto a minha ansiedade sufocava a minha sanidade, um dos seguranças havia chamado um paramédico, que não demorou para me alcançar no banco de trás de um dos carros.—Senhor François! Senhor François, precisa respirar fundo, comigo. Eu estava disperso. A respiração estava curta. A gravata parecia apertada, mas ela havia sido desamarrada pelos seguranças. Eu não sentia minhas mãos. Meu rosto estava suado, embora eu não tivesse feito nenhum grande esforço.—Teremos que sedar ele. —Disse o paramédico, aferindo minha pre
99Vicente François⤝⥈⤞Eu joguei meu corpo lento sobre o sofá, conforme raciocinava sobre suas palavras.Mamãe sempre foi uma mulher decidida e de palavras gentis, mas nunca deixou escapar que seus pensamentos fossem tão intuitivos daquela maneira.Expirei, sentindo os músculos das minhas costas relaxando nas almofadas do sofá espaçoso. Deslizei a mão na calça, puxando o celular que saía com dificuldade, reclamando todo o egoísmo do seu tamanho.A parede branca com decorações desconhecidas e sem nenhum vínculo pessoal, foi tudo o que eu tive naquele momento de olhos perdidos pelo ambiente diante de mim, antes que a outra pessoa atendesse a chamada.—Sebastian.—Sim, senhor?—Suba até a cobertura. Preciso de você.—Sim, senhor.Abaixei a mão sobre a coxa espalhada no assento do sofá, e larguei o celular ao lado da perna. Meu suspiro era desesperadamente dramático e enfático.Eu sabia o que aqueles sentimentos significavam. Eu já os havia sentido antes.Eram sentimentos de sacrifícios
100Vicente François⤝⥈⤞E como a poeira se espalha no espaço, eu me rendia a situação.O juiz andava de um lado para o outro, apressado.O celular egocentricamente gigante, mal cabia em suas mãos trêmulas.Sua voz a falhar, entregava todo o seu desespero naquele momento.A cada passo que dava para os lados, Sebastian avançava em sua frente, ficando frente a frente com ele.Não tinha para onde fugir, nem mesmo se eles estivesse com seus seguranças dentro do mesmo cômodo.E não era o caso naquele dia.Balançando o pé, despreocupado, ergui a mão na altura dos olhos e analisei os ponteiros do relógio.Trinta e dois minutos.Bufei.Afinal de contas, de quantos minutos mais ele precisava para resolver algo que um homem, com tanto poder, conseguiria em segundos?—O seu tempo acabou. —Me levantei do sofá e o encarei ainda de ombros encolhido, segurando o celular que não parava de vibrar entre as mãos trêmulas.—Por favor, senhor François. Apenas uma última mensagem para confirmar uma possível
102Vicente François⤝⥈⤞A lua me caía como um manto negro. Uma bola branca no vazio escuro do céu. Eu me sentia tão vazio e sozinho quanto aquela lua.Recostei nas grades da varanda, sob uma noite enluarada, e suspirei, deslizando as mãos para dentro dos bolsos da calça após um dia cheio.—Me sinto só. Olhando a minha vida, desse ponto de vista, a solidão chega a me parecer normal…Minhas palavras de desabafo no vento, foram interrompidas pelas portas do meu quarto se abrindo, revelando minha mãe.—Meu filho? Não está muito frio aí fora? —Perguntou, fechando as portas novamente.Ela entrou em meu quarto com delicadeza. Um passo depois o outro em pisadas sofisticadas.Suspirei.—Eu só estou procurando paz, mãe. Apenas isso. Meus ombros caíram quando expirei, fechando a porta da varanda e adentrei ao quarto.—Eu sei o que é iss-—Não começa, mãe.Motivado a odiar Lisa Mary, eu recusei qualquer conselho que não fosse maltratá-la.—Eu sei, até o seu pai sabe, embora não possa opinar nes
103Vicente François⤝⥈⤞Eu via o futuro repetindo o passado. Eu estava disposto a mudar isso, mas meu coração não me atendia. Minhas ideias não correspondiam aos fatos. E isso era frustrante.Eu devia te odiar, Lisa Mary. Eu devia nunca ter aceitado você sob o mesmo teto. No entanto, eu criei situações que me levassem a aceitar você em minha vida novamente, e isso me crucifica. Eu só quero sobreviver a você sem nenhum arranhão… Se isso for possível.Me afastei de Lisa Mary, aos poucos, dando dois passos para trás após pausar aquele beijo acalorado com um selar simples e um suspiro sufocante. —Você vai me enganar outra vez, não é? O seu amor falso acalmou o meu silêncio, mas me deixou suas marcas profundas e violentas, Lisa Mary. Então, por favor, não me faça ver novamente que as coisas belas da vida perdem a beleza e o encanto com o tempo. Por favor.Minhas súplicas em forma de palavras que vagavam naquele momento, comoveram as lágrimas reais de Lisa. Ela passou as mãos pelos cantos
1 Lisa Mary ⤝⥈⤞ O burburinho de um bar lotado contrabalanceava com a música “Bonjofondo”, fazendo algumas pessoas dançarem descontraídas. Envolvi os dedos em torno do copo, virando a última dose de uísque. Ele me olhou por cima do copo, contendo o riso em seus lábios curvilíneos, e pôs a mão sobre a mesa tentando me alcançar, mas desistiu quando percebeu que aquilo atraiu olhares para nossa mesa. Você será meu, por mais que tente recuar. Querido Daniel, eu sou a peste que o perseguirá até o final dessa noite... Pensava, deslizando o bico da bota entre suas bolas. —Como vai ser, Daniel? Você vai me fazer perder tanto tempo aqui? Eu quero bolas na minha cara. B-o-l-a-s. —O olhei com desdém, mantendo o sorriso debochado que eu amava. Daniel relaxou, encostando as costas na cadeira. Cansada daquela cena, inclinei para a frente deixando amostra o busto prestes a saltar sobre o corpete, e pus as mãos sobre a mesa, o olhando com superioridade. Os longos cabelos negros caíram sobre meu
2 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Em um vestido romântico rendado, atraí a atenção dos fiéis na principal igreja de Metz, a tão respeitada igreja matriz. Os bancos de madeira se preenchiam com pessoas que esperavam educadamente pelo início da missa, dividindo o espaço entre os ricos e os pobres. Em um salto modesto, foi a primeira vez em que eu estava usando algo abaixo dos joelhos. O sol que reluzia sobre meus cabelos recém pintados em castanho claro realçava o tom da minha pele pela manhã. Eu emanava pureza. Em tons discretos e frios, minha presença contrabalanceava com as pessoas em suas roupas com cores divertidas para a missa no domingo de manhã. Indo em direção ao banco próximo ao altar, sentei-me educadamente, sempre sorridente. Eu estava frequentando as missas durante uma semana e consegui me aproximar de algumas pessoas na intenção de parecer amigável. Uma parte dos meus cabelos caiu sobre meus ombros, mas logo tratei de passá-lo para trás da orelha, mantendo a ingenuidade aparente. Todos
3 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Não tinha nada pelo que eu tivesse mais desprezo que fiéis conservadores me olhando prontos para chicotearem com suas línguas contra meus pecados. Estando naquela igreja, eu apenas queria correr o mais rápido possível para longe dos membros idiotas daquele inferno, e acabei me inscrevendo para me voluntariar na venda dos doces. Eu ficaria com o dinheiro de tudo o que vendesse, fácil, fácil. Eu percebi Charlotte e a senhora François passando em frente à barraca da qual eu estava cuidando, e as duas se direcionaram até a tenda que o padre mandou fazer para as mães com crianças e pessoas sensíveis. Meus olhos buscavam por Vicente quando o celular vibrou dentro da pequena bolsa branca, obrigando-me a atender. —Cadê o idiota do seu irmão? —Perguntei, ranzinza. Ele ainda não estava por perto. —Está tão pura, Lisa Mary... Se eu não te conhecesse diria que se converteu. —Sua voz pareceu sarcástica, debochando. —Diga, esse tom de cabelo tão claro não combina muito com voc