Início / Romance / Uma Noiva Para Meu Irmão / Ela não é tão boa assim
Ela não é tão boa assim

7

Lisa Mary

⤝⥈⤞

Dizer que foi uma tarefa fácil permanecer na carne de uma boa moça fingida foi fácil, é uma mentira descarada. Eu sentia como se a qualquer momento eu pudesse tocar o meu rosto e me sujar com a máscara podre que havia vestido sobre a face. No entanto, havia me saído tão bem quanto qualquer atriz de cinema, e isso me deu orgulho. Vicente era realmente um homem atencioso, calmo, educado e, por muitas vezes, irritantemente controlado.

Antes que fôssemos embora, percebi que ele havia caído em meu jogo de indução de sentimentos. Enquanto eu o provocava, fazia parecer que ele estava sentindo tudo isso sozinho, e quase o deixei no limite. Percebia sua respiração pesada, e quando passei os olhos pelos dedos de suas mãos, avistei ele apertando o punho como uma forma de se controlar para não me beijar inesperadamente, e tenho que admitir que aquilo estava me deixando satisfeita. 

A maneira como me olhava era quase como se fosse me canonizar. Eu estava cumprindo com minha parte no acordo, agora, precisava sair daquela propriedade e “caçar” Charlotte. Eu me despedi de Vicente, na promessa de nos encontrarmos novamente, e lhe passei meu número de telefone, saindo daquela propriedade depois disso.

⤝⥈⤞

Dentro do carro enquanto dirigia para fora da propriedade François, liguei para Charlotte. Sentada no banco do carro, sentia o cinto de segurança tocando entre meus seios e isso me fez recordar quando fiquei com Vicente naquela sala escura. Por um momento, eu quase desejei que estivéssemos naquela mesma situação para que eu pudesse arrancar suas roupas e vê-lo verdadeiramente nu. A voz de Charlotte ao telefone, arrancou-me de minhas reflexões, e eu fui obrigada a me concentrar.

—O que você quer? —Perguntou. Seu tom de voz parecia levemente entediada.

—Eu quero um milhão de dólares. Não sei se percebeu, mas o seu irmão e eu estamos nos “entendendo” de modo que fui convidada a me encontrar com ele. Então, seja breve. Eu quero o meu milhão. —Sorri ao final da frase, me ajeitando no banco do carro enquanto dirigia tranquilamente por uma estrada vazia.

—Muito bem... —Ela arfou do outro lado da linha. —Em vinte e quatro horas o seu primeiro milhão cairá na conta. Ah, Lisa Mary, antes que eu me esqueça... Por favor, vista algo decente e bonito. Esse seu vestido é um trapo e você parecia um rolo feito de renda. Igual a um papel toalha com o mínimo de beleza.

—Vai à merda, Charlotte.

—Passa um ovo nesse cabelo pra hidratar, está muito seco...

Encerrei a chamada e então tornei a atenção exclusivamente para o trânsito. Mal conseguia me cair a ficha de que eu havia conseguido entrar naquela loucura. Seduzir um bilionário... Isso estava fora do meu alcance...

Agora, eu precisava me aprontar e acelerar para começar a planejar meu próximo passo.

Ah, Vicente... Se você soubesse o quanto eu vou te usar, você correria de mim, feito um carneirinho. Eu vou acabar com você, meu querido...

⤝⥈⤞

Acelerando um pouco mais pela estrada vazia, finalmente havia retornado para a cidade. Eu corria desesperadamente de volta para minha casa de campo. A herança de meus pais havia se resumido unicamente naquela propriedade.

Estacionei o carro na garagem e entrei em casa, na esperança de poder descansar. Fechei a porta, tirando os sapatos ainda na sala quando o meu celular vibrou dentro da bolsinha branca e eu o puxei, jogando a bolsa de mão sobre o sofá grande e, atendi a ligação.

—Quem é? —Suspirei com desgaste e cansaço.

—Oi... —Franzi o cenho ao perceber a voz de choro, e me segurei na parede, equilibrando para tirar o outro salto. —Lisa Mary, não é isso?

—Vou perguntar mais uma vez, antes de desligar. Quem é? —E tirei os sapatos, sentindo os pés no chão frio. Eu revirei os olhos com satisfação, espremendo os dedos ao senti-los tão livre.

—É a ex-noiva do Daniel, a gente pode conversar?

O cansaço sobre meus ombros quase caiu em meus pés como uma bigorna, e eu arregalei os olhos na surpresa de aquela mulher querer falar comigo novamente.

—Já acertamos o preço e eu entreguei o trabalho. Não tem mais nada que eu possa fazer por você. Boa tarde. —Estava pronta para desligar quando ouvi a voz dela novamente.

—Por favor, senhorita Mary. Não pode me ajudar agora? Eu preciso ouvir alguma coisa útil, porque nada parece fazer sentido para mim. —E por alguns segundos, pude ouvir barulho de carros. Alguém estava buzinando insistentemente.

—Onde você tá? —Minha voz quase afinou com o susto.

—Na Benjamin Franklin, Senhorita Mary, por favor, não poderia falar comigo agora? 

—O que você tá fazendo aí? —Estremeci com a atitude descuidada daquela mulher. 

—Eu não quero viver sem o Daniel, apesar de tudo. —Sua voz ficou trêmula como se escorregasse e eu tive medo de ouvir mais.

—Ele traiu você. Você é cega?

A ligação foi encerrada. Senti esquentar um calor em meu peito, e eu rapidamente busquei os malditos sapatos baratos novamente. Atravessei a sala indo até a pequena bolsa de mão, e busquei minhas chaves. Meus passos tortos por ainda tentar acertar os pés dentro dos sapatos desconfortáveis, tornava tudo pior.

⤝⥈⤞

Saindo de casa, dirigi freneticamente para a ponte Benjamin Franklin. Eu não conseguia conciliar os sentimentos para saber se estava preocupada ou com raiva. Estava em alta velocidade e podia sentir que a qualquer momento capotaria aquele carro, mas precisava fazer alguma coisa por aquela mulher que estava fervendo o meu juízo. Quando finalmente avistei o pilar da ponte, pisei um pouco mais fundo, mas tive que desacelerar ao perceber várias pessoas aglomeradas na beirada. Presumi estarem em torno da mulher traída, e estacionei no acostamento, descendo do carro depois disso. Corri até aquele grupo de pessoas, e ao me aproximar, empurrei-as para alcançar a mulher. Ela estava agarrada à barra de proteção, mas seu corpo estava prestes a cair na água. 

⤝⥈⤞

Temia tanto pela vida, que olhava para os próprios pés quase escorregando para a imensidão embaixo, foi quando pus minha mão na dela e a alcancei.

—O que você tá fazendo? Ficou maluca? 

Ela me olhou rapidamente e eu pude perceber seus olhos assustados tanto quanto amedrontados.

—Depois que a gente saiu daquele bar ele ainda ia se casar comigo. Ele ia se casar comigo..., mas não me quis mais. —Espremeu os olhos, chorando um pouco mais. Eu sabia que estava amargurada pela dor de perder seu amado e desgraçado “Daniel”, mas não entendia suas amarras naquele amor.

—Ele é um canalha, você percebeu isso? —A revolta de minhas palavras transparecia em minha expressão de ódio para ela, diante da situação.

—Eu o amo tanto...

—Sai dessa merda dessa ponte e entra no meu carro. AGORA.

Eu a ajudei a sair da ponte e as pessoas em volta começaram a aplaudir, deixando-me furiosa. 

—Parem com essa merda! Ninguém aqui tá fazendo show, cacete! —Gritei, florescendo a desistência nas pessoas a nossa volta. Olhei para aquela mulher com raiva enquanto caminhava ao lado dela, em direção ao meu carro. —Se você criar outra cena como essa novamente, eu mesma empurro você. Entendeu? —Ela me olhou assustada e assentiu, acelerando os passos até o carro.

⤝⥈⤞

Entramos no carro e eu travei as portas. Abri o porta-luvas do carro e tirei minha pistola de dentro, engatilhando. Virando-me para ela com ira nos olhos, eu apontei a pistola em seu pescoço enquanto via seus olhos amedrontados encarando o cano.

—Quer morrer? —Perguntei friamente, esperando por sua resposta em silêncio.

—Senhorita Mary... Eu... 

—Anda, fala. Quer morrer? —Eu pus o dedo no gatilho, mas não o apertei, esperando pela resposta daquela mulher. Estava tremendo tanto que não teve reação, então eu apertei o gatilho, percebendo-a espremer os olhos e gritar.

A mulher percebeu que nada havia acontecido com ela e abriu os olhos rapidamente, olhando para mim, com raiva.

—VOCÊ É LOUCA? —Esbravejou e se espremeu no banco do carro como se tentasse se defender de mim.

—Você me fez sair do conforto da minha casa e vir até essa ponte fedida pra ficar “conversando” com você. Então essa é a minha demonstração pra que entenda: da próxima vez que quiser morrer, faça isso novamente e espere que eu te encontre. Mas eu vou te dar outra dica: cuidado quando me ligar, estando prestes a saltar de uma ponte. Porque se eu alcançar você novamente depois de ser incomodada, será o seu último dia. Estamos entendidas?

O medo nos olhos quase teve voz, e ela pôs a mão na porta pra tentar sair.

—Calma, você não vai morrer hoje. Só não me liga. —Olhei para ela, após destravar a porta. —Nunca mais.

A mulher saiu do meu carro correndo pelo acostamento da ponte e logo conseguiu uma carona. Depois de perceber que ela estava segura, rodopiei na pista e acelerei de volta para casa. Eu podia até não ser a noiva ideal e convencional para os François, mas Vicente não precisava saber disso.

⤝⥈⤞

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo