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15 Charlotte François ⤝⥈⤞ Depois que Estevan e eu nos enroscamos sobre a papelada que ele deveria analisar, desci da mesa com sua ajuda e arrumei a postura, endireitando os ombros. Ainda ofegante, passei as mãos sobre a roupa perfeitamente costurada para mim, e limpei a garganta para começar a conversar sobre os planos em minha mente. —E então, você já sabe como se livrar do seu irmão? —Ele sorriu nasal, espremendo os lábios. —Nunca gostei muito de Vicente. —Eu amo o meu irmão. Mas, eu amo mais a mim. —Ergui a cabeça, fechando os olhos momentaneamente. —A chegada dela à indústria será memorável. —Abri os olhos para não o ver sendo projetado no interior de minhas pálpebras. —Como assim? —Digamos que ele terá seu primeiro problema. —Passei as mãos pelo rosto, respirando fundo. Era insuportável pensar que teria que chegar ao extremo, mas eu tinha. —Vicente vai se deparar com um maquinário superaquecendo bem debaixo dos pés dele. Se ele conseguir um bom engenheiro, tudo bem.
16 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Vicente assumiu sua presença ao meu lado e flexionou o braço para que eu passasse a mão pelo vão triangular. Eu ainda me lembrava das vezes em que Estevan mentia para a senhora sua esposa que, naquele momento, estava diante de nós. Ela estreitou os olhos quando virou para mim, erguendo a cabeça de maneira soberana. ⤝⥈⤞ —Então quer dizer que essa garota veio almoçar conosco? —Seus lábios se espalharam em um sorriso de desprezo e ela passou os olhos por Vicente, que suspirou com seus comentários maldosos. —Você vai enfiar essa criatura na família François, é isso mesmo? —Charlotte... Não. Hoje não. —Reclamou, levando a mão em frente ao rosto. Ele apoiou os dedos em frente ao cenho, abaixando a cabeça. —Se quiser discutir espere, ao menos, o espírito voltar pro meu corpo, porque agora eu me sinto tão estressado quanto vazio de fome. —Ele olhou para Estevan e, em seguida, para sua irmã. —Com licença. Nós caminhamos em passos sincronizados em direção às grande
17 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Pude notar um Vicente mais vivo e animado, ele estava finalmente respirando outra vez. No entanto, algo acendeu dentro de mim, quando ele me declarou “sua namorada”, enquanto conversava ao telefone com alguém. Pode parecer besteira, mas eu devo confessar que me senti confortável com suas palavras. Vicente e eu ficamos naquele quarto por cerca de quarenta minutos e, por incrível que pareça, nós não transamos. Eu estava com vontade, eu queria ser tocada, mas ele foi tão careta que apenas permaneceu me provocando. Eu queria aquele Vicente da noite passada me enrabando feito uma... —Você parece dispersa, está tudo bem? —Deslizou os dedos entre meus cabelos, acariciando meu couro cabeludo. Eu me enrosquei em seu braço forte enquanto sentia a brisa entrando pela janela e soprando os meus pés. —Esse divã parece mais confortável desde que você se deitou aqui comigo. —Esse momento é muito bom, mas eu tenho que te dizer. —Vicente se preparou com um suspiro intenso
18 Vicente François ⤝⥈⤞ Uma semana passou-se depois daquele almoço familiar. Eu ainda sentia vergonha diante de Lisa Mary, por ter exposto ela a uma confusão da minha família, mas logo ela se daria conta de que aquelas discussões seriam inevitáveis. O grande dia, então, chegou. Preparando-me ainda dentro de minha sala, percebi a movimentação através das janelas. O meu pai e Lisa Mary estavam na mesma sala comigo, e tentavam me acalmar. Embora ele não gostasse muito dela, ainda assim decidiu que aquele dia seria tranquilo. ⤝⥈⤞ —Vicente, você precisa se acalmar. Embora não consiga conter as emoções agora, imagine que as coisas estão em seu controle. Você está assumindo o controle de tudo agora, precisa manter inteligência emocional como dominante dentro de você. —Ela pôs sua mão sobre meu ombro, olhando em meus olhos. —Ouça a sua namorada, meu filho. Ela deu a você o mesmo conselho que eu recebi há muitos anos atrás. Se não consegue sentir-se melhor, finja. —Papai reforço
19 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Nós brigamos. Vicente e eu discutimos pela primeira vez, mas ele estava verdadeiramente magoado com o que havia feito e eu necessitava desse sentimento de culpa. Quando voltei ao seu escritório, na indústria, estava prestes a perdoá-lo para manipular seus sentimentos, e foi o momento em que a “Amanda” entrou na sala segurando um bolo super brega. Um sentimento esquisito se espalhou pelo meu peito. Senti como se um aperto forte estivesse prendendo, sufocando as batidas, obrigando-me a inspirar fundo e eu senti a fisgada de dor no meu coração, era como se eu me importasse com ele. Culpe-me se quiser, mas eu me senti uma idiota naquela cena. Olhei nos olhos de Vicente e não consegui separar o meu trabalho. Em meio aquela sensação estranha, saí da sala rapidamente e fui para o elevador execultivo, descendo até o estacionamento. Quem ele pensa que é? Onde está aquele homem todo pronto pra levar nas costas o nome dos François? Há! Ele não passa de uma fraude...
20 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Terminando de conversar com Charlotte, ela se despediu de mim, entrando em seu carro. Também entrei em meu carro com destino ao café próximo a indústria. Eu precisava ver o rosto daquela garota mais uma vez. Os sinos tocaram quando eu empurrei a porta, olhando para os lados. Eles ainda estavam arrumando a recepção quando o barulho dos meus sapatos foram ecoando até o balcão, e lá estava a “queridinha”. Eu me debrucei sobre o balcão, deixando o busto amostra, implorando para que ela me notasse. —Oh, Lisa, não é isso? —Sorriu, equilibrando uma bandeja com pratos sujos. Ela não parecia querer fugir de mim, mas logo ia descobrir que precisava. —Senhorita Mary, pra você. —Apoiei o queixo sobre a mão. —A gente precisa muito conversar, A.M.A.N.D.A. Minhas palavras soaram como uma ameaça, e o sorriso irritante em seus lábios se desfez rapidamente. Ela levou a bandeja para dentro da cozinha, retornando depois disso. Ergueu as mãos atrás das costas, desatando o nó n
21 Vicente François ⤝⥈⤞ Jogado sobre a mesa de controle, abri os olhos, encarando uma nuvem de fumaça cinza e quatro homens em cima de mim, puxando-me pelo terno. —Senhor... Senhor François, por favor, levante-se! Temos que tirá-lo daqui imediatamente... Por favor, levante-se! A voz era semelhante, eu me lembrava daquela voz, mas não a reconhecia. De repente, senti meu corpo saindo da mesa e alguém me arrastou pelos braços para fora do galpão. Em minha frente, sob uma visão turva, encarei os meus engenheiros sendo retirados. Eles estavam tão deploráveis quanto eu, mas ainda assim estavam falando e estavam vivos, isso me deixou um pouco mais tranquilo. Saindo do galpão, fomos diretamente para o hospital em um comboio de sempre, até que finalmente eu pude adormecer. ⤝⥈⤞ Quando acordei, estava num quarto e, quando virei a cabeça para o lado avistei minha irmã sentada na poltrona do acompanhante. Ela estava com as pernas encolhidas, adormecida sob um livro aleatório que
22 Charlotte François ⤝⥈⤞ Você pode me julgar se quiser, mas eu estava no pior momento em minha vida. Traída pelo meu marido, quase matei meu irmão, expulsa do que seria meu, igualmente, por direito. Eu estava afundando tanto que necessitava de me prender a alguém como um bote salva-vidas. —Vai ficar me olhando com essa cara feia? —De costas para Vicente eu sentia seus olhos em mim. Era como se algo me dissesse que eu estava sendo observada, e aquilo me deixava inquieta. Meu coração afundou quando ouvi a sua voz. —Você está muito diferente da irmã que eu costumava ter. —Eu me virei para ele, encontrando uma expressão preocupada na face de Vicente, que insistia em me olhar fixamente. —O que aconteceu com você? Eu não consegui mais fingir. Todos a minha volta percebiam o que eu queria que percebessem, mas Vicente era a única pessoa que me enxergava, não importasse a situação ou o tamanho da minha angústia. Ele era a pessoa que sabia quem eu era. Preservei o pingo de dignida