Início / Romance / Uma Noiva Para Meu Irmão / Sorrateira, ingressando na família
Sorrateira, ingressando na família

5

Lisa Mary

⤝⥈⤞

—Nós somos amigos? —Aceitei o apoio e deslizei minha mão pelo seu bíceps, provocando-o de maneira que me fez parecer inocente. 

Vicente limpou a garganta e tossiu seco, piscando na tentativa de parecer decente. 

—Sim, n-nós somos. —Afirmou e então endireitou a cabeça, afirmando a postura. 

Nós então trocamos alguns passos até os poucos degraus e subimos até a varanda. Nos aproximamos da porta e ele a abriu. A governanta me analisou dos pés à cabeça e bloqueou o sorriso irônico que quase escapou em seus lábios, nos cumprimentando. No entanto, meu nervosismo quase expeliu pelos poros quando olhei sobre seu ombro direito e avistei Charlotte sentada na poltrona, ao lado de sua mãe que também estava em outra poltrona. 

—Senhor François, por favor, deixe que eu leve o seu casaco. A casa está aquecida, você vai acabar ficando soado. —Disse a governanta, esticando os dedos em direção à Vicente. 

—Obrigado. —Ele virou de costas para ela, saindo do meu lado momentaneamente, e deixou que a mulher bem cuidada retirasse o blazer de seu tronco, alinhando-o próximo ao peito. 

Ela me analisou com um julgamento sobre mim, que mais pareceu querer que eu fosse embora. No entanto, percebendo seu lugar naquela família, ela se rendeu a ter que me convidar para entrar e me desejar as “boas vindas”. 

—Vem, deixa eu te apresentar a minha mãe. —Disse Vicente enquanto a governanta fechava a porta, segurando seu casaco cuidadosamente como se fosse protegê-lo. 

Senti sua mão em minhas costas esquentando como brasa, ou talvez fosse apenas o excesso de conforto que senti com o seu toque. Nós caminhamos em passos curtos sobre o chão de porcelana, até nos aproximarmos das duas madames sentadas nas poltronas despreocupadas. 

⤝⥈⤞

Vicente limpou a garganta. Pôs a mão sobre o ombro de sua mãe e tirou a outra mão de minhas costas para não parecer tão íntimo. Com as mãos juntas em frente ao corpo, eu me mantive comportada e santa.

—Hm... —A madame o olhou por cima dos ombros e, ao reconhecer a mão de seu filho, ela sorriu vendo ele se aproximar indo para sua frente. —Ah, querido. Eu fiquei tão preocupada com você que não conseguia comer nada. O seu pai mandou que fizessem uma busca extensa pelo bairro da igreja, mas o segurança nos avisou de que você já estava em um comboio vindo para cá. 

—É que eu precisei parar antes de vir... —Ele pôs suas mãos sobre as pernas de sua mãe e se abaixou diante dela.

Enquanto isso, Charlotte e eu trocamos olhares e ela chegou a sussurrar para mim:

—Desfaz essa cara de pânico... —Gesticulou com os lábios, sem emitir som, até que sua mãe me olhou, percebendo minha presença.

—Vicente, meu filho, quem é a moça bonita? —Se esforçou para parecer serena, embora o sorriso em seus lábios fosse eminente.

Pisquei fugindo das mímicas de Charlotte, e tornei à ser uma paciente Lisa Mary.

—Ah, mãe... —Ele se levantou, ficando ao meu lado. Superando a estatura de sua mãe e de sua irmã, ele também era mais alto do que eu. —Essa é Lisa Mary, eu a conheci durante o confronto de hoje. Ela estava em perigo e eu ia levá-la pra casa. Mas... O carro dela ficou e eu insisti que viéssemos pra cá, afinal de contas se alguém seguisse ela poderia fazer algo ruim para tentarem se aproximar de nós. —Afirmou, ficando ao meu lado.

—Muito prazer, senhora François. —Fiz reverência como sinal de respeito, embora não fosse o costume. A mulher elegante levantou-se, esguia. Endireitou os ombros e ergueu o queixo, arqueando uma sobrancelha para mim. Ela mapeou os detalhes em meu rosto e me analisou pelo corpo inteiro. Eu me senti sob análise de laser.

—”Lisa Mary”... —Sorriu de canto de boca, finalmente quebrando aquela sensação de que eu estava em um julgamento. —O que vocês são?

—Amigos! —Exclamamos em um único tom de voz que saiu como um disparo.

—Percebi... —Ela passou os olhos por Vicente, veio em sua direção e pôs suas mãos sobre os ombros do filho, olhando em seus olhos. —Ela é muito graciosa. 

Naquele momento percebi Charlotte cruzando as pernas e fingindo a imagem autoritária que ela tinha perante os François.

—Pois, para mim, parece apenas uma moça comum. —E me olhou com um brilho desafiador nos olhos. —Não quer se sentar? Parece um rolo de tecido barato em pé...

—Charlotte! —Reclamou sua mãe sob o olhar ofendido de Vicente.

—Não, tudo bem. Eu apenas vou esperar pelo meu carro. Eu tenho algumas pendências pra resolver hoje e o ataque à igreja, infelizmente, foi uma lástima. —Passei a mão pelo braço, demonstrando empatia pelo ocorrido, quando na verdade eu não me importava.

—Tem razão, minha jovem. O que aconteceu foi realmente um erro grave de segurança. —A madame me olhou diretamente e tirou as mãos dos ombros de Vicente, virando-se para mim. —Vamos, por que não se junta a nós para o almoço? Não vai demorar para ser servido. —Sorriu com bom tom. Suas intenções pareciam boas e eu encontrei aceitação em seu olhar.

Estava pronta para negar, mas Vicente me percebeu antes que as palavras saíssem de minha boca, e deu um passo único e largo para o lado, fazendo-me companhia. Olhei para baixo, quase agitada por seu apoio silencioso.

—Você pode ficar, Lisa? —Sua voz me alcançou e chamou minha atenção. Um calor se espalhou pelo meu peito enquanto eu me sentia idiota demais por estar naquela situação. 

—Não sei, eu não tenho tanto tempo assim...

—Por favor, fica. Eu vou mandar que o segurança busque seu carro. —Ele sorriu para mim, e estendeu a mão em minha direção.

—Vicente! —Sua mãe o olhou de olhos grandes, repudiando sua atitude.

—Não, tudo bem. —Balancei a bolsinha branca e a abri, tirando a chave do carro e a coloquei sobre a palma de sua mão macia. Ele encolheu os dedos e um sorriso satisfatório se formou em seus lábios curvilíneos, acompanhado de um suspiro de alívio. —Tem certeza de que eu não vou incomodar ninguém?

—Não, não vai. —Ele prendeu a chave em um punho, fechando a mão fortemente e a levou em direção ao peito com orgulho. —Eu não demoro. —Virou a cabeça em direção à sua mãe, erguendo as sobrancelhas com atenção. —Mãe, por favor, leva ela pra comer alguma coisa. Eu vou mandar o Sebastian ir buscar o carro dela.

—Uhum. Vem querida. —Ela esticou o braço em minha direção e me chamou com um tom de voz macio. —Eu vou te apresentar o meu jardim de inverno. Eu vi você hoje na barraca, as pessoas parecem gostar muito de você. Não me admira, você me parece ser uma pessoa agradável e de bom coração. —Sorriu a madame, passando por Charlotte. —Já minha filha sempre pareceu um general de saia.

—Prefiro assim. —Disse Charlotte, jogando os pés com longas botas sobre a mesinha de centro marcando o vidro com a poeira na sola, enquanto virava o último gole de vinho restante na taça. —Olha moça, se você for boba demais vai acabar caindo nas leseiras do meu irmão, fica esperta. —Ergueu a taça vazia para mim, se esforçando para não expressar nenhum sorriso e entregar o nosso disfarce.

⤝⥈⤞

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo