Início / Romance / Ryder / Prólogo - O Dia Em Que Morri
Ryder
Ryder
Por: Drica Penteado
Prólogo - O Dia Em Que Morri

Narrado por Ryder Sawyer

Eu nunca gostei muito de igrejas.

Não que eu não acreditasse em Deus. Eu acreditava. Minha mãe sempre dizia que a fé era o que segurava um homem de pé quando tudo o mais falhava. E eu entendia isso. Mas igrejas me davam uma sensação estranha. Um silêncio pesado demais, como se o mundo estivesse esperando alguma coisa de mim.

Mas naquele dia, eu estava ali.

De terno preto, a barba recém-aparada, o nó da gravata apertando minha garganta. Com as mãos fechadas, os dedos roçando no tecido grosso das calças. Esperando.

A capela era pequena, feita de madeira rústica, com vigas expostas no teto e janelas que deixavam a luz quente da tarde entrar. Rosas brancas e girassóis decoravam o altar, entrelaçados com fitas creme que minha mãe insistiu que ficariam bonitas. O cheiro de lavanda e madeira polida enchia o ar.

Mas nada disso importava.

O que importava era que ela ainda não tinha chegado.

Passei os olhos pela capela, tentando me distrair. Tentando encontrar algum rosto que me acalmasse.

Minha mãe estava sentada na primeira fileira, segurando um lenço, os olhos brilhando de emoção e orgulho.  Meus irmãos estavam espalhados pelos bancos, mas um deles estava afastado.

Hunter.

Encostado numa das colunas ao fundo, de braços cruzados. Sempre com aquele olhar de quem sabia de alguma coisa que os outros não sabiam.

E eu odiei isso.

O relógio na parede marcou mais um minuto.

A conversa entre os convidados virou sussurros.

Minha respiração começou a pesar.

Onde diabos ela estava?

Foi então que uma lembrança me atingiu como um golpe.

A primeira vez que vi aquela mulher.

Ela era linda. Mas não de um jeito óbvio. Era daquele tipo que te fazia olhar duas vezes, que te fazia querer decifrá-la. O jeito que sorria de canto, que cruzava os braços quando queria esconder que estava nervosa. O brilho nos olhos quando falava do futuro que poderíamos ter juntos.

E eu acreditei.

Inferno, como eu acreditei.Engoli seco.

Me mexi no altar.

Minha mãe lançou um olhar para mim, preocupada.

Outro minuto.

Outro.

Meus punhos se fecharam.

E então, Hunter começou a se mexer.

Apertou os lábios, descruzou os braços, saiu do fundo da capela e começou a andar pelo corredor.

Meu estômago revirou na mesma hora.

Hunter não era o tipo de homem que se mexia à toa.

Ele subiu os degraus do altar, com uma expressão que eu já conhecia.

Meus músculos travaram. Minha mandíbula se enrijeceu.

— O que é? — perguntei baixo, já sabendo que não queria ouvir a resposta.

Ele tirou algo do bolso do paletó.

Um pedaço de papel. Dobrado de qualquer jeito.

Eu congelei.

Meus olhos foram do papel para ele.

Hunter estendeu a mão.

— Toma.

Minha respiração ficou presa no peito quando peguei o papel.

A ponta dos meus dedos tremia.Meus olhos passaram rapidamente pelas palavras rabiscadas.

"Sinto muito. Não posso fazer isso."

Foi como levar um soco no peito.

Meu sangue ficou gelado.

Meu corpo inteiro pesou.

Ela... foi embora.

Eu li aquelas malditas palavras de novo.

E de novo.

Como se, de alguma forma, elas fossem mudar.

Como se, numa terceira ou quarta leitura, a verdade fosse diferente.

Mas não era.

Ela me largou.

No altar.

Engoli em seco. O gosto amargo da humilhação subiu pela minha garganta.

Mas Hunter não saiu do meu caminho.

Ele ficou ali. Me encarando.

E eu soube.

Soube que ele sabia de alguma coisa que eu ainda não sabia.

— Diz logo, Hunter. — minha voz saiu baixa, tensa.

Ele inspirou fundo, como se soubesse que ia ser um golpe no meu peito.

— Ela estava te traindo.Minha visão ficou preta por um segundo.

Não.

Não.

Minha cabeça girou. Meus dedos apertaram o papel até ele se amassar completamente na minha palma.

— Ela o quê?

Hunter olhou nos meus olhos. Sem hesitar.

— Ela está grávida, Ryder.

Minha respiração falhou. Meu coração parou.

Mas o golpe final ainda não tinha vindo.

Hunter passou a língua pelos lábios.

E então jogou a última bala.

— O filho não é seu.

Foi quando eu morri.

Ali, de pé no altar.

Diante de todo mundo.

O vestido branco que nunca cruzou aquele corredor.

O altar onde eu fiquei sozinho.

A vergonha, a humilhação queimando como ferro em brasa dentro de mim.

Meu pai sempre disse que um homem deveria manter a postura diante da desgraça.

Ele não estava mais aqui para ver isso. Graças a Deus.

Não chorei.

Não gritei.

Não fiz nada.

Apenas dobrei a m*****a carta.

E, sem olhar para ninguém... fui embora.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo

Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App