Narrado por Ryder Sawyer
Eu nunca gostei muito de igrejas.
Não que eu não acreditasse em Deus. Eu acreditava. Minha mãe sempre dizia que a fé era o que segurava um homem de pé quando tudo o mais falhava. E eu entendia isso. Mas igrejas me davam uma sensação estranha. Um silêncio pesado demais, como se o mundo estivesse esperando alguma coisa de mim.
Mas naquele dia, eu estava ali.
De terno preto, a barba recém-aparada, o nó da gravata apertando minha garganta. Com as mãos fechadas, os dedos roçando no tecido grosso das calças. Esperando.
A capela era pequena, feita de madeira rústica, com vigas expostas no teto e janelas que deixavam a luz quente da tarde entrar. Rosas brancas e girassóis decoravam o altar, entrelaçados com fitas creme que minha mãe insistiu que ficariam bonitas. O cheiro de lavanda e madeira polida enchia o ar.
Mas nada disso importava.
O que importava era que ela ainda não tinha chegado.
Passei os olhos pela capela, tentando me distrair. Tentando encontrar algum rosto que me acalmasse.
Minha mãe estava sentada na primeira fileira, segurando um lenço, os olhos brilhando de emoção e orgulho. Meus irmãos estavam espalhados pelos bancos, mas um deles estava afastado.
Hunter.
Encostado numa das colunas ao fundo, de braços cruzados. Sempre com aquele olhar de quem sabia de alguma coisa que os outros não sabiam.
E eu odiei isso.
O relógio na parede marcou mais um minuto.
A conversa entre os convidados virou sussurros.
Minha respiração começou a pesar.
Onde diabos ela estava?Foi então que uma lembrança me atingiu como um golpe.
A primeira vez que vi aquela mulher.
Ela era linda. Mas não de um jeito óbvio. Era daquele tipo que te fazia olhar duas vezes, que te fazia querer decifrá-la. O jeito que sorria de canto, que cruzava os braços quando queria esconder que estava nervosa. O brilho nos olhos quando falava do futuro que poderíamos ter juntos.
E eu acreditei.
Inferno, como eu acreditei.Engoli seco.
Me mexi no altar.Minha mãe lançou um olhar para mim, preocupada.
Outro minuto.
Outro.
Meus punhos se fecharam.
E então, Hunter começou a se mexer.
Apertou os lábios, descruzou os braços, saiu do fundo da capela e começou a andar pelo corredor.
Meu estômago revirou na mesma hora.
Hunter não era o tipo de homem que se mexia à toa.
Ele subiu os degraus do altar, com uma expressão que eu já conhecia.
Meus músculos travaram. Minha mandíbula se enrijeceu.
— O que é? — perguntei baixo, já sabendo que não queria ouvir a resposta.
Ele tirou algo do bolso do paletó.Um pedaço de papel. Dobrado de qualquer jeito.
Eu congelei.
Meus olhos foram do papel para ele.
Hunter estendeu a mão.
— Toma.
Minha respiração ficou presa no peito quando peguei o papel.
A ponta dos meus dedos tremia.Meus olhos passaram rapidamente pelas palavras rabiscadas.
"Sinto muito. Não posso fazer isso."
Foi como levar um soco no peito.
Meu sangue ficou gelado.
Meu corpo inteiro pesou.Ela... foi embora.
Eu li aquelas malditas palavras de novo.
E de novo. Como se, de alguma forma, elas fossem mudar. Como se, numa terceira ou quarta leitura, a verdade fosse diferente.Mas não era.
Ela me largou.
No altar.
Engoli em seco. O gosto amargo da humilhação subiu pela minha garganta.
Mas Hunter não saiu do meu caminho.
Ele ficou ali. Me encarando.
E eu soube.
Soube que ele sabia de alguma coisa que eu ainda não sabia.
— Diz logo, Hunter. — minha voz saiu baixa, tensa.
Ele inspirou fundo, como se soubesse que ia ser um golpe no meu peito.
— Ela estava te traindo.Minha visão ficou preta por um segundo.
Não.
Não.
Minha cabeça girou. Meus dedos apertaram o papel até ele se amassar completamente na minha palma.
— Ela o quê?
Hunter olhou nos meus olhos. Sem hesitar.
— Ela está grávida, Ryder.
Minha respiração falhou. Meu coração parou.
Mas o golpe final ainda não tinha vindo.
Hunter passou a língua pelos lábios.
E então jogou a última bala.
— O filho não é seu.
Foi quando eu morri.
Ali, de pé no altar.
Diante de todo mundo.
O vestido branco que nunca cruzou aquele corredor.
O altar onde eu fiquei sozinho.
A vergonha, a humilhação queimando como ferro em brasa dentro de mim.
Meu pai sempre disse que um homem deveria manter a postura diante da desgraça.
Ele não estava mais aqui para ver isso. Graças a Deus.
Não chorei.
Não gritei.
Não fiz nada.
Apenas dobrei a m*****a carta.
E, sem olhar para ninguém... fui embora.
Narrado por Savannah Wilder O horizonte se estendia como uma promessa distante. A estrada cortava os campos secos, esticando-se até onde meus olhos podiam alcançar. O céu estava tingido de laranja e rosa, o sol afundando lentamente no horizonte. E eu dirigia sem olhar para trás. O rádio tocava baixinho, mas eu escutava cada palavra. "Ain't no love in Oklahoma..." Luke Combs sempre soube colocar em palavras o que estava entalado no meu peito. "I keep runnin' but I'm standin' still Pray for peace but I need the thrill" Apertei os dedos no volante, sentindo o nó na garganta crescer.Porque era verdade. Não havia mais amor para mim em Oklahoma. Não depois que minha mãe se foi. Engoli seco e olhei para o banco do passageiro. A única coisa que me restava dela estava ali: uma velha caixa de sapatos cheia de fotografias amareladas e um colar que ela usava todos os dias. Agarrei o pingente entre os dedos, sentindo o frio do metal. — Eu tô tentando, mãe... — sussurrei, s
A IntrusaRyderO gosto amargo do uísque ainda impregnava minha boca quando acordei. A dor latejava no meu crânio como um maldito martelo, lembrança da garrafa de Jack Daniel's que eu havia esvaziado na noite anterior. Ressaca e cansaço eram velhos conhecidos, tão familiares quanto o ar que eu respirava.Me arrastei para fora da cama, os músculos protestando a cada movimento. O quarto estava escuro e abafado, cheirando a uísque e solidão. Passei as mãos pelo rosto áspero, tentando afastar a exaustão. Vesti um jeans surrado e uma camiseta preta antes de calçar as botas gastas.O rancho me esperava, como sempre.Desci as escadas do estábulo, o cheiro de feno, couro e terra úmida invadindo meus sentidos. O sol já estava alto demais no céu. Eu estava atrasado, e isso me irritava profundamente. Detestava falhar, mesmo que fosse apenas comigo mesmo.Foi ao virar o corredor para o piso inferior do estábulo que meu dia tomou um rumo inesperado.Lá estava ela. Uma completa estranha.De costas
Narrado por Savannah.O terceiro dia no rancho começou antes mesmo do sol nascer, e a exaustão já pesava nos meus ossos como se cada músculo do meu corpo tivesse sido substituído por chumbo. Meus braços doíam, minhas pernas protestavam a cada pequeno movimento e até respirar parecia exigir esforço.Passei os últimos dias me forçando além dos meus limites, tentando me provar. E agora meu corpo cobrava o preço.Com um gemido, rolei para o lado e cobri o rosto com o travesseiro, tentando reunir forças para levantar. O colchão duro e a noite mal dormida não ajudaram em nada. Eu já deveria estar acostumada ao desconforto, mas ainda sentia falta da minha cama antiga — e do mundo que deixei para trás.Mas voltar não era uma opção.Com um suspiro resignado, empurrei as cobertas e me arrastei para fora da cama. Minhas mãos tatearam cegamente pelo quarto até encontrar minhas roupas de trabalho: uma regata preta, uma camisa xadrez fina — que deixei aberta para evitar morrer cozida sob o sol esca
Narrado por Ryder.Aqui está o capítulo reescrito com mais detalhes, diálogos e aprofundamento nas interações entre Ryder e Savannah:Levando Ryder Sawyer ao LimiteAcordei mais cedo do que o habitual, e isso já foi o suficiente para me deixar irritado.Não bastava o calor sufocante da manhã, a lista interminável de afazeres no rancho e a fadiga dos últimos dias. Agora, eu também tinha que perder meu tempo ensinando Savannah Wilder a montar a cavalo.Suspirei fundo, esfregando o rosto antes de sair da cama.A água gelada do chuveiro fez pouco para espantar o cansaço, mas pelo menos me ajudou a ficar alerta. Vesti um jeans surrado, uma camisa escura e minhas botas, pegando o chapéu antes de descer as escadas do estábulo.E foi ali, no piso inferior, que a encontrei.Pontual.Com um olhar desafiador.E completamente vestida de forma errada.— Que diabos você está vestindo? — disparei, cruzando os braços.Ela ergueu a sobrancelha, fingindo surpresa.— Bom dia pra você também, Sawyer.— I
Narrado Por Savannah.Duas semanas.Duas semanas trabalhando no Sawyer Creek Ranch, e meu corpo ainda não tinha se acostumado. Cada músculo latejava no final do dia, e eu adormecia assim que minha cabeça tocava o travesseiro. Mas, apesar do cansaço, havia algo estranhamente gratificante em ver minhas mãos calejadas e sujas de terra.O trabalho era duro, mas era real.E, de alguma forma, me fazia sentir viva.Havia também os momentos que tornavam tudo mais suportável. Como os cafés da manhã feitos por Rose e Beth.A comida delas era um conforto que eu não sabia que precisava.Beth era falante, divertida e sempre com um sorriso no rosto. Rose, por outro lado, era mais observadora, como se pudesse enxergar coisas que eu tentava esconder.Naquela manhã, enquanto tomávamos café na cozinha, só nós duas, Rose me olhou com curiosidade antes de perguntar:— O que te trouxe até aqui, Savannah?O garfo parou no meio do caminho até minha boca.Eu podia inventar uma desculpa. Podia dizer que queri
Claro, aqui está uma versão mais curta do trecho:Narrado por RyderA ressaca me atinge forte. Faz dois anos que fui abandonado no altar, descobrindo que Priscilla estava grávida de outro. Hunter sabia, mas escondeu. Aquele dia me destruiu.Agora, só me resta o rancho e a rotina.No estábulo, após um banho, saio nu e dou de cara com Savannah. Seus olhos verdes me examinam, parando onde não deviam.— Apreciando a vista, docinho? — provoco.Ela fica vermelha e sai furiosa.Maldita ruiva.À tarde… Harper aparece para ver o cavalo.— Ele está finalmente a 100%. Podem voltar a montá-lo sem preocupações.Savannah e Hunter comemoram. Eu apenas solto um suspiro de alívio.Então, Harper nos convida para o bar country de Creekville naquela noite.— Uma banda muito boa vai tocar. Vocês deviam ir.Savannah aceita na hora. Hunter assente. Isaiah entra na conversa e decide ir também. Eu não respondo.No almoço, o assunto volta.— E você, Ryder? Vai? — Isaiah pergunta.Minha resposta é rápida e defi
Narrado por SavannahO domingo amanhece preguiçoso no Sawyer Creek Ranch. O céu tingido de laranja e rosa reflete nos campos dourados, enquanto a brisa matinal carrega o cheiro da terra úmida e da madeira velha da casa principal. Normalmente, um dia de folga como esse seria a oportunidade perfeita para visitar Creekville, dar uma volta pela cidade, talvez entrar em uma loja ou simplesmente observar as pessoas. Mas, por alguma razão, não sinto vontade de sair do rancho hoje. E decido ficar. Talvez porque, apesar de ser teimosa o bastante para não admitir, algo dentro de mim ainda não tenha digerido os acontecimentos da noite anterior. A briga no bar. O jeito como Ryder explodiu de raiva. O modo como ele me tocou. O fato de que, agora, ele está me ignorando completamente.Quando entro na cozinha, percebo o silêncio imediato. O ambiente está pesado. Rose está terminando de colocar a mesa, Beth serve café, e Hunter e Isaiah comem em silêncio, lançando olhares ocasionais um par
Narrado por RyderO crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.A minha mãe