Narrado por SavannahAcordei sobressaltada no meio da noite, meu corpo banhado em um suor frio. O pesadelo ainda pairava sobre mim como uma sombra sufocante, trazendo à tona lembranças que eu lutava diariamente para manter enterradas. A memória daquele dia fatídico – a faca reluzente, o sangue quente e viscoso, o olhar furioso e desvairado de meu pai – parecia mais vívida do que nunca.Meus músculos estavam tensos, prontos para uma luta que existia apenas em minha mente. Meu peito subia e descia em respirações rápidas e superficiais, enquanto eu lutava para me orientar na realidade.Foi então que percebi algo diferente. Um peso reconfortante sobre meu corpo. Braços fortes me envolviam em um abraço protetor, e meu rosto repousava contra algo quente e sólido.Meu coração, que já batia acelerado devido ao pesadelo, pareceu saltar em meu peito quando a realização me atingiu: Ryder estava me abraçando.Seu braço musculoso circundava minha cintura com uma firmeza que transmitia segurança,
RyderFaziam alguns dias desde a queda de Savannah, e o rancho estava mais atarefado do que nunca.Com menos uma pessoa para ajudar, o trabalho se acumulava, e por mais que eu odiasse admitir, Savannah fazia falta. Não porque era indispensável, mas porque, contra todas as probabilidades, ela tinha se provado resistente. Lutadora.E agora estava presa no quarto, descansando, enquanto nós nos matávamos de trabalhar.De vez em quando, eu ia até lá para ver como ela estava. Nada demais. Apenas uma conferida rápida, um aceno de cabeça, talvez um resmungo qualquer.Desde a noite em que dormi ao lado dela, mantendo-a nos meus braços sem perceber, eu tentava manter distância física. O problema era que meu próprio cão me traía.Bear, que sempre dormia aos meus pés, decidiu que Savannah era uma opção melhor. Nas últimas vezes que o levei comigo até o quarto dela, ele simplesmente se recusou a sair. Subiu para a cama dela, enroscou-se confortavelmente e ficou recebendo carinho enquanto ela sussu
SavannahOs dias foram passando e, para minha felicidade, minha recuperação avançava rápido.Os hematomas começaram a desbotar, assumindo um tom amarelado, e eu já conseguia me levantar sozinha sem precisar da ajuda de ninguém. Logo estaria pronta para voltar ao trabalho, e eu mal podia esperar.Naquela manhã, Harper veio me visitar e acabamos sentadas na varanda, tomando um pouco de sol e confidenciando coisas uma para a outra. — O que foi? Você está com essa cara desde que chegou. — perguntei, inclinando a cabeça para observá-la melhor.Ela suspirou e desviou o olhar, brincando com a barra do vestido. — É Michael.Michael era o noivo dela, que vivia em Washington. Já tinha ouvido um pouco sobre ele, mas nunca com aquele tom de voz desanimado. — As coisas não estão bem entre nós. — continuou, mordendo o lábio. — A distância está desgastando tudo, e ele... ele é tão egoísta às vezes. Não pensa na minha carreira, só na dele. Parece que espera que eu simplesmente largue tudo e vá corr
SavannahPasso a tarde com Harper, mas quando ela precisa ir embora, percebo que Andie ainda está no rancho.Seu carro azul ainda está estacionado na frente da casa.Isso me deixa inquieta.Onde diabos eles estão?Sem pensar muito, saio da casa e percorro o rancho, procurando por eles.Até que os encontro.Ryder está montando um de seus cavalos, conduzindo-o com maestria enquanto faz alguns exercícios.E Andie está ali, de pé, encostada na cerca, observando-o com um sorriso.Me aproximo e paro ao lado dela.— Ele é muito bom nisso, não é? — Andie comenta sem tirar os olhos dele.Cruzo os braços.— É o que dizem.Há um breve silêncio entre nós.Então respiro fundo e jogo a isca:— Vocês se conhecem há muito tempo?Andie olha para mim e sorri.— Sim. Fomos namorados no ensino médio.Minha cabeça vira tão rápido para encará-la que quase sinto o pescoço estalar.— Namorados?— Uhm uhm. — Ela assente, nostálgica. — Mas terminamos quando fui para Dallas estudar medicina. A distância atrapalh
RyderPasso o dia todo fora do rancho com Isaiah, comprando ração para os animais.Foi um dia longo, cansativo, e quando finalmente chego em casa, só quero tomar um banho e jantar.Mas assim que entro na cozinha, noto algo estranho.Savannah não está aqui.Desde ontem, eu percebo que ela ficou com ciúmes de Andie.E por mais que eu não tenha planejado aquilo — nem muito menos usado Andie para provocar Savannah —, acho graça na reação dela.Ela bufando, revirando os olhos, tentando disfarçar, mas falhando miseravelmente.E, sendo o desgraçado que sou, aproveitei para cutucar um pouco mais, só para ver até onde ela aguentava.Mas agora, ela não está aqui.Sento à mesa e, entre uma garfada e outra, pergunto casualmente:— Cadê a Savannah?Minha mãe, sem levantar os olhos do prato, responde:— Ela foi jantar na cidade com Harper. Uma saída de mulheres.Minha mandíbula trava.— Para Creekville?— Sim.Mordo o lábio, segurando a vontade de praguejar.Savannah, naquele bar, rodeada por aquele
Narrado por Ryder SawyerEu nunca gostei muito de igrejas.Não que eu não acreditasse em Deus. Eu acreditava. Minha mãe sempre dizia que a fé era o que segurava um homem de pé quando tudo o mais falhava. E eu entendia isso. Mas igrejas me davam uma sensação estranha. Um silêncio pesado demais, como se o mundo estivesse esperando alguma coisa de mim.Mas naquele dia, eu estava ali.De terno preto, a barba recém-aparada, o nó da gravata apertando minha garganta. Com as mãos fechadas, os dedos roçando no tecido grosso das calças. Esperando.A capela era pequena, feita de madeira rústica, com vigas expostas no teto e janelas que deixavam a luz quente da tarde entrar. Rosas brancas e girassóis decoravam o altar, entrelaçados com fitas creme que minha mãe insistiu que ficariam bonitas. O cheiro de lavanda e madeira polida enchia o ar.Mas nada disso importava.O que importava era que ela ainda não tinha chegado.Passei os olhos pela capela, tentando me distrair. Tentando encontrar algum ros
Narrado por Savannah Wilder O horizonte se estendia como uma promessa distante. A estrada cortava os campos secos, esticando-se até onde meus olhos podiam alcançar. O céu estava tingido de laranja e rosa, o sol afundando lentamente no horizonte. E eu dirigia sem olhar para trás. O rádio tocava baixinho, mas eu escutava cada palavra. "Ain't no love in Oklahoma..." Luke Combs sempre soube colocar em palavras o que estava entalado no meu peito. "I keep runnin' but I'm standin' still Pray for peace but I need the thrill" Apertei os dedos no volante, sentindo o nó na garganta crescer.Porque era verdade. Não havia mais amor para mim em Oklahoma. Não depois que minha mãe se foi. Engoli seco e olhei para o banco do passageiro. A única coisa que me restava dela estava ali: uma velha caixa de sapatos cheia de fotografias amareladas e um colar que ela usava todos os dias. Agarrei o pingente entre os dedos, sentindo o frio do metal. — Eu tô tentando, mãe... — sussurrei, s
A IntrusaRyderO gosto amargo do uísque ainda impregnava minha boca quando acordei. A dor latejava no meu crânio como um maldito martelo, lembrança da garrafa de Jack Daniel's que eu havia esvaziado na noite anterior. Ressaca e cansaço eram velhos conhecidos, tão familiares quanto o ar que eu respirava.Me arrastei para fora da cama, os músculos protestando a cada movimento. O quarto estava escuro e abafado, cheirando a uísque e solidão. Passei as mãos pelo rosto áspero, tentando afastar a exaustão. Vesti um jeans surrado e uma camiseta preta antes de calçar as botas gastas.O rancho me esperava, como sempre.Desci as escadas do estábulo, o cheiro de feno, couro e terra úmida invadindo meus sentidos. O sol já estava alto demais no céu. Eu estava atrasado, e isso me irritava profundamente. Detestava falhar, mesmo que fosse apenas comigo mesmo.Foi ao virar o corredor para o piso inferior do estábulo que meu dia tomou um rumo inesperado.Lá estava ela. Uma completa estranha.De costas