A Intrusa
Ryder O gosto amargo do uísque ainda impregnava minha boca quando acordei. A dor latejava no meu crânio como um maldito martelo, lembrança da garrafa de Jack Daniel's que eu havia esvaziado na noite anterior. Ressaca e cansaço eram velhos conhecidos, tão familiares quanto o ar que eu respirava. Me arrastei para fora da cama, os músculos protestando a cada movimento. O quarto estava escuro e abafado, cheirando a uísque e solidão. Passei as mãos pelo rosto áspero, tentando afastar a exaustão. Vesti um jeans surrado e uma camiseta preta antes de calçar as botas gastas. O rancho me esperava, como sempre. Desci as escadas do estábulo, o cheiro de feno, couro e terra úmida invadindo meus sentidos. O sol já estava alto demais no céu. Eu estava atrasado, e isso me irritava profundamente. Detestava falhar, mesmo que fosse apenas comigo mesmo. Foi ao virar o corredor para o piso inferior do estábulo que meu dia tomou um rumo inesperado. Lá estava ela. Uma completa estranha. De costas para mim, segurava um balde de ração como se tivesse nascido para isso. A luz do sol atravessava as frestas de madeira, projetando tons dourados sobre seu cabelo ruivo, longo e selvagem, que descia quase até a bunda. Ela era alta para uma mulher, com pernas longas e curvas acentuadas. Mas não foi só isso que me chamou atenção. Foi o jeito como ela parecia pertencer ali. Como se o rancho, o feno, os cavalos e até o chão sujo tivessem decidido aceitá-la antes mesmo de mim. Meu maxilar travou. Eu odiava surpresas. Então ela se virou. Foi como levar um soco no estômago. Seus olhos verdes, intensos e cortantes, encontraram os meus sem hesitação. Sardas sutis salpicavam seu nariz, e sua expressão não era de alguém intimidada por um estranho. Pelo contrário. Ela ergueu uma sobrancelha, me avaliando tanto quanto eu a avaliava. E então fez algo que me irritou mais do que deveria. Sorriu. Não um sorriso doce ou hesitante. Mas um sorriso ousado. Descarado. Como se estivesse me desafiando sem dizer uma palavra. Mordi o lábio inferior antes de soltar: - Quem diabos é você? Ela inclinou a cabeça de lado, ainda sorrindo. - Savannah Wilder. Hunter me contratou. Eu travei a mandíbula. - Hunter fez o quê? Ela deu de ombros, como se minha surpresa fosse engraçada. - Contratou alguém para ajudar no rancho. Achei que já soubesse. O tom de provocação em sua voz me irritou profundamente. Meus olhos percorreram seu corpo, analisando. Não apenas pelas curvas ou pelo fato de que o short jeans era curto demais para um lugar como aquele. Mas pelos detalhes. As mãos estavam limpas demais para alguém que trabalhava no campo. As unhas curtas, mas sem sinais de calos. A camiseta colada no corpo revelava um pedaço da barriga, e as botas de cowboy pareciam novas demais. Ela não pertencia a esse lugar. E ainda assim... ali estava. Nossos olhares se encontraram novamente, e percebi que ela também me examinava. Seus olhos percorreram minhas tatuagens - os desenhos nos meus braços, as linhas escuras que cobriam minhas mãos. Quando notou que eu havia percebido, não desviou o olhar. A m*****a o sustentou. E isso fez meu sangue ferver. Cruzei os braços sobre o peito, deixando meus bíceps se destacarem sob o tecido da camiseta. - Hunter contratou uma mulher para trabalhar no rancho? - minha voz saiu carregada de incredulidade. Ela riu. Um som rouco, cheio de desafio. - Isso é um problema para você...? - ela deixou a pergunta no ar, claramente esperando que eu me apresentasse. - Ryder, - respondi secamente. - E sim, é um problema. Não sabia que o rancho tinha virado um centro de caridade. Ela estreitou os olhos, cruzando os braços também. - Ah. Então o problema é que sou mulher? Travei a mandíbula novamente. Ela era afiada. - O problema, - avancei um passo, deixando claro que não estava brincando, - é que isso aqui não é brincadeira. Não tem espaço para quem quer brincar de fazenda. Ela inclinou a cabeça, como se absorvesse minhas palavras. - Isso é um jeito bonito de dizer que acha que eu não aguento o trabalho. Dei um meio sorriso cínico. - Isso é um jeito sincero de dizer que ao primeiro erro, você está fora. Ela arqueou a sobrancelha, mas não recuou. Maldição. Sem mais uma palavra, virei as costas e saí, sentindo o olhar dela queimando em minhas costas. Essa história ainda não tinha acabado. Fui direto até Hunter, que estava no celeiro empilhando fardos de feno. - Você só pode estar brincando comigo. Ele nem se deu ao trabalho de me encarar. - Bom dia pra você também, Ryder. Passei a mão pelo rosto, tentando conter o impulso de esmurrar algo. - Você realmente achou que contratar uma mulher sem experiência era uma boa ideia? Hunter largou o fardo e me lançou um olhar impaciente. - Ela precisa de um recomeço. É trabalhadora. Vai aprender. Soltei uma risada seca. - Isso não é caridade, Hunter. Ele suspirou, esfregando a nuca. - Se parar de agir como um cavalo selvagem e der uma chance a ela, talvez perceba que Savannah não é tão incompetente quanto pensa. Eu apertei os punhos. - Ao primeiro erro dela, ela está fora. Virei-me e saí antes que dissesse algo que me fizesse me arrepender. O resto do dia foi uma prova de paciência. Observei Savannah de longe, em silêncio, sem interferir. Ela lutava com tarefas simples, quase caindo ao tentar erguer um saco de ração, selando um cavalo do jeito mais desajeitado possível. Cada erro dela me dava mais razão. Mas o que me irritava de verdade não era sua falta de jeito. Era a forma como, toda vez que nossos olhares se cruzavam, aquele maldito sorrisinho aparecia em seus lábios. Ela não recuava. E isso... isso ia ser um problema. Mas, ao mesmo tempo, me fez sorrir de canto. Isso ia ser divertido. No pior sentido possível.Narrado por Savannah.O terceiro dia no rancho começou antes mesmo do sol nascer, e a exaustão já pesava nos meus ossos como se cada músculo do meu corpo tivesse sido substituído por chumbo. Meus braços doíam, minhas pernas protestavam a cada pequeno movimento e até respirar parecia exigir esforço.Passei os últimos dias me forçando além dos meus limites, tentando me provar. E agora meu corpo cobrava o preço.Com um gemido, rolei para o lado e cobri o rosto com o travesseiro, tentando reunir forças para levantar. O colchão duro e a noite mal dormida não ajudaram em nada. Eu já deveria estar acostumada ao desconforto, mas ainda sentia falta da minha cama antiga — e do mundo que deixei para trás.Mas voltar não era uma opção.Com um suspiro resignado, empurrei as cobertas e me arrastei para fora da cama. Minhas mãos tatearam cegamente pelo quarto até encontrar minhas roupas de trabalho: uma regata preta, uma camisa xadrez fina — que deixei aberta para evitar morrer cozida sob o sol esca
Narrado por Ryder.Aqui está o capítulo reescrito com mais detalhes, diálogos e aprofundamento nas interações entre Ryder e Savannah:Levando Ryder Sawyer ao LimiteAcordei mais cedo do que o habitual, e isso já foi o suficiente para me deixar irritado.Não bastava o calor sufocante da manhã, a lista interminável de afazeres no rancho e a fadiga dos últimos dias. Agora, eu também tinha que perder meu tempo ensinando Savannah Wilder a montar a cavalo.Suspirei fundo, esfregando o rosto antes de sair da cama.A água gelada do chuveiro fez pouco para espantar o cansaço, mas pelo menos me ajudou a ficar alerta. Vesti um jeans surrado, uma camisa escura e minhas botas, pegando o chapéu antes de descer as escadas do estábulo.E foi ali, no piso inferior, que a encontrei.Pontual.Com um olhar desafiador.E completamente vestida de forma errada.— Que diabos você está vestindo? — disparei, cruzando os braços.Ela ergueu a sobrancelha, fingindo surpresa.— Bom dia pra você também, Sawyer.— I
Narrado Por Savannah.Duas semanas.Duas semanas trabalhando no Sawyer Creek Ranch, e meu corpo ainda não tinha se acostumado. Cada músculo latejava no final do dia, e eu adormecia assim que minha cabeça tocava o travesseiro. Mas, apesar do cansaço, havia algo estranhamente gratificante em ver minhas mãos calejadas e sujas de terra.O trabalho era duro, mas era real.E, de alguma forma, me fazia sentir viva.Havia também os momentos que tornavam tudo mais suportável. Como os cafés da manhã feitos por Rose e Beth.A comida delas era um conforto que eu não sabia que precisava.Beth era falante, divertida e sempre com um sorriso no rosto. Rose, por outro lado, era mais observadora, como se pudesse enxergar coisas que eu tentava esconder.Naquela manhã, enquanto tomávamos café na cozinha, só nós duas, Rose me olhou com curiosidade antes de perguntar:— O que te trouxe até aqui, Savannah?O garfo parou no meio do caminho até minha boca.Eu podia inventar uma desculpa. Podia dizer que queri
Claro, aqui está uma versão mais curta do trecho:Narrado por RyderA ressaca me atinge forte. Faz dois anos que fui abandonado no altar, descobrindo que Priscilla estava grávida de outro. Hunter sabia, mas escondeu. Aquele dia me destruiu.Agora, só me resta o rancho e a rotina.No estábulo, após um banho, saio nu e dou de cara com Savannah. Seus olhos verdes me examinam, parando onde não deviam.— Apreciando a vista, docinho? — provoco.Ela fica vermelha e sai furiosa.Maldita ruiva.À tarde… Harper aparece para ver o cavalo.— Ele está finalmente a 100%. Podem voltar a montá-lo sem preocupações.Savannah e Hunter comemoram. Eu apenas solto um suspiro de alívio.Então, Harper nos convida para o bar country de Creekville naquela noite.— Uma banda muito boa vai tocar. Vocês deviam ir.Savannah aceita na hora. Hunter assente. Isaiah entra na conversa e decide ir também. Eu não respondo.No almoço, o assunto volta.— E você, Ryder? Vai? — Isaiah pergunta.Minha resposta é rápida e defi
Narrado por SavannahO domingo amanhece preguiçoso no Sawyer Creek Ranch. O céu tingido de laranja e rosa reflete nos campos dourados, enquanto a brisa matinal carrega o cheiro da terra úmida e da madeira velha da casa principal. Normalmente, um dia de folga como esse seria a oportunidade perfeita para visitar Creekville, dar uma volta pela cidade, talvez entrar em uma loja ou simplesmente observar as pessoas. Mas, por alguma razão, não sinto vontade de sair do rancho hoje. E decido ficar. Talvez porque, apesar de ser teimosa o bastante para não admitir, algo dentro de mim ainda não tenha digerido os acontecimentos da noite anterior. A briga no bar. O jeito como Ryder explodiu de raiva. O modo como ele me tocou. O fato de que, agora, ele está me ignorando completamente.Quando entro na cozinha, percebo o silêncio imediato. O ambiente está pesado. Rose está terminando de colocar a mesa, Beth serve café, e Hunter e Isaiah comem em silêncio, lançando olhares ocasionais um par
Narrado por RyderO crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.A minha mãe
Narrado por SavannahA consciência retornou lentamente, como uma névoa que se dissipa. Meus olhos se abriram para a escuridão do quarto, e por um momento desorientador, não consegui discernir onde estava. A confusão logo deu lugar a uma dor latejante que pulsava em minha têmpora, acompanhada por um desconforto generalizado que parecia se espalhar por cada centímetro do meu corpo.Aos poucos, as lembranças da queda do cavalo emergiram das profundezas da minha mente. Tentei me mover, mas uma onda de dor aguda percorreu meu lado direito, arrancando um gemido involuntário dos meus lábios ressecados.Do outro lado do quarto, ouvi o rangido característico de um sofá. Meu olhar instintivamente buscou a origem do som e, mesmo na penumbra, reconheci a silhueta inconfundível de Ryder. Ele estava deitado, os braços musculosos cruzados sobre o peito largo, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado em um ângulo que certamente lhe causaria dores ao acordar.Era uma visão quase surreal vê-lo assim
RyderFaziam alguns dias desde a queda de Savannah, e o rancho estava mais atarefado do que nunca.Com menos uma pessoa para ajudar, o trabalho se acumulava, e por mais que eu odiasse admitir, Savannah fazia falta. Não porque era indispensável, mas porque, contra todas as probabilidades, ela tinha se provado resistente. Lutadora.E agora estava presa no quarto, descansando, enquanto nós nos matávamos de trabalhar.De vez em quando, eu ia até lá para ver como ela estava. Nada demais. Apenas uma conferida rápida, um aceno de cabeça, talvez um resmungo qualquer.Desde a noite em que dormi ao lado dela, mantendo-a nos meus braços sem perceber, eu tentava manter distância física. O problema era que meu próprio cão me traía.Bear, que sempre dormia aos meus pés, decidiu que Savannah era uma opção melhor. Nas últimas vezes que o levei comigo até o quarto dela, ele simplesmente se recusou a sair. Subiu para a cama dela