Narrado por Savannah.
O terceiro dia no rancho começou antes mesmo do sol nascer, e a exaustão já pesava nos meus ossos como se cada músculo do meu corpo tivesse sido substituído por chumbo. Meus braços doíam, minhas pernas protestavam a cada pequeno movimento e até respirar parecia exigir esforço. Passei os últimos dias me forçando além dos meus limites, tentando me provar. E agora meu corpo cobrava o preço. Com um gemido, rolei para o lado e cobri o rosto com o travesseiro, tentando reunir forças para levantar. O colchão duro e a noite mal dormida não ajudaram em nada. Eu já deveria estar acostumada ao desconforto, mas ainda sentia falta da minha cama antiga — e do mundo que deixei para trás. Mas voltar não era uma opção. Com um suspiro resignado, empurrei as cobertas e me arrastei para fora da cama. Minhas mãos tatearam cegamente pelo quarto até encontrar minhas roupas de trabalho: uma regata preta, uma camisa xadrez fina — que deixei aberta para evitar morrer cozida sob o sol escaldante — e um jeans desgastado, que já carregava marcas de poeira e suor dos dias anteriores. Prendi meu cabelo ruivo em um coque alto e frouxo, sabendo que ele logo escaparia das presilhas, e calcei as botas, tentando ignorar o incômodo nos calcanhares, já machucados pelo uso constante. O cheiro de café fresco e pão assado me guiou até a cozinha, onde a movimentação já começava. A cozinha do rancho era um dos lugares mais acolhedores da casa. Havia algo ali — talvez fosse o cheiro reconfortante de comida caseira ou a forma como o ambiente parecia sempre aquecido e vivo. Mas eu sabia que grande parte desse conforto vinha de Rose Sawyer e Beth, sua mãe. Rose estava em pé perto do fogão, mexendo uma panela com ovos mexidos. Seus cabelos castanhos claros já tinham alguns fios grisalhos, e seu rosto trazia marcas do tempo, mas seus olhos castanhos eram gentis. Ela tinha aquele tipo de sorriso que fazia você se sentir parte da família, mesmo que fosse um completo estranho. Beth, por outro lado, estava sentada à mesa, passando manteiga no pão ainda quente. Seu rosto enrugado e seus cabelos completamente brancos a faziam parecer frágil, mas havia uma vivacidade encantadora em seus olhos. — Bom dia, querida! — Rose saudou, servindo-me um prato de ovos e pão. — Dormiu bem? Eu sorri, mesmo sabendo que era uma mentira descarada. — Dormi o suficiente. Rose lançou-me um olhar que dizia que não acreditava nem por um segundo, mas não insistiu. Sentei-me à mesa e comecei a comer em silêncio, apenas então notando algo que me fez congelar no lugar. Ryder estava lá. Ele estava sentado na ponta da mesa, segurando uma caneca de café com as mãos grandes e calejadas. Não disse nada, não olhou para ninguém, apenas existia ali, envolto naquela aura sombria e fechada que parecia cercá-lo como uma tempestade. Era impressionante como ele conseguia encher um ambiente sem precisar dizer uma única palavra. Mesmo sem me olhar diretamente, eu sentia seus olhos sobre mim. Ele me analisava com aquela intensidade desconcertante, como se estivesse tentando decifrar algo que eu mesma não sabia. Tentei ignorá-lo, mas algo mais chamou minha atenção. A interação dele com Hunter. Ou melhor, a falta dela. Desde que cheguei ao rancho, percebi que os dois irmãos mais velhos não eram próximos. Eles não trocavam mais do que algumas palavras necessárias, e quando estavam no mesmo ambiente, um silêncio pesado pairava no ar. Naquele instante, Hunter estava sentado do outro lado da mesa, mastigando seu café da manhã sem sequer olhar para Ryder. E Ryder fazia o mesmo. Foi Hunter quem finalmente quebrou o silêncio daquela manhã. — Savannah, hoje você vai com Ryder consertar as cercas do rancho. O garfo parou no meio do caminho até minha boca, e eu o encarei, achando que tinha ouvido errado. Eu? Com Ryder? Do outro lado da mesa, Ryder também congelou. Sua expressão endureceu, e eu vi claramente quando sua mandíbula se contraiu. — Você só pode estar brincando — ele resmungou, sua voz rouca carregada de irritação. Hunter ignorou a reação do irmão. — Você conhece melhor o terreno e sabe como o trabalho deve ser feito. Além disso, ela precisa aprender. O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Ryder respirou fundo, como se estivesse tentando conter a impaciência. — Ótimo — murmurou, voltando a tomar seu café. Mas antes de dar o assunto por encerrado, ele mordeu o lábio — um sinal claro de que estava prestes a disparar algo venenoso. — Só não me culpe se ela desmaiar antes do meio-dia. Revirei os olhos, irritada. — Se acha que não sou capaz, talvez devesse se preocupar mais com o seu ego do que com o meu desempenho. Dessa vez, ele me olhou diretamente. Seus olhos castanhos escuros fixaram-se nos meus, segurando meu olhar com uma intensidade desconfortável. O tempo pareceu se esticar entre nós, e minha respiração ficou presa na garganta. Mas, ao contrário do que eu esperava, ele não rebateu. Apenas empurrou a cadeira para trás e se levantou da mesa. E então fez algo que me pegou completamente desprevenida. Ele se inclinou sobre Rose e Beth e depositou um beijo na bochecha de cada uma. — Se precisarem de mim, me avisem — disse simplesmente, antes de sair pela porta. Fiquei ali, olhando para a porta como se ela pudesse me dar respostas. Ryder Sawyer era rude, mal-humorado e fechado. Mas aquele pequeno gesto mostrava um lado dele que eu ainda não tinha visto. Rose sorriu de canto. — Ele pode ser durão, mas tem um bom coração — comentou. — Só não deixa que muita gente veja isso. Eu apenas assenti e terminei meu café. O dia foi exaustivo. Consertar cercas parecia simples na teoria, mas na prática era um inferno. Martelar estacas no chão duro, carregar ferramentas pesadas, lidar com arame farpado e suportar Ryder. Ele não tinha paciência. Cada erro meu era recebido com um olhar crítico ou um resmungo irritado. — Não é assim que se faz — ele dizia, pegando as ferramentas das minhas mãos. — Você acha que os bois vão esperar você terminar com delicadeza? Eu cerrava os dentes e continuava tentando. O calor era sufocante. O sol queimava minha pele. Quando achei que não aguentaria mais, Rose apareceu com uma jarra de limonada gelada. Sentamos para beber, e Ryder, surpreendentemente, quebrou o silêncio. — Amanhã, vamos levar os cavalos para você conhecer os arredores do rancho. Eu engasguei. — O quê? — Fazemos isso pelo menos uma vez por semana. O rancho é grande. Precisamos patrulhar as terras. Mordi o lábio, hesitante. — Eu nunca montei um cavalo. Ele suspirou, exasperado. — Ótimo. Então vai se levantar mais cedo para aprender o básico. Arqueei uma sobrancelha. — Tão paciente e atencioso… Ele me lançou um olhar afiado, mas não respondeu. Apenas terminou sua limonada e voltou ao trabalho. E eu soube, naquele instante, que trabalhar com Ryder Sawyer seria um verdadeiro inferno.Narrado por Ryder.Aqui está o capítulo reescrito com mais detalhes, diálogos e aprofundamento nas interações entre Ryder e Savannah:Levando Ryder Sawyer ao LimiteAcordei mais cedo do que o habitual, e isso já foi o suficiente para me deixar irritado.Não bastava o calor sufocante da manhã, a lista interminável de afazeres no rancho e a fadiga dos últimos dias. Agora, eu também tinha que perder meu tempo ensinando Savannah Wilder a montar a cavalo.Suspirei fundo, esfregando o rosto antes de sair da cama.A água gelada do chuveiro fez pouco para espantar o cansaço, mas pelo menos me ajudou a ficar alerta. Vesti um jeans surrado, uma camisa escura e minhas botas, pegando o chapéu antes de descer as escadas do estábulo.E foi ali, no piso inferior, que a encontrei.Pontual.Com um olhar desafiador.E completamente vestida de forma errada.— Que diabos você está vestindo? — disparei, cruzando os braços.Ela ergueu a sobrancelha, fingindo surpresa.— Bom dia pra você também, Sawyer.— I
Narrado Por Savannah.Duas semanas.Duas semanas trabalhando no Sawyer Creek Ranch, e meu corpo ainda não tinha se acostumado. Cada músculo latejava no final do dia, e eu adormecia assim que minha cabeça tocava o travesseiro. Mas, apesar do cansaço, havia algo estranhamente gratificante em ver minhas mãos calejadas e sujas de terra.O trabalho era duro, mas era real.E, de alguma forma, me fazia sentir viva.Havia também os momentos que tornavam tudo mais suportável. Como os cafés da manhã feitos por Rose e Beth.A comida delas era um conforto que eu não sabia que precisava.Beth era falante, divertida e sempre com um sorriso no rosto. Rose, por outro lado, era mais observadora, como se pudesse enxergar coisas que eu tentava esconder.Naquela manhã, enquanto tomávamos café na cozinha, só nós duas, Rose me olhou com curiosidade antes de perguntar:— O que te trouxe até aqui, Savannah?O garfo parou no meio do caminho até minha boca.Eu podia inventar uma desculpa. Podia dizer que queri
Claro, aqui está uma versão mais curta do trecho:Narrado por RyderA ressaca me atinge forte. Faz dois anos que fui abandonado no altar, descobrindo que Priscilla estava grávida de outro. Hunter sabia, mas escondeu. Aquele dia me destruiu.Agora, só me resta o rancho e a rotina.No estábulo, após um banho, saio nu e dou de cara com Savannah. Seus olhos verdes me examinam, parando onde não deviam.— Apreciando a vista, docinho? — provoco.Ela fica vermelha e sai furiosa.Maldita ruiva.À tarde… Harper aparece para ver o cavalo.— Ele está finalmente a 100%. Podem voltar a montá-lo sem preocupações.Savannah e Hunter comemoram. Eu apenas solto um suspiro de alívio.Então, Harper nos convida para o bar country de Creekville naquela noite.— Uma banda muito boa vai tocar. Vocês deviam ir.Savannah aceita na hora. Hunter assente. Isaiah entra na conversa e decide ir também. Eu não respondo.No almoço, o assunto volta.— E você, Ryder? Vai? — Isaiah pergunta.Minha resposta é rápida e defi
Narrado por SavannahO domingo amanhece preguiçoso no Sawyer Creek Ranch. O céu tingido de laranja e rosa reflete nos campos dourados, enquanto a brisa matinal carrega o cheiro da terra úmida e da madeira velha da casa principal. Normalmente, um dia de folga como esse seria a oportunidade perfeita para visitar Creekville, dar uma volta pela cidade, talvez entrar em uma loja ou simplesmente observar as pessoas. Mas, por alguma razão, não sinto vontade de sair do rancho hoje. E decido ficar. Talvez porque, apesar de ser teimosa o bastante para não admitir, algo dentro de mim ainda não tenha digerido os acontecimentos da noite anterior. A briga no bar. O jeito como Ryder explodiu de raiva. O modo como ele me tocou. O fato de que, agora, ele está me ignorando completamente.Quando entro na cozinha, percebo o silêncio imediato. O ambiente está pesado. Rose está terminando de colocar a mesa, Beth serve café, e Hunter e Isaiah comem em silêncio, lançando olhares ocasionais um par
Narrado por RyderO crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.A minha mãe
Narrado por SavannahA consciência retornou lentamente, como uma névoa que se dissipa. Meus olhos se abriram para a escuridão do quarto, e por um momento desorientador, não consegui discernir onde estava. A confusão logo deu lugar a uma dor latejante que pulsava em minha têmpora, acompanhada por um desconforto generalizado que parecia se espalhar por cada centímetro do meu corpo.Aos poucos, as lembranças da queda do cavalo emergiram das profundezas da minha mente. Tentei me mover, mas uma onda de dor aguda percorreu meu lado direito, arrancando um gemido involuntário dos meus lábios ressecados.Do outro lado do quarto, ouvi o rangido característico de um sofá. Meu olhar instintivamente buscou a origem do som e, mesmo na penumbra, reconheci a silhueta inconfundível de Ryder. Ele estava deitado, os braços musculosos cruzados sobre o peito largo, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado em um ângulo que certamente lhe causaria dores ao acordar.Era uma visão quase surreal vê-lo assim
RyderFaziam alguns dias desde a queda de Savannah, e o rancho estava mais atarefado do que nunca.Com menos uma pessoa para ajudar, o trabalho se acumulava, e por mais que eu odiasse admitir, Savannah fazia falta. Não porque era indispensável, mas porque, contra todas as probabilidades, ela tinha se provado resistente. Lutadora.E agora estava presa no quarto, descansando, enquanto nós nos matávamos de trabalhar.De vez em quando, eu ia até lá para ver como ela estava. Nada demais. Apenas uma conferida rápida, um aceno de cabeça, talvez um resmungo qualquer.Desde a noite em que dormi ao lado dela, mantendo-a nos meus braços sem perceber, eu tentava manter distância física. O problema era que meu próprio cão me traía.Bear, que sempre dormia aos meus pés, decidiu que Savannah era uma opção melhor. Nas últimas vezes que o levei comigo até o quarto dela, ele simplesmente se recusou a sair. Subiu para a cama dela
Narrado por RyderO crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.A minha mãe