Narrado por Ryder
O crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.
Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.
Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.
- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.
A minha mãe ergueu os olhos para mim, a aflição evidente em seu olhar.
- É Savannah... Ela saiu para cavalgar há horas e ainda não voltou.
Minha respiração ficou presa na garganta por um momento. Eu a vi sair mais cedo, usando aqueles shorts minúsculos e um top justo que mal cobria o necessário. Irritei-me na hora, sim. Irritei-me porque sabia que, sozinha e teimosa como era, algo ruim poderia acontecer.
E agora, o pior dos cenários começava a se desenrolar em minha mente.
- Hunter e Isaiah estão aqui? - perguntei, já me preparando mentalmente para a busca.
- Estão na cozinha, - minha avó respondeu, sua voz trêmula.
Sem perder tempo, entrei na casa. O aroma de um ensopado que esfriava no fogão contrastava com a tensão palpável no ar. Hunter e Isaiah estavam sentados à mesa da cozinha, mas assim que viram minha expressão, souberam que algo estava errado.
- O que houve, Ryder? - Hunter perguntou, já se levantando, a cadeira raspando contra o piso de madeira.
- Savannah saiu a cavalo e não voltou. Está escuro. Não sabemos onde ela está, - expliquei, as palavras saindo rápidas e tensas.
Os dois se entreolharam, uma conversa silenciosa passando entre eles, antes de entrarem em ação.
- Vamos pegar os cavalos e nos dividir para procurá-la, - Isaiah disse, já se dirigindo à porta dos fundos.
- Exato. Quanto mais rápido agirmos, melhor, - concordei, seguindo-o.
Em menos de cinco minutos, já estávamos prontos para partir. O som dos cascos dos cavalos contra o chão ecoava na noite, uma urgência palpável em cada batida.
A escuridão tornava a busca ainda mais desafiadora. As sombras das árvores se moviam ao sabor do vento, criando formas enganosas que brincavam com nossa percepção. O silêncio do campo era quebrado apenas pelo ocasional pio de uma coruja e o resfolegar dos cavalos.
Optei por seguir em direção aos campos mais afastados, meu coração martelando no peito a cada metro percorrido sem sinal dela. O tempo passava impiedosamente, e minha preocupação só aumentava.
Foi então que um pensamento súbito me ocorreu: o riacho. Savannah havia mencionado o local dias atrás, seus olhos brilhando ao descrever a beleza do lugar. Talvez, em sua teimosia, ela tivesse decidido revisitá-lo.
Virei meu cavalo bruscamente, fazendo-o galopar em direção ao riacho. A cada segundo que passava, minha ansiedade crescia. E então, quando finalmente cheguei perto, meu coração pareceu parar.
No chão, imóvel, estava Savannah.
- Savannah! - gritei, desmontando às pressas e correndo em sua direção. Ajoelhei-me ao seu lado, minhas mãos tremendo enquanto procurava por sinais de ferimentos graves.
Ela tinha um corte na testa, não muito profundo, mas sangrando. Seu lado direito estava coberto de arranhões, provavelmente resultado de uma queda e subsequente rolamento pelo chão seco.
- Droga, Savannah, - murmurei, a preocupação se misturando com a raiva. - Por que diabos você tem que ser tão teimosa?
Tentei acordá-la, meu coração batendo forte no peito.
- Savannah, acorda. Por favor, acorda.
Ela se mexeu levemente, soltando um gemido fraco. Seus olhos se abriram lentamente, desfocados e confusos.
- Ryder...?- sua voz saiu baixa, quase um sussurro.
O alívio que senti foi quase palpável.
- Isso, pequena. Fica comigo, ok? Não durma.
Ela levou uma das mãos à cabeça, claramente com dor. Sem pensar duas vezes, tirei minha camisa e a pressionei contra o corte em sua testa.
Savannah piscou algumas vezes, a confusão em seus olhos começando a diminuir. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios.
- Você... sem camisa? Estou no céu?
Revirei os olhos, mas não pude conter um leve sorriso.
- É sério que você bateu a cabeça e ainda está flertando comigo?
- Nunca perco uma oportunidade, - ela respondeu, sua voz mais firme agora.
- Precisamos sair daqui, - disse, voltando à seriedade da situação. - Vou te levantar, ok? Me avise se sentir muita dor.
Com todo o cuidado, a ergui nos braços. Ela soltou um pequeno gemido, mas não protestou. Coloquei-a sobre o cavalo, montando logo em seguida e a segurando firmemente contra meu peito.
O caminho de volta para o rancho pareceu interminável. Savannah oscilava entre momentos de lucidez e confusão, murmurando palavras desconexas.
Quando finalmente chegamos, minha mãe e minha avó já estavam do lado de fora, a preocupação evidente em seus rostos.
- Oh, meu Deus! O que aconteceu? - Mamãe exclamou, correndo em nossa direção.
- Ela caiu do cavalo, - expliquei rapidamente, desmontando com Savannah nos braços. - Está machucada, mas acho que nada grave. Vou levá-la para dentro.
Sem esperar resposta, entrei na casa e a levei direto para o quarto.
Com cuidado, a coloquei na cama.
- Ryder, - ela murmurou, seus olhos se abrindo novamente. - Fica comigo?
Algo dentro de mim se contraiu ao ouvir o pedido em sua voz.
- Não vou a lugar nenhum, pequena. Mas precisamos cuidar de você primeiro.
Peguei meu telefone e, após um momento de hesitação, disquei um número que não ligava há anos: Andie, minha ex-namorada do ensino médio, agora enfermeira.
A espera pareceu uma eternidade, mas Andie chegou rapidamente. Fiquei ao lado de Savannah o tempo todo enquanto ela a examinava, minha mão inconscientemente segurando a dela.
- Nada muito grave, - Andie concluiu após alguns minutos. - Vou receitar um analgésico para a dor de cabeça e uma pomada para os ferimentos. Mas se ela apresentar tontura persistente, vômitos ou desmaios, levem-na imediatamente ao hospital.
Assenti, sentindo parte da tensão deixar meu corpo.
Andie se aproximou de mim, baixando a voz.
- Qualquer coisa, me chama. Você sabe que faço qualquer coisa por você, Ryder.
Antes que pudesse responder, notei o olhar de Savannah. Seus olhos estavam abertos, fixos em nós, uma expressão indecifrável em seu rosto.
Andie se despediu, e eu me aproximei da cama, sentando-me na beira.
- Você nos deu um belo susto, ruiva. - Savannah fechou os olhos por um instante, um suspiro escapando de seus lábios.
- Não foi minha intenção.
Com um gesto suave, afastei uma mecha de cabelo de seu rosto, colocando-a atrás de sua orelha.
Ela estremeceu levemente ao toque, seus olhos se abrindo para me encarar.
- Como isso aconteceu? - perguntei, minha voz mais suave do que pretendia.
- Uma cobra atravessou o caminho, - ela explicou, sua voz cansada. - O cavalo se assustou. Eu tentei controlá-lo, mas... bom, não fui bem-sucedida.
Assenti, analisando seu rosto exausto.
- Você precisa descansar agora.
- Vai me deixar dormir sozinha? - sua voz saiu provocadora, mas havia uma vulnerabilidade subjacente que não pude ignorar
- Não, - respondi, cruzando os braços. - Vou dormir no sofá. Se precisar de mim, estarei aqui.
Ela me olhou por um longo momento, como se tentasse decifrar algo em minha expressão. Finalmente, sem protestar, fechou os olhos e rapidamente caiu no sono.
Fiquei ali, observando-a, o ritmo suave de sua respiração sendo o único som no quarto. E, pela primeira vez em anos, percebi que, de alguma forma, Savannah Wilder estava conseguindo atravessar as barreiras que eu havia erguido ao redor do meu coração.
A noite seria longa, mas eu estaria ali, velando seu sono, pronto para enfrentar qualquer desafio que o amanhecer pudesse trazer.
Narrado por SavannahA consciência retornou lentamente, como uma névoa que se dissipa. Meus olhos se abriram para a escuridão do quarto, e por um momento desorientador, não consegui discernir onde estava. A confusão logo deu lugar a uma dor latejante que pulsava em minha têmpora, acompanhada por um desconforto generalizado que parecia se espalhar por cada centímetro do meu corpo.Aos poucos, as lembranças da queda do cavalo emergiram das profundezas da minha mente. Tentei me mover, mas uma onda de dor aguda percorreu meu lado direito, arrancando um gemido involuntário dos meus lábios ressecados.Do outro lado do quarto, ouvi o rangido característico de um sofá. Meu olhar instintivamente buscou a origem do som e, mesmo na penumbra, reconheci a silhueta inconfundível de Ryder. Ele estava deitado, os braços musculosos cruzados sobre o peito largo, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado em um ângulo que certamente lhe causaria dores ao acordar.Era uma visão quase surreal vê-lo assim
RyderFaziam alguns dias desde a queda de Savannah, e o rancho estava mais atarefado do que nunca.Com menos uma pessoa para ajudar, o trabalho se acumulava, e por mais que eu odiasse admitir, Savannah fazia falta. Não porque era indispensável, mas porque, contra todas as probabilidades, ela tinha se provado resistente. Lutadora.E agora estava presa no quarto, descansando, enquanto nós nos matávamos de trabalhar.De vez em quando, eu ia até lá para ver como ela estava. Nada demais. Apenas uma conferida rápida, um aceno de cabeça, talvez um resmungo qualquer.Desde a noite em que dormi ao lado dela, mantendo-a nos meus braços sem perceber, eu tentava manter distância física. O problema era que meu próprio cão me traía.Bear, que sempre dormia aos meus pés, decidiu que Savannah era uma opção melhor. Nas últimas vezes que o levei comigo até o quarto dela, ele simplesmente se recusou a sair. Subiu para a cama dela
Narrado por RyderO crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.A minha mãe
Narrado por SavannahA consciência retornou lentamente, como uma névoa que se dissipa. Meus olhos se abriram para a escuridão do quarto, e por um momento desorientador, não consegui discernir onde estava. A confusão logo deu lugar a uma dor latejante que pulsava em minha têmpora, acompanhada por um desconforto generalizado que parecia se espalhar por cada centímetro do meu corpo.Aos poucos, as lembranças da queda do cavalo emergiram das profundezas da minha mente. Tentei me mover, mas uma onda de dor aguda percorreu meu lado direito, arrancando um gemido involuntário dos meus lábios ressecados.Do outro lado do quarto, ouvi o rangido característico de um sofá. Meu olhar instintivamente buscou a origem do som e, mesmo na penumbra, reconheci a silhueta inconfundível de Ryder. Ele estava deitado, os braços musculosos cruzados sobre o peito largo, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado em um ângulo que certamente lhe causaria dores ao acordar.Era uma visão quase surreal vê-lo assim
Narrado por SavannahAcordei sobressaltada no meio da noite, meu corpo banhado em um suor frio. O pesadelo ainda pairava sobre mim como uma sombra sufocante, trazendo à tona lembranças que eu lutava diariamente para manter enterradas. A memória daquele dia fatídico – a faca reluzente, o sangue quente e viscoso, o olhar furioso e desvairado de meu pai – parecia mais vívida do que nunca.Meus músculos estavam tensos, prontos para uma luta que existia apenas em minha mente. Meu peito subia e descia em respirações rápidas e superficiais, enquanto eu lutava para me orientar na realidade.Foi então que percebi algo diferente. Um peso reconfortante sobre meu corpo. Braços fortes me envolviam em um abraço protetor, e meu rosto repousava contra algo quente e sólido.Meu coração, que já batia acelerado devido ao pesadelo, pareceu saltar em meu peito quando a realização me atingiu: Ryder estava me abraçando.Seu braço musculoso circundava minha cintura com uma firmeza que transmitia segurança,
RyderFaziam alguns dias desde a queda de Savannah, e o rancho estava mais atarefado do que nunca.Com menos uma pessoa para ajudar, o trabalho se acumulava, e por mais que eu odiasse admitir, Savannah fazia falta. Não porque era indispensável, mas porque, contra todas as probabilidades, ela tinha se provado resistente. Lutadora.E agora estava presa no quarto, descansando, enquanto nós nos matávamos de trabalhar.De vez em quando, eu ia até lá para ver como ela estava. Nada demais. Apenas uma conferida rápida, um aceno de cabeça, talvez um resmungo qualquer.Desde a noite em que dormi ao lado dela, mantendo-a nos meus braços sem perceber, eu tentava manter distância física. O problema era que meu próprio cão me traía.Bear, que sempre dormia aos meus pés, decidiu que Savannah era uma opção melhor. Nas últimas vezes que o levei comigo até o quarto dela, ele simplesmente se recusou a sair. Subiu para a cama dela, enroscou-se confortavelmente e ficou recebendo carinho enquanto ela sussu
SavannahOs dias foram passando e, para minha felicidade, minha recuperação avançava rápido.Os hematomas começaram a desbotar, assumindo um tom amarelado, e eu já conseguia me levantar sozinha sem precisar da ajuda de ninguém. Logo estaria pronta para voltar ao trabalho, e eu mal podia esperar.Naquela manhã, Harper veio me visitar e acabamos sentadas na varanda, tomando um pouco de sol e confidenciando coisas uma para a outra. — O que foi? Você está com essa cara desde que chegou. — perguntei, inclinando a cabeça para observá-la melhor.Ela suspirou e desviou o olhar, brincando com a barra do vestido. — É Michael.Michael era o noivo dela, que vivia em Washington. Já tinha ouvido um pouco sobre ele, mas nunca com aquele tom de voz desanimado. — As coisas não estão bem entre nós. — continuou, mordendo o lábio. — A distância está desgastando tudo, e ele... ele é tão egoísta às vezes. Não pensa na minha carreira, só na dele. Parece que espera que eu simplesmente largue tudo e vá corr
SavannahPasso a tarde com Harper, mas quando ela precisa ir embora, percebo que Andie ainda está no rancho.Seu carro azul ainda está estacionado na frente da casa.Isso me deixa inquieta.Onde diabos eles estão?Sem pensar muito, saio da casa e percorro o rancho, procurando por eles.Até que os encontro.Ryder está montando um de seus cavalos, conduzindo-o com maestria enquanto faz alguns exercícios.E Andie está ali, de pé, encostada na cerca, observando-o com um sorriso.Me aproximo e paro ao lado dela.— Ele é muito bom nisso, não é? — Andie comenta sem tirar os olhos dele.Cruzo os braços.— É o que dizem.Há um breve silêncio entre nós.Então respiro fundo e jogo a isca:— Vocês se conhecem há muito tempo?Andie olha para mim e sorri.— Sim. Fomos namorados no ensino médio.Minha cabeça vira tão rápido para encará-la que quase sinto o pescoço estalar.— Namorados?— Uhm uhm. — Ela assente, nostálgica. — Mas terminamos quando fui para Dallas estudar medicina. A distância atrapalh