Narrado por Savannah
O domingo amanhece preguiçoso no Sawyer Creek Ranch. O céu tingido de laranja e rosa reflete nos campos dourados, enquanto a brisa matinal carrega o cheiro da terra úmida e da madeira velha da casa principal.
Normalmente, um dia de folga como esse seria a oportunidade perfeita para visitar Creekville, dar uma volta pela cidade, talvez entrar em uma loja ou simplesmente observar as pessoas. Mas, por alguma razão, não sinto vontade de sair do rancho hoje.
E decido ficar.
Talvez porque, apesar de ser teimosa o bastante para não admitir, algo dentro de mim ainda não tenha digerido os acontecimentos da noite anterior.
A briga no bar.
O jeito como Ryder explodiu de raiva.
O modo como ele me tocou.
O fato de que, agora, ele está me ignorando completamente.
Quando entro na cozinha, percebo o silêncio imediato.
O ambiente está pesado.
Rose está terminando de colocar a mesa, Beth serve café, e Hunter e Isaiah comem em silêncio, lançando olhares ocasionais um para o outro. Mas é Ryder quem me chama atenção.
Ele está sentado à mesa, como sempre, mas há algo diferente.
Ele está rígido.
Fechado.
E, o mais estranho de tudo, sequer ergue os olhos para mim quando entro.
Isso não é normal.
Ryder sempre me olha.
Seja com irritação, seja para soltar uma provocação ácida ou apenas para me desafiar com aquele olhar escuro e intenso. Mas hoje, ele não me dá nem uma fração de sua atenção.
E, por algum motivo inexplicável, isso me irrita.
Rose franze a testa, olhando para os filhos.
— Por que diabos está todo mundo tão calado? — Sua voz quebra o silêncio.
Ninguém responde.
Isaiah finge interesse no café.
Hunter olha para o prato como se ele fosse a coisa mais fascinante do mundo. Ryder apenas continua comendo, ignorando deliberadamente a pergunta da mãe.
E eu?
Eu apenas mastigo um pedaço de torrada e fico quieta.
Rose cruza os braços e estreita os olhos, desconfiada.
— Não gosto disso.
Beth solta um suspiro, mas também não insiste.
E o pequeno-almoço segue nesse clima estranho e desconfortável.
Mas Ryder continua me ignorando.
Filho da mãe.
Meu estômago revira.
Por quê?
Por que essa indiferença repentina me incomoda tanto?
Então, entre uma mordida e outra na torrada, uma ideia surge em minha mente.
Se ele quer fingir que eu não existo... Então eu vou me certificar de que seja impossível me ignorar.
Para afastar a irritação crescente, decido convidar Harper para almoçar no rancho.
— Convidei Harper para almoçar conosco. Ela também está de folga hoje.
Rose sorri, parecendo genuinamente feliz com a ideia.
— Oh, querida, isso é maravilhoso! Gosto muito dessa menina.
Beth também parece animada.
— Vai ser ótimo ter uma visita.
Mas o que realmente me diverte é o jeito como Hunter se remexe na cadeira ao ouvir o nome de Harper.
Ele tenta disfarçar, claro.
Mas eu vejo.
E Harper também vê, porque quando ela chega para o almoço, há uma tensão sutil no ar entre ela e Hunter.
Eles trocam olhares.
Se estudam.
Hunter olha para ela como se fosse um homem com sede observando um copo d'água gelada.
E Harper finge não perceber.
Mas eu percebo.
E Rose e Beth também.
— Ao menos um dos irmãos tem coração. — murmuro para mim mesma, segurando um sorriso.
Durante o almoço, a conversa flui animadamente entre nós, exceto por Ryder, que mantém sua carranca de costume.
Ele não fala muito.
Não olha para mim.
E essa merda está começando a me afetar mais do que deveria.
Então, decido subir um degrau na provocação.
— Ryder, você não acha que deveríamos ensinar Hunter a ser mais direto com Harper? — solto, com um sorriso inocente.
Harper arregala os olhos.
Hunter engasga com a comida.
Ryder apenas ergue os olhos para mim, finalmente, com uma expressão indecifrável.
— E por que diabos eu me meteria nisso? — Sua voz é baixa e perigosa. Eu sorrio.
— Porque você é um especialista em ser um ogro insuportável. Achei que poderia ensinar Hunter a fazer o oposto.
Isaiah segura o riso.
Harper tampa a boca para não rir.
Hunter revira os olhos.
Mas Ryder?
Ele apenas me encara.
Com aqueles olhos escuros e intensos.
E então volta a comer sem dizer nada.
Bom.
Se ele acha que pode me ignorar, está muito enganado.
Depois do almoço, os homens dispensam a sobremesa e voltam ao trabalho no rancho, deixando apenas nós, as mulheres, desfrutando da deliciosa torta de maçã feita por Rose.
Entre uma garfada e outra, Rose me lança um olhar curioso.
— Por que estavam todos tão estranhos de manhã?
Harper, é claro, não perde a oportunidade de entregar tudo.
— Ah, é porque Ryder socou um idiota chamado Joe no bar ontem à noite por causa da Savannah.
Quase engasgo.
— Harper!
— O quê?
Rose perguntou.
Rose e Beth trocam olhares cúmplices.
— Ryder bateu em um homem por você? — Beth pergunta, interessada.
— Ele não fez isso por mim. — reviro os olhos. — Só não gosta de ver injustiças.
Harper bufa.
— Ah, por favor. Ele não fez isso só por causa da provocação. Fez porque você não é indiferente para ele.
Rose e Beth assentem, concordando.
Eu balanço a cabeça, irritada.
— Vocês estão todas loucas.
Mas a verdade?
Isso não sai da minha cabeça.
Mais tarde, depois que Harper vai embora, tomo um banho, visto um short jeans, um top e coloco minhas botas e meu chapéu de cowboy.
Ao sair de casa, Ryder está voltando do pasto com seu pastor-alemão, Bear.
E pela primeira vez no dia, ele me olha.
Dos pés à cabeça.
E seu olhar demora em minha boca.
Sorrio.
— Boa tarde, cowboy.
Ele não responde.
Apenas me encara por um segundo antes de entrar na casa.
Eu sorrio ainda mais.
Se ele acha que vai me ignorar, está muito enganado.
E minha primeira missão?
Ganhar a confiança de Bear. Mas antes...
Eu decido dar um passeio a cavalo até o riacho.
E tudo corre bem... até que o cavalo se assusta com uma cobra e me derruba.
Sinto o impacto forte no chão.
Minha visão escurece.
E então, tudo se apaga.
Narrado por RyderO crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.A minha mãe
Narrado por SavannahA consciência retornou lentamente, como uma névoa que se dissipa. Meus olhos se abriram para a escuridão do quarto, e por um momento desorientador, não consegui discernir onde estava. A confusão logo deu lugar a uma dor latejante que pulsava em minha têmpora, acompanhada por um desconforto generalizado que parecia se espalhar por cada centímetro do meu corpo.Aos poucos, as lembranças da queda do cavalo emergiram das profundezas da minha mente. Tentei me mover, mas uma onda de dor aguda percorreu meu lado direito, arrancando um gemido involuntário dos meus lábios ressecados.Do outro lado do quarto, ouvi o rangido característico de um sofá. Meu olhar instintivamente buscou a origem do som e, mesmo na penumbra, reconheci a silhueta inconfundível de Ryder. Ele estava deitado, os braços musculosos cruzados sobre o peito largo, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado em um ângulo que certamente lhe causaria dores ao acordar.Era uma visão quase surreal vê-lo assim
RyderFaziam alguns dias desde a queda de Savannah, e o rancho estava mais atarefado do que nunca.Com menos uma pessoa para ajudar, o trabalho se acumulava, e por mais que eu odiasse admitir, Savannah fazia falta. Não porque era indispensável, mas porque, contra todas as probabilidades, ela tinha se provado resistente. Lutadora.E agora estava presa no quarto, descansando, enquanto nós nos matávamos de trabalhar.De vez em quando, eu ia até lá para ver como ela estava. Nada demais. Apenas uma conferida rápida, um aceno de cabeça, talvez um resmungo qualquer.Desde a noite em que dormi ao lado dela, mantendo-a nos meus braços sem perceber, eu tentava manter distância física. O problema era que meu próprio cão me traía.Bear, que sempre dormia aos meus pés, decidiu que Savannah era uma opção melhor. Nas últimas vezes que o levei comigo até o quarto dela, ele simplesmente se recusou a sair. Subiu para a cama dela
Narrado por RyderO crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.A minha mãe
Narrado por SavannahA consciência retornou lentamente, como uma névoa que se dissipa. Meus olhos se abriram para a escuridão do quarto, e por um momento desorientador, não consegui discernir onde estava. A confusão logo deu lugar a uma dor latejante que pulsava em minha têmpora, acompanhada por um desconforto generalizado que parecia se espalhar por cada centímetro do meu corpo.Aos poucos, as lembranças da queda do cavalo emergiram das profundezas da minha mente. Tentei me mover, mas uma onda de dor aguda percorreu meu lado direito, arrancando um gemido involuntário dos meus lábios ressecados.Do outro lado do quarto, ouvi o rangido característico de um sofá. Meu olhar instintivamente buscou a origem do som e, mesmo na penumbra, reconheci a silhueta inconfundível de Ryder. Ele estava deitado, os braços musculosos cruzados sobre o peito largo, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado em um ângulo que certamente lhe causaria dores ao acordar.Era uma visão quase surreal vê-lo assim
Narrado por SavannahAcordei sobressaltada no meio da noite, meu corpo banhado em um suor frio. O pesadelo ainda pairava sobre mim como uma sombra sufocante, trazendo à tona lembranças que eu lutava diariamente para manter enterradas. A memória daquele dia fatídico – a faca reluzente, o sangue quente e viscoso, o olhar furioso e desvairado de meu pai – parecia mais vívida do que nunca.Meus músculos estavam tensos, prontos para uma luta que existia apenas em minha mente. Meu peito subia e descia em respirações rápidas e superficiais, enquanto eu lutava para me orientar na realidade.Foi então que percebi algo diferente. Um peso reconfortante sobre meu corpo. Braços fortes me envolviam em um abraço protetor, e meu rosto repousava contra algo quente e sólido.Meu coração, que já batia acelerado devido ao pesadelo, pareceu saltar em meu peito quando a realização me atingiu: Ryder estava me abraçando.Seu braço musculoso circundava minha cintura com uma firmeza que transmitia segurança,
RyderFaziam alguns dias desde a queda de Savannah, e o rancho estava mais atarefado do que nunca.Com menos uma pessoa para ajudar, o trabalho se acumulava, e por mais que eu odiasse admitir, Savannah fazia falta. Não porque era indispensável, mas porque, contra todas as probabilidades, ela tinha se provado resistente. Lutadora.E agora estava presa no quarto, descansando, enquanto nós nos matávamos de trabalhar.De vez em quando, eu ia até lá para ver como ela estava. Nada demais. Apenas uma conferida rápida, um aceno de cabeça, talvez um resmungo qualquer.Desde a noite em que dormi ao lado dela, mantendo-a nos meus braços sem perceber, eu tentava manter distância física. O problema era que meu próprio cão me traía.Bear, que sempre dormia aos meus pés, decidiu que Savannah era uma opção melhor. Nas últimas vezes que o levei comigo até o quarto dela, ele simplesmente se recusou a sair. Subiu para a cama dela, enroscou-se confortavelmente e ficou recebendo carinho enquanto ela sussu
SavannahOs dias foram passando e, para minha felicidade, minha recuperação avançava rápido.Os hematomas começaram a desbotar, assumindo um tom amarelado, e eu já conseguia me levantar sozinha sem precisar da ajuda de ninguém. Logo estaria pronta para voltar ao trabalho, e eu mal podia esperar.Naquela manhã, Harper veio me visitar e acabamos sentadas na varanda, tomando um pouco de sol e confidenciando coisas uma para a outra. — O que foi? Você está com essa cara desde que chegou. — perguntei, inclinando a cabeça para observá-la melhor.Ela suspirou e desviou o olhar, brincando com a barra do vestido. — É Michael.Michael era o noivo dela, que vivia em Washington. Já tinha ouvido um pouco sobre ele, mas nunca com aquele tom de voz desanimado. — As coisas não estão bem entre nós. — continuou, mordendo o lábio. — A distância está desgastando tudo, e ele... ele é tão egoísta às vezes. Não pensa na minha carreira, só na dele. Parece que espera que eu simplesmente largue tudo e vá corr