Narrado Por Savannah.
Duas semanas.
Duas semanas trabalhando no Sawyer Creek Ranch, e meu corpo ainda não tinha se acostumado. Cada músculo latejava no final do dia, e eu adormecia assim que minha cabeça tocava o travesseiro. Mas, apesar do cansaço, havia algo estranhamente gratificante em ver minhas mãos calejadas e sujas de terra.
O trabalho era duro, mas era real.
E, de alguma forma, me fazia sentir viva.
Havia também os momentos que tornavam tudo mais suportável. Como os cafés da manhã feitos por Rose e Beth.
A comida delas era um conforto que eu não sabia que precisava.
Beth era falante, divertida e sempre com um sorriso no rosto. Rose, por outro lado, era mais observadora, como se pudesse enxergar coisas que eu tentava esconder.
Naquela manhã, enquanto tomávamos café na cozinha, só nós duas, Rose me olhou com curiosidade antes de perguntar:
— O que te trouxe até aqui, Savannah?
O garfo parou no meio do caminho até minha boca.
Eu podia inventar uma desculpa. Podia dizer que queria uma mudança de cenário, que gostava da vida no campo. Mas, por alguma razão, não quis mentir para ela.
Baixei os olhos para minha xícara de café antes de responder:
— Minha mãe morreu.
O silêncio que se seguiu foi pesado.
— Sinto muito — Rose disse, sua voz suave.
Engoli em seco e continuei:
— Ela teve câncer. Durante meses, vi a mulher mais forte que conheci definhar diante dos meus olhos. E quando ela se foi… — minha voz falhou. — Eu simplesmente não conseguia ficar mais lá.
Ela não perguntou onde era “lá”.
Mas, de alguma forma, eu soube que ela entendia.
— Achei que um recomeço era o que eu precisava — murmurei.
Rose estendeu a mão e segurou a minha.
— Você encontrou um lar aqui, querida.
Engoli o nó na garganta e apertei os dedos dela em resposta.
Mas uma parte de mim se perguntava se eu realmente pertencia a algum lugar.
Naquela manhã, minha tarefa era remover as ferraduras desgastadas de um dos cavalos.
Eu já tinha visto Ryder e Hunter fazerem aquilo antes e, tola como sou, achei que podia fazer sozinha.
Mas eu errei.
E, por conta do meu erro, o cavalo se feriu.
O relincho alto me fez congelar.
Meu estômago revirou ao ver o sangue escorrendo.
— Merda…
Antes que eu pudesse reagir, passos pesados ecoaram pelo estábulo.
— Que porra aconteceu aqui?! — Ryder surgiu como uma tempestade furiosa.
Hunter veio logo atrás, os olhos arregalados ao ver o cavalo mancando.
— Ah, não…
Meu coração martelava contra o peito.
— Foi um acidente! — minha voz saiu fraca. — Eu não queria…
— Você machucou ele?! — Hunter parecia mais chocado do que irritado.
Mas Ryder… Ryder estava furioso.
— Como você pôde ser tão irresponsável?! — ele rugiu. — Você sequer sabe o que está fazendo!
Minha garganta se fechou.
— Eu estava tentando ajudar!
— Ajudar? — Ele riu, sem humor. — Você acabou de ferrar tudo, Wilder!
As palavras dele foram como um soco no estômago.
Meus olhos ardiam, e eu só queria sumir.
— Chega! — Hunter se meteu entre nós. — Discutir não vai resolver nada. Vou chamar o veterinário de Creekville.
E então, tudo o que pude fazer foi esperar.
Esperar e me afogar na culpa.
Quando a caminhonete branca parou na entrada do rancho, meu primeiro pensamento foi que nunca tinha visto uma veterinária tão bonita.
Harper Cullen.
Alta, cabelos loiros e lisos que desciam pelas costas, olhos cor de mel e um sorriso confiante.
Ela saiu da caminhonete com passos decididos, carregando uma maleta.
— Oi, sou Harper Cullen — ela se apresentou. — Me ligaram sobre um cavalo ferido?
— Sim — Hunter respondeu, parecendo surpreso. — Você é a nova veterinária?
Ela assentiu.
— O antigo veterinário se aposentou, e eu assumi o lugar dele.
Harper foi direto ao trabalho, e eu observei enquanto ela examinava a pata do cavalo.
Ela era calma, meticulosa e claramente sabia o que estava fazendo.
Ryder permaneceu em silêncio ao lado de Hunter, os braços cruzados e o maxilar travado. Mas sua preocupação era evidente.
Já Hunter… Hunter estava olhando para Harper com um interesse mal disfarçado.
Se o momento não fosse tão tenso, eu até teria achado graça.
Os olhos dele a acompanhavam atentamente, e era evidente que não era apenas preocupação com o cavalo.
Depois de um tempo, Harper se levantou e suspirou.
— Ele vai precisar de cuidados, mas acredito que ficará bem.
Soltei o ar que estava prendendo.
Mas a culpa ainda me esmagava.
— Eu… eu não queria… — minha voz falhou quando as lágrimas vieram.
Harper colocou a mão no meu ombro.
— Acontece, Savannah. Trabalhar com animais tem seus desafios. Você vai aprender.
Ryder soltou um som de desprezo.
— Se ela durar tempo suficiente aqui para aprender.
Meu peito apertou.
Dessa vez, eu não respondi.
Mais tarde, quando fui ver o cavalo, ouvi vozes no estábulo.
Eram Ryder e Hunter.
— Ela precisa ser despedida, Hunter! — Ryder estava furioso. — Isso foi um erro tremendo!
Minha respiração ficou presa.
— Não vou mandá-la embora — Hunter respondeu.
— Você está brincando?
— Não. Ela cometeu um erro, mas já aprendemos da pior forma que erros acontecem.
Silêncio.
Saí dali antes que percebessem minha presença.
Subi para o quarto, deitei na cama e deixei o cansaço me consumir.
Horas depois, uma batida suave na porta me despertou.
— Savannah?
A voz de Rose.
Quando abri, ela segurava um prato com biscoitos e uma caneca de chá.
— Você não pode dormir de estômago vazio.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Obrigada…
Ela entrou e sentou-se na cama comigo.
— Eu estraguei tudo… — sussurrei. Rose pegou minha mão.
— Você cometeu um erro. Mas isso não define você.
Engoli em seco, tentando acreditar.
Os dias passaram, e Ryder me ignorava mais do que nunca.
Sempre que Harper vinha ver o cavalo, eu me alegrava um pouco. Criamos uma amizade rapidamente.
E então, finalmente conheci Isaiah, um dos irmãos mais novos de Ryder e Hunter.
Ele era alto, com cabelos ruivos e olhos azuis vivos.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o cachorro enorme que estava ao seu lado.
— Esse é Bear — Isaiah explicou. — O cão de Ryder.
Um pastor-alemão imponente.
Na manhã seguinte, vi Bear sozinho e tentei me aproximar.
Mas ele rosnou.
— Ei, amigão…
Dei mais um passo, e ele latiu.
Eu me assustei e dei um pulo para trás.
E então, uma risada grave ecoou pelo estábulo.
Virei-me e encontrei Ryder, encostado na porta, me observando.
— Até o meu cachorro sabe que você é um problema.
O som da risada dele…
Por Deus, aquilo mexeu comigo.
Mas, ao invés de demonstrar, apenas sorri.
— Talvez ele só reflita a personalidade do dono.
Os olhos de Ryder brilharam com irritação.
E, com isso, virei as costas, sentindo a doce satisfação de tê-lo feito perder a pose.
Claro, aqui está uma versão mais curta do trecho:Narrado por RyderA ressaca me atinge forte. Faz dois anos que fui abandonado no altar, descobrindo que Priscilla estava grávida de outro. Hunter sabia, mas escondeu. Aquele dia me destruiu.Agora, só me resta o rancho e a rotina.No estábulo, após um banho, saio nu e dou de cara com Savannah. Seus olhos verdes me examinam, parando onde não deviam.— Apreciando a vista, docinho? — provoco.Ela fica vermelha e sai furiosa.Maldita ruiva.À tarde… Harper aparece para ver o cavalo.— Ele está finalmente a 100%. Podem voltar a montá-lo sem preocupações.Savannah e Hunter comemoram. Eu apenas solto um suspiro de alívio.Então, Harper nos convida para o bar country de Creekville naquela noite.— Uma banda muito boa vai tocar. Vocês deviam ir.Savannah aceita na hora. Hunter assente. Isaiah entra na conversa e decide ir também. Eu não respondo.No almoço, o assunto volta.— E você, Ryder? Vai? — Isaiah pergunta.Minha resposta é rápida e defi
Narrado por SavannahO domingo amanhece preguiçoso no Sawyer Creek Ranch. O céu tingido de laranja e rosa reflete nos campos dourados, enquanto a brisa matinal carrega o cheiro da terra úmida e da madeira velha da casa principal. Normalmente, um dia de folga como esse seria a oportunidade perfeita para visitar Creekville, dar uma volta pela cidade, talvez entrar em uma loja ou simplesmente observar as pessoas. Mas, por alguma razão, não sinto vontade de sair do rancho hoje. E decido ficar. Talvez porque, apesar de ser teimosa o bastante para não admitir, algo dentro de mim ainda não tenha digerido os acontecimentos da noite anterior. A briga no bar. O jeito como Ryder explodiu de raiva. O modo como ele me tocou. O fato de que, agora, ele está me ignorando completamente.Quando entro na cozinha, percebo o silêncio imediato. O ambiente está pesado. Rose está terminando de colocar a mesa, Beth serve café, e Hunter e Isaiah comem em silêncio, lançando olhares ocasionais um par
Narrado por RyderO crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.A minha mãe
Narrado por SavannahA consciência retornou lentamente, como uma névoa que se dissipa. Meus olhos se abriram para a escuridão do quarto, e por um momento desorientador, não consegui discernir onde estava. A confusão logo deu lugar a uma dor latejante que pulsava em minha têmpora, acompanhada por um desconforto generalizado que parecia se espalhar por cada centímetro do meu corpo.Aos poucos, as lembranças da queda do cavalo emergiram das profundezas da minha mente. Tentei me mover, mas uma onda de dor aguda percorreu meu lado direito, arrancando um gemido involuntário dos meus lábios ressecados.Do outro lado do quarto, ouvi o rangido característico de um sofá. Meu olhar instintivamente buscou a origem do som e, mesmo na penumbra, reconheci a silhueta inconfundível de Ryder. Ele estava deitado, os braços musculosos cruzados sobre o peito largo, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado em um ângulo que certamente lhe causaria dores ao acordar.Era uma visão quase surreal vê-lo assim
RyderFaziam alguns dias desde a queda de Savannah, e o rancho estava mais atarefado do que nunca.Com menos uma pessoa para ajudar, o trabalho se acumulava, e por mais que eu odiasse admitir, Savannah fazia falta. Não porque era indispensável, mas porque, contra todas as probabilidades, ela tinha se provado resistente. Lutadora.E agora estava presa no quarto, descansando, enquanto nós nos matávamos de trabalhar.De vez em quando, eu ia até lá para ver como ela estava. Nada demais. Apenas uma conferida rápida, um aceno de cabeça, talvez um resmungo qualquer.Desde a noite em que dormi ao lado dela, mantendo-a nos meus braços sem perceber, eu tentava manter distância física. O problema era que meu próprio cão me traía.Bear, que sempre dormia aos meus pés, decidiu que Savannah era uma opção melhor. Nas últimas vezes que o levei comigo até o quarto dela, ele simplesmente se recusou a sair. Subiu para a cama dela
Narrado por RyderO crepúsculo já havia cedido lugar à noite quando terminei minhas tarefas no rancho. O céu, um manto negro salpicado de estrelas, oferecia pouca iluminação, mas o facho de luz que emanava da varanda da casa principal criava um contraste acolhedor contra a friagem noturna.Bear, meu fiel companheiro canino, caminhava silenciosamente ao meu lado, suas patas mal tocando o chão de terra batida enquanto eu me aproximava da casa para o jantar com minha família. O ar estava impregnado com o aroma de pinho e grama recém-cortada, uma fragrância familiar que normalmente me acalmava. Mas naquela noite, uma inquietação inexplicável pairava sobre mim.Assim que subi os degraus da varanda, percebi que algo estava errado. Minha mãe, Rose, e minha avó estavam sentadas lado a lado em cadeiras de balanço, seus rostos marcados por linhas de preocupação que não conseguiam disfarçar.- O que aconteceu? - perguntei, franzindo o cenho, sentindo um nó se formar em meu estômago.A minha mãe
Narrado por SavannahA consciência retornou lentamente, como uma névoa que se dissipa. Meus olhos se abriram para a escuridão do quarto, e por um momento desorientador, não consegui discernir onde estava. A confusão logo deu lugar a uma dor latejante que pulsava em minha têmpora, acompanhada por um desconforto generalizado que parecia se espalhar por cada centímetro do meu corpo.Aos poucos, as lembranças da queda do cavalo emergiram das profundezas da minha mente. Tentei me mover, mas uma onda de dor aguda percorreu meu lado direito, arrancando um gemido involuntário dos meus lábios ressecados.Do outro lado do quarto, ouvi o rangido característico de um sofá. Meu olhar instintivamente buscou a origem do som e, mesmo na penumbra, reconheci a silhueta inconfundível de Ryder. Ele estava deitado, os braços musculosos cruzados sobre o peito largo, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado em um ângulo que certamente lhe causaria dores ao acordar.Era uma visão quase surreal vê-lo assim
Narrado por SavannahAcordei sobressaltada no meio da noite, meu corpo banhado em um suor frio. O pesadelo ainda pairava sobre mim como uma sombra sufocante, trazendo à tona lembranças que eu lutava diariamente para manter enterradas. A memória daquele dia fatídico – a faca reluzente, o sangue quente e viscoso, o olhar furioso e desvairado de meu pai – parecia mais vívida do que nunca.Meus músculos estavam tensos, prontos para uma luta que existia apenas em minha mente. Meu peito subia e descia em respirações rápidas e superficiais, enquanto eu lutava para me orientar na realidade.Foi então que percebi algo diferente. Um peso reconfortante sobre meu corpo. Braços fortes me envolviam em um abraço protetor, e meu rosto repousava contra algo quente e sólido.Meu coração, que já batia acelerado devido ao pesadelo, pareceu saltar em meu peito quando a realização me atingiu: Ryder estava me abraçando.Seu braço musculoso circundava minha cintura com uma firmeza que transmitia segurança,