Capítulo 02.

Desde que aquele homem foi embora, o clima aqui em casa voltou ao normal. Meus pais andam menos tensos. E não tem como não estar tenso, não quando o homem apelidado de Leviatã, descansava em nossa casa. Meus pais não me contaram nada sobre esse homem mais eu sei. Bom, não exatamente eu, mas sim, são as lembranças desse corpo.

-- Meu pai, não acha que devíamos ir para outro país.—pergunto durante o jantar.

-- Tuli, não é como se fosse fácil atravessar todo o oceano marítimo.

-- Mas, meu pai consegue controlar a água. Acho que não teria assim tantas dificuldades. -- minha mãe ri, e meu pai sacode a cabeça.

-- Ela tem razão. Nunca expliquei sobre o poder elementar. –Natanael, é um homem bom, durante sua juventude serviu o exército real, mas quando ganhou deficiência visual, foi descartado, e foi lhe dada essa terra onde vivemos como indemnização. Meu pai é cego, mas vê muito melhor do que nós que temos visto. Meu pai sente as energias, e com isso facilmente se locomover.--O mundo é composto por quatro elementos principais, e esses elementos se manifestam de diversas formas para criar vários efeitos, como relâmpagos, furações de água, ou de vento, granizo, chuva de meteoros, entre outros. Mas a verdade é que para atingir esse nível, você deve dispor de grande conhecimento. Dificilmente um simples aldeão consegue fazer mais, que controlar o curso das águas. Pois, esse conhecimento é monopolizado pela família real. Usando a marítima, sem recursos suficientes dificilmente duraríamos.

-- Mas pai, a guerra. Não tarda irá nos atingir.

-- Não pense muito nisso, daremos um jeito querida.

Não importa o quanto eu tente, não consigo mudar o curso da história, me sinto presa a um destino que não consigo mudar. Não importa o que eu faça. Nós estamos no país da nuvem, um país pequeno que está dentro do reino da Água, e somos vizinhos do país da chuva, acontece que o poder do reino da Água, é instável, e está sempre em disputa. Alguns nobres, se tornaram senhores feudais, e governam uma parcela de terra, sem a influência do rei. Se tornando países neutros. A situação é essa já há anos, mas tudo piorou nos anos 300, o rei teve uma filha, e tenta casá-la com o imperador do vento, mas não conseguiu. Tentou ainda juntá-la com o imperador do fogo, mas a imperatriz viúva da época se recusou. Não tentou com o reino da terra, pois, eles se encontram na mesma situação que a dele ou pior, por causa da disputa pelo trono.

Então ele causou sua filha com um nome de sua confiança. O irmão do rei não satisfeito com isso, visto que ele tem um filho que poderia suceder seu irmão, iniciou uma revolta. Quem vem se estendendo faz anos causando várias mortes inocentes.

O inverno chegou e a neblina aumentou. Muitos refugiados de guerra tem chegado até aqui. Eu praticamente nem durmo, de tanta preocupação, fico horas e horas acordada, esperando que algo pior aconteça.

Algo dentro de mim diz que eu já vivi algo semelhante, mas não consigo me lembrar. Não consigo me lembrar da minha vida passada, mas  meu sangue ferve com a injustiça, se eu fosse forte, se as pessoas desse país não fossem pacifistas, não estaríamos à mercê de tiranos.

Desde os meus primeiros anos de vida sempre fui uma criança bem consciente, e com a certeza de que esse corpo não é o meu.

-- Estão queimando as colheitas, levando nosso rebanho e levando nossos filhos para a guerra.

- Nataniel, temos que fazer algo. Não tarda vai invadir as nossas casas. O rei morreu, e seu irmão não vai parar, até controlar tudo.

-- Estamos nas mãos de tiranos. Que Allah nos proteja.

Ouço a conversa dos meus pais, com seus amigos da vizinhança. Deve haver algo que se possa fazer.

Saiu em direção a aldeia, e viu como várias casas foram incendiadas, mães, com seus filhos no colo chorando. A destruição.

Minha cabeça começa a latejar, como se eu quisesse me lembrar de algo com o qual não me lembro. Volto para casa a correr, fatigada de tudo que eu vi.

- Tulipa, onde estava? Não te disse para não sair de casa?—minha mãe me agarra pelo pulso. -- lá fora é perigoso.

-- Mãe, porque não vamos embora. -- disse chorando. -- vamos morrer se continuarmos aqui.

Ela me abraçou, mas nada disse.

Porque estão todos querendo se conformar com essa realidade?

Rose, minha mãe, conheceu meu pai ainda em sua juventude, quando meu pai voltou saiu do exército, eles se casaram, e me tiveram. Eles se amam e me amam igualmente. Eles me dão tudo que eu preciso, e tudo que uma garotinha gostaria de ter. Queria poder protegê-los, mas não há nada que uma pessoa como eu possa fazer para travar o destino.

(...)

Tulipa nasceu no país da nuvem,como a única filha de Natanael, e Rose. Teve uma vida pacífica até seus dezoito anos, quando seus pais morrem, nas mãos no exército, sua aldeia é congelada, até virar cacos de vidro. Sobre o domínio do novo rei, todas as belas moças foram reportadas para seu palácio, as menos belas, viravam empregadas, e a mais bela, se tornou a esposa do príncipe.  Apesar de bela, Tulipa não chegava aos pés do que o príncipe pretendia. Principalmente até por ser uma plebeia. Mas não haviam muitas opções, as moças nobres existentes ainda eram pequenas, para se tornar sua esposa, e nenhum dos dois impérios quis mandar suas nobres para cá, devido ao tanto de sangue derramado. Tulipa não foi tocada pelo príncipe, ele a rejeitava. Mas acabou tendo um destino como o de seus pais.

O vilão da história, o neto do falecido rei, invade o palácio, do novo rei, matando a todos e governando como uma espada de aço. Ninguém conseguia ser por contra ele, por que sobre seu comando afundava navios no mar, e fazia cheias cumbrirem seu reino. Eliminou todos que se colocaram contra ele, fez um massacre ainda pior que seu tio. A história termina com o reino da água sendo engolido pelas águas, e se tornando uma cidade submersa.

Na história, Tulipa, chegou a conhecer o homem quando seu pai a salvou, não  chegou a conversar com ele porque ele emanava uma aura assustadora e recebeu ordens de seu pai, para se manter longe dele.

Tulipa foi mais uma figurante nessa história, que foi conhecida como a princesa relâmpago, porque sua ascensão, terminou assim que começou. Não chegou nem a fechar um ano. Porque no final do ano 400 foi morta pelo homem que seu pai salvou.

Ela não tem nenhum papel significativo, apesar de sua beleza deslumbrante.

Diferente de mim, ou melhor, da alma que possui seu corpo. Eu fui conhecida como Mackenzie, nasceu no séc XX, foi uma cientista bastante conhecida. Meus pais, eram professores que investiram na minha educação, mas não demonstram tanto afeto, assim como os pais de Tulipa demonstram. Para os meus pais, o sucesso estava em primeiro lugar e eles não admitiam falhas, nem desculpas. Minha educação foi rígida. Era presenteada só quando oferecia os resultados desejados. E então, quando fui admitida para o serviço nacional de inteligência. Logo após, eu ter terminado minha faculdade de medicina, tendo se destacado como uma das melhores cientistas.

Eu vivi num mundo de consumismo imediato, um modo de revoluções, um mundo igualmente marcado por guerra, destruições e mortes. Eu tinha 24 anos quando comecei a trabalhar no SNI. Se eu achava os meus pais exigentes, é porque eu não sabia o que é servir a o meu povo. Rapidamente me deixei levar, pelo espírito de competição, e pela insensibilidade, que os membros daquela corporação tinham. Foi durante a segunda guerra mundial, enquanto nazistas matavam judeus. Em Malvo, todo aquele que não conseguisse ter um QI acima de 120 era eliminado. O país estava em crise, eu o nosso líder queria eliminar pessoas que trazem despesas.

As teses delas eram bastante simples, e desumanas.

Se não consegue criar seu próprio sustento, morra.

Se sustenta com base no sacrifício, não tenha filhos.

Só os ricos podiam ter filhos. Se casar, e amar.

As mulheres não podiam conceber mais de dois filhos, isso era considerado um crime, e a pena era de morte para  a mãe, e para a última criança a nascer.

Sem tetos eram usados sem seu consentimento como cobaias para descobrir a cura de inúmeras doenças que se alastram.

E era uma coisa muito engraçada, pois, quanto mais sangue inocente o governo derramava, mais pessoas nasciam.

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