Não consigo me manter em pé. Esta tarde. Minha visão durante a noite ainda é péssima. Escorro-me num arbusto e fico inconsciente, e também, não é como se eu pudesse continuar, tenho muitas feridas abertas. Nessa noite não posso fazer muito por mim, e se eu sair ao vilarejo, voltarei a ser a caça e não sobreviverei.
Tudo fica escuro. Talvez seja por outras, ou ainda por muito poucos minutos;
Desperto. Olho em volta e me vejo num quarto simples sem muitas mobílias. O teto, está todo comido por furões, a janela ao lado de mim, dá espaço para ver o lado de fora, cheio de flores das mais diversas cores. O ar frio vem do mar, e entra pelas frestas da janela.
-- PAI. ELE ACORDOU.-viro-me para poder encarar a voz feminina que me grita ao ouvido. E ela é pequena de cabelos loiros encaracolados, e olhos azuis como o céu. -- Você se sente bem?—cutuca minha bochecha.—Meu pai te encontrou desmaiado na floresta e te trouxe para cá. Você lembra? Acredito que nao ne? Não estava acordado.
-- Tulipa, não incomode o hóspede.-um homem de provavelmente um metro e setenta. De cabelos loiros, encaracolados e olhos azuis. Afasta a garota de mim.—deixe-o respirar.—a garota dá de ombros, ela é pequena, deve ter doze ou quinze anos. -- diga sua mãe, para trazer algo para este homem comer.
A garota se retirou.
-- Meu senhor, em que minha pobre família pode lhe servir?—o homem disse se ajoelhando diante de mim.
- Quem te enviou?
-- Ninguém senhor, te achei por acaso.—disse com a voz trêmula.
- Então como conheci minha identidade?
-- Não conheço senhor. Seu cabelo é azul como as profundezas do mar, uma marca particular da família real. Se eu estiver enganado. Por favor ignore, esse homem velho e inculto.
Ouço as vozes femininas se aproximando.
- Levante-se. Não conte nada a sua família, caso não terei que silencia-los.
-- Aqui, está a comida.—uma mulher parecida com a garota, mas de cabelos pretos de olhos azuis, me entregou o prato de comida.
-- Agradeça.
-- Tulipa. -- o homem repreendeu a filha pelo comportamento audacioso.
-- Agradeça pela comida. -- disse me encarando seriamente. -- A comida é sagrada.
-- Tulipa. Saia. Já te falei sobre impor seus ideais nos outros, isso é errado.—Ela abaixou a cabeça para o pai e se retirou.
-- Desculpe pelo comportamento da minha filha, desde criança que ela é assim, um pouco avançada para sua idade.—disse a mãe.
Não lhes respondi, e me foquei em comer. Vai ser uma pena se a comida estiver envenenada vai atrasar a cicatrização das minhas feridas. Mas preciso comer algo, a dias que não descanso. Se eu sair nesse estado, serei morto.
Contra três membros de uma família eu posso lutar, até se estiver inconsciente, mas não contra as pessoas do meu sangue.
Vou ficar aqui alguns dias até que esteja totalmente curado.
Durante o resto do dia, a mulher mais velha apenas me trouxe refeições, mas aquela criança não apareceu. Esse lugar cheira a flores, é um cheiro diferente do que estou habituado e um pouco enjoativo. Estou mais familiarizado com o cheiro do sangue.
No segundo e no terceiro dia também não sai do quarto, muito menos levantei da cama. Apenas recebia as refeições. Não vi a criança, mas consigo ouvir a voz dela por toda casa. Ela grita demais. Deve ser, felicidade.
No quarto dia me levantei. Dei algumas voltas pelo quarto, sai do mesmo e fui para sala onde encontrei o dono da casa, no qual nem sequer perguntei o nome.
- Estou mal. Quero me banhar.
-- Claro. Vou providenciar imediatamente.
Sentei-me numa das cadeiras esburacadas, cruzando os pés.
-- Não gosto que trate meu pai como um escravo.—a garota puxa uma cadeira se sentando à minha frente—ele é um homem incrível que nada mais faz do que lhe ajudar.
-- Porque está falando comigo?—apoiei minha cabeça com minha mãe, a encarando com desdém. -- teu pai não te falou para não me incomodar.
-- Se se sente incomodado devia ir embora. Ninguém está obrigado a permanecer aqui. E aliás, está acabando nossa comida, e aumentando o trabalho em casa. Não sabemos quem é. Às tantas é um assassino, não gosto de estranhos na minha casa.
-- Você me conhece?—ela emudeceu e desviou o olhar. -- sabe o que eu faço com pessoas irritantes?—abaixou o olhar.—estranhamente você sabe. Tem medo que eu mate seus pais?
-- Independentemente de quem quer que você seja. Lembre-se das pessoas que o ajudam sem pedir nada em troca.—se levantou e saiu.
Fiquei encarando a direção que ela levou. Será que essa família me dará problemas futuros?
(...)
Depois de uma semana aqui, já me sinto completamente recuperado. Devo voltar.
Esse lugarzinho é calmo, está distante da maior parte das casas. Quase nenhuma vizinhança ao redor. Eles tem um imenso jardim com as mais diversas flores. De tanto que fiquei aqui, acabo cheirando flores também.
-- O cheiro de flores de enjoa.—Ouço a voz atrás de mim. -- você faz uma cara de nojo nada discreta, sabia?
-- Do mesmo que fico quando você aparece. -- arranco uma Tulipa amarela, e a entrego, ela estala a língua e pega a flor.
-- Não fique arrancando as flores do jardim do meu pai.
-- Quantos anos você tem quinze?—nao responde. -- se você se casasse seria uma péssima esposa. Fala demais. Se continuar assim vai morrer antes dos dezoito.
-- Você fala em morte como se ela nada fosse.—ela se aproxima e aponta o dedo para mim, seu rosto ficou sério. E as palavras que pronuncia, é como se fosse de um adulto que já passou pela guerra.—E se você morresse já imaginou? Já imaginou como seria se fosse fraco?? Devia usar seus poderes para salvar as pessoas ́ para as proteger. É dever dos mais fortes protegerem os mais fracos.
-- A espécie que não se adapta à natureza morre.
-- Não. Você não é mais do que ninguém só porque tem sangue nobre. Ops. Merda.—arqueou as sobrancelhas. -- escutei sua conversa com meu pai. Mas, esse não é o foco. Você não sente. Seu coração não dói quando vê homens e mulheres, crianças, morrendo pelas suas mãos. Você não consegue sentir a agonia deles. O desespero. Isso não te perturba? Não te tira o sono? Você é humano também. Todos fazemos parte da mesma espécie, porque olhar para uns como se não fossem nada?
-- Se quer saber. Eu não sinto. Mas, isso não é algo que você entenderia. E não é só porque somos da mesma espécie que significa que todos somos humanos. Está com raiva de mim, por algo que eu ainda nem fiz. Imagina eu te fizer. Vai se revirar dos mortos e me assombrar? Quer se salvar? Fure a fronteira e vá embora. Ou nasça num mundo que não existam tiranos. O que eu claramente duvido existir.
Eu tenho vinte anos e escutei aqui trocando farpas com uma criança. Que desperdício. No mesmo dia peguei minhas coisas sem me despedir. Tenho de recuperar o que é meu ou afundar nos confins do mar.
Desde que aquele homem foi embora, o clima aqui em casa voltou ao normal. Meus pais andam menos tensos. E não tem como não estar tenso, não quando o homem apelidado de Leviatã, descansava em nossa casa. Meus pais não me contaram nada sobre esse homem mais eu sei. Bom, não exatamente eu, mas sim, são as lembranças desse corpo.-- Meu pai, não acha que devíamos ir para outro país.—pergunto durante o jantar.-- Tuli, não é como se fosse fácil atravessar todo o oceano marítimo.-- Mas, meu pai consegue controlar a água. Acho que não teria assim tantas dificuldades. -- minha mãe ri, e meu pai sacode a cabeça.-- Ela tem razão. Nunca expliquei sobre o poder elementar. –Natanael, é um homem bom, durante sua juventude serviu o exército real, mas quando ganhou deficiência visual, foi descartado, e foi lhe dada essa terra onde vivemos como indemnização. Meu pai é cego, mas vê muito melhor do que nós que temos visto. Meu pai sente as energias, e com isso facilmente se locomover.--O mundo é compo
Surgiu assim o partido da esquerda, para lutar contra o governo. Isso em 1944, e na época eu tinha vinte nove anos, já com muito sangue em minhas mãos. Conheci Aleandro, um homem pelo qual me apaixonei, eu gostava dele, era um homem inteligente e divertido. Nosso romance não durou muito. Pois, em 1945, em Malvo, começou uma crise de mortes sem explicação. Eu estive a frente a investigação, e isso era por causa de paraquate. Paraquat, é um ingrediente ativo utilizado na produção de herbicidas, a exposição do ingrediente levou à falência de múltiplos órgãos, em especial, os rins, pulmões e fígado.Danzo Guimel, líder do governo, proibiu o uso do ingrediente. Mas por baixo das cortinas, mandou modificar o paraquete, para que fosse usado contra os do partido da direita, em formato de gás. Eu e os meus colegas fizemos isso, tendo noção, dos efeitos desse ingrediente.Muito rapidamente, Danzo conseguiu neutralizar os da esquerda, tendo exposto seus corpos mortos como troféus. Imagina, como
Apreender medicina sozinha, sem ajuda de nenhum manual, vai exigir muito de mim, e do meu estoque de memórias. Quero começar o quanto antes possível, mas, no inverno, é difícil estudar ao ar livre.-- Pai.—Corri para o alcançar na porta. Ele se virou para me encarar.—Bom, dia.—Tive de acordar cedo para o encontrar antes dele sair. -- Pode por favor, trazer para mim, tinta e papéis?Ele me encarou com a sombra da queda, e depois assentiu.Meu pai é ferreiro, ele fabrica enxadas, anzóis, vassouras de ferro, entre outros instrumentos e vende no mercado, que fica a alguns quilômetros de distância. Antes ele só fazia espadas, mas quando ele viu que as espadas que ele fabricava eram as mesmas que eram usadas para ferir seu povo, ele parou.Ele saiu bem cedo, poderia dizer que ele sai, por volta das 4h e até às 12h ele está de volta. Então ele passa algum tempo conosco, quando não está trabalhando. Ansiosa, fiquei esperando ele chegar com aquilo que eu havia lhe pedido.-- Filha, o que quer
Se esse homem soubesse que na minha vida passada as pessoas imploraram para ser detidas por mim, e ainda assim pagavam caro para ser adepto, um ou dois anos depois.Não estaria falando essas merdas.-- Não quero nada. Você não tem nada que eu queira, mas olha. -- esperei pelas frestas da porta.—A tuberculose é facilmente transmissível, e você tem crianças em casa. Olhando para ti vejo que já foi enfeitado. Além de querer morrer com sua esposa, quer que seus filhos morram. Você não tem nada a perder. Não sou santa, nem Deus. Mas, tenho o meu conhecimento sobre medicina.Resultante o homem me deixou entrar, sua esposa está em estado avançado, tuberculoso milenar, perigosa e mortal, já afeta o fígado, os pulmões e a medula óssea. Tenho minhas dúvidas sobre a certeza de sua melhora. Mas, quanto ao seu marido e suas crianças que descobri terem, estão na fase inicial, tenho 100% de certeza de sua melhora.Em outras residências, recebi a mesma resistência e desconfiança, e antes de ir para
- São três dias de viagem. E esse é o endereço.—meu pai, me entrega um papel, que ele mesmo desenhou os caminhos escrevendo algumas referências.-- Três dias, Tulipa. Volte o mais rápido possível, assim que fizer a arma de fogo, não se coloque em risco. Você só tem 16 anos, ainda é um bebe.—abraço minha mãe.- Tomarei cuidado. Deixei alguns medicamentos já preparados e suas funcionalidades. -- Ano passado ensinei minha mãe a ler e escrever, foi uma experiência incrível. -- a dosagem e todos os detalhes, caso alguém venha e precise.Meus pais levaram uma semana para decidir se me deixam ir ou não. Acho até que já havia decidido, só estavam me matando aqui.-- Pai.—Ele coloca sua mão em minha cabeça.-- Benção. Que Deus em qual acredito te ajude, porque naqueles que depositei minha fé, me abandonaram faz tempo.—ele segura suas mãos.--as almas têm cores, e as pessoas em geral a cor de sua alma é branca, quando a pessoa é muito perversa mas ao mesmo tempo tem um requisito de bondade, a au
Me coloco de pé, mesmo sentindo zumbido em meu ouvido, pego nas minhas coisas e devolvo na sacola. Olho para o corpo morto do homem e não sinto culpa. Como se meu coração estivesse gelado.Me aproximo de seu corpo, e começo a lhe revistar. Ele tem algumas moedas de bronze e de prata, pego para mim, como o pagamento da comida que ele comeu.Me faço alguns curativos, e tomo analgesico.Na outra margem vejo uma pequena lagoa. Não tenho forças para caminhar e me sinto suja com o sangue desse homem grudado em mim. Caminho em direção a lagoa. Que nem levou vinte minutos, mas me afastou da minha trilha. Caiu de frente a ela, olho para o meu reflexo na água, e tem sangue colado em meu pescoço e minha bochecha. Primeiro bebo a água e depois limpo meu rosto.Me sinto fraca e tonta. Me escorro até outra árvore. Abraço ao que restou da lâmina da espada e apago.(...)Lá fora é tão barulhoÉ como se meus ouvidos estivessem sangrandoO que eu estou sentindo?A luz é tão brilhanteÉ como se eu es
-- Aqui está. -- ele coloca a comida na mesa. Puxa a cadeira e se senta. Seus cabelos azuis escuros são curtos, seus olhos são da mesma intensidade, azul num tom escuro. Seu tom de pele é claro, e por estar com uma camisa de interior, consigo ver marcas em seu pescoço e seu antebraço.Será que são tatuagens? Mas que tipo tatuagem são essas que parecem apenas manchas jogadas ao acaso. Manchas negras.Chá de menta. Acompanhado com bolo de maçã.-- Então, porque estava dormindo na lagoa?—Jasmim.- Parei para descansar, e acabei pegando no sono.-- Essa zona é perigosa. Não deveria andar por aí, sozinha.-- Eu sei.-coço minha bandana que faz comichão. -- mas, tenho de chegar a casa de meu tio, de um jeito ou de outro. Meu tio vive no vilarejo.- Vai visitar? Não deveria ir com seus pais?- Quis ir sozinha. Já sou praticamente uma adulta.Comemos em silêncio. Heydrich, não disse nada. Mas eu gostaria de entender o que ele e sua mãe estão fazendo aqui no meio do nada. Assim que terminamos
HEYDRICH BARUCHNão imaginei que voltaria a cruzar com aquela criança que parecia conhecer todos os meus pecados, e me tratava como se fosse do meu tamanho. Quando a familia dela me achou eu estava fugindo dos homens que meu pai mandou para me matar.A minha história é insana, e talvez impossível de se compreender. Eu não gosto de pensar nela, porque me faz sentir menos humano. E me faz pensar que passei pela vida, apenas para ser usado como um objeto.Meu avô morreu, e o trono, ao invés de passar para minha mãe, e o seu marido, o irmão do meu avô, matou o marido da minha mãe, e propôs que se casassem para que assumissem o trono juntos. Mas, ele não é um homem confiável, já feriu minha mãe de diversas formas, matou o pai dela e o seu marido. Eu servia ao exército do meu avô, mas com a sua morte, muitos homens que estavam ao seu lado passaram para o lado do meu tio. Passando assim, a caçar a mim e a minha mãe. Levei muito tempo para despistar e camuflar minha presença.Ele quer o reino