Capítulo 04.

Apreender medicina sozinha, sem ajuda de nenhum manual, vai exigir muito de mim, e do meu estoque de memórias. Quero começar o quanto antes possível, mas, no inverno, é difícil estudar ao ar livre.

-- Pai.—Corri para o alcançar na porta. Ele se virou para me encarar.—Bom, dia.—Tive de acordar cedo para o encontrar antes dele sair. -- Pode por favor, trazer para mim, tinta e papéis?

Ele me encarou com a sombra da queda, e depois assentiu.

Meu pai é ferreiro, ele fabrica enxadas, anzóis, vassouras de ferro, entre outros instrumentos e vende no mercado, que fica a alguns quilômetros de distância. Antes ele só fazia espadas, mas quando ele viu que as espadas que ele fabricava eram as mesmas que eram usadas para ferir seu povo, ele parou.

Ele saiu bem cedo, poderia dizer que ele sai, por volta das 4h e até às 12h ele está de volta. Então ele passa algum tempo conosco, quando não está trabalhando. Ansiosa, fiquei esperando ele chegar com aquilo que eu havia lhe pedido.

-- Filha, o que quer fazer?—mãe.

-- Escrever algumas anotações. -- escrevo algo para ela ver.

-- Onde aprendeu a escrever?—dou risada da sua cara de surpresa. -- o que significa isso.

-- É o seu nome  Rose, como uma flor.—minha mãe pega na folha completamente chocada.—Nataniel, com N, de Natal.—mostrem para eles. Meu pai, só apalpo, para sentir a extremidade das letras. Pera. Eu aprendi braille. Faço furinhos em formato de letras.—esse é melhor. Isso se chama braile, a escrita dos que não podem ver. Pai, pode sentir, os furinhos, que foram as letras de seu nome.

-- Uau, consigo sentir mesmo.—Meu pai por ter servido ao exército sabe ler, mas não sei se está familiarizado com esse tipo de escrita.

- Tuli, me pergunto onde você aprende essas coisas.—Rose.

Eu apenas ri, porque se eu tentasse explicar eles não iriam acreditar. Depois de algumas demonstrações, sai para aprender medicina a moda antiga. Aqui existem médicos, mas eles estão trabalhando apenas para família real, e uma consulta numa curadora está muito cara, imagina aprender.

Dentre as principais substâncias encontradas com ação farmacológica em plantas podemos encontrar os alcalóides, mucilagens, flavonóides, taninos e óleos essenciais.

-- Você anda obcecada com essas plantas, o que pretende fazer?—mãe.

- Estou estudando.

-- hum, sabia que sua avó materna era curandeira? As tantas você herdou esse doce dela.

- Duvido muito, eu não consigo ver espíritos nem fazer magia. Mas sei medicina.

Coloco algumas plantas sobre a mesa, e começo a separar, suas raízes, pétalas, caule, flores, entre outras partes divisíveis. Cada uma tem sua função.

-- Medicina é preciso estudar com os grandes mestres.—minha mãe diz coberta de razão, eu dou risada porque ela tem razão, mesmo. Mas, eu não posso dizer para ela que eu aprendi medicina durante oito anos, e apenas estou tentando recordar as matérias.--enquanto curandeirismo a gente não aprende. Está no sangue. Passado de geração em geração. Caso não, você não saberia assim tão bem o que fazer. Quanto aos espíritos, se você se concentrar, interiormente, e abrir seus olhos para o invisível, tenho a certeza que consegue.

- Mãe deve ter razão. Devo ser uma curadora. -- disse ironicamente, e ela me deu um tapa na nuca nos fazendo rir.

Quem dera se na minha outra vida, minha mãe tivesse brincado assim comigo, acompanhando meu processo de perto, me incentivando. E não esperando apenas pelos resultados finais.

Peguei na mão direita da minha mãe, a mãe que sempre desejei ter, a família que sempre quis ter, e que eu não vou deixar morrer.  Medi nossas mãos, que são quase do mesmo tamanho. Que suas unhas estão pálidas e destacadas.

- Mãe, está com anemia. Tem que comer comida com ferro, para aumentar seu sangue.

Ela me abraça pelo pescoço.

-- Minha pequena curadora.- dou risada.

Os alcaides atuam no sistema nervoso central e podem funcionar como calmantes anestésicos e analgésicos. As mucilagens possuem poder cicatrizante, laxante, expectorante, entre outras funções. Já os flavonoides estão relacionados com a função de anti-inflamatório, anti-hepatotóxico, entre outros. Os taninos destacam-se pela sua ação adstringente e antimicrobiana dos óleos bactericida, cicatrizante, analgésico, relaxante, entre outros.

Meu pai usou os anti-inflamatóriose os cicatrizantes, devido aos ferimentos que ele aderiu ao ferreiro.

Até às vésperas do natal eu já havia feito uma vadia das plantas medicinais que tem em torno da minha casa. Entrava um pouco na floresta que é um paraíso de plantas medicinais, inclusive raras, algumas que no tempo do qual venho já não existem, e apenas há réplicas do que elas seriam.

Fiz minhas misturas e comecei a testar em animais, tentando prolongar a vida dos que estavam muito feridos, e curar os aleijados.

-- Tuli, se continuar curado todos os animais que trago para casa vamos ficar sem comida, sabia. -- pai.

- É verdade, me entusiasmei. Melhor testar em humanos.-- falei para mim mesma.

O novo rei está relaxante, não sei qual demônios é o padrão de seus ataques contra o povo, mas tenho de arranjar formas de o deter, antes de Heydrich surgir do tártaro e afundar todo o país.

Como combater a água, essa é a questão.

O fogo muito intenso evapora a água. Mas, nesse país quase não há estrangeiros. As pessoas têm tendência de fugir do país da água, e ir para outras nações.

Meu pai, não aceita sair de sua pátria, então vai ter de ser a moda do séc. XX. 

Chumbo.

Olha, eu não quero matar ninguém, mas, também não quero deixar as pessoas que eu amo morrerem na desgraça. Enquanto eu tenho uma forma de nos salvar.

Durante o natal, com a permissão dos meus pais, saí para ajudar algumas pessoas que tinham enfermidades, cuidar de animais é uma coisa, já do ser humano é outra completamente diferente, e que exige mais de mim.

Obviamente que as pessoas não aceitam bem logo de primeira, afinal sou uma criança brincando de ser médica ao ver deles.

-- Porque nos ajudaria?—pergunta o homem carrancudo. -- não tenho nada para te dar, nos deixe morrer. Você não é nenhuma santa.

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