Capítulo 08.

-- Aqui está. -- ele coloca a comida na mesa. Puxa a cadeira e se senta. Seus cabelos azuis escuros são curtos, seus olhos são da mesma intensidade, azul num tom escuro. Seu tom de pele é claro, e por estar com uma camisa de interior, consigo ver marcas em seu pescoço e seu antebraço.

Será que são tatuagens? Mas que tipo tatuagem são essas que parecem apenas manchas jogadas ao acaso. Manchas negras.

Chá de menta. Acompanhado com bolo de maçã.

-- Então, porque estava dormindo na lagoa?—Jasmim.

- Parei para descansar, e acabei pegando no sono.

-- Essa  zona é perigosa. Não deveria andar por aí, sozinha.

-- Eu sei.-coço minha bandana que faz comichão. -- mas, tenho de chegar a casa de meu tio, de um jeito ou de outro. Meu tio vive no vilarejo.

- Vai visitar? Não deveria ir com seus pais?

- Quis ir sozinha. Já sou praticamente uma adulta.

Comemos em silêncio. Heydrich, não disse nada. Mas eu gostaria de entender o que ele e sua mãe estão fazendo aqui no meio do nada. Assim que terminamos de comer, ajudei a tirar os pratos, mas Heydrich me expulsou da sua cozinha luxuosa, quando eu disse que ia lavar.

-- Muito obrigada pela hospitalidade, já tenho que ir. Mas, antes gostaria de fazer uma pergunta um tanto inconveniente.

Estamos as duas paradas na sala, eu com as minhas coisas já em mãos, me preparando para sair, e ela abraçando seu próprio corpo, aguardando minha questão.

-- O seu pé. Sou médica e vi que tem uma certa dificuldade em andar, gostaria de saber em que posso ajudar.

-- Não sei se conseguiria, vários médicos já tentaram e não tiveram sucesso.—ela puxa o vestido me mostrando que a parte acima do seu calcanhar até antes do joelho, tem uma bolha grande, um tumor.—eles não me deram muitas opções, amputar a perna ou ficar com essa coisa, até morrer. Eles me disseram que tenho mais três anos, até essa bolha afetar meu coração.

Há três anos? Três anos é o tempo que falta para Heydrich voltar a aparecer ao mundo, e matar sua própria família, como também trazer à tona o dilúvio. Mas na história não há nada sobre a mãe dele, ou sobre o que ele estava fazendo.

Essa doença não me é estranha, no tempo da guerra muitas pessoas morreram por causa de tumores, que surgiam em qualquer parte do corpo, para as crianças a situação era bem pior, nasciam com elas na cabeça, e algumas chegavam a morrer.

Em torno do tumor tem manchas pretas, as mesmas que Heydrich tem, será que ele também está infectado.

- Se me permite, posso fazer alguns exames?

-- O que uma criança sabe sobre medicina.—ouço a voz de Heydrich parado na saída da cozinha.

- Olha cara, eu não sou uma criança, tenho dezasseis anos. E se bobear mentalmente sou mais velha que você.

-- Você só fala merda quando nos cruzamos. Vá embora e esqueça que nos viu.

- Estou dizendo que posso curar sua mãe, e você está me mandando embora? Não se preocupa com ela?

-- Sai. Cai fora.

-- Heydrich. Quero tentar.—ele se cala e cruza os braços me lançando um olhar fulminante. Me desafiando a falhar, para que ele corte minha cabeça.

-- por favor, sente-se no sofá. -- ela fez o que eu disse, puxei seu vestido até chegar ao joelho. Então comecei com os testes de tato. -- consegue sentir seus dedos do pé ?

-- Sim.—passo para outras partes da perna e ela vai responder que sim. Então ela não perdeu nenhuma funcionalidade. Toquei a bolha. -- não.

-- Isso é  ótimo. -- ela me encara sem entender.—significa que se o câncer for tirado, você não vai perder nenhuma funcionalidade.

-- Vai arrancar minha perna?

-- Não. Eu vou separar ele de sua perna. Vou dar um exemplo, quando o sanguissuga se cola ao nosso corpo, temos que puxar, isso dói, mas não tira  nenhuma funcionalidade de nosso corpo. Você tem um câncer de ossos que é caracterizado pela produção de células anormais no tecido ósseo. Acredito que sinta dores na região do inchaço, e enfraquecimento do osso, por isso se apoia mais da perna esquerda do que na direita. Quanto mais o tumor evolui, mais se torna difícil carregar a própria perna.

-- A perda de peso, a fadiga, e os problemas respiratórios também decorrem do tumor. -- Heydrich se aproxima me encarando com seriedade.

-- Sim, sao os sintomas do tumor.—eles ficam em silêncio aguardando uma solução minha.—a doença ainda não chegou a um estágio extremo, portanto não aconselho a amputação. Mas sim uma cirurgia.

-- E você pode  fazer?—Jasmim me perguntou aflita.

- Posso sim. Mas preciso de alguns materiais que aqui não disponho e nem sei como achar.

Jasmim olhou para o filho com os olhos marejados. Heydrich suspirou e olhou para mim.

-- O que você precisa. Desenhe para que eu tenha ideia de como é.

-- Está bem.—disse sem entender. Tirei o papel e a caneta da minha bolsa e comecei a rabiscar todo o equipamento que preciso. Os principais itens de instrumentação cirúrgica.  Cabos e lâminas bisturis, ideais para realizar incisões na pele e nos tecidos.  Tesoura cirúrgica para cortar tecidos.  Pinças com a função de prevenir ou interromper hemorragias, deter  circulação do sangue por determinado período, ideal para dar pontos e ser usada em tecidos e vasos. Porta agulhas, acompanha dentes serrilhados em sua extremidade, pois, garantirá a fixação ideal de qualquer tipo de agulha. Bandejas e cubas em inox possuem a utilidade de esterilizar ou de transportar os instrumentos que já foram esterilizados.

Lhe passo o papel e lhe digo de que material deve ser feito.

Então do nada ele abre uma fenda no espaço e vai tirando cada instrumento que eu lhe disse.

-- O que ? O que você realmente é? Isso é bruxaria.

-- Isso é alquimia. Você acha que tenho cara de bruxo. -- me calo porque cara de demônio ele tem. Ele revira os olhos. -- não me subordino a ninguém. Sou meu próprio senhor. A alquimia é um tipo de magia que envolve mandalas e magia elementar.

- Então você consegue usar outros elementos a não ser a água.

-- Não exatamente, mas sim manipular a essência. E não posso fazer os outros elementos surgirem do nada. Mas, se eu pego uma madeira em chamas, eu posso maximizar a intensidade do fogo usando a magia.

Eu quero lhe perguntar mais coisas, mas vou deixar isso para quando cuidar de sua mãe. Porque se for o que estou pensando, nem precisarei chegar até meu tio.

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