-- Aqui está. -- ele coloca a comida na mesa. Puxa a cadeira e se senta. Seus cabelos azuis escuros são curtos, seus olhos são da mesma intensidade, azul num tom escuro. Seu tom de pele é claro, e por estar com uma camisa de interior, consigo ver marcas em seu pescoço e seu antebraço.
Será que são tatuagens? Mas que tipo tatuagem são essas que parecem apenas manchas jogadas ao acaso. Manchas negras.
Chá de menta. Acompanhado com bolo de maçã.
-- Então, porque estava dormindo na lagoa?—Jasmim.
- Parei para descansar, e acabei pegando no sono.
-- Essa zona é perigosa. Não deveria andar por aí, sozinha.
-- Eu sei.-coço minha bandana que faz comichão. -- mas, tenho de chegar a casa de meu tio, de um jeito ou de outro. Meu tio vive no vilarejo.
- Vai visitar? Não deveria ir com seus pais?
- Quis ir sozinha. Já sou praticamente uma adulta.
Comemos em silêncio. Heydrich, não disse nada. Mas eu gostaria de entender o que ele e sua mãe estão fazendo aqui no meio do nada. Assim que terminamos de comer, ajudei a tirar os pratos, mas Heydrich me expulsou da sua cozinha luxuosa, quando eu disse que ia lavar.
-- Muito obrigada pela hospitalidade, já tenho que ir. Mas, antes gostaria de fazer uma pergunta um tanto inconveniente.
Estamos as duas paradas na sala, eu com as minhas coisas já em mãos, me preparando para sair, e ela abraçando seu próprio corpo, aguardando minha questão.
-- O seu pé. Sou médica e vi que tem uma certa dificuldade em andar, gostaria de saber em que posso ajudar.
-- Não sei se conseguiria, vários médicos já tentaram e não tiveram sucesso.—ela puxa o vestido me mostrando que a parte acima do seu calcanhar até antes do joelho, tem uma bolha grande, um tumor.—eles não me deram muitas opções, amputar a perna ou ficar com essa coisa, até morrer. Eles me disseram que tenho mais três anos, até essa bolha afetar meu coração.
Há três anos? Três anos é o tempo que falta para Heydrich voltar a aparecer ao mundo, e matar sua própria família, como também trazer à tona o dilúvio. Mas na história não há nada sobre a mãe dele, ou sobre o que ele estava fazendo.
Essa doença não me é estranha, no tempo da guerra muitas pessoas morreram por causa de tumores, que surgiam em qualquer parte do corpo, para as crianças a situação era bem pior, nasciam com elas na cabeça, e algumas chegavam a morrer.
Em torno do tumor tem manchas pretas, as mesmas que Heydrich tem, será que ele também está infectado.
- Se me permite, posso fazer alguns exames?
-- O que uma criança sabe sobre medicina.—ouço a voz de Heydrich parado na saída da cozinha.
- Olha cara, eu não sou uma criança, tenho dezasseis anos. E se bobear mentalmente sou mais velha que você.
-- Você só fala merda quando nos cruzamos. Vá embora e esqueça que nos viu.
- Estou dizendo que posso curar sua mãe, e você está me mandando embora? Não se preocupa com ela?
-- Sai. Cai fora.
-- Heydrich. Quero tentar.—ele se cala e cruza os braços me lançando um olhar fulminante. Me desafiando a falhar, para que ele corte minha cabeça.
-- por favor, sente-se no sofá. -- ela fez o que eu disse, puxei seu vestido até chegar ao joelho. Então comecei com os testes de tato. -- consegue sentir seus dedos do pé ?
-- Sim.—passo para outras partes da perna e ela vai responder que sim. Então ela não perdeu nenhuma funcionalidade. Toquei a bolha. -- não.
-- Isso é ótimo. -- ela me encara sem entender.—significa que se o câncer for tirado, você não vai perder nenhuma funcionalidade.
-- Vai arrancar minha perna?
-- Não. Eu vou separar ele de sua perna. Vou dar um exemplo, quando o sanguissuga se cola ao nosso corpo, temos que puxar, isso dói, mas não tira nenhuma funcionalidade de nosso corpo. Você tem um câncer de ossos que é caracterizado pela produção de células anormais no tecido ósseo. Acredito que sinta dores na região do inchaço, e enfraquecimento do osso, por isso se apoia mais da perna esquerda do que na direita. Quanto mais o tumor evolui, mais se torna difícil carregar a própria perna.
-- A perda de peso, a fadiga, e os problemas respiratórios também decorrem do tumor. -- Heydrich se aproxima me encarando com seriedade.
-- Sim, sao os sintomas do tumor.—eles ficam em silêncio aguardando uma solução minha.—a doença ainda não chegou a um estágio extremo, portanto não aconselho a amputação. Mas sim uma cirurgia.
-- E você pode fazer?—Jasmim me perguntou aflita.
- Posso sim. Mas preciso de alguns materiais que aqui não disponho e nem sei como achar.
Jasmim olhou para o filho com os olhos marejados. Heydrich suspirou e olhou para mim.
-- O que você precisa. Desenhe para que eu tenha ideia de como é.
-- Está bem.—disse sem entender. Tirei o papel e a caneta da minha bolsa e comecei a rabiscar todo o equipamento que preciso. Os principais itens de instrumentação cirúrgica. Cabos e lâminas bisturis, ideais para realizar incisões na pele e nos tecidos. Tesoura cirúrgica para cortar tecidos. Pinças com a função de prevenir ou interromper hemorragias, deter circulação do sangue por determinado período, ideal para dar pontos e ser usada em tecidos e vasos. Porta agulhas, acompanha dentes serrilhados em sua extremidade, pois, garantirá a fixação ideal de qualquer tipo de agulha. Bandejas e cubas em inox possuem a utilidade de esterilizar ou de transportar os instrumentos que já foram esterilizados.
Lhe passo o papel e lhe digo de que material deve ser feito.
Então do nada ele abre uma fenda no espaço e vai tirando cada instrumento que eu lhe disse.
-- O que ? O que você realmente é? Isso é bruxaria.
-- Isso é alquimia. Você acha que tenho cara de bruxo. -- me calo porque cara de demônio ele tem. Ele revira os olhos. -- não me subordino a ninguém. Sou meu próprio senhor. A alquimia é um tipo de magia que envolve mandalas e magia elementar.
- Então você consegue usar outros elementos a não ser a água.
-- Não exatamente, mas sim manipular a essência. E não posso fazer os outros elementos surgirem do nada. Mas, se eu pego uma madeira em chamas, eu posso maximizar a intensidade do fogo usando a magia.
Eu quero lhe perguntar mais coisas, mas vou deixar isso para quando cuidar de sua mãe. Porque se for o que estou pensando, nem precisarei chegar até meu tio.
HEYDRICH BARUCHNão imaginei que voltaria a cruzar com aquela criança que parecia conhecer todos os meus pecados, e me tratava como se fosse do meu tamanho. Quando a familia dela me achou eu estava fugindo dos homens que meu pai mandou para me matar.A minha história é insana, e talvez impossível de se compreender. Eu não gosto de pensar nela, porque me faz sentir menos humano. E me faz pensar que passei pela vida, apenas para ser usado como um objeto.Meu avô morreu, e o trono, ao invés de passar para minha mãe, e o seu marido, o irmão do meu avô, matou o marido da minha mãe, e propôs que se casassem para que assumissem o trono juntos. Mas, ele não é um homem confiável, já feriu minha mãe de diversas formas, matou o pai dela e o seu marido. Eu servia ao exército do meu avô, mas com a sua morte, muitos homens que estavam ao seu lado passaram para o lado do meu tio. Passando assim, a caçar a mim e a minha mãe. Levei muito tempo para despistar e camuflar minha presença.Ele quer o reino
Heydrich conseguiu captar completamente aquilo que lhe pedi. Uma AK 47.- Então para usar isso. Eu tenho que apontar o alvo, e puxar o gatilho.—o projétil perfurou uma árvore.Tive aulas de tiro ao alvo, por causa da posição que estava ocupando na minha vida passada. Mas, não cheguei a usar isso contra ninguém.Heydrich se aproxima e estica a mão. Ele pega na arma, a encara milimetricamente. Depois atirar nos pássaros que estavam voando.-- Ei.—bato na mao dele.— não teste em animais. Você é maluco?—Corri para ir ver as aves, ele acertou cinco, direto na cabeça e sem errar. Ele tem uma mira muito boa. -- escuta aqui. Você não usa isso para testar em animais okay? –pegou na arma.-- Estava pensando no jantar de hoje. -- ele começa a recolher as aves. Agarrando-os pelas asas. -- vai me agradecer por colocar comida na mesa.Ele não quis minha ajuda para cozinhar. eles fez tudo sozinho como antes. E até a hora que o jantar ficou pronto, Jasmim já havia acordado, perguntei como ela estava
HEYDRICH BARUCHEstranha e inconsequente, é isso que ela é.Quando ela me deu aqueles tapas, houve um corte de transmissão sensorial. Como se ela interferisse nas ondas magnéticas. Sempre que adormeço a maldição se torna forte. Porque para mim ainda é difícil ter controle total sobre minha mente inconsciente que foi transportada para outro canto do mundo.Nas cavernas onde Leviatã se esconde. Eu tenho essas marcas por culpa do meu pai, que antes do meu nascimento, fez um pacto sacrificado a mim,e a minha mãe, para que ele possa ter o controle de todo o país. Como eu era apenas um bebe, acabei ficando com a maior parte da maldição enquanto minha mãe uma pequena parte que se formou em seu pé, e casou aquele tumor. A minha está em volta do meu coração, se estendendo pelo meu ombro, e antebraço.Procurei formas de tirar a maldição mas não encontrei nenhum método adequado além de saber que essa coisa encurta minha vida.O meu progenitor também tem a marca. Essa marca amplia nossos podere
O homem com aspecto de peixe tentou me segurar, e eu corri. Recordo-me da arma que guardei na sacola, com intenção de mostrar ao meu tio caso o encontrasse. E não exitei em atirar contra o homem. Meu tiro não foi certeiro atingido seu ombro. O homem sentiu dor mas não sangrou.-- Essa garota é uma anomalia aqui, deixe-me levá-la. --ouço Netuno dizer.- Você também é uma anomalia. Ainda pior, quer receber sacrifícios.-- Sou um Deus.-- Você é uma criatura defeituosa, que sequer merece a existência que lhe advém.-- Morra.-- Voce nao pode me matar, esqueceu? Eu tenho uma parte de seus poderes.Dei vários tiros nesse homem peixe, mas ele não morreu. Então ouço uma explosão. Do nada começa a chover, mas a cor da chuva é escura. Como se fosse tinta. No mesmo instante, o dragão azul claro come a cabeça do homem peixe que me seguia.Estou exausta, ofegante, e completamente confusa.-- Não é hora para descansar. Temos que voltar para casa.—olho para Heydrich que está sem nenhum corte, ou fe
HEYDRICH BARUCHAssim que me sentei na cama, ela entrou. Não está com a mesma cara confiante de antes, parece preocupada. Tirou suas botas e encostou na cabeceira da cama. Cobriu o edredom até a cintura, com os pés dobrados, abolindo sua cabeça em seus joelhos.-- De onde você vem?-- Se eu te contar voce vai me matar.—disse num tom baixo.-- Se eu quisesse te matar já teria feito. E olha que você é muito irritante, e me dá motivos para querer te matar.—o quarto foi preenchido pelo seu riso.- Então acho que você gosta de mim.—disse num tom meloso para me irritar. A encarei de cima para baixo, e ela riu, colocando a mão na cabeça.—você sabe mesmo como diminuir a autoestima de uma mulher.—Tirando a minha mãe, ela é a única pessoa que se sente à vontade na minha presença. Porque até meu avô, que dizia gostar de mim e que queria que eu fosse seu sucessor, começou a ficar desconfortável na minha presença, quando soube que dominei a alquimia, e que porto um terço dos poderes do rei do mar
TULIPA.Não acredito no que estou ouvindo. Eu já achava a família real estranha, mas não pensei que era tanto assim, e que Jasmim e Heydrich, foram vítimas de uma situação tão desumana. Heydrich, me contou que depois do casamento de sua mãe, com o Ministro Castilho, o tio de sua mãe, Lamech, irmão do rei Tulio. Lamech aproveitou num dos dias que Castilho havia feito viagem a outra região do país, alegando ir visitar sua sobrinha. A tomou à força e a engravidou. Jasmim não contou a ninguém por causa das ameaças que recebia de seu tio, dizia que ia lhe arrancar a criança, e seria lavada em público por adultério. No sétimo mês de gravidez, a mulher com quem Lamech havia se casado, convidou Jasmim para uma festa do chá, em seu palácio. Como não podia fazer desfeita a mulher de seu tio, por causa da etiqueta social, Jasmim aceitou.Chegando lá, a mulher de seu tio não estava. Lamech a guiou ate uma sala subterrania onde magos negros lhes aguardavam para o ritual.Nem depois disso Jasmim p
-- Heydrich. -- terminando desfazer o encantamento, ouço a voz de Tulipa num tom ofegante e amedrontado. Acautelado, já viro, me preparando para o ataque. Mas não há o que eu possa fazer, não nesse momento, em que uma flecha atravessou seu ventre, e ela sangrou em meus braços.Sinto o ar faltar em mim, meus olhos ardem como se tivesse colocado malagueta dentro delas.-- Porque se pôs na frente da flecha? Arriscou sua vida em vão. Acha que uma coisa como essa pode me matar.—ela tussiu sangue.-- Cuidado...—murmurou enquanto tentava estancar seu próprio sangue.-- HEYDRICH BARUCH, RENDA-SE OU PREPARE-SE PARA MORRER.—quase sinto um nó. Quando escuto a voz meu meio irmão. Atual capitão da guarda real, e cabo de Lamech.Seus cabelos são da mesma tonalidade, posso até dizer que somos minimamente parecidos, tirando a parte que ele não tem a marca da maldição.Keron Baruch, filho de Lamech com sua esposa, é dois anos mais novo que eu. Por algum motivo ele me odeia, e sente prazer em me caça
TULIPA.Em meio ao riso, Heydrich levantou-se e veio cá ter me, inclinando seu rosto sobre o meu, e me encarando profundamente.-- Tudo bem.—disse num tom suave e sério.--se você insiste em me caso com você.Meu sorriso murchou e o encarei assustada. Será que ele está falando sério? Ou essa é a forma dele demonstrar sua raiva? Coçou a garganta constrangida. Torçou o pescoço e disfarçou, olhando para qualquer canto que não fosse o azul intenso de seus olhos.-- Hahahaha.—volto-me para ele. E ele está rindo da minha cara. Céus. É o fim do mundo. Ele está rindo. Heydrich está rindo da minha cara. Essa é a primeira vez que o vejo rindo, porque o riso dele tinha de ser assim tão gostoso.—Devia, ver essa sua cara de boba.-- Malvado. -- chie, completamente constrangida.Ele bagunçou meu cabelo, e depois me encarou cínico.- Evite me provocar se não me sustentar.Ah. Ele pensa que eu sou uma lutadora barata. Sou para que conste que eu já estive em um relacionamento. Mesmo que não tenha durad