Capítulo 03

Maitê Bell

Eu trabalhei a noite praticamente inteira, então, quando eu cheguei em casa, apenas apaguei e no dia seguinte... eu estava exausta, mas não tinha como escapar — e nem queria —, e por mais que eu tentasse disfarçar, eu estava nervosa. Muito. Naquela manhã, Stayce apareceu no meu apartamento, vestida de jeans e blusa larga, com um saco de compras na mão e um sorriso travesso no rosto.

— Trouxe um presente especial — anunciou, balançando a sacola. — Você vai estar impecável.

Ela disse com diversão e tirou um vestido preto de cetim, com um caimento que parecia feito sob medida. As alças eram finas, o decote discreto, mas ainda assim elegante. Eu o segurei, sem acreditar.

— Stayce, isso é lindo demais… não precisava.

— Precisava, sim. Hoje é um dia especial. — Ela me olhou com carinho, como se dissesse que sabia da importância desse momento pra mim. — Eu sei que você tem um crushzinho no Gregório. Eu quero que você esteja maravilhosa hoje, afinal, você está me ajudando.

O celular dela vibrou em cima da mesa antes que eu pudesse responder. Eu vi certo desconforto no rosto dela e então pigarreei e aproveitei o momento para perguntar:

— Amiga... você disse que estava com o tornozelo machucado na escada mas... e o seu pulso? — perguntei encarando o pulso dela, enfaixado.

Stayce olhou para o telefone, desconfortável, e deu de ombros.

— Ah, sabe como sou desastrada. Escorreguei na escada e me machuquei toda… Mas vamos falar de você! Já pensou no penteado? Maquiagem? Porque eu trouxe tudo pra te ajudar.

Ela desviou tão rápido que nem tive tempo de insistir. No fundo, eu sabia que havia algo a mais, mas hoje estava nervosa demais para insistir. Resolvi aceitar e focar no que realmente importava: não podia perder minha única chance de participar de um evento desse porte e ajudar minha família ao mesmo tempo.

Stayce pegou a maquiagem e começou a trabalhar no meu rosto enquanto eu observava, tentando disfarçar o nervosismo. Ela fez minha pele parecer de porcelana, destacando meus olhos e dando um toque suave nos lábios com um batom nude.

— Pronto! — disse ela, dando um passo atrás para observar o resultado. — Você vai roubar a cena, Maitê. É hoje!

Eu olhei no espelho e, por um instante, nem reconheci meu reflexo. Parecia mais madura, mais confiante. Respirei fundo, tentando me convencer de que aquela era a versão de mim que todos veriam no evento.

— Obrigada, Stayce. Não sei o que faria sem você.

Ela sorriu e segurou minha mão.

— Vai arrasar, amiga. Agora vai lá e faz o que você sabe fazer de melhor.

***

Cheguei ao evento com as mãos trêmulas, me posicionando ao lado da entrada, onde fui instruída a ficar. Meu trabalho era simples: receber os convidados com um sorriso, garantir que tudo estivesse em ordem e ajudar qualquer pessoa que precisasse de orientações. Em teoria, parecia fácil, mas na prática, cada vez que alguém entrava, meu coração disparava. Eu queria causar uma boa impressão, queria que todos percebessem que eu estava à altura de representar a empresa dos pais de Stayce.

As primeiras horas passaram num piscar de olhos. Consegui manter o sorriso, ser cordial e, pouco a pouco, fui ganhando confiança. Mas tudo mudou quando ele chegou.

Gregório Smith entrou como quem não precisava de anúncio. Era imponente, mais ainda do que eu imaginava. O ar ao redor dele parecia diferente, como se todos os olhares automaticamente se voltassem para ele, mesmo que ele passasse discretamente pelo salão. O terno impecável em tom escuro, o olhar firme e penetrante. Era como se ele controlasse a atmosfera da sala, sem nem precisar tentar.

Respirei fundo, tentando não transparecer o turbilhão de emoções. Quando ele se aproximou da entrada, não consegui evitar olhar para ele diretamente. E, surpreendentemente, ele me olhou de volta. Seus olhos se fixaram nos meus, sérios e intensos, e ele esboçou um sorriso breve e educado.

— Boa noite, Sr. Smith. Seja bem-vindo — eu disse, sentindo a voz quase falhar.

— Boa noite. Obrigado por nos receber tão bem — ele respondeu com um aceno sutil.

Trocar aquelas poucas palavras já foi o suficiente para eu sentir as mãos suadas e o rosto queimando. Ele entrou no salão e começou a conversar com os outros convidados, mas mesmo assim, eu pude jurar que de tempos em tempos, sentia o olhar dele em mim. Uma ideia absurda, eu sabia, mas parecia tão real que até me fazia esquecer do nervosismo.

Passei o restante do evento cumprindo minhas funções, mas sempre atenta aos movimentos de Gregório. A presença dele na sala era magnética, e a forma como ele falava com cada pessoa, com um ar de segurança e inteligência, só aumentava minha admiração. E sim, eu sabia que ele era inalcançável, mas poder vê-lo de perto e trocar algumas palavras com ele já parecia uma pequena vitória.

Finalmente, quando o último convidado chegou, me senti relaxar pela primeira vez. Cumpri meu trabalho, fui profissional e ainda tive a sorte de ver de perto o homem que admirei tanto. Essa era a minha noite mágica, e senti uma satisfação genuína ao perceber que tudo havia corrido bem.

Uma mulher alta e bem-vestida se aproximou e me deu um sorriso gentil.

— Oi, Maitê. Agora que todos os convidados já chegaram, vou assumir daqui, tá bem? Você fez um ótimo trabalho, meus pais estão muito satisfeitos. Agora é só relaxar.

— Ah, obrigada, Olívia! — falei, aliviada, enquanto a irmã mais velha da Stayce começava a organizar os brindes para a despedida dos convidados. Eu sabia que ela estava ali para ajudar Stayce, então me senti à vontade para partir.

Quando saí do salão, minha cabeça ainda girava com tudo que tinha acontecido. Ao entrar no táxi, peguei o celular e mandei uma mensagem para meus pais, porque para minha surpresa, eu recebi muito mais do que esperava, então, eu aproveitei e comecei avisando que eu tinha conseguido um bom pagamento e que iria transferir o valor para ajudar nos custos da cirurgia da minha avó.

[Você]: Mãe, vou transferir um valor extra hoje à noite. Não é muito, mas espero que ajude.

A resposta veio alguns minutos depois, enquanto eu ainda estava no táxi, olhando as luzes da cidade pela janela.

[Mamãe]: Maitê, obrigada, filha. Você não precisava fazer isso. Já estamos vendo com os médicos o que é melhor para sua avó. Mas isso vai ajudar muito. Te amamos.

Fechei os olhos, sentindo o peso de uma responsabilidade que não era exatamente minha, mas que eu escolhi carregar. Saber que ao menos essa parte do plano deu certo me encheu de uma calma que eu não sentia há muito tempo.

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