Gregório Smith
Depois de um certo tempo, finalmente consegui sair, mas a mulher que tanto me chamou atenção não estava mais lá.
Eu saí do salão com uma irritação palpável crescendo dentro de mim. Tudo parecia preparado, calculado; era apenas um anel, algo sem significado… pelo menos, deveria ser. Mas agora ele queimava no meu bolso como um lembrete de uma oportunidade que escapou. Por um lado, queria me livrar dessa sensação irritante, esquecer a ideia absurda de ter um anel de safira guardado para uma recepcionista de evento. Por outro, eu queria vê-la de novo, ver como reagiria ao receber algo como aquilo.
Ainda tentando me convencer do contrário, segui até onde Amélia me esperava, ao lado da saída principal. Ela estava exausta, mas o sorriso de satisfação ainda estava estampado no rosto ao acariciar o colar de diamantes pendurado no pescoço.
— Gregório, foi uma noite maravilhosa! — Ela me puxou para um abraço rápido e sorria com a confiança de quem sabia que aquele colar era apenas mais um presente entre tantos.
Devolvi o sorriso, mas ele morreu nos meus lábios quase imediatamente.
— Fico feliz que tenha gostado, Amélia.
— Mas... e quanto ao anel? — ela me perguntou e eu pisquei, de certo modo, surpreso.
— O que tem o anel?
— Eu... — Ela parou por um momento, parecendo se questionar se deveria continuar e eu sabia o que isso queria dizer.
Ela achava que o anel também fazia parte do presente.
Sorri.
— É um presente para outra pessoa — falei com um sorriso de canto e ela pareceu sem graça.
— Ah... claro! Eu imaginei! Safiras nunca combinaram comigo. — Ela tentou se corrigir e eu não tinha energia para continuar essa conversa sem graça.
— Você é uma mulher para diamantes — murmurei, piscando pra ela, e então ela riu. Um riso sincero.
— Ah, Deus... você parece exausto enquanto tenta me agradar.
— Na verdade, tem razão. Estou exausto — admiti, sem muito filtro.
— Ah, eu imaginei! Sua cara não nega, sabia? — ela brincou, tocando meu ombro.
Normalmente, eu manteria a postura, mas desta vez apenas concordei, sem tentar esconder o cansaço. Estava ansioso para sair dali, para ir para casa, para me afastar do caos de pessoas e falsos sorrisos e, mais importante, para tentar dissipar essa frustração. Amélia logo se despediu, animada para mostrar o colar à irmã, e eu finalmente entrei no carro, deixando o evento e tudo que ele representava para trás.
Cheguei em casa e fui direto para a sala, largando o paletó de qualquer jeito no sofá. As luzes estavam baixas, a sala em um semiescuro agradável. Joguei-me no sofá, o silêncio me envolvendo como um cobertor, enquanto um alívio momentâneo tomava conta de mim. Decidi servir um uísque, o líquido dourado descendo forte pela garganta, e deixei a cabeça cair para trás, tentando, sem sucesso, afastar os pensamentos que me perseguiam.
A imagem de Maitê voltou com força, tão nítida quanto um quadro. Aqueles olhos curiosos e intensos, o sorriso breve e formal… Por que aquilo parecia me prender tanto? Eu tinha falado com ela por, o quê? Trinta segundos, no máximo? E, mesmo assim, aquele encontro minúsculo havia feito alguma coisa se agitar dentro de mim. Ela tinha uma presença, uma energia calma que parecia cortar toda a superficialidade ao meu redor.
Tomei outro gole de uísque, buscando algum conforto na bebida. Era absurdo estar assim por causa de alguém que eu nem conhecia de verdade. Mas a sensação persistia. Ela era algo raro, algo que não me lembrava de encontrar em toda a superficialidade que cercava minha vida. E, por mais que eu tentasse, não conseguia apagar da mente o plano que havia feito de entregá-la aquele anel.
Peguei a peça do bolso da calça e observei o safira brilhar sob a luz baixa da sala. Em outra situação, eu já teria me livrado dele sem pensar duas vezes. Mas, ao encarar o anel, o rosto de Maitê retornou. A lembrança dela, de seu jeito tranquilo e seu sorriso tímido estava fixado em minha mente como se ela tivesse me marcado de alguma forma.
Fiquei um longo tempo ali, sentado com o anel entre os dedos, o uísque esfriando na mão e a frustração me consumindo. Eu havia perdido a chance de fazer algo inesperado, de oferecer aquele presente e ver como ela reagiria. E agora, tudo o que me restava era a ideia vaga e imatura de encontrá-la novamente.
Mas o quê? Ia procurá-la em um evento qualquer, perguntar sobre a recepcionista do vestido preto? Parecia absurdo. Eu era um homem com uma rotina controlada, com uma agenda cheia, e não fazia parte do meu caráter me prender a uma fantasia assim. Levantei, respirando fundo. Sabia que precisava esquecer essa situação, colocar minha mente no lugar e focar no que realmente importava.
Guardei o anel de volta no bolso, sentindo o peso da joia como uma lembrança concreta daquela noite insatisfatória. Decidi que o deixaria guardado, talvez como uma lembrança do que não deveria ter acontecido. Amanhã seria um novo dia, e essa fascinação absurda perderia o sentido, como todas as outras distrações passageiras.
Desliguei as luzes, subindo para o quarto, tentando manter essa decisão firme em minha mente. Afinal, eu sabia que o que tinha experimentado não passava de uma curiosidade desnecessária e um homem como eu não tinha tempo para perder com esse tipo de curiosidade ou problema.
Não.
Eu tinha muitas outras coisas para me focar.
“Foi melhor assim”
Algo parecia gritar na minha cabeça e eu sabia que era verdade.
Era melhor assim, era melhor que eu não tivesse tido a chance de falar com ela apropriadamente ou me aproximar, afinal, quem sabe onde essa conversa poderia ir parar?
Eu já não tinha 20 anos, não era mais um garoto que podia se envolver em polêmicas a bel prazer. Então, enquanto me dava conta disso, uma parte minha se arrependeu de não ter se desfeito desse maldito anel, enquanto tinha Amélia comigo.
Eu deveria ter dado a ela, deveria ter deixado isso para lá.
Maitê BellNa semana seguinte ao evento, a vida voltou ao normal. O evento beneficente parecia uma experiência distante e quase surreal, como se aquele vislumbre do mundo dos ricos e glamurosos fosse algo fora do meu alcance. Voltei para o trabalho e a rotina de economizar cada centavo, ainda determinada a fazer meu caminho para a faculdade. Sabia que precisava encontrar um jeito de tornar esse sonho possível, mesmo que parecesse quase inalcançável às vezes, principalmente com todos os problemas que meus pais e minha avó vinham passando.Eu estava no sofá do apartamento, revisando os detalhes do processo seletivo de uma universidade quando Stayce chegou, largando-se ao meu lado com um suspiro pesado. Olhei para ela, notando o cansaço estampado em seu rosto. Havia algo diferente em sua postura, algo tenso.— Tá tudo bem, Stayce? — perguntei, tentando captar o que estava acontecendo.Ela hesitou, mordendo o lábio. Depois de alguns segundos, soltou um suspiro e passou a mão pelos cabelos
Gregório SmithMason estava debruçado sobre a mesa de reuniões, analisando com atenção o calendário de eventos do próximo semestre, e eu já sabia para onde essa conversa iria. Já tinha ouvido falar sobre as expectativas de todos para comemorar os 25 anos da empresa, mas agora, vendo aquele olhar determinado nos olhos dele, percebi que estava oficialmente sem saída.— Gregório, não tem como fugir dessa. Precisamos marcar uma festa para os 25 anos e você sabe que esperam algo grande — começou ele, cruzando os braços como se quisesse me desafiar a dizer o contrário.Suspirei e passei a mão pelo queixo, tentando disfarçar o tédio.— É, eu sei que precisamos fazer isso. Não é como se fosse uma questão de escolha, não é? — falei, tentando esconder a irritação.— Exato. E, olha, eu entendo seu desânimo, mas pensa bem: uma festa dessas não é só uma noite chata com discursos vazios e elogios forçados. Você sabe que isso é mais do que um evento. Vai ser a oportunidade de reforçar parcerias, fec
Maitê BellMorar em Baltimore. Nunca imaginei como seria fazer isso sozinha. Quer dizer, a cidade tem seu charme, mas me deixou com a sensação de estar em um mundo diferente desde que tive que encará-la de outra forma, principalmente depois de São Paulo. Minha vida virou de cabeça para baixo por causa da mudança repentina dos meus pais para o Brasil, e agora sou só eu aqui. Dona Estela, minha vózinha, adoeceu e eu sabia que não tínhamos muita opção nesse quesito, não podíamos deixá-la sozinha no Brasil e trazer ela para Baltimore? Por Deus... fora de questão. Nós estávamos bem, não me entenda errado, mas a minha família nunca foi rica e a saúde pública fora do Brasil era inexistente, ainda mais... quando se tratava dos EUA. Eu amo a minha vózinha, claro. Gosto dela demais, mas, caramba, ninguém se prepara para uma mudança assim. Só não pirei de verdade porque eu tinha Stayce. Ela é a minha amiga mais leal, daquelas que te faz rir no meio do caos e nunca solta a sua mão.Depois de algu
Maitê BellNo dia seguinte, eu acordei com o som insistente das notificações no celular. Uma parte de mim queria ignorá-las, voltar para o sono tranquilo que parecia me prometer um pouco de paz. Mas, ao ver o nome da minha mãe piscando na tela, percebi que não dava para adiar. Respirei fundo e abri a mensagem, porque eu sabia que se minha mãe tivesse me enviado uma mensagem a essa hora, era porque era importante.[Mamãe]: Filha, sua avó precisa de uma cirurgia no coração. A situação aqui não está fácil, mas vamos dar um jeitoMeu coração apertou quando li aquelas palavras. Minha avó sempre foi uma fortaleza na nossa família. A ideia de que agora ela estava vulnerável, precisando de ajuda e eu tão longe, me deixava aflita. Era nessas horas que a distância parecia um abismo. Pensei em responder imediatamente, mas as palavras não vinham. O que eu poderia dizer? Que estava preocupada? Que sentia culpa por estar aqui enquanto eles lidavam com tudo sozinhos?Em vez disso, fechei os olhos po
Maitê BellEu trabalhei a noite praticamente inteira, então, quando eu cheguei em casa, apenas apaguei e no dia seguinte... eu estava exausta, mas não tinha como escapar — e nem queria —, e por mais que eu tentasse disfarçar, eu estava nervosa. Muito. Naquela manhã, Stayce apareceu no meu apartamento, vestida de jeans e blusa larga, com um saco de compras na mão e um sorriso travesso no rosto.— Trouxe um presente especial — anunciou, balançando a sacola. — Você vai estar impecável.Ela disse com diversão e tirou um vestido preto de cetim, com um caimento que parecia feito sob medida. As alças eram finas, o decote discreto, mas ainda assim elegante. Eu o segurei, sem acreditar.— Stayce, isso é lindo demais… não precisava.— Precisava, sim. Hoje é um dia especial. — Ela me olhou com carinho, como se dissesse que sabia da importância desse momento pra mim. — Eu sei que você tem um crushzinho no Gregório. Eu quero que você esteja maravilhosa hoje, afinal, você está me ajudando.O celula
Gregório SmithOdeio eventos beneficentes.O salão impecável, as pessoas falando com falsa cordialidade, as risadas exageradas… todo aquele teatro me incomoda. Sou obrigado a aturar as abordagens de pais desesperados tentando casar suas filhas comigo, cada uma mais maquiada e engomada que a outra. É ridículo e, no mínimo, exaustivo. As mães me lançam olhares cúmplices, cheias de segundas intenções, como se eu estivesse ali, prestes a dar um passo rumo a um casamento. São esses os motivos pelos quais sempre trago Amélia comigo.Amélia é minha amiga desde a infância. É elegante, discreta e inteligente o suficiente para entender a natureza do nosso acordo: ela me acompanha, eu compro algo extravagante para ela. Essa combinação nos livra de conversas complicadas e mantém os parasitas sociais afastados. No instante em que passamos pela entrada do evento, ela se agarra ao meu braço, já rindo de alguma piada qualquer. Estávamos nos encaminhando para o salão principal quando uma jovem me este