Capítulo 05

Gregório Smith

Depois de um certo tempo, finalmente consegui sair, mas a mulher que tanto me chamou atenção não estava mais lá.

Eu saí do salão com uma irritação palpável crescendo dentro de mim. Tudo parecia preparado, calculado; era apenas um anel, algo sem significado… pelo menos, deveria ser. Mas agora ele queimava no meu bolso como um lembrete de uma oportunidade que escapou. Por um lado, queria me livrar dessa sensação irritante, esquecer a ideia absurda de ter um anel de safira guardado para uma recepcionista de evento. Por outro, eu queria vê-la de novo, ver como reagiria ao receber algo como aquilo.

Ainda tentando me convencer do contrário, segui até onde Amélia me esperava, ao lado da saída principal. Ela estava exausta, mas o sorriso de satisfação ainda estava estampado no rosto ao acariciar o colar de diamantes pendurado no pescoço.

— Gregório, foi uma noite maravilhosa! — Ela me puxou para um abraço rápido e sorria com a confiança de quem sabia que aquele colar era apenas mais um presente entre tantos.

Devolvi o sorriso, mas ele morreu nos meus lábios quase imediatamente.

— Fico feliz que tenha gostado, Amélia.

— Mas... e quanto ao anel? — ela me perguntou e eu pisquei, de certo modo, surpreso.

— O que tem o anel?

— Eu... — Ela parou por um momento, parecendo se questionar se deveria continuar e eu sabia o que isso queria dizer.

Ela achava que o anel também fazia parte do presente.

Sorri.

— É um presente para outra pessoa — falei com um sorriso de canto e ela pareceu sem graça.

— Ah... claro! Eu imaginei! Safiras nunca combinaram comigo. — Ela tentou se corrigir e eu não tinha energia para continuar essa conversa sem graça.

— Você é uma mulher para diamantes — murmurei, piscando pra ela, e então ela riu. Um riso sincero.

— Ah, Deus... você parece exausto enquanto tenta me agradar.

— Na verdade, tem razão. Estou exausto — admiti, sem muito filtro.

— Ah, eu imaginei! Sua cara não nega, sabia? — ela brincou, tocando meu ombro.

Normalmente, eu manteria a postura, mas desta vez apenas concordei, sem tentar esconder o cansaço. Estava ansioso para sair dali, para ir para casa, para me afastar do caos de pessoas e falsos sorrisos e, mais importante, para tentar dissipar essa frustração. Amélia logo se despediu, animada para mostrar o colar à irmã, e eu finalmente entrei no carro, deixando o evento e tudo que ele representava para trás.

Cheguei em casa e fui direto para a sala, largando o paletó de qualquer jeito no sofá. As luzes estavam baixas, a sala em um semiescuro agradável. Joguei-me no sofá, o silêncio me envolvendo como um cobertor, enquanto um alívio momentâneo tomava conta de mim. Decidi servir um uísque, o líquido dourado descendo forte pela garganta, e deixei a cabeça cair para trás, tentando, sem sucesso, afastar os pensamentos que me perseguiam.

A imagem de Maitê voltou com força, tão nítida quanto um quadro. Aqueles olhos curiosos e intensos, o sorriso breve e formal… Por que aquilo parecia me prender tanto? Eu tinha falado com ela por, o quê? Trinta segundos, no máximo? E, mesmo assim, aquele encontro minúsculo havia feito alguma coisa se agitar dentro de mim. Ela tinha uma presença, uma energia calma que parecia cortar toda a superficialidade ao meu redor.

Tomei outro gole de uísque, buscando algum conforto na bebida. Era absurdo estar assim por causa de alguém que eu nem conhecia de verdade. Mas a sensação persistia. Ela era algo raro, algo que não me lembrava de encontrar em toda a superficialidade que cercava minha vida. E, por mais que eu tentasse, não conseguia apagar da mente o plano que havia feito de entregá-la aquele anel.

Peguei a peça do bolso da calça e observei o safira brilhar sob a luz baixa da sala. Em outra situação, eu já teria me livrado dele sem pensar duas vezes. Mas, ao encarar o anel, o rosto de Maitê retornou. A lembrança dela, de seu jeito tranquilo e seu sorriso tímido estava fixado em minha mente como se ela tivesse me marcado de alguma forma.

Fiquei um longo tempo ali, sentado com o anel entre os dedos, o uísque esfriando na mão e a frustração me consumindo. Eu havia perdido a chance de fazer algo inesperado, de oferecer aquele presente e ver como ela reagiria. E agora, tudo o que me restava era a ideia vaga e imatura de encontrá-la novamente.

Mas o quê? Ia procurá-la em um evento qualquer, perguntar sobre a recepcionista do vestido preto? Parecia absurdo. Eu era um homem com uma rotina controlada, com uma agenda cheia, e não fazia parte do meu caráter me prender a uma fantasia assim. Levantei, respirando fundo. Sabia que precisava esquecer essa situação, colocar minha mente no lugar e focar no que realmente importava.

Guardei o anel de volta no bolso, sentindo o peso da joia como uma lembrança concreta daquela noite insatisfatória. Decidi que o deixaria guardado, talvez como uma lembrança do que não deveria ter acontecido. Amanhã seria um novo dia, e essa fascinação absurda perderia o sentido, como todas as outras distrações passageiras.

Desliguei as luzes, subindo para o quarto, tentando manter essa decisão firme em minha mente. Afinal, eu sabia que o que tinha experimentado não passava de uma curiosidade desnecessária e um homem como eu não tinha tempo para perder com esse tipo de curiosidade ou problema.

Não.

Eu tinha muitas outras coisas para me focar.

Foi melhor assim

Algo parecia gritar na minha cabeça e eu sabia que era verdade.

Era melhor assim, era melhor que eu não tivesse tido a chance de falar com ela apropriadamente ou me aproximar, afinal, quem sabe onde essa conversa poderia ir parar?

Eu já não tinha 20 anos, não era mais um garoto que podia se envolver em polêmicas a bel prazer. Então, enquanto me dava conta disso, uma parte minha se arrependeu de não ter se desfeito desse maldito anel, enquanto tinha Amélia comigo.

Eu deveria ter dado a ela, deveria ter deixado isso para lá.

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