Gregório Smith
Mason estava debruçado sobre a mesa de reuniões, analisando com atenção o calendário de eventos do próximo semestre, e eu já sabia para onde essa conversa iria. Já tinha ouvido falar sobre as expectativas de todos para comemorar os 25 anos da empresa, mas agora, vendo aquele olhar determinado nos olhos dele, percebi que estava oficialmente sem saída.
— Gregório, não tem como fugir dessa. Precisamos marcar uma festa para os 25 anos e você sabe que esperam algo grande — começou ele, cruzando os braços como se quisesse me desafiar a dizer o contrário.
Suspirei e passei a mão pelo queixo, tentando disfarçar o tédio.
— É, eu sei que precisamos fazer isso. Não é como se fosse uma questão de escolha, não é? — falei, tentando esconder a irritação.
— Exato. E, olha, eu entendo seu desânimo, mas pensa bem: uma festa dessas não é só uma noite chata com discursos vazios e elogios forçados. Você sabe que isso é mais do que um evento. Vai ser a oportunidade de reforçar parcerias, fechar negócios com novas empresas. Esses eventos são quase tão necessários quanto os contratos que assinamos, principalmente porque grandes nomes se sentem forçados a comparecer em reuniões como essas.
Ele tinha razão, claro. Eu podia reclamar o quanto quisesse, mas sabia que esses momentos eram a base para garantir o futuro da empresa, especialmente para manter a rede de contatos ativa e, em alguns casos, até mesmo intimidar a concorrência. Havia muito mais em jogo do que o simples incômodo de estar rodeado de pessoas que eu preferia evitar.
— Tá bom. O que precisa ser feito? — cedi, pegando uma caneta e me preparando para tomar nota do que Mason planejara. Afinal, uma vez que isso fosse resolvido, eu poderia voltar para minha rotina sem maiores preocupações.
— Primeiro, o local. Já pensei em alguns salões de eventos no centro. Vou fazer uma visita para escolher o mais adequado. Em segundo lugar, a equipe de decoração. E, por fim, o buffet — Mason começou a enumerar enquanto eu balançava a cabeça, acompanhando as ideias.
— Deixo tudo com você. Eu confio no seu bom gosto. Só preciso garantir que seja o mais... direto possível. Nada de discursos intermináveis. Isso só espanta quem realmente importa e, sinceramente? Faça algo aqui na empresa, não dificulte tanto assim.
Mason riu, assentindo.
— Deixa comigo, prometo que será simples e direto, mas de bom gosto. Vou contratar o buffet do Walker & Co., que é conhecido pelo serviço impecável. Eles garantem uma experiência de alto nível, e pelo que me lembro, a equipe deles é bem treinada. — Ele lançou um olhar rápido para mim, como quem sugere que tudo já estava no controle.
— Perfeito. O Walker & Co. é sempre uma escolha segura — concordei, aliviado por não precisar me preocupar com esse detalhe.
Estava prestes a encerrar a conversa e retomar minha agenda quando meu celular vibrou. Olhei de relance e vi que era uma mensagem de Amélia. Ela era sempre direta nas mensagens, uma das qualidades que mais apreciava nela, e só de ver seu nome na tela um plano rápido me veio à mente. Não havia ninguém melhor para garantir minha paz naquela noite e me ajudar a afastar os abutres sociais que, inevitavelmente, tentariam alguma aliança ou conexão pessoal, ainda mais se pudessem usar os negócios como desculpa para me empurrar uma de suas filhas.
Desbloqueei o telefone e li a mensagem:
[Amélia]: Oi, Gregório. Algum plano pra hoje? Me avise se quiser companhia ;)
Sorrindo de canto, respondi rapidamente:
[Você]: Nenhum plano por enquanto, mas estou começando a achar que você acabou de resolver a minha noite. Que tal um jantar? Tenho uma coisa para te perguntar
Amélia respondeu em segundos, com um emoji de sorriso e um “Ótimo! Me manda o endereço.” Resolvido. Com ela ao meu lado, eu teria uma distração perfeita para evitar as conversas vazias e as tentativas de aliança — ou pior, as investidas de pretendentes que viam em mim o “partido” perfeito. Eu sabia que Amélia me acompanharia se eu apenas a perguntasse, mas eu não era cara de pau o suficiente para não ter a educação de pagar um jantar pra ela, antes de pedir um favor.
Assim que desliguei a tela do telefone, Mason ergueu uma sobrancelha, notando minha expressão satisfeita.
— Amélia? — perguntou, cruzando os braços.
— Isso mesmo. Pelo visto, hoje terei companhia para o jantar. — Mason soltou um riso leve.
— Vocês dois fazem um bom time. A Amélia tem um talento nato para manter os inconvenientes à distância. E, convenhamos, você não facilita. Ricaço, solteiro e com fama de discreto… Baltimore praticamente implora para você se casar logo.
Revirei os olhos, ignorando sua fala. Já havia me acostumado a ouvir esse tipo de comentário, mas era diferente quando vinha de Mason, que me conhecia bem o suficiente para saber que eu não fazia questão de jogar o jogo social como a maioria dos milionários solteiros. Eu não gostava de ter muitas mulheres e não pretendia deixar minha paz se desfazer em pedaços só porque era o que esperavam de mim como figura pública.
— Eu sei que minha situação atrai curiosos. Amélia entende o papel dela, e nós dois estamos mais do que confortáveis com esse acordo, sinceramente, essa cidade não vai me ver casado se depender de mim.
Mason assentiu, já voltando à pauta do evento, mas eu ainda sentia um incômodo ao pensar em todos aqueles convidados que viriam para a festa. Os planos estavam começando a se formar, mas a perspectiva de passar a noite cumprimentando rostos conhecidos e suportando as mesmas perguntas repetitivas me deixava inquieto, mas claro, diferente do que eu esperava, as coisas acabaram bem rápido e foram até mesmo tranquilas.
Com a reunião encerrada, voltei para o escritório. Estava finalizando alguns contratos e alinhando detalhes da agenda quando uma lembrança específica daquela noite no evento beneficente veio à tona: Maitê. Aquela garota, os olhos fixos em mim. Uma lembrança fugaz, mas que voltou com uma clareza perturbadora. Naquela época, achei que minha curiosidade por ela fosse passageira, mas, semanas depois, percebia que não tinha sido bem assim. A lembrança de seus olhos, atentos e gentis, ficava insistindo na minha mente quando eu menos esperava e agora, eu nutria um certo arrependimento por não ter ido até ela antes.
Sacudi a cabeça, voltando ao presente. Aquilo era uma distração desnecessária, uma curiosidade que já deveria ter desaparecido. No entanto, sempre que surgia, era como se uma parte de mim quisesse explorar essa curiosidade, ignorando a lógica.
As horas passaram e quando saí do escritório, o céu já começava a escurecer. Mandei uma mensagem para Amélia, marcando o endereço do restaurante para o nosso jantar que, graças ao horário, seria um pouco mais tarde que o indicado. Assim que entrei no carro e o motorista deu partida, senti um pouco do peso do dia escorregar dos ombros. Eu sabia que, ao menos naquele jantar, poderia relaxar.
Amélia chegou pontualmente, vestida com um vestido de seda verde que parecia ter sido feito para ela. Trocamos sorrisos discretos e entramos no restaurante, onde o garçom rapidamente nos conduziu a uma mesa mais reservada.
Enquanto ela falava sobre seu trabalho e me atualizava sobre as últimas novidades sociais, minha mente se dispersou por um instante. Embora estivesse ali, com Amélia ao meu lado, uma parte de mim ainda estava presa em pensamentos que eu não queria admitir. Imaginava, por exemplo, como seria essa noite se Maitê estivesse aqui, com aquele sorriso suave e aquela postura encantadoramente discreta.
— Gregório? — A voz de Amélia me trouxe de volta e eu percebi que tinha passado alguns segundos perdido demais nos meus devaneios.
— Desculpe, estava aqui pensando nas pendências do escritório — menti, sorrindo para aliviar o desconforto.
— Claro. — Ela riu, balançando a cabeça, já acostumada com meu jeito distraído. Eu respirei fundo, tentando aproveitar a noite e ignorar qualquer outra lembrança que pudesse surgir, e claro, já aproveitando para perguntar.
— Amélia, você teria tempo para me acompanhar no evento de 25 anos da empresa?
Gregório SmithCasamento nunca foi algo que me chamasse a atenção. Não é que eu seja contra a ideia – não de todo. Apenas prefiro manter controle sobre o que acontece na minha vida e, até hoje, envolver-me em um relacionamento de longo prazo sempre pareceu mais uma perda de tempo do que um investimento. Eu sabia o que as pessoas esperavam de mim, mas, sinceramente? Não tenho paciência para suportar o que chamam de “política familiar”. Cada festa, cada evento que participo, lá estão as famílias alheias, com as filhas impecavelmente arrumadas, prontas para serem “apresentadas” como troféus e eu não tenho mesmo nada contra isso, desde que não tentem me convencer de que seus lindos troféus são “a mulher perfeita” para se casar comigo.Eu tenho 33 anos. Sei que, na visão deles, já deveria estar comprometido. Mas entre assinar contratos milionários e expandir a empresa para além do território nacional, estabelecer uma aliança dessas nunca foi prioridade, ao menos, não uma aliança matrimonia
Maitê BellEu estava sentada na cafeteria do campus, observando os estudantes ao redor e tentando me imaginar ali, entre eles, como uma aluna de verdade. Aquela era a minha terceira entrevista em uma faculdade, e, enquanto aguardava pela resposta, a ansiedade me consumia. O sonho de entrar para a faculdade e, finalmente, estudar Arquitetura, parecia cada vez mais próximo, mas ainda faltava muito e eu tinha noção disso.Tirei o celular da bolsa e enviei uma mensagem para Stayce, convidando ela para nos encontrarmos depois. Eu queria muito um momento com ela, principalmente considerando que depois dessa entrevista, eu estava me sentindo ansiosa. Uma parte minha sentia que essa era minha última chance. Precisávamos conversar e eu sabia que aquele momento era crucial. O namorado dela, Antony, era um problema. Desde o início, ele me pareceu controlador e possessivo, mas, ultimamente, parecia que as coisas estavam se intensificando. Eu tentava alertá-la sutilmente, mas Stayce sempre desconv
Maitê BellO dia do evento finalmente chegou, e, por mais que minha mente tentasse vagar para as entrevistas de faculdade e a espera angustiante pelas respostas, eu me obriguei a focar no presente. Eu estava com um trabalho importante em mãos e precisava desse pagamento mais do que nunca. Além disso, ver minha amiga Stayce mais animada me dava um alívio enorme. Parecia que, ao menos em parte, ela estava tentando deixar os problemas com Antony de lado para focar em algo positivo. Eu sabia que ela ainda tinha um longo caminho até admitir que aquele relacionamento não era exatamente bom, mas agora ao menos ela parecia estar se dando conta de que não podia ficar dando satisfação a Antony sobre tudo.Eu ainda me arrumava no espelho, ajustando o uniforme impecável, quando uma mensagem dela surgiu na tela do celular:[Stay]: Maitê, você já está pronta? Me espera na entrada da empresa.Respondi com um breve “Já estou a caminho!” e saí do apartamento, sentindo a adrenalina tomar conta de mim.
Entrei no carro de Amélia com um suspiro. Ela, sempre pontual e impecável, já estava me esperando com um sorriso suave, que sabia que não era apenas um gesto de cortesia. Desde que começamos esse nosso “acordo ardente”, ela havia se tornado uma companhia ideal para eventos como esse, afastando com uma facilidade invejável as pessoas inconvenientes e, ao mesmo tempo, reforçando a imagem de que, talvez, algum dia, o casamento entre nós poderia se concretizar. Sabíamos que isso nunca iria acontecer, mas para todos os outros, parecia a aliança perfeita.— Outro evento chato, Amélia. Um fardo necessário, apenas — comentei, fingindo desânimo, enquanto ela ajeitava o vestido e ria de leve.— Você sempre fala isso, mas eu adoro estar ao seu lado nessas ocasiões. Faz parte do jogo, não faz? — Ela deu um sorriso de canto, ajustando o colar no pescoço. Era esperta, e essa combinação de confiança e charme era uma das coisas que me fazia tê-la sempre por perto.Assim que chegamos à empresa, desci
Maitê BellPor um momento, fiquei sem palavras. Gregório Smith estava mesmo aqui, falando comigo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Era surreal. Meu coração martelava e eu não sabia se conseguia esconder o nervosismo que parecia me dominar. Ele era tudo o que eu esperava e, ao mesmo tempo, mais do que imaginava. Vê-lo de perto, com aquela postura calma e aquele olhar que parecia atravessar qualquer camada de proteção que eu tentasse erguer, me deixava completamente desconcertada.— Aceita me fazer companhia por alguns minutos? Prometo que depois você pode voltar ao trabalho e não vou mais atrapalhá-la, mas... eu gostaria de te fazer uma proposta — ele disse, a voz suave e segura, cada palavra calculada para manter meu foco nele.Uma proposta? Eu o encarei, sem entender, e um sorriso lento surgiu em seu rosto. Ele tinha esse ar misterioso, como se estivesse acostumado a ver as pessoas reagirem a ele com fascínio, mas, naquele momento, não conseguia esconder um leve brilho de d
Maitê BellEu mal conseguia respirar quando voltei ao meu posto na entrada do evento. Cada passo parecia pesar uma tonelada, e meu coração ainda batia rápido demais. As palavras de Gregório ecoavam na minha mente como um martelo: "150 mil dólares por uma noite." Como ele podia pensar que eu aceitaria algo assim? E como eu podia estar aqui, de pé, ainda tentando processar tudo?É um absurdo, pensei. Mas, mesmo assim, a ideia teimava em voltar.Stayce notou minha expressão assim que me aproximei. Ela estava distraída com o movimento dos convidados, mas a preocupação no olhar dela era óbvia.— Maitê, o que aconteceu? Você está pálida! — perguntou, se inclinando ligeiramente em minha direção.Tentei desconversar, mas ela persistiu. E, no fundo, eu sabia que precisava falar com alguém. Respirei fundo, ajustei o crachá no meu uniforme e comecei a contar. Cada palavra parecia sair com dificuldade, mas logo toda a história estava ali, no ar. O convite dele, a proposta ardente, minha recusa. F
Maitê BellEu mal conseguia respirar quando voltei ao meu posto na entrada do evento. Cada passo parecia pesar uma tonelada, e meu coração ainda batia rápido demais. As palavras de Gregório ecoavam na minha mente como um martelo: "150 mil dólares por uma noite." Como ele podia pensar que eu aceitaria algo assim? E como eu podia estar aqui, de pé, ainda tentando processar tudo?É um absurdo, pensei. Mas, mesmo assim, a ideia teimava em voltar.Stayce notou minha expressão assim que me aproximei. Ela estava distraída com o movimento dos convidados, mas a preocupação no olhar dela era óbvia.— Maitê, o que aconteceu? Você está pálida! — perguntou, se inclinando ligeiramente em minha direção.Tentei desconversar, mas ela persistiu. E, no fundo, eu sabia que precisava falar com alguém. Respirei fundo, ajustei o crachá no meu uniforme e comecei a contar. Cada palavra parecia sair com dificuldade, mas logo toda a história estava ali, no ar. O convite dele, a proposta, minha recusa. Falei tud
Maitê BellEu não queria ser esse tipo de pessoa, eu realmente não queria. Pelo menos, era o que eu ficava repetindo para mim mesma enquanto via o salão começar a se esvaziar. As luzes suavemente diminuindo, as despedidas formais, as conversas dos últimos convidados. A noite estava quase no fim, e eu ainda estava lutando com a ideia que martelava na minha cabeça desde que Stayce falou. "Por que não?"A verdade era que ela tinha razão. Tudo fazia sentido de uma forma prática e brutal. Não era sobre sentimentos, romance ou ideais. Era sobre resolver problemas reais. Minha avó precisava de tratamento. Eu precisava da faculdade. E Gregório Smith? Bem, ele não era apenas o tipo de homem que qualquer mulher poderia desejar, ele era o tipo que fazia a ideia de ceder parecer menos uma rendição e mais uma oportunidade — ou seja, essa era uma das oportunidades que quase ninguém pensaria duas vezes, então… eu precisava parar com toda essa idealização dentro da minha cabeça o quanto antes.Eu su