Capítulo 07

Gregório Smith

Mason estava debruçado sobre a mesa de reuniões, analisando com atenção o calendário de eventos do próximo semestre, e eu já sabia para onde essa conversa iria. Já tinha ouvido falar sobre as expectativas de todos para comemorar os 25 anos da empresa, mas agora, vendo aquele olhar determinado nos olhos dele, percebi que estava oficialmente sem saída.

— Gregório, não tem como fugir dessa. Precisamos marcar uma festa para os 25 anos e você sabe que esperam algo grande — começou ele, cruzando os braços como se quisesse me desafiar a dizer o contrário.

Suspirei e passei a mão pelo queixo, tentando disfarçar o tédio.

— É, eu sei que precisamos fazer isso. Não é como se fosse uma questão de escolha, não é? — falei, tentando esconder a irritação.

— Exato. E, olha, eu entendo seu desânimo, mas pensa bem: uma festa dessas não é só uma noite chata com discursos vazios e elogios forçados. Você sabe que isso é mais do que um evento. Vai ser a oportunidade de reforçar parcerias, fechar negócios com novas empresas. Esses eventos são quase tão necessários quanto os contratos que assinamos, principalmente porque grandes nomes se sentem forçados a comparecer em reuniões como essas.

Ele tinha razão, claro. Eu podia reclamar o quanto quisesse, mas sabia que esses momentos eram a base para garantir o futuro da empresa, especialmente para manter a rede de contatos ativa e, em alguns casos, até mesmo intimidar a concorrência. Havia muito mais em jogo do que o simples incômodo de estar rodeado de pessoas que eu preferia evitar.

— Tá bom. O que precisa ser feito? — cedi, pegando uma caneta e me preparando para tomar nota do que Mason planejara. Afinal, uma vez que isso fosse resolvido, eu poderia voltar para minha rotina sem maiores preocupações.

— Primeiro, o local. Já pensei em alguns salões de eventos no centro. Vou fazer uma visita para escolher o mais adequado. Em segundo lugar, a equipe de decoração. E, por fim, o buffet — Mason começou a enumerar enquanto eu balançava a cabeça, acompanhando as ideias.

— Deixo tudo com você. Eu confio no seu bom gosto. Só preciso garantir que seja o mais... direto possível. Nada de discursos intermináveis. Isso só espanta quem realmente importa e, sinceramente? Faça algo aqui na empresa, não dificulte tanto assim.

Mason riu, assentindo.

— Deixa comigo, prometo que será simples e direto, mas de bom gosto. Vou contratar o buffet do Walker & Co., que é conhecido pelo serviço impecável. Eles garantem uma experiência de alto nível, e pelo que me lembro, a equipe deles é bem treinada. — Ele lançou um olhar rápido para mim, como quem sugere que tudo já estava no controle.

— Perfeito. O Walker & Co. é sempre uma escolha segura — concordei, aliviado por não precisar me preocupar com esse detalhe.

Estava prestes a encerrar a conversa e retomar minha agenda quando meu celular vibrou. Olhei de relance e vi que era uma mensagem de Amélia. Ela era sempre direta nas mensagens, uma das qualidades que mais apreciava nela, e só de ver seu nome na tela um plano rápido me veio à mente. Não havia ninguém melhor para garantir minha paz naquela noite e me ajudar a afastar os abutres sociais que, inevitavelmente, tentariam alguma aliança ou conexão pessoal, ainda mais se pudessem usar os negócios como desculpa para me empurrar uma de suas filhas.

Desbloqueei o telefone e li a mensagem:

[Amélia]: Oi, Gregório. Algum plano pra hoje? Me avise se quiser companhia ;)

Sorrindo de canto, respondi rapidamente:

[Você]: Nenhum plano por enquanto, mas estou começando a achar que você acabou de resolver a minha noite. Que tal um jantar? Tenho uma coisa para te perguntar

Amélia respondeu em segundos, com um emoji de sorriso e um “Ótimo! Me manda o endereço.” Resolvido. Com ela ao meu lado, eu teria uma distração perfeita para evitar as conversas vazias e as tentativas de aliança — ou pior, as investidas de pretendentes que viam em mim o “partido” perfeito. Eu sabia que Amélia me acompanharia se eu apenas a perguntasse, mas eu não era cara de pau o suficiente para não ter a educação de pagar um jantar pra ela, antes de pedir um favor.

Assim que desliguei a tela do telefone, Mason ergueu uma sobrancelha, notando minha expressão satisfeita.

— Amélia? — perguntou, cruzando os braços.

— Isso mesmo. Pelo visto, hoje terei companhia para o jantar. — Mason soltou um riso leve.

— Vocês dois fazem um bom time. A Amélia tem um talento nato para manter os inconvenientes à distância. E, convenhamos, você não facilita. Ricaço, solteiro e com fama de discreto… Baltimore praticamente implora para você se casar logo.

Revirei os olhos, ignorando sua fala. Já havia me acostumado a ouvir esse tipo de comentário, mas era diferente quando vinha de Mason, que me conhecia bem o suficiente para saber que eu não fazia questão de jogar o jogo social como a maioria dos milionários solteiros. Eu não gostava de ter muitas mulheres e não pretendia deixar minha paz se desfazer em pedaços só porque era o que esperavam de mim como figura pública.

— Eu sei que minha situação atrai curiosos. Amélia entende o papel dela, e nós dois estamos mais do que confortáveis com esse acordo, sinceramente, essa cidade não vai me ver casado se depender de mim.

Mason assentiu, já voltando à pauta do evento, mas eu ainda sentia um incômodo ao pensar em todos aqueles convidados que viriam para a festa. Os planos estavam começando a se formar, mas a perspectiva de passar a noite cumprimentando rostos conhecidos e suportando as mesmas perguntas repetitivas me deixava inquieto, mas claro, diferente do que eu esperava, as coisas acabaram bem rápido e foram até mesmo tranquilas.

Com a reunião encerrada, voltei para o escritório. Estava finalizando alguns contratos e alinhando detalhes da agenda quando uma lembrança específica daquela noite no evento beneficente veio à tona: Maitê. Aquela garota, os olhos fixos em mim. Uma lembrança fugaz, mas que voltou com uma clareza perturbadora. Naquela época, achei que minha curiosidade por ela fosse passageira, mas, semanas depois, percebia que não tinha sido bem assim. A lembrança de seus olhos, atentos e gentis, ficava insistindo na minha mente quando eu menos esperava e agora, eu nutria um certo arrependimento por não ter ido até ela antes.

Sacudi a cabeça, voltando ao presente. Aquilo era uma distração desnecessária, uma curiosidade que já deveria ter desaparecido. No entanto, sempre que surgia, era como se uma parte de mim quisesse explorar essa curiosidade, ignorando a lógica.

As horas passaram e quando saí do escritório, o céu já começava a escurecer. Mandei uma mensagem para Amélia, marcando o endereço do restaurante para o nosso jantar que, graças ao horário, seria um pouco mais tarde que o indicado. Assim que entrei no carro e o motorista deu partida, senti um pouco do peso do dia escorregar dos ombros. Eu sabia que, ao menos naquele jantar, poderia relaxar.

Amélia chegou pontualmente, vestida com um vestido de seda verde que parecia ter sido feito para ela. Trocamos sorrisos discretos e entramos no restaurante, onde o garçom rapidamente nos conduziu a uma mesa mais reservada.

Enquanto ela falava sobre seu trabalho e me atualizava sobre as últimas novidades sociais, minha mente se dispersou por um instante. Embora estivesse ali, com Amélia ao meu lado, uma parte de mim ainda estava presa em pensamentos que eu não queria admitir. Imaginava, por exemplo, como seria essa noite se Maitê estivesse aqui, com aquele sorriso suave e aquela postura encantadoramente discreta.

— Gregório? — A voz de Amélia me trouxe de volta e eu percebi que tinha passado alguns segundos perdido demais nos meus devaneios.

— Desculpe, estava aqui pensando nas pendências do escritório — menti, sorrindo para aliviar o desconforto.

— Claro. — Ela riu, balançando a cabeça, já acostumada com meu jeito distraído. Eu respirei fundo, tentando aproveitar a noite e ignorar qualquer outra lembrança que pudesse surgir, e claro, já aproveitando para perguntar.

— Amélia, você teria tempo para me acompanhar no evento de 25 anos da empresa?

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