Amélia DavisApertei o volante com tanta força que os nós dos meus dedos ficaram brancos, o couro rangendo sob a pressão. Minha respiração estava pesada, quase fora de controle, enquanto tentava conter a raiva que fervia no meu peito. A rua em que estava estacionada era insignificante, tão comum quanto tudo que Maitê representava. O nome dela já me causava náuseas. Como Gregório podia ser tão cego? Como ele podia escolher ela em vez de mim?A ironia disso tudo quase me fez rir. Claro que não ia funcionar. Claro que aquela vadia ia encontrar um jeito de virar a situação a seu favor. Gregório sempre teve uma queda por casos perdidos, e Maitê era o maior deles. Ela era comum. Desinteressante. Simples. Como ele não via isso? Eu sempre estive ao lado dele. Sempre.Eu relaxei os ombros por um momento, fechando os olhos e respirando fundo, mas o calor da indignação voltou com ainda mais força. Não importava. Não importava o quão longe ela fosse. Eu ia acabar com isso.Peguei o celular no ba
Maitê BellO cheiro de café recém passado já preenchia a cozinha quando me levantei, mas eu estava tão ansiosa que nem conseguia aproveitar o aroma. Hoje era um dia importante. Era o dia. A apresentação da primeira parte do meu TCC estava na agenda, e eu sabia que não podia me atrasar.Caminhei descalça até a cozinha e encontrei Gregório em frente ao fogão, mexendo alguma coisa em uma panela com Ana Clara sentada ao lado, mastigando distraída um pedaço de pão.— Bom dia, dorminhoca — ele disse, sem nem olhar pra trás, como se já soubesse que era eu.— Bom dia. — Suspirei, pegando uma xícara de café e sentando à mesa.Ana Clara sorriu pra mim, com pedaços de pão presos nos cantos da boca. A visão era adorável e, mesmo com toda a tensão que eu sentia, não consegui conter um sorriso.— Tá nervosa? — Gregório perguntou, se juntando à mesa com dois pratos de omelete.— Muito. É só a primeira parte, mas parece que estou sendo jogada em um palco com holofotes na cara.— Você vai arrasar. Sem
Gregório SmithO telefone caiu da minha mão e o som de vidro quebrando ecoou pelo chão do escritório. O grito de Maitê ainda estava na minha cabeça, repetindo como um eco torturante:— Eu não consigo frear!Meu coração estava disparado e minhas pernas pareciam não querer obedecer. Peguei o telefone novamente, tremendo, tentando ligar de volta. Não havia resposta depois do barulho do acidente.— Mason! — gritei, minha voz ecoando pelo escritório.Eu tinha deixado Ana Clara na casa dos avós e depois de tudo, Mason tinha vindo ao Brasil para me ajudar e também para que eu pudesse assinar alguns papéis pendentes antes de resolvermos de vez a situação, afinal, eu pretendia transformar ele no CEO das empresas Smith, no meu lugar.Ele entrou na sala em segundos, assustado com o tom da minha voz.— O que houve, senhor?— Chama uma ambulância! Agora! — berrei, enquanto já me dirigia para a porta.— Para onde?Parei no meio do corredor, tentando organizar meus pensamentos. Ela estava dirigindo
Gregório SmithAcordei cedo naquela manhã, ou pelo menos achei que tinha acordado. A verdade é que nem me lembrava da última vez que realmente dormi. Desde o acidente de Maitê, o tempo parecia ser um borrão de esperas intermináveis e momentos sufocantes de pânico.Ela ainda estava lá, conectada a fios e monitores, sua respiração constante sendo a única coisa que me mantinha minimamente estável. Mas hoje parecia diferente. Havia algo no ar, uma sensação que não sabia se era esperança ou medo.Estava sentado ao lado da cama dela, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos juntas em um gesto quase de oração. Desde que nos trouxeram para este hospital, eu não conseguia sair do lado dela. Ana Clara estava com os avós, bem cuidada, mas meu coração estava inteiro aqui.Olhei para o rosto dela, tão calmo, tão pacífico. Era quase cruel vê-la assim depois de tudo o que tinha acontecido.Por favor, Maitê, pensei, segurando sua mão com cuidado. Acorde. Fique comigo.Então, como se minhas pal
Maitê BellOs dias no hospital foram longos, mas finalmente eu estava em casa. Era estranho como algo tão simples, como o cheiro familiar do meu travesseiro ou o som dos passarinhos na varanda, podia me trazer tanta paz depois de tudo que aconteceu.Gregório estava sempre por perto, cuidando de mim com uma dedicação que eu nunca tinha visto antes. Ana Clara corria pela sala, sempre trazendo um sorriso para o meu rosto, e agora, com a notícia de que nosso pequeno milagre estava a caminho, eu sentia que a vida estava se ajeitando novamente.Levou algum tempo para que meu corpo começasse a se recuperar por completo. Eu ainda sentia algumas dores e me cansava facilmente, mas, aos poucos, as coisas voltavam ao normal. Mais importante do que isso, minha mente estava finalmente tranquila. Ou pelo menos, foi o que pensei até a polícia ligar.Gregório estava na cozinha, fazendo uma bagunça com Ana Clara enquanto tentava preparar um almoço improvisado, quando o telefone tocou.— Alô? — atendi,
Gregório SmithO sol brilhava com força naquele dia especial. O céu limpo, sem nuvens, parecia ser um bom presságio. Tudo tinha sido cuidadosamente planejado, cada detalhe ajustado para que o casamento fosse perfeito. E agora, aqui estávamos, no ponto culminante de uma história que começou de forma inesperada, mas que nos levou a um amor que desafiou todas as probabilidades.Eu estava em pé no altar, ajustando minha gravata pela terceira vez, mesmo que ela já estivesse perfeitamente alinhada. A ansiedade não vinha do medo, mas de uma emoção tão intensa que parecia estar transbordando.Meus olhos percorriam a igreja decorada com elegância. As cadeiras estavam enfeitadas com laços de seda branca e flores em tons pastel. O aroma das rosas preenchia o ar, misturando-se com o murmúrio suave dos convidados.À frente, a mãe de Maitê estava sentada com expressão de puro orgulho. Sua avó, que parecia mais saudável do que nunca, estava sorrindo de forma tranquila, segurando as mãos de uma das c
Maitê BellO casamento tinha sido maravilhoso e a lua de mel tinha sido deixada para depois por conta da gravidez. Stayce, que tinha vindo direto para o Brasil para ser minha dama de honra e madrinha, foi embora uma semana depois. Eu queria muito ter tido mais tempo com a minha amiga, mas eu entendia que ela tinha seu próprio tempo... e só de saber que ela já havia acabado com aquele babaca que ela namorava antes, eu me senti infinitamente melhor. Agora, a luz suave do sol invadia o quarto enquanto eu olhava para meu reflexo no espelho. Minha barriga, grande e redonda, parecia ser o centro do universo naquele momento. O bebê estava quase chegando, e com ele, uma nova fase da nossa vida.Passei a mão suavemente pela barriga, sorrindo ao sentir o pequeno movimento do meu filho. Era uma sensação única, indescritível. A emoção de saber que logo ele estaria em meus braços misturava-se com o turbilhão de pensamentos sobre tudo o que tinha acontecido nos últimos anos.O casamento havia sid
Mason LionO som do motor do meu carro era a única coisa que quebrava o silêncio enquanto eu dirigia pela estrada. As árvores passavam em um borrão verde, mas minha mente estava fixada em algo — ou melhor, alguém.Stayce.Já fazia meses desde o casamento de Maitê e Gregório, e embora tudo parecesse perfeito na vida deles agora, eu não conseguia me afastar do pensamento de que havia algo inacabado na minha própria vida.Tudo começou naquela noite, no casamento. Eu e Stayce havíamos bebido demais, e o resultado foi algo que eu nunca tinha planejado, mas que não conseguia tirar da cabeça. Nós dois nos entregamos a um momento de paixão que parecia tão certo, mas desde então, ela vinha me evitando como se aquilo nunca tivesse acontecido.Ela havia terminado com o ex dela alguns anos antes do casamento, e eu sabia o quanto aquilo tinha sido difícil. Ele era um completo idiota, alguém que a fazia se sentir pequena, como se ela não fosse digna de algo melhor. Só de pensar no que aquele cara f