Capítulo 08

Gregório Smith

Casamento nunca foi algo que me chamasse a atenção. Não é que eu seja contra a ideia – não de todo. Apenas prefiro manter controle sobre o que acontece na minha vida e, até hoje, envolver-me em um relacionamento de longo prazo sempre pareceu mais uma perda de tempo do que um investimento. Eu sabia o que as pessoas esperavam de mim, mas, sinceramente? Não tenho paciência para suportar o que chamam de “política familiar”. Cada festa, cada evento que participo, lá estão as famílias alheias, com as filhas impecavelmente arrumadas, prontas para serem “apresentadas” como troféus e eu não tenho mesmo nada contra isso, desde que não tentem me convencer de que seus lindos troféus são “a mulher perfeita” para se casar comigo.

Eu tenho 33 anos. Sei que, na visão deles, já deveria estar comprometido. Mas entre assinar contratos milionários e expandir a empresa para além do território nacional, estabelecer uma aliança dessas nunca foi prioridade, ao menos, não uma aliança matrimonial. Enquanto isso, continuo onde quero estar: focado nos meus negócios e aproveitando a vida sem a necessidade de prestar contas a ninguém. Até agora, nenhum acordo de casamento me ofereceu algo realmente atraente para a empresa ou para minha vida pessoal.

Mas a festa dos 25 anos da empresa estava chegando e, juntamente com ela, as obrigações sociais. Era o tipo de evento em que ser solteiro significava atrair enxames de famílias ansiosas por uma união vantajosa. Eu já podia visualizar o cenário – mães e pais discutindo discretamente sobre o quão “maravilhosa” seria a união de suas filhas comigo, sussurrando que sua querida filha é uma “excelente anfitriã” ou “estudou nos melhores colégios”. A ideia me dava arrepios, e era precisamente por isso que Amélia era uma constante ao meu lado em ocasiões como essa. Era por isso que nós dois iríamos juntos a esse evento, e nada me deixou mais feliz que ela aceitar esse convite no nosso jantar da noite anterior.

Amélia é perfeita para mim – calma, elegante e igualmente sem pressa para se prender. Ela entende a posição dela e o papel que desempenha. Somos amigos, e ela parece não se importar em ajudar sempre que preciso de uma “companhia adequada”. Mas, no fundo, sei que para a família dela, especialmente o pai, a ideia de um casamento entre nós não parece tão absurda. Talvez, de certa forma, até conte com isso. A pressão familiar é algo que também faz parte da vida dela, eu sei disso e sei que ela costuma evitar casamentos indesejados me usando para ajudá-la. É uma via de mão dupla.

Naquela tarde, sentei-me com Mason no escritório, e ele já estava com tudo organizado.

— Encomendei as flores e fechei o salão com uma equipe de som de primeira. O buffet está com o Walker & Co., como foi planejado, então pode ficar tranquilo que tudo estará no lugar — ele disse, enquanto analisava a lista de convidados.

— Perfeito. Com você cuidando da organização, sei que não preciso me preocupar com nada. — Assenti, observando os detalhes, mas sem realmente absorver. O papel de anfitrião não me era natural, mas confiava no Mason para cuidar desse tipo de coisa enfadonha, deixando-me livre para gerenciar o que realmente importava: os contratos que eu conseguiria, os acordos.

Mason levantou os olhos dos papéis e me observou com uma expressão sugestiva.

— Amélia vai te acompanhar, não é?

— Sim — respondi, enquanto anotava um lembrete mental para o presente dela. — Ela já está acostumada com essas ocasiões e sabe como me livrar das investidas alheias.

Mason deu uma risadinha.

— Você sabe que todos esperam que vocês dois acabem casados, certo? Já ouvi rumores de que o pai dela meio que conta com isso.

Suspirei, dando de ombros. Era um assunto antigo e esperado.

— Sei disso. Mas Amélia e eu estamos bem com as coisas do jeito que estão. Se há algo de que tenho certeza, é que ela não tem interesse em estar comigo, bom, ao menos é o que eu espero, já que ela me conhece a tempo o suficiente para saber que não pretendo me casar — falei, sincero.

— Faz sentido. Mas, se um dia decidir seguir esse caminho, já tem uma parceira pronta. E bem ao seu lado. — Mason deu de ombros, sem querer pressionar, mas deixando a insinuação no ar.

Mudei de assunto, voltando a atenção para os detalhes da festa e como planejávamos lidar com certos convidados. Sabia que Amélia estava ciente da dinâmica entre nós, mas a expectativa dos outros ao nosso redor sempre tornava a situação ligeiramente mais complicada do que deveria ser.

Ao final da reunião, enviei uma mensagem para Amélia, pedindo que nos encontrássemos na joalheria que ela gostava. Afinal, já era tradição minha presenteá-la em situações como essa, uma maneira discreta de agradecer por ela estar ao meu lado e, no fundo, garantir que tudo saísse conforme o planejado. Nós dois sempre soubemos como manejar as expectativas das famílias e aparências – afinal, era o que nos mantinha sem compromisso de verdade. Mas, com o tempo, percebi que esse acordo também a beneficiava. Aos 29 anos, Amélia era uma mulher poderosa e independente, mas não estava livre da pressão do pai. Ter uma aliança social comigo também era, para ela, uma garantia de que não precisaria se comprometer e ainda assim, não perderia o seu prestígio.

Então, quando ela chegou pontualmente na joalheria, com um sorriso curioso, fui direto ao ponto.

— Escolha algo para você, Amélia. É meu presente pelos serviços que ainda vai prestar na festa.

Ela sorriu e começou a observar as vitrines com joias. Para a maioria das pessoas, isso talvez pareceria superficial, mas sabíamos o que esse pequeno gesto significava. Ela escolheu uma pulseira de ouro com pequenos detalhes em esmeralda, que combinava perfeitamente com sua personalidade – discreta, mas firme, e claro, provavelmente também combinava com seu novo vestido.

— Você sempre tem bom gosto — comentei, enquanto a observava provar a joia.

Ela riu, ajeitando a pulseira e levantando o braço para vê-la à luz. Era em momentos assim que eu me dava conta do quanto eu gostava de como a minha vida era simples.

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