Gregório Smith
Casamento nunca foi algo que me chamasse a atenção. Não é que eu seja contra a ideia – não de todo. Apenas prefiro manter controle sobre o que acontece na minha vida e, até hoje, envolver-me em um relacionamento de longo prazo sempre pareceu mais uma perda de tempo do que um investimento. Eu sabia o que as pessoas esperavam de mim, mas, sinceramente? Não tenho paciência para suportar o que chamam de “política familiar”. Cada festa, cada evento que participo, lá estão as famílias alheias, com as filhas impecavelmente arrumadas, prontas para serem “apresentadas” como troféus e eu não tenho mesmo nada contra isso, desde que não tentem me convencer de que seus lindos troféus são “a mulher perfeita” para se casar comigo.
Eu tenho 33 anos. Sei que, na visão deles, já deveria estar comprometido. Mas entre assinar contratos milionários e expandir a empresa para além do território nacional, estabelecer uma aliança dessas nunca foi prioridade, ao menos, não uma aliança matrimonial. Enquanto isso, continuo onde quero estar: focado nos meus negócios e aproveitando a vida sem a necessidade de prestar contas a ninguém. Até agora, nenhum acordo de casamento me ofereceu algo realmente atraente para a empresa ou para minha vida pessoal.
Mas a festa dos 25 anos da empresa estava chegando e, juntamente com ela, as obrigações sociais. Era o tipo de evento em que ser solteiro significava atrair enxames de famílias ansiosas por uma união vantajosa. Eu já podia visualizar o cenário – mães e pais discutindo discretamente sobre o quão “maravilhosa” seria a união de suas filhas comigo, sussurrando que sua querida filha é uma “excelente anfitriã” ou “estudou nos melhores colégios”. A ideia me dava arrepios, e era precisamente por isso que Amélia era uma constante ao meu lado em ocasiões como essa. Era por isso que nós dois iríamos juntos a esse evento, e nada me deixou mais feliz que ela aceitar esse convite no nosso jantar da noite anterior.
Amélia é perfeita para mim – calma, elegante e igualmente sem pressa para se prender. Ela entende a posição dela e o papel que desempenha. Somos amigos, e ela parece não se importar em ajudar sempre que preciso de uma “companhia adequada”. Mas, no fundo, sei que para a família dela, especialmente o pai, a ideia de um casamento entre nós não parece tão absurda. Talvez, de certa forma, até conte com isso. A pressão familiar é algo que também faz parte da vida dela, eu sei disso e sei que ela costuma evitar casamentos indesejados me usando para ajudá-la. É uma via de mão dupla.
Naquela tarde, sentei-me com Mason no escritório, e ele já estava com tudo organizado.
— Encomendei as flores e fechei o salão com uma equipe de som de primeira. O buffet está com o Walker & Co., como foi planejado, então pode ficar tranquilo que tudo estará no lugar — ele disse, enquanto analisava a lista de convidados.
— Perfeito. Com você cuidando da organização, sei que não preciso me preocupar com nada. — Assenti, observando os detalhes, mas sem realmente absorver. O papel de anfitrião não me era natural, mas confiava no Mason para cuidar desse tipo de coisa enfadonha, deixando-me livre para gerenciar o que realmente importava: os contratos que eu conseguiria, os acordos.
Mason levantou os olhos dos papéis e me observou com uma expressão sugestiva.
— Amélia vai te acompanhar, não é?
— Sim — respondi, enquanto anotava um lembrete mental para o presente dela. — Ela já está acostumada com essas ocasiões e sabe como me livrar das investidas alheias.
Mason deu uma risadinha.
— Você sabe que todos esperam que vocês dois acabem casados, certo? Já ouvi rumores de que o pai dela meio que conta com isso.
Suspirei, dando de ombros. Era um assunto antigo e esperado.
— Sei disso. Mas Amélia e eu estamos bem com as coisas do jeito que estão. Se há algo de que tenho certeza, é que ela não tem interesse em estar comigo, bom, ao menos é o que eu espero, já que ela me conhece a tempo o suficiente para saber que não pretendo me casar — falei, sincero.
— Faz sentido. Mas, se um dia decidir seguir esse caminho, já tem uma parceira pronta. E bem ao seu lado. — Mason deu de ombros, sem querer pressionar, mas deixando a insinuação no ar.
Mudei de assunto, voltando a atenção para os detalhes da festa e como planejávamos lidar com certos convidados. Sabia que Amélia estava ciente da dinâmica entre nós, mas a expectativa dos outros ao nosso redor sempre tornava a situação ligeiramente mais complicada do que deveria ser.
Ao final da reunião, enviei uma mensagem para Amélia, pedindo que nos encontrássemos na joalheria que ela gostava. Afinal, já era tradição minha presenteá-la em situações como essa, uma maneira discreta de agradecer por ela estar ao meu lado e, no fundo, garantir que tudo saísse conforme o planejado. Nós dois sempre soubemos como manejar as expectativas das famílias e aparências – afinal, era o que nos mantinha sem compromisso de verdade. Mas, com o tempo, percebi que esse acordo também a beneficiava. Aos 29 anos, Amélia era uma mulher poderosa e independente, mas não estava livre da pressão do pai. Ter uma aliança social comigo também era, para ela, uma garantia de que não precisaria se comprometer e ainda assim, não perderia o seu prestígio.
Então, quando ela chegou pontualmente na joalheria, com um sorriso curioso, fui direto ao ponto.
— Escolha algo para você, Amélia. É meu presente pelos serviços que ainda vai prestar na festa.
Ela sorriu e começou a observar as vitrines com joias. Para a maioria das pessoas, isso talvez pareceria superficial, mas sabíamos o que esse pequeno gesto significava. Ela escolheu uma pulseira de ouro com pequenos detalhes em esmeralda, que combinava perfeitamente com sua personalidade – discreta, mas firme, e claro, provavelmente também combinava com seu novo vestido.
— Você sempre tem bom gosto — comentei, enquanto a observava provar a joia.
Ela riu, ajeitando a pulseira e levantando o braço para vê-la à luz. Era em momentos assim que eu me dava conta do quanto eu gostava de como a minha vida era simples.
Maitê BellEu estava sentada na cafeteria do campus, observando os estudantes ao redor e tentando me imaginar ali, entre eles, como uma aluna de verdade. Aquela era a minha terceira entrevista em uma faculdade, e, enquanto aguardava pela resposta, a ansiedade me consumia. O sonho de entrar para a faculdade e, finalmente, estudar Arquitetura, parecia cada vez mais próximo, mas ainda faltava muito e eu tinha noção disso.Tirei o celular da bolsa e enviei uma mensagem para Stayce, convidando ela para nos encontrarmos depois. Eu queria muito um momento com ela, principalmente considerando que depois dessa entrevista, eu estava me sentindo ansiosa. Uma parte minha sentia que essa era minha última chance. Precisávamos conversar e eu sabia que aquele momento era crucial. O namorado dela, Antony, era um problema. Desde o início, ele me pareceu controlador e possessivo, mas, ultimamente, parecia que as coisas estavam se intensificando. Eu tentava alertá-la sutilmente, mas Stayce sempre desconv
Maitê BellO dia do evento finalmente chegou, e, por mais que minha mente tentasse vagar para as entrevistas de faculdade e a espera angustiante pelas respostas, eu me obriguei a focar no presente. Eu estava com um trabalho importante em mãos e precisava desse pagamento mais do que nunca. Além disso, ver minha amiga Stayce mais animada me dava um alívio enorme. Parecia que, ao menos em parte, ela estava tentando deixar os problemas com Antony de lado para focar em algo positivo. Eu sabia que ela ainda tinha um longo caminho até admitir que aquele relacionamento não era exatamente bom, mas agora ao menos ela parecia estar se dando conta de que não podia ficar dando satisfação a Antony sobre tudo.Eu ainda me arrumava no espelho, ajustando o uniforme impecável, quando uma mensagem dela surgiu na tela do celular:[Stay]: Maitê, você já está pronta? Me espera na entrada da empresa.Respondi com um breve “Já estou a caminho!” e saí do apartamento, sentindo a adrenalina tomar conta de mim.
Entrei no carro de Amélia com um suspiro. Ela, sempre pontual e impecável, já estava me esperando com um sorriso suave, que sabia que não era apenas um gesto de cortesia. Desde que começamos esse nosso “acordo ardente”, ela havia se tornado uma companhia ideal para eventos como esse, afastando com uma facilidade invejável as pessoas inconvenientes e, ao mesmo tempo, reforçando a imagem de que, talvez, algum dia, o casamento entre nós poderia se concretizar. Sabíamos que isso nunca iria acontecer, mas para todos os outros, parecia a aliança perfeita.— Outro evento chato, Amélia. Um fardo necessário, apenas — comentei, fingindo desânimo, enquanto ela ajeitava o vestido e ria de leve.— Você sempre fala isso, mas eu adoro estar ao seu lado nessas ocasiões. Faz parte do jogo, não faz? — Ela deu um sorriso de canto, ajustando o colar no pescoço. Era esperta, e essa combinação de confiança e charme era uma das coisas que me fazia tê-la sempre por perto.Assim que chegamos à empresa, desci
Maitê BellPor um momento, fiquei sem palavras. Gregório Smith estava mesmo aqui, falando comigo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Era surreal. Meu coração martelava e eu não sabia se conseguia esconder o nervosismo que parecia me dominar. Ele era tudo o que eu esperava e, ao mesmo tempo, mais do que imaginava. Vê-lo de perto, com aquela postura calma e aquele olhar que parecia atravessar qualquer camada de proteção que eu tentasse erguer, me deixava completamente desconcertada.— Aceita me fazer companhia por alguns minutos? Prometo que depois você pode voltar ao trabalho e não vou mais atrapalhá-la, mas... eu gostaria de te fazer uma proposta — ele disse, a voz suave e segura, cada palavra calculada para manter meu foco nele.Uma proposta? Eu o encarei, sem entender, e um sorriso lento surgiu em seu rosto. Ele tinha esse ar misterioso, como se estivesse acostumado a ver as pessoas reagirem a ele com fascínio, mas, naquele momento, não conseguia esconder um leve brilho de d
Maitê BellEu mal conseguia respirar quando voltei ao meu posto na entrada do evento. Cada passo parecia pesar uma tonelada, e meu coração ainda batia rápido demais. As palavras de Gregório ecoavam na minha mente como um martelo: "150 mil dólares por uma noite." Como ele podia pensar que eu aceitaria algo assim? E como eu podia estar aqui, de pé, ainda tentando processar tudo?É um absurdo, pensei. Mas, mesmo assim, a ideia teimava em voltar.Stayce notou minha expressão assim que me aproximei. Ela estava distraída com o movimento dos convidados, mas a preocupação no olhar dela era óbvia.— Maitê, o que aconteceu? Você está pálida! — perguntou, se inclinando ligeiramente em minha direção.Tentei desconversar, mas ela persistiu. E, no fundo, eu sabia que precisava falar com alguém. Respirei fundo, ajustei o crachá no meu uniforme e comecei a contar. Cada palavra parecia sair com dificuldade, mas logo toda a história estava ali, no ar. O convite dele, a proposta ardente, minha recusa. F
Maitê BellEu mal conseguia respirar quando voltei ao meu posto na entrada do evento. Cada passo parecia pesar uma tonelada, e meu coração ainda batia rápido demais. As palavras de Gregório ecoavam na minha mente como um martelo: "150 mil dólares por uma noite." Como ele podia pensar que eu aceitaria algo assim? E como eu podia estar aqui, de pé, ainda tentando processar tudo?É um absurdo, pensei. Mas, mesmo assim, a ideia teimava em voltar.Stayce notou minha expressão assim que me aproximei. Ela estava distraída com o movimento dos convidados, mas a preocupação no olhar dela era óbvia.— Maitê, o que aconteceu? Você está pálida! — perguntou, se inclinando ligeiramente em minha direção.Tentei desconversar, mas ela persistiu. E, no fundo, eu sabia que precisava falar com alguém. Respirei fundo, ajustei o crachá no meu uniforme e comecei a contar. Cada palavra parecia sair com dificuldade, mas logo toda a história estava ali, no ar. O convite dele, a proposta, minha recusa. Falei tud
Maitê BellEu não queria ser esse tipo de pessoa, eu realmente não queria. Pelo menos, era o que eu ficava repetindo para mim mesma enquanto via o salão começar a se esvaziar. As luzes suavemente diminuindo, as despedidas formais, as conversas dos últimos convidados. A noite estava quase no fim, e eu ainda estava lutando com a ideia que martelava na minha cabeça desde que Stayce falou. "Por que não?"A verdade era que ela tinha razão. Tudo fazia sentido de uma forma prática e brutal. Não era sobre sentimentos, romance ou ideais. Era sobre resolver problemas reais. Minha avó precisava de tratamento. Eu precisava da faculdade. E Gregório Smith? Bem, ele não era apenas o tipo de homem que qualquer mulher poderia desejar, ele era o tipo que fazia a ideia de ceder parecer menos uma rendição e mais uma oportunidade — ou seja, essa era uma das oportunidades que quase ninguém pensaria duas vezes, então… eu precisava parar com toda essa idealização dentro da minha cabeça o quanto antes.Eu su
Gregório SmithEu já estava aceitando o fracasso.Era frustrante, claro, e muito além do que eu estava acostumado. Cinco vezes. Eu havia tentado me aproximar de Maitê cinco vezes, apenas para ser barrado. Não era algo que acontecia comigo. Na verdade, eu não conseguia lembrar a última vez em que uma mulher havia sequer hesitado em aceitar um convite meu. Mas Maitê... ela era diferente. Ela me enfrentava com uma firmeza que eu não via há muito tempo, e isso, mais do que qualquer outra coisa, me deixava fascinado.Depois da última tentativa, cheguei a considerar uma abordagem mais agressiva. Talvez uma oferta maior, algo que não pudesse ser recusado. Um milhão de dólares, talvez. Quem em sã consciência diria não a isso? Mas, mesmo enquanto pensava nisso, sabia que não era só sobre dinheiro. Ela era orgulhosa e inteligente. E, por mais que o dinheiro resolvesse boa parte dos problemas dela, Maitê queria ser vista, não comprada.Então, quando vi a noite se aproximando do fim e percebi que