Capítulo 04

Gregório Smith

Odeio eventos beneficentes.

O salão impecável, as pessoas falando com falsa cordialidade, as risadas exageradas… todo aquele teatro me incomoda. Sou obrigado a aturar as abordagens de pais desesperados tentando casar suas filhas comigo, cada uma mais maquiada e engomada que a outra. É ridículo e, no mínimo, exaustivo. As mães me lançam olhares cúmplices, cheias de segundas intenções, como se eu estivesse ali, prestes a dar um passo rumo a um casamento. São esses os motivos pelos quais sempre trago Amélia comigo.

Amélia é minha amiga desde a infância. É elegante, discreta e inteligente o suficiente para entender a natureza do nosso acordo: ela me acompanha, eu compro algo extravagante para ela. Essa combinação nos livra de conversas complicadas e mantém os parasitas sociais afastados. No instante em que passamos pela entrada do evento, ela se agarra ao meu braço, já rindo de alguma piada qualquer. Estávamos nos encaminhando para o salão principal quando uma jovem me estendeu um catálogo do leilão da noite, e tudo ao redor pareceu se silenciar.

— Boa noite, Sr. Smith — ela diz, me oferecendo um sorriso profissional, embora um pouco tímido.

Ela me entregou o catálogo e eu o peguei quase sem perceber. Minha atenção estava completamente voltada para ela. Seu crachá no vestido, em letras discretas, trazia o nome “Maitê”. É claro que não a conheço; me lembraria dela com certeza. Mas o que mais me intrigou foi o fato de eu estar sentindo algo incomum — uma certa curiosidade quase instantânea, que não costumo nutrir por ninguém, muito menos uma recepcionista em um evento como esse.

Ela usava um vestido preto, que delineava suas curvas de forma discreta, e sua postura era composta, como se estivesse absolutamente ciente do ambiente e de tudo ao redor. Havia um misto de determinação e gentileza em seu olhar, algo que a diferenciava das outras pessoas que circulavam pelo evento. E eu, absurdamente, me peguei querendo puxar conversa. Um simples “como vai?” parecia adequado, mas hesitei. Afinal, Amélia estava ao meu lado, e esse tipo de distração não combinava com meu estilo.

— Gregório, você já deu uma olhada nas peças que vão leiloar? — Amélia perguntou, interrompendo meus pensamentos.

Olhei para ela e fiz um esforço para me concentrar no que dizia. Não queria ser rude, claro, mas minha atenção estava dividida.

— Ainda não, Amélia, mas agora que mencionou… que tal escolher uma peça? Considere isso um presente pela companhia — sugeri, em parte querendo manter Amélia feliz e em parte querendo que ela estivesse ocupada.

Amélia sorriu, animada. Sabia que adorava esses “mimos”, e eu cumpria bem o papel de oferecer esse tipo de distração. Seguimos para o salão e aos poucos fui me deixando envolver pelo jogo do leilão, mas minha mente voltava constantemente à recepcionista de nome incomum, voltava para aquele par de olhos grandes e cheios de uma timidez que chegava a me excitar.

Conversei com alguns executivos e fechei alguns acordos comerciais rápidos enquanto disputávamos algumas peças. Ainda que não gostasse desses eventos, sabia aproveitar as conexões e oportunidades. A cada palavra que trocava, porém, sentia algo se agitando em minha mente. Como um vício que surge aos poucos, eu queria vê-la novamente. Queria voltar à entrada, encontrá-la, ver seu sorriso — aquele mesmo sorriso que tinha me cumprimentado.

— Esse é o colar de diamantes que você mencionou? — perguntei a Amélia, apontando para uma peça no leilão, era o que ela queria e estava prestes a começar os lances por ele.

Ela assentiu, os olhos brilhando.

— É perfeito! Sabe, sempre gostei desse tipo de colar — disse ela, se inclinando para ver melhor.

Fiz o lance e, em poucos minutos, o colar era nosso. Amélia estava encantada, como esperado, e enquanto ela observava o diamante reluzente, algo prendeu minha atenção novamente. Entre as próximas peças do leilão, um anel de uma safira parecia brilhar especialmente para mim. A safira era pura, cercada por pequenos diamantes e montada em um aro prateado. Um trabalho artesanal de raro refinamento.

Imaginei, sem nem perceber, aquele anel no dedo de alguém. Maitê. A safira contrastaria perfeitamente com o preto de seu vestido, com sua pele clara e seu sorriso. A ideia era absurda, claro. Eu mal a conhecia. Mas ali estava eu, considerando como seria sua reação ao receber uma joia daquele calibre. E, antes que pudesse racionalizar, ergui a mão para fazer o lance.

As ofertas cresceram rapidamente, mas eu não recuei. Ao contrário, aumentei o valor com determinação. Quando a disputa se encerrou, o anel era meu. Amélia me olhou surpresa.

— Não sabia que você gostava de safiras. Nunca mencionou isso antes — ela disse, rindo.

— Gosto de coisas bonitas — eu respondi como se fosse alguma verdade e Amélia riu.

— Por isso gosta de mim.

Sorri.

— Claro, por que mais poderia ser?

— Gregório! — ela disse meu nome como se estivesse se sentindo ofendida, mas eu apenas a vi rir, e sorri de volta, mas minha resposta foi vaga. Não era algo que Amélia entenderia. Na verdade, nem eu entendia direito o que estava fazendo. Eu apenas sabia que queria fazer aquele gesto — mesmo que fosse um capricho, mesmo que fosse apenas para ter aquela peça para mim.

O leilão continuou, mas minha paciência estava se esgotando. Eu tinha feito o que vim fazer. E agora, por algum motivo, queria voltar para a entrada, ou talvez apenas encontrar uma desculpa para cruzar com ela no salão. Ela certamente não perceberia o efeito que tinha causado, mas isso tornava tudo ainda mais intrigante.

Eu sabia que era impulso, sabia que não podia sair por aí pegando qualquer uma, ainda mais por conta da minha fama, mas ainda assim eu não conseguia ignorar a ideia de ir até aquela mulher.

O que tinha acontecido comigo eu não sabia, mas de alguma forma ela mudou algo dentro de mim, algo que eu sequer conseguia explicar.

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