Capítulo 02

Maitê Bell

No dia seguinte, eu acordei com o som insistente das notificações no celular. Uma parte de mim queria ignorá-las, voltar para o sono tranquilo que parecia me prometer um pouco de paz. Mas, ao ver o nome da minha mãe piscando na tela, percebi que não dava para adiar. Respirei fundo e abri a mensagem, porque eu sabia que se minha mãe tivesse me enviado uma mensagem a essa hora, era porque era importante.

[Mamãe]: Filha, sua avó precisa de uma cirurgia no coração. A situação aqui não está fácil, mas vamos dar um jeito

Meu coração apertou quando li aquelas palavras. Minha avó sempre foi uma fortaleza na nossa família. A ideia de que agora ela estava vulnerável, precisando de ajuda e eu tão longe, me deixava aflita. Era nessas horas que a distância parecia um abismo. Pensei em responder imediatamente, mas as palavras não vinham. O que eu poderia dizer? Que estava preocupada? Que sentia culpa por estar aqui enquanto eles lidavam com tudo sozinhos?

Em vez disso, fechei os olhos por um momento e respirei fundo. Se eu realmente queria ajudar, precisava de dinheiro. E, para isso, só tinha uma opção: trabalhar o máximo que conseguisse.

[Você]: Vou dar um jeito, okay? Vou mandar mais dinheiro para vocês.

Eu tinha acabado de enviar essa mensagem quando vi o meu celular começar a tocar e só então me dei conta, Stayce já não estava mais ali.

Deus, que horas ela saiu? Ela havia dormido na minha casa...

— Amiga? Tá tudo bem? — perguntei, um pouco preocupada com a ligação tão cedo.

Do outro lado da linha, ouvi um gemido e uma risada tímida.

Não exatamente. Eu sou um desastre! Caí da escada hoje de manhã e torci o tornozelo… Tô aqui, toda enfaixada e meio dolorida.

— Que horror! Você foi ao médico? Tá com muita dor? Que horas você foi embora? Por que não me acordou? — Me sentei na cama, preocupada.

Ah, amiga... eu não queria te preocupar, eu tinha combinado de pegar umas coisas pra minha mãe nos correios e acabei caindo quando voltei pra casa. Nisso que dá fazer tudo às pressas, mas eu sim, eu fui sim ao médico. Eles disseram que vou ficar bem em algumas semanas, mas sabe como é… Não consigo andar direito, e tenho um pedido pra você.

— Claro, fala! — A curiosidade se misturava com a preocupação. Stayce raramente me pedia algo tão diretamente.

Preciso que você me substitua no evento beneficente que a empresa dos meus pais vai organizar. Eles confiam em você, Maitê. Seria amanhã à noite, em um salão incrível aqui no centro de Baltimore. Topa?

Eu hesitei por um segundo, mas logo percebi que aquilo era uma oportunidade. Não só eu poderia ajudar Stayce, mas também poderia ganhar um pouco mais de dinheiro. E além disso… ele estaria lá.

Gregório Smith.

O nome soava como uma lenda para mim. CEO de uma das maiores empresas de tecnologia da cidade, um gênio formado em direito pela Harvard e com um PhD em ciências e tecnologia. Mais do que sua reputação brilhante, ele tinha uma presença que era capaz de hipnotizar qualquer um. Eu nunca o tinha visto pessoalmente, mas sabia de todas as fotos, entrevistas e rumores. Aos 33 anos, ele parecia invencível e inalcançável.

— Você é um anjo, Stayce — respondi, tentando disfarçar a empolgação na voz. — Pode deixar, eu vou te substituir e fazer tudo certinho. E, amiga… obrigada por confiar em mim pra isso, mas, por favor, tome mais cuidado.

Ela riu do outro lado da linha e deu para sentir o alívio em sua voz.

Não é questão de confiança. Eu sei que você vai arrasar. E, quem sabe, consegue até falar com o famoso Gregório Smith, hein?

Eu ri, um pouco envergonhada, mas sabia que ela falava sério.

— Por favor, né? Esse homem é praticamente um monumento em Baltimore. Acho que minha única chance vai ser observá-lo de longe.

Eu disse e ela riu. Claro, depois de conversarmos um pouco, terminamos a ligação com Stayce me lembrando de me vestir bem para o evento e de aproveitar a oportunidade. Desliguei, sorrindo. Aquele evento parecia uma tábua de salvação — tanto para ajudar minha família, quanto para ver, mesmo que por alguns segundos, o homem que eu admirava em segredo. Eu tinha que fazer isso dar certo.

***

Mas eu tinha muito a fazer, eu tinha um evento para comparecer e claro que eu não ia perder, passei a tarde me preparando. Encarei meu reflexo no espelho tentando me convencer de que aquele vestido simples, mas elegante, era o suficiente. Minha maquiagem estava leve, o cabelo solto, um toque de perfume atrás das orelhas e pronto. Eu parecia profissional e bem arrumada. Claro, sabia que não chamaria muita atenção, mas não era essa a ideia. Eu só queria impressionar a equipe de Stayce, provar que ela podia contar comigo para o evento do dia seguinte.

Cheguei ao salão e o cenário me deixou sem fôlego. Lustres de cristal, mesas decoradas com arranjos impecáveis, garçons passando com bandejas de champanhe. As pessoas conversavam entre si com naturalidade, como se esse tipo de evento fosse apenas uma noite qualquer. Para mim, era como entrar em um mundo que eu só via nos filmes, mas agora era real.

Fui recebida pelo gerente do evento, que rapidamente me orientou sobre as funções: eu deveria servir os convidados. Garantir que todos fossem bem atendidos e estar disponível para qualquer eventualidade. Eu estava pronta para o desafio e enquanto me movia pelo salão, algo em mim se encheu de determinação.

Tentei disfarçar o nervosismo enquanto continuava cumprindo minhas tarefas.

Continuei meu trabalho, servindo os convidados, recolhendo taças vazias e certificando-me de que tudo estava impecável. Sabia que era uma chance única e não podia vacilar. Enquanto isso, pensava em minha família, na minha avó e em como aquele dinheiro faria diferença. Esse pensamento me manteve focada, me lembrando do motivo pelo qual estava ali.

Assim que o evento acabasse, eu receberia e claro que esse dinheiro iria todo para minha avó, afinal, eu receberia mais pelo trabalho que Stayce conseguiu para mim. Minha avó precisava disso mais do que eu.

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