Maitê Bell
No dia seguinte, eu acordei com o som insistente das notificações no celular. Uma parte de mim queria ignorá-las, voltar para o sono tranquilo que parecia me prometer um pouco de paz. Mas, ao ver o nome da minha mãe piscando na tela, percebi que não dava para adiar. Respirei fundo e abri a mensagem, porque eu sabia que se minha mãe tivesse me enviado uma mensagem a essa hora, era porque era importante.
[Mamãe]: Filha, sua avó precisa de uma cirurgia no coração. A situação aqui não está fácil, mas vamos dar um jeito
Meu coração apertou quando li aquelas palavras. Minha avó sempre foi uma fortaleza na nossa família. A ideia de que agora ela estava vulnerável, precisando de ajuda e eu tão longe, me deixava aflita. Era nessas horas que a distância parecia um abismo. Pensei em responder imediatamente, mas as palavras não vinham. O que eu poderia dizer? Que estava preocupada? Que sentia culpa por estar aqui enquanto eles lidavam com tudo sozinhos?
Em vez disso, fechei os olhos por um momento e respirei fundo. Se eu realmente queria ajudar, precisava de dinheiro. E, para isso, só tinha uma opção: trabalhar o máximo que conseguisse.
[Você]: Vou dar um jeito, okay? Vou mandar mais dinheiro para vocês.
Eu tinha acabado de enviar essa mensagem quando vi o meu celular começar a tocar e só então me dei conta, Stayce já não estava mais ali.
Deus, que horas ela saiu? Ela havia dormido na minha casa...
— Amiga? Tá tudo bem? — perguntei, um pouco preocupada com a ligação tão cedo.
Do outro lado da linha, ouvi um gemido e uma risada tímida.
— Não exatamente. Eu sou um desastre! Caí da escada hoje de manhã e torci o tornozelo… Tô aqui, toda enfaixada e meio dolorida.
— Que horror! Você foi ao médico? Tá com muita dor? Que horas você foi embora? Por que não me acordou? — Me sentei na cama, preocupada.
— Ah, amiga... eu não queria te preocupar, eu tinha combinado de pegar umas coisas pra minha mãe nos correios e acabei caindo quando voltei pra casa. Nisso que dá fazer tudo às pressas, mas eu sim, eu fui sim ao médico. Eles disseram que vou ficar bem em algumas semanas, mas sabe como é… Não consigo andar direito, e tenho um pedido pra você.
— Claro, fala! — A curiosidade se misturava com a preocupação. Stayce raramente me pedia algo tão diretamente.
— Preciso que você me substitua no evento beneficente que a empresa dos meus pais vai organizar. Eles confiam em você, Maitê. Seria amanhã à noite, em um salão incrível aqui no centro de Baltimore. Topa?
Eu hesitei por um segundo, mas logo percebi que aquilo era uma oportunidade. Não só eu poderia ajudar Stayce, mas também poderia ganhar um pouco mais de dinheiro. E além disso… ele estaria lá.
Gregório Smith.
O nome soava como uma lenda para mim. CEO de uma das maiores empresas de tecnologia da cidade, um gênio formado em direito pela Harvard e com um PhD em ciências e tecnologia. Mais do que sua reputação brilhante, ele tinha uma presença que era capaz de hipnotizar qualquer um. Eu nunca o tinha visto pessoalmente, mas sabia de todas as fotos, entrevistas e rumores. Aos 33 anos, ele parecia invencível e inalcançável.
— Você é um anjo, Stayce — respondi, tentando disfarçar a empolgação na voz. — Pode deixar, eu vou te substituir e fazer tudo certinho. E, amiga… obrigada por confiar em mim pra isso, mas, por favor, tome mais cuidado.
Ela riu do outro lado da linha e deu para sentir o alívio em sua voz.
— Não é questão de confiança. Eu sei que você vai arrasar. E, quem sabe, consegue até falar com o famoso Gregório Smith, hein?
Eu ri, um pouco envergonhada, mas sabia que ela falava sério.
— Por favor, né? Esse homem é praticamente um monumento em Baltimore. Acho que minha única chance vai ser observá-lo de longe.
Eu disse e ela riu. Claro, depois de conversarmos um pouco, terminamos a ligação com Stayce me lembrando de me vestir bem para o evento e de aproveitar a oportunidade. Desliguei, sorrindo. Aquele evento parecia uma tábua de salvação — tanto para ajudar minha família, quanto para ver, mesmo que por alguns segundos, o homem que eu admirava em segredo. Eu tinha que fazer isso dar certo.
***
Mas eu tinha muito a fazer, eu tinha um evento para comparecer e claro que eu não ia perder, passei a tarde me preparando. Encarei meu reflexo no espelho tentando me convencer de que aquele vestido simples, mas elegante, era o suficiente. Minha maquiagem estava leve, o cabelo solto, um toque de perfume atrás das orelhas e pronto. Eu parecia profissional e bem arrumada. Claro, sabia que não chamaria muita atenção, mas não era essa a ideia. Eu só queria impressionar a equipe de Stayce, provar que ela podia contar comigo para o evento do dia seguinte.
Cheguei ao salão e o cenário me deixou sem fôlego. Lustres de cristal, mesas decoradas com arranjos impecáveis, garçons passando com bandejas de champanhe. As pessoas conversavam entre si com naturalidade, como se esse tipo de evento fosse apenas uma noite qualquer. Para mim, era como entrar em um mundo que eu só via nos filmes, mas agora era real.
Fui recebida pelo gerente do evento, que rapidamente me orientou sobre as funções: eu deveria servir os convidados. Garantir que todos fossem bem atendidos e estar disponível para qualquer eventualidade. Eu estava pronta para o desafio e enquanto me movia pelo salão, algo em mim se encheu de determinação.
Tentei disfarçar o nervosismo enquanto continuava cumprindo minhas tarefas.
Continuei meu trabalho, servindo os convidados, recolhendo taças vazias e certificando-me de que tudo estava impecável. Sabia que era uma chance única e não podia vacilar. Enquanto isso, pensava em minha família, na minha avó e em como aquele dinheiro faria diferença. Esse pensamento me manteve focada, me lembrando do motivo pelo qual estava ali.
Assim que o evento acabasse, eu receberia e claro que esse dinheiro iria todo para minha avó, afinal, eu receberia mais pelo trabalho que Stayce conseguiu para mim. Minha avó precisava disso mais do que eu.
Maitê BellEu trabalhei a noite praticamente inteira, então, quando eu cheguei em casa, apenas apaguei e no dia seguinte... eu estava exausta, mas não tinha como escapar — e nem queria —, e por mais que eu tentasse disfarçar, eu estava nervosa. Muito. Naquela manhã, Stayce apareceu no meu apartamento, vestida de jeans e blusa larga, com um saco de compras na mão e um sorriso travesso no rosto.— Trouxe um presente especial — anunciou, balançando a sacola. — Você vai estar impecável.Ela disse com diversão e tirou um vestido preto de cetim, com um caimento que parecia feito sob medida. As alças eram finas, o decote discreto, mas ainda assim elegante. Eu o segurei, sem acreditar.— Stayce, isso é lindo demais… não precisava.— Precisava, sim. Hoje é um dia especial. — Ela me olhou com carinho, como se dissesse que sabia da importância desse momento pra mim. — Eu sei que você tem um crushzinho no Gregório. Eu quero que você esteja maravilhosa hoje, afinal, você está me ajudando.O celula
Gregório SmithOdeio eventos beneficentes.O salão impecável, as pessoas falando com falsa cordialidade, as risadas exageradas… todo aquele teatro me incomoda. Sou obrigado a aturar as abordagens de pais desesperados tentando casar suas filhas comigo, cada uma mais maquiada e engomada que a outra. É ridículo e, no mínimo, exaustivo. As mães me lançam olhares cúmplices, cheias de segundas intenções, como se eu estivesse ali, prestes a dar um passo rumo a um casamento. São esses os motivos pelos quais sempre trago Amélia comigo.Amélia é minha amiga desde a infância. É elegante, discreta e inteligente o suficiente para entender a natureza do nosso acordo: ela me acompanha, eu compro algo extravagante para ela. Essa combinação nos livra de conversas complicadas e mantém os parasitas sociais afastados. No instante em que passamos pela entrada do evento, ela se agarra ao meu braço, já rindo de alguma piada qualquer. Estávamos nos encaminhando para o salão principal quando uma jovem me este
Gregório SmithDepois de um certo tempo, finalmente consegui sair, mas a mulher que tanto me chamou atenção não estava mais lá.Eu saí do salão com uma irritação palpável crescendo dentro de mim. Tudo parecia preparado, calculado; era apenas um anel, algo sem significado… pelo menos, deveria ser. Mas agora ele queimava no meu bolso como um lembrete de uma oportunidade que escapou. Por um lado, queria me livrar dessa sensação irritante, esquecer a ideia absurda de ter um anel de safira guardado para uma recepcionista de evento. Por outro, eu queria vê-la de novo, ver como reagiria ao receber algo como aquilo.Ainda tentando me convencer do contrário, segui até onde Amélia me esperava, ao lado da saída principal. Ela estava exausta, mas o sorriso de satisfação ainda estava estampado no rosto ao acariciar o colar de diamantes pendurado no pescoço.— Gregório, foi uma noite maravilhosa! — Ela me puxou para um abraço rápido e sorria com a confiança de quem sabia que aquele colar era apenas
Maitê BellNa semana seguinte ao evento, a vida voltou ao normal. O evento beneficente parecia uma experiência distante e quase surreal, como se aquele vislumbre do mundo dos ricos e glamurosos fosse algo fora do meu alcance. Voltei para o trabalho e a rotina de economizar cada centavo, ainda determinada a fazer meu caminho para a faculdade. Sabia que precisava encontrar um jeito de tornar esse sonho possível, mesmo que parecesse quase inalcançável às vezes, principalmente com todos os problemas que meus pais e minha avó vinham passando.Eu estava no sofá do apartamento, revisando os detalhes do processo seletivo de uma universidade quando Stayce chegou, largando-se ao meu lado com um suspiro pesado. Olhei para ela, notando o cansaço estampado em seu rosto. Havia algo diferente em sua postura, algo tenso.— Tá tudo bem, Stayce? — perguntei, tentando captar o que estava acontecendo.Ela hesitou, mordendo o lábio. Depois de alguns segundos, soltou um suspiro e passou a mão pelos cabelos
Gregório SmithMason estava debruçado sobre a mesa de reuniões, analisando com atenção o calendário de eventos do próximo semestre, e eu já sabia para onde essa conversa iria. Já tinha ouvido falar sobre as expectativas de todos para comemorar os 25 anos da empresa, mas agora, vendo aquele olhar determinado nos olhos dele, percebi que estava oficialmente sem saída.— Gregório, não tem como fugir dessa. Precisamos marcar uma festa para os 25 anos e você sabe que esperam algo grande — começou ele, cruzando os braços como se quisesse me desafiar a dizer o contrário.Suspirei e passei a mão pelo queixo, tentando disfarçar o tédio.— É, eu sei que precisamos fazer isso. Não é como se fosse uma questão de escolha, não é? — falei, tentando esconder a irritação.— Exato. E, olha, eu entendo seu desânimo, mas pensa bem: uma festa dessas não é só uma noite chata com discursos vazios e elogios forçados. Você sabe que isso é mais do que um evento. Vai ser a oportunidade de reforçar parcerias, fec
Maitê BellMorar em Baltimore. Nunca imaginei como seria fazer isso sozinha. Quer dizer, a cidade tem seu charme, mas me deixou com a sensação de estar em um mundo diferente desde que tive que encará-la de outra forma, principalmente depois de São Paulo. Minha vida virou de cabeça para baixo por causa da mudança repentina dos meus pais para o Brasil, e agora sou só eu aqui. Dona Estela, minha vózinha, adoeceu e eu sabia que não tínhamos muita opção nesse quesito, não podíamos deixá-la sozinha no Brasil e trazer ela para Baltimore? Por Deus... fora de questão. Nós estávamos bem, não me entenda errado, mas a minha família nunca foi rica e a saúde pública fora do Brasil era inexistente, ainda mais... quando se tratava dos EUA. Eu amo a minha vózinha, claro. Gosto dela demais, mas, caramba, ninguém se prepara para uma mudança assim. Só não pirei de verdade porque eu tinha Stayce. Ela é a minha amiga mais leal, daquelas que te faz rir no meio do caos e nunca solta a sua mão.Depois de algu