Vampiros não existem! Pra Dante aquilo era simplesmente tão óbvio, até começar a trabalhar como mordomo na mansão de Victor Conte, um homem lindo, rico e sozinho, da sua idade; ou melhor, aparentemente, ele tinha a sua idade: Dante começou a suspeitar que não, quando seu patrão disse que pagaria qualquer preço por seu sangue.
Ler maisCanela e cravo da índia; noz moscada e anis estrelado; cardamomo e castanhas; cacau e pimenta; um toque, apenas, lá no fundo, o sabor gravado na memória, como que tatuado na sua boca, agridoce, tão agradável... o perfume amadeirado impregnado no ar.— Vic? — Chamou. Esteve olhando pro teto por quinze minutos que lhe pareceram toda a vida; mas tudo bem, estava se adaptando já àquele tipo de coisa. — Já posso me mexer? — Perguntou. — Ou você... está num momento importante?— Hã... — Ouviu Victor rir soprado e bater com o pincel no apoio do cavalete. — Eu não consigo fazer isso.— Vi - hn! — Quando ia arriscar olhar para ver
— Você está vivo, estou surpreso. — Victor tentava se agarrar a qualquer coisa, fundo que estava na dor e escuridão. — Mas deixou um rastro muito vermelho atrás de si. Eles logo virão completar o serviço. — Se agarrou àquela voz, com toda a força que lhe restava. — O quanto você quer viver?— Por favor... — Foi a única coisa que conseguiu tirar da própria garganta.O homem abaixado ao seu lado levou o próprio pulso à boca.— Aqui. — Aproximou o pulso da sua boca, segurando sua cabeça pelo pescoço. — Beba, se viver é o que você quer. Podia ouvir os dois vampiros jogando dardos atrás de si, mas era como se não estivesse ouvindo. Santino acabara de tirar suas peles e aparar suas cascas. Santino dissecou-o e cortou-o em mil pedaços, os temperou e cozinhou, e então os serviu para ele mesmo. Não era pelos outros, mas por ele mesmo. Mesmo assim, por mais que ver a si mesmo naquele formato novo tenha parecido estranho num primeiro momento, pensando bem se achou bonito através daquela perspectiva, e estava muito disposto a experimentar.Tomava o champanhe em doses homeopáticas, olhando para algum ponto da parede verde atrás do balcão, só então notando a textura de lagartixas verdes, cada uma como que rastejando para um lado.Por alguma razão, Jung lhe veio à cabeçPrimeira vez
— Ele é maravilhoso, não é? — Virgílio comentou, vendo Santi fazendo malabarismo com três garrafas de champanhe atrás do balcão.— É sim. — Lee confirmou. De fato, lindo daquele jeito, usando só uma blusa vermelha de gola alta, os cabelos negros de lado, um sorriso pronto nos lábios grossos, as mãos grandes jogando as garrafas de champanhe como se fossem pinos de boliche, é... Se não estivessem só os três na boate clube de Virgílio ele estaria levando a platéia ao delírio. — Mas você está fugindo do assunto.— Que assunto? — Não desviou os olhos de Santino. Lee riu. Era engraçado ver justo Virgílio hipnotizado daquele jeito.&
Lee sentiu a cama afundar do seu lado.— Vi - Vic?... — Não estava dormindo, mesmo assim não notou quando o vampiro entrou no seu quarto.— Só... — Passou o braço pela sua cintura. — ...deixa eu dormir aqui com você...— Hm...Sentia a respiração tranquila batendo atrás da sua orelha. Se perguntava se Victor só podia sentir seu cheiro estando perto assim, ou se também podia sentir o cheiro de rosas que perfumou todo seu quarto.— Escuta... Esquece isso... Eu... — Victor falava, o levando embora do escritório pela mão
Lee gostou daquilo. Depois de uns minutos algumas pessoas entraram na sala e Jung mandou logo calarem a boca e não atrapalharem, mas ficaram todos olhando, e vez ou outra soltando umas exclamações positivas, já que ele fazia tudo o que Jung mandava e praticamente não precisava repetir os takes.— A roupa dele é cinza... Ficaria legal num fundo cinza. — Alguém comentou. Jung concordou de parar tudo para trocar o fundo branco por um cinza, e então tiraram mais fotos. No final o editor chefe entrou na sala para se informar da comoção, e acabou que Lee saiu de lá umas quatro horas depois, com um contrato pra assinar nas mãos.— Uah... — Murmurou pra si mesmo no carro. Mal estava acreditando. Modelo… quando aquilo
— Ah! — Victor gemeu de dor.— Tem como você ficar quieto? — O homem continuava puxando a linha, juntando a carne ali, onde sua barriga estava aberta.— Dói... — E doía mesmo, mas era uma dor... diferente? Como se seu corpo lhe avisasse que algo não ia bem mas sem querer o deixar realmente preocupado com aquilo.— Quase te cortaram ao meio, amigo. — Cortou a linha, tendo terminado mais um nó. — Claro que dói.Victor suspirou, olhando em volta. O quarto do médico era muito cheio de coisas que ele não conseguia identificar o que eram, mas era bem arrumado e limpo.
Como um bom licor envelhecido, um bom licor de cerejas. Apertou Lee nos braços novamente, afundando o rosto na curva do seu pescoço e inalando ali, sentindo-o por completo; nos seus braços, no seu peito, no seu paladar, no seu olfato; dentro de si, no seu coração, nas suas veias, passando pela sua medula e o estimulando a produzir o próprio sangue mais uma vez.— Am... — Ah, sim!... e ouvindo-o gemer. Lee tinha gemidos tão gostosos, ficava se lembrando deles várias vezes.Subiu uma das mãos pelas suas costas até a nuca, adentrando os cabelos. Lee era uma explosão de tantas coisas; por trás daquela casca de um bom garoto sem sonhos, vermelha escura e singela, uma polpa carnuda rosa violáceo cheia de suco de um doce forte,
Quando acordou no sábado já era tarde; uma da tarde, como lhe respondeu Virgílio quando perguntou, levantando o tronco e coçando os olhos. Ficou um tempo olhando em volta, por alguns segundos esquecido de onde estava, então viu a cabeça de crocodilo mais adiante, e se lembrou.— Conversamos muito ontem. — Virgílio comentou, em tom alegre. — Como quando você morou lá em casa.Lee sorriu também. De fato, quando sua mãe lhe disse que não viveria abaixo do mesmo teto que ele, e então Virgílio lhe respondeu ao telefone que não se importava de compartilhar o teto com um amigo, eles ficaram conversa até tarde aquela primeira noite, Lee chorando muito, e Virgílio sendo o amigo excelente que sempr