Lee voltou pra mansão do senhor Conte na segunda-feira, sem conseguir tirar aquela história da cabeça. Então vampiros ficam sem cor quando estão a muito tempo sem sangue, é isso? Nunca tinha ouvido falar daquilo.
— Mande lembranças ao Nosferatu. — Virgílio disse ao se despedir, quando o deixou na rodoviária.
— Ah, vá te catar! — Virgílio tinha a certeza firme de que Victor era um vampiro, apesar de sempre falar brincalhão daquela forma, e tinha certeza só por tê-lo visto uma vez e com base nas histórias da sua avó. Queria que as coisas fossem fáceis na sua cabeça também, mas ele ainda não conseguia acreditar totalmente, mesmo com dois furos no pescoço.
— Senhor Conte? — Deu uma espiada para dentro do escritório. Ninguém lá.
— Patrão Conte? — Chamou de novo, subindo as escadas até o quarto de Victor. A porta dupla estava fechada. Encostou o ouvido na porta. Nada. Quis testar a maçaneta, mas mudou de ideia. Desceu e foi trabalhar.
Passou quase o dia todo na estufa e no jardim. As plantas do senhor Conte eram bonitas, e ele tomava cuidado para deixá-las ainda mais. Também colheu café, Victor gostava de beber café dos grãos plantados ali no seu jardim.
O sol estava se pondo quando voltou para dentro da mansão. Imaginou que Victor deveria ter saído do quarto e o visto pela janela do escritório, então não quis anunciar sua chegada, apenas guardou os materiais de jardinagem e foi tomar banho, mas quando passou pelo escritório novamente, já à noite, ele continuava vazio. Estranho, Victor costumava trabalhar até tarde.
Subiu as escadas até o quarto do senhor Conte. Bateu. Nada. Tentou escutar. Nada. Victor desmaiado no chão do escritório lhe voltou à cabeça, então ele apenas abriu a porta, não totalmente, o suficiente para pôr a cabeça lá dentro e ver se estava tudo bem.
Victor estava deitado na sua enorme cama, vestindo apenas uma calça leve, os braços pra cima, as cobertas caídas para fora do colchão. Seu peito subia e descia numa respiração lenta e calma, os cabelos espalhados no travesseiro grande.
— Senhor Conte? — Adentrou o quarto, olhando as escuras cortinas fechadas.
— Hm... — Victor murmurou, e se espreguiçou na cama. Lee se sentiu idiota por ter se assustado com aquele mínimo movimento. — Hm... — Ele murmurou de novo, dessa vez abrindo os olhos e piscando-os um pouco. — Lee?... — Levantou o tronco e coçou os olhos. Bocejou. — Você voltou?
— Vo – voltei...?... Claro... — Não era óbvio? — O senhor... Estava dormindo esse tempo todo?
— Estava... Hm... — Se sentou na borda da cama, fazendo uma careta. — Que dia é hoje?
— Segunda... Feira...
— Já é noite? — Ele nem arriscou olhar pra janela. Bem, a cortina estava fechada mesmo.
— Espera, o senhor... Estava dormindo...?... Desde... — Ele piscou, mal acreditando que ia fazer aquela pergunta, como se aquilo fosse possível. — Não me diga que estava dormindo desde sábado.
— Estava. — Finalmente olhou pra ele. — Fazia tempo que eu não dormia. — Ele esticou os braços, os ossos estalando sonoramente. — Ah!... Como dormir é bom...
— Três dias? — Lee ainda não conseguia acreditar. — Seguidos?
Victor fez que sim com a cabeça.
— Meu Deus. — Ele deu as costas e desceu pra cozinha.
— Lee? — Victor chamou lá de cima umas três vezes. Ele arrumou uma bandeja com café, água, frutas e subiu de volta. — Não... Não precisava...
— Como não? Você deve estar com fome e com sede e...
— Na verdade não.
— Como não?— Ele serviu água no copo e passou pra Victor. — Ok, você hiberna? É isso? Tipo... O que você é?
— Eu não dormia a bastante tempo, por isso tirei o final de semana pra dormir. — Tomou um gole de água. — Por que você está tão impressionado?
— A quanto tempo você não dormia? — Se sentou ao lado dele na cama, sentindo que precisava se sentar.
— Hm... — Coçou a nuca. — Uns meses?
— Uns meses?! — Se exaltou. — Eu trabalho pro senhor a “uns meses”, por que nunca me contou?!
— Por que você nunca perguntou? — Terminou de tomar sua água, tranquilo.
— Eu pergunto um milhão de coisas que você não se dá ao trabalho de responder!! Ia fazer alguma diferença se eu te perguntasse?!
— É, você pergunta demais. — Se esticou na frente dele pra pôr o copo de volta na bandeja.
— E por que raios você não me responde nada?!?
— Escuta... — Ele empurrou Lee de leve pelos ombros, obrigando-o a deitar o tronco na cama. — Seu sangue me fez bem, eu relaxei e precisei dormir, só isso. Não queria encher mais sua cabeça, então te dispensei do trabalho, e pretendia acordar hoje cedo pra você não estranhar nada, mas quando te vi saindo na sexta à noite pensei que você não ia voltar, então simplesmente não me programei pra acordar hoje. Mas você voltou. E eu acordei. Foi isso. Feliz agora?
— Por que pensou que eu não ia voltar?
— Porque eu tenho caninos afiados? — Perguntou, como se fosse óbvio. — Porque eu furei seu pescoço, e bebi seu sangue? Porque você viu como eu fico quando estou com sede?
— Eu...
— Você não acredita ainda, não é?
— Não... Na verdade não... É muito... É muita informação pra processar... Entende?
— E se você acreditasse... Fugiria de mim?
— Eu... — Engoliu em seco. Aqueles olhos castanhos cravados nos seus. — Por que você só me olha assim?
— Assim como?
— Como se... Como se estivesse vendo alguma coisa dentro dos meus olhos.
— Porque eu realmente estou vendo... Estou lendo... — Chegou o rosto mais perto. Os narizes se tocando. — Nos seus olhos.
— E – está?
— Você é fácil de ler... — Acariciou os cabelos vermelhos, jogando a franja para trás. — Eu gosto disso.
— O – ok... — Empurrou a si mesmo pra trás. Victor engatinhou sobre ele, o seguindo. — Am... Eu... Eu vou deixar o senhor... É... Acordar... E...
— Eu já estou acordado.
— Vou deixar o senhor sozinho, foi o que eu quis dizer.
— Para de me chamar de senhor. — Segurou seu queixo entre o polegar e o indicador. — E não me deixe sozinho. — Roçou os lábios nos dele. — Não ainda. Não agora.
— A – ah, o – olha... — Gaguejou. — Não vamos fazer isso de novo... Né?... Aquilo foi só...
— Seu cheiro me deu sede, e você está com fome.
— Me – meu cheiro...?... Você sente o cheiro do meu sangue?
— Uh hum. — Beijou-lhe os lábios. Lee retribuiu, meio no automático. — Mas vou te dar prazer primeiro dessa vez, o que acha?
— Aquele acordo ainda vale? — Ofegou, seu coração já batendo acelerado no peito. — E podemos trocar a ordem?
— Por que não? — Puxou sua camisa pra cima. — Quero saber como fica o gosto depois de você gozar.
— Mas eu... — Ergueu os braços, ajudando Victor a passar a camisa pela sua cabeça. — Eu não quero continuar com isso.
— Não quer? — Olhou-o nos olhos. Ele virou o rosto, Victor o puxou de volta pelo queixo. — Olha nos meus olhos e diz que não quer, com todas as letras. — Ordenou.
— Eu n... — Quis dizer, mas os olhos castanhos o paralisaram... era um castanho único, beirando o vermelho. — Hm... — Fez um biquinho e virou o rosto pro lado.
— Então? — Beijou-lhe no rosto, descendo com beijos seguidos pelo pescoço. — Ainda não quer?
— Mas você não quer... Qual o sentido disso, se você não quer? — Apertou os olhos, irritado.
— Quem disse que eu não quero? — Acariciou seu abdômen, descendo os dígitos pelos lados do seu tronco, fazendo-o arquear a coluna. — Hm?
— Mas... É só um acordo, não é?
— Sexo não existe sem todos os envolvidos interessados, Lee.
— Dante Lee, Dante Lee...— Ah, saco... Não deveria ter te contado. — Lee reclamou. — Aff... Eu tô tão... Chateado com tudo isso.— Relaxa, mano; na verdade eu tô surpreso que vocês só transaram.— VG...— Olha pelo lado bom, ele não é casado.— Virgílio, é sério! — Exclamou. — Não foi pra isso que eu aceitei esse emprego, eu... — Esfregou a mão no rosto, agoniado. — Eu tô... Me sentindo culpado.
— Fetiches com sangue. Já ouviu falar?— Ah... Já...?... Por alto.— Então... — Ele apoiou os cotovelos nos joelhos. — ... é aí que eu entro. — Falou baixinho, como que contando um segredo. — E você pode entrar também.— Isso não faz sentido. — Ele tomou metade do whisky em um gole. — Você é maluco.— Pessoas pensam que tem fetiches. Nós não, nós temos um fetiche de verdade. Um fetiche com sangue. — Voltou a recostar as costas na cadeira. — Basta se misturar entre elas, as pessoas que acham que tem fetiches sexuais com sangue, e... <
Lee olhou em volta, mesmo que não precisasse, mas na verdade precisou, porque só então notou que não haviam espelhos naquela mansão, sendo a única exceção o espelho velho atrás da porta do armário do seu quarto.Girou nos calcanhares e abriu a boca, mas Victor já estava na cozinha, conversando com Santino.— Muito obrigado pelo seu tempo, eu agradeço muito.— Não agradeça antes de experimentar. — Santino estava amolando uma faca atrás da bancada da cozinha, vestido numa elegante dólmã preta e um lenço vermelho afastando os cabelos do rosto.— Su
— Hã... — Victor riu soprado, agarrando os joelhos do garoto com as mãos, mas Lee ignorou aquilo e moveu a cintura no seu colo novamente, agora com a mãos firmes nos seus ombros. — Você não tem a menor noção do perigo, Dante Lee. — Puxou o ar entre os dentes, tentando parar Lee de novo, agora apertando suas coxas. — Escuta... Eu posso ficar anos sem sangue, você está muito enganado se acha que consegue barganhar qualquer coisa comigo oferecendo sangue pra mim.— Você até pode, mas é o que você quer? — Jogou os próprios cabelos para trás com a mão, a outra no ombro largo, apertando de leve. — Eu tô aqui, deixando você tomar o quanto te saciar... E pode ser a última vez. — Ergueu as sobrancelhas. — Vai deixar passar?Victor suspir
— Por que acha que eu sinto o cheiro dele? — Victor franziu o cenho para ele. — Não sei... — Girou nos calcanhares, se afastando. — Talvez por causa do jeito que olha para ele. — Pensei ter te ouvido dizer que não queria se meter. — E não quero. — Virgílio se sentou de volta na sua cadeira, cruzando as pernas. — Mas se você está assim tão desinteressado no Lee boy... — Virou o restante do whisky na boca. — Você sabe que eu não me preocupo muito se sinto cheiro ou não na hora de tirar o atraso. — Não me importo. — “Desgraçado”, pensou consigo. — Não tirando a vida dele... Lee é um bom mordomo. &nb
Pôs a xícara na bandeja de sempre, pondo ao lado um prato cheio de tarteletes de creme inglês com frutas vermelhas que Santi fizera de sobremesa e que acabaram sobrando, e a garrafa de whisky que Conte sempre pedia, com um copinho de shot ao lado.— Hyung. — Ele entrou no escritório. Já eram oito horas; Victor estava acordado, mas bem mais relaxado do que de costume, vestido apenas num robe vermelho escuro, uma calça fina e pantufas nos pés, sentado na poltrona de couro vinho, com um livro particularmente grande no colo. — Seu café.— Ah, sim... — Victor desviou os olhos do livro por um instante. — Obrigado.
Havia acabado de voltar do aeroporto; deixou o carro na garagem e trancou tudo, já com a mochila nas costas, apenas verificando se estava tudo bem. A mansão do senhor Conte não tinha sistema de segurança, o que às vezes o deixava preocupado; sem ele ali então, realmente não queria ficar lá sozinho. Desceu para o jardim e ficou aguardando sentado na escadinha de pedra que dava para a estrada. Virgílio lhe disse que iria buscá-lo lá daquela vez.“Victor não pareceu satisfeito”, pensava, lembrando-se da sua reação quando disse que passaria o final de semana com Virgílio; na verdade, puxando pela memória, Victor sempre tinha reações estranhas quanto ao rapaz, desde o dia que Virgílio o trouxera para a entrevista e eles mal se olharam. Claro, aquela
Virgílio passou pelo canto perto do bar para uma escadaria na lateral, sem hesitar um passo, familiar àquele local. Quando terminaram as escadas, Lee viu um segurança de terno e óculos parado na frente de um corredor que dava para várias portas.— Mestre Virgílio... — Ele fez uma reverência de cabeça para Virgílio, respeitoso. Lee franziu a sobrancelha.— E aí? — Virgílio respondeu, despachado.— Qual quarto?— O meu.Ele deu passagem para os dois e Virgílio avançou reto, Lee junto, vendo várias portas