— Ah! — Victor gemeu de dor.
— Tem como você ficar quieto? — O homem continuava puxando a linha, juntando a carne ali, onde sua barriga estava aberta.
— Dói... — E doía mesmo, mas era uma dor... diferente? Como se seu corpo lhe avisasse que algo não ia bem mas sem querer o deixar realmente preocupado com aquilo.
— Quase te cortaram ao meio, amigo. — Cortou a linha, tendo terminado mais um nó. — Claro que dói.
Victor suspirou, olhando em volta. O quarto do médico era muito cheio de coisas que ele não conseguia identificar o que eram, mas era bem arrumado e limpo.
Lee gostou daquilo. Depois de uns minutos algumas pessoas entraram na sala e Jung mandou logo calarem a boca e não atrapalharem, mas ficaram todos olhando, e vez ou outra soltando umas exclamações positivas, já que ele fazia tudo o que Jung mandava e praticamente não precisava repetir os takes.— A roupa dele é cinza... Ficaria legal num fundo cinza. — Alguém comentou. Jung concordou de parar tudo para trocar o fundo branco por um cinza, e então tiraram mais fotos. No final o editor chefe entrou na sala para se informar da comoção, e acabou que Lee saiu de lá umas quatro horas depois, com um contrato pra assinar nas mãos.— Uah... — Murmurou pra si mesmo no carro. Mal estava acreditando. Modelo… quando aquilo
Lee sentiu a cama afundar do seu lado.— Vi - Vic?... — Não estava dormindo, mesmo assim não notou quando o vampiro entrou no seu quarto.— Só... — Passou o braço pela sua cintura. — ...deixa eu dormir aqui com você...— Hm...Sentia a respiração tranquila batendo atrás da sua orelha. Se perguntava se Victor só podia sentir seu cheiro estando perto assim, ou se também podia sentir o cheiro de rosas que perfumou todo seu quarto.— Escuta... Esquece isso... Eu... — Victor falava, o levando embora do escritório pela mão
— Ele é maravilhoso, não é? — Virgílio comentou, vendo Santi fazendo malabarismo com três garrafas de champanhe atrás do balcão.— É sim. — Lee confirmou. De fato, lindo daquele jeito, usando só uma blusa vermelha de gola alta, os cabelos negros de lado, um sorriso pronto nos lábios grossos, as mãos grandes jogando as garrafas de champanhe como se fossem pinos de boliche, é... Se não estivessem só os três na boate clube de Virgílio ele estaria levando a platéia ao delírio. — Mas você está fugindo do assunto.— Que assunto? — Não desviou os olhos de Santino. Lee riu. Era engraçado ver justo Virgílio hipnotizado daquele jeito.&
Podia ouvir os dois vampiros jogando dardos atrás de si, mas era como se não estivesse ouvindo. Santino acabara de tirar suas peles e aparar suas cascas. Santino dissecou-o e cortou-o em mil pedaços, os temperou e cozinhou, e então os serviu para ele mesmo. Não era pelos outros, mas por ele mesmo. Mesmo assim, por mais que ver a si mesmo naquele formato novo tenha parecido estranho num primeiro momento, pensando bem se achou bonito através daquela perspectiva, e estava muito disposto a experimentar.Tomava o champanhe em doses homeopáticas, olhando para algum ponto da parede verde atrás do balcão, só então notando a textura de lagartixas verdes, cada uma como que rastejando para um lado.Por alguma razão, Jung lhe veio à cabeç
— Você está vivo, estou surpreso. — Victor tentava se agarrar a qualquer coisa, fundo que estava na dor e escuridão. — Mas deixou um rastro muito vermelho atrás de si. Eles logo virão completar o serviço. — Se agarrou àquela voz, com toda a força que lhe restava. — O quanto você quer viver?— Por favor... — Foi a única coisa que conseguiu tirar da própria garganta.O homem abaixado ao seu lado levou o próprio pulso à boca.— Aqui. — Aproximou o pulso da sua boca, segurando sua cabeça pelo pescoço. — Beba, se viver é o que você quer. Canela e cravo da índia; noz moscada e anis estrelado; cardamomo e castanhas; cacau e pimenta; um toque, apenas, lá no fundo, o sabor gravado na memória, como que tatuado na sua boca, agridoce, tão agradável... o perfume amadeirado impregnado no ar.— Vic? — Chamou. Esteve olhando pro teto por quinze minutos que lhe pareceram toda a vida; mas tudo bem, estava se adaptando já àquele tipo de coisa. — Já posso me mexer? — Perguntou. — Ou você... está num momento importante?— Hã... — Ouviu Victor rir soprado e bater com o pincel no apoio do cavalete. — Eu não consigo fazer isso.— Vi - hn! — Quando ia arriscar olhar para ver Preço de Sangue
Vampiros não existem. — Existem! — Virgílio insistia. — Minha avó me contou, eu consigo até ver. — Ele fechou os olhos e narrou, teatral. — Olhos vermelhos, vidrados...o queixo sujo de sangue, as mãos de garras enormes...trêmulas! — Abriu os olhos, encarando o amigo profundamente, numa pausa dramática. — E então ele correu pra escuridão... E nunca mais foi visto... Mas! — Exclamou. — Um corpo foi encontrado na floresta aquela manhã...e adivinha... — Virgílio se debruçou sobre a mesa, fazendo o outro se afastar alguns centímetros. — Sem. Uma. Gota. De sangue. — Ah, vá! — Lee sugou seu milk-shake de framboesas, zero por cento impressionado. — VG, isso são só histórias. — Minha avó não mente, cara, eu já te disse! — Sentou-se corretamente de novo, indignado. — Se ela disse "Eu vi um vampiro", então ela viu um vampiro. — Certo, certo... — Suspirou, derrotado. — Mas por que você
Lee teve uma boa noite de sono, mas o Conte não dormiu. Na manhã seguinte, Lee preparou o café do seu patrão e levou até o escritório.— Bom dia, senhor... — Victor o olhou de esguelha, a mão apoiando o queixo, o cotovelo ao lado do livro aberto sobre a mesa. — É... Victor.— Lee, você pode me fazer um favor? — Passou a página. — Não entre mais aqui hoje, certo? Nem amanhã, nem depois. Preciso... Me concentrar em alguns assuntos.— Nem pra trazer café?— Não vou precisar de café... Esse será suficiente. — Pegou a xícara e soprou a fumaça. — Aliás, obrigado.— Am... Ok... De nada.— Ele está o quê? — Virgílio perguntou, do outro lado da linha.— Definitivamente me evitando. — Lee repetiu. — Já faz uma semana.— Não estou surpreso.— Eu estou! Trabalho pra ele qua