Magnetismo

— É, e nós temos passe livre — informou Ana mostrando três cartões verdes com o logo da boate e a palavra VIP em destaque. — Relaxe e curta essa noite. A primeira de muitas. — prometeu com um sorriso brilhante, voltando-se para plantar um beijo estalado na boca do namorado.

Despedindo-se de Pedro, Ana tomou a frente das amigas e as levou até a área VIP da festa, mostrando os crachás que recebera do namorado. Tinha a sorte do namorado conseguir a vaga para dividir com outro DJ a mesa de mixagem da boate, posicionada acima do lugar em que estavam. Assim que ele ocupou o lugar do outro rapaz, Ana gritou seu nome e balançou os braços no ar para chamar sua atenção. Se ele notou a festa da namorada, não demonstrou.

Voltaram à atenção para as pessoas dançando na pista, a maioria nenhuma delas conhecia, em parte por serem meras estudantes, e também pelo mais óbvio: Só pessoas com muita grana ou influência podia entrar no Artêmis. Faziam parte da classe trabalhadora, não pertenciam aquele mundo. Mas um rosto atraiu a atenção de Ana.

— Olhe Jessi, o Enrique! — disse Ana cutucando a amiga com uma mão, enquanto apontava um lugar na pista de dança.

Jéssica encosto-se na grade e viu Enrique Mendez, filho de um dos sócios da fábrica de porcelana e herdeiro de vários hectares de terra ao redor de Cezário, dançando com duas mulheres deslumbrantes.

Em menos de uma semana que retornara a Cezário, após anos estudando nos Estados Unidos, Enrique imediatamente se tornou o centro das atenções das jovens da cidade. Lindo, educado e rico eram alguns dos adjetivos que as garotas suspiravam quando ele passava pelas ruas. A calma e tímida Jéssica não foi exceção.

— Quem são aquelas garotas? — Penélope perguntou quase gritando.

— Não sei — Ana gritou de volta.

Penélope observou a amiga perder a felicidade no olhar, destacados pelo rímel e lápis, substituindo-o por decepção e inveja.

— Vamos para a pista também! — ordenou Ana segurando uma mão de cada amiga, obrigando-as a acompanha-la.

Dançaram até o suor colar seus cabelos na testa. Distraída, Jéssica acompanhava as amigas na pista, não percebendo que se aproximavam de Enrique, até ser empurrada por Ana e, por alguns segundos, tocá-lo no braço. Ficou tão vermelha que - temendo que a amiga desmaiasse - Penélope a escoltou até o balcão do bar.

— Quanto fica duas garrafas de água? — perguntou ao garçom, ao ouvir a resposta, gemeu baixinho. Era acima do que trouxera. — Ah... Uma garrafa de água, por favor! — pediu, imaginando que pedir da torneira soaria loucura.

— Será a encarregada de levar a amiga para casa?

Levou um susto ao ouvir a voz grave tão perto de seu ouvido, e quase desloucou o queixo quando viu o dono dela. Um homem absurdamente lindo, de cabelo castanho escuro bagunçado e profundos olhos escuros observando-a com interesse. No canto da boca um sorriso que causou um rebuliço no coração de Penélope. Parecia ter saído de um filme de ação com sua calça jeans, a jaqueta de couro marrom aberta e camisa preta com os primeiros botões abertos.

— Ah...!

— Sua água — informou o barman, antes de se voltar para o homem com um copo com líquido esverdeado. — Seu drinque, Atlantic Passion.

Ignorando o olhar malicioso que o barman lançou em sua direção e depois na do homem sentado ao seu lado, Penélope estendeu a garrafa para Jéssica.

— Não acredito... Eu o toquei... Rápido, mas toquei... — a amiga murmurava com a voz abobada e a face rubra.

— Beba, Jessi!

— Ela exagerou na bebida?

Voltou-se para o estranho, ainda impressionada com o quanto era bonito e charmoso. Supôs que tivesse vinte e poucos anos, não muito mais velho que ela, mas também não era um colegial.

— Um pouco — mentiu. Era melhor que dizer que a amiga babava por um homem inalcançável para pessoas como elas.

— Jessi, Penny, fiquei preocupada. Sumiram do nada — reclamou Ana ocupando a banqueta ao lado de Jéssica, abanando-se. — Nossa, estou com tanta sede!

— Tome! — Penélope estendeu a garrafa para Ana, que foi recusada e acompanhada por uma expressão enojada.

— Eu quero algo alcoólico no meu aniversário, não água.

— Mas não podemos, somos me... Ai!

Prevendo o que a amiga diria a seguir, Penélope lhe deu um beliscão.

— Já gastamos tudo — Penélope disse, meneando a cabeça de modo a indicar, discretamente, que tinham plateia. Em parte o que dissera era verdade, sendo a única que trabalhava, tinham muito pouco para gastar em um lugar tão caro como o Artêmis, quase nada após uma simples garrafa de água.

— Pago uma rodada para você e suas amigas. — Ofereceu o homem ao seu lado, fazendo seu corpo arrepiar-se ao tocá-la no braço.

O encarou surpresa, tanto pela oferta quanto pela reação que descarregara em seu corpo.

— Eu...

— Aceitamos! — Adiantou-se Ana, fazendo seu pedido ao barman. — Anda Jessi, o que quer?

— Tem refrigerante?

— Deixa de ser boba. — Voltou-se para o barman como um sorriso luminoso. — O mesmo para a minha amiga — proferiu, querendo aproveitar ao máximo a boa vontade do cara que não tirava os olhos de sua amiga. — E você Penélope?

— Só vou beber água.

— Mas...

Antes que Ana fizesse o mesmo que com Jéssica, adiantou-se:

— Hoje sou a responsável que levará todas para casa em segurança, lembra? — Virou para Ana e explicou baixinho: — Prefiro estar sóbria caso minha mãe me dê boa noite, como quase sempre faz quando chega em casa.

Ana anuiu. Quando os pedidos chegaram, olhou ansiosa para o “bem feitor”.

— Estamos na área VIP — informou e, com esperança de obter mais bebida grátis, perguntou gentil: — Quer nos fazer companhia?

— Adoraria — ele respondeu levantando e pegando a própria bebida para segui-las ao segundo piso.

Penélope estremeceu ao sentir a mão quente dele em suas costas desnudas quando um sujeito, vindo no sentindo contrário da escada, esbarrou nela quase fazendo que caísse.

— Está bem? — ele perguntou, posicionando-se ao seu lado.

— Sim... — mentiu arfante, sentindo o corpo em chama quando ele deslizou a mão, apoiada nas costas dela, para a cintura, e com o polegar acariciou seu rosto.

Atraída pelo magnetismo e beleza dele, Penélope percebeu que não estaria bem enquanto ele estivesse por perto, roubando qualquer pensamento coerente, trocando-os por uma imensa vontade de beija-lo.

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