Estando com o desgosto dos termos da primeira parte corroendo-a, Penélope tinha os olhos arregalados na tela, sem crer no que ouviu. Alucinava ou Roberto, conhecido por nunca mudar de ideia, desistiu de impor que a porcentagem seria repassada futuramente aos hipotéticos netos?A incredulidade estampada no rosto de Penélope era compartilhada por Diego. Sentado ao lado dela, ele fitava o televisor, sem compreender a declaração, esperando o truque após a fala.— Imagino que esta mudança o surpreenda, Diego — Roberto disse como se pudesse enxergar o filho através da tela. — Certa vez, Luiz me taxou de manipulador, sem consideração pelos sentimentos dos demais, que tratava todos como peças de um cruel e egoísta jogo de xadrez. Nunca joguei xadrez, mas ele estava certo — comentou dando de ombros. — Para ter a minha vontade atendida, o enganei Diego.A confissão de Roberto não surpreendente nenhum dos adultos na biblioteca. Diego, sentindo um nó se formar em seu estômago, apostava que, se en
Os olhos da maioria das pessoas na biblioteca se voltaram para Marcela, com quem Roberto um dia compartilhou mais de trinta e cinco anos de casamento e a perda de um filho. Seu rosto estava pálido, porém desprovido de emoção.— Escondi a verdade por que, se essa história viesse à tona, causaria a desonra da memória do nosso filho. — Roberto continuou com um peso visível em suas palavras: — Eu... Eu fui o responsável pelo acidente fatal dele, não Paloma. — Fechou os olhos por um momento, antes de continuar a colocar para fora o fardo insuportável que carregava. — Luiz queria se divorciar de Tereza e casar com Paloma. Ameacei deserdá-lo se persistisse em me desobedecer, prosseguir com os planos que acabariam com a união entre as famílias, mas ele não se importou e foi atrás dela quando descobriu que a expulsei de Cezário.Marcela sentiu um nó se formar em sua garganta. A dor da perda de seu filho era uma ferida que nunca cicatrizou.— Meses depois descobri sobre Samuel, nosso neto, mas
A biblioteca da mansão Freitas estava envolta em um silêncio sereno quando Penélope finalmente ergueu os olhos do documento e encontrou o olhar de Diego.— Diego... Isso... isso é... — Engoliu em seco, tentando encontrar sua voz. — Você abriu mão de tudo que tem direito?Penélope olhou novamente para o documento, em que Diego renunciava a qualquer direito sobre a guarda e o herança dos futuros filhos que tivessem juntos, e também transferia o que recebeu em testamento para Samuel. Essa segunda parte era a que mais a emocionava, mostrava que ele de fato se importava com o menino que até pouco tempo desejava se livrar.— Sim, e não apenas por você, também é pelo Samuel, pela família que estamos construindo. — Segurando a mão dela, a levou de volta ao sofá, para sentarem. — Sou seu marido, você é minha esposa e Samuel é nosso filho agora — indicou com ternura. — Não quero que nada, muito menos dinheiro, se interponha entre nós. Eu quero estar ao lado de vocês, sem segredos, sem mentiras,
Ao chegarem ao quarto, Diego depositou Penélope gentilmente no colchão macio. — Aqui estamos, meu amor! — sussurrou admirando as íris avelã. — Eu amo o seu cabelo. — Seus dedos se moveram pelos fios sedosos, deslizando até a nuca para atrai-la para mais perto. — Amo seu rosto, sua boca e o seu corpo inteiro. Amei desde o primeiro instante em que a vi e com um desejo tão poderoso que vai além da minha compreensão. Seus lábios encontraram os dela cheios de desejo, a língua movendo-se sensual, fazendo-a estremecer de excitação. Agarrando-se aos ombros largos e deixando-se dominar pela paixão dele, Penélope sentia a região mais íntima de seu corpo pulsar de desejo. Seus mamilos sensíveis e enrijecidos pressionavam o tecido rendado do sutiã. — Você é perfeita! — Diego murmurou deslizando beijos suaves pelo pescoço delicado. — É a minha tentação, Pen — complementou pressionando o corpo contra o dela, fazendo-a sentir a excitação do membro rígido, quente e ávido por baixo da calça. — E vo
Os olhos castanho-escuros que tanto amava brilhavam incandescentes, não de paixão, como se habituara, e sim de ódio. Seu grande amor, Diego Freitas, a desprezava e não tinha a menor intenção de esconder esse fato.O desejo flamejante de retaliação presente nos olhos do homem que amava - que durante dias dissera amá-la -, aumentou seu medo e insegurança. Instintivamente apertou o bebê de dois meses contra si, vergonhosamente utilizando-o como uma barreira entre eles.Samuel remexeu-se em seu colo e choramingou. O olhar furioso de Diego foi atraído para o bebê por um instante, retornando fulminante para ela. Os lábios, que por tantas vezes tomaram os seus com paixão, comprimiram em uma linha fina, o desgosto transformando a face bonita em uma máscara de rejeição e asco. Ele apagara as promessas de amor que fizeram, fechara o coração para ela e reservara ao pequeno Samuel um buraco de rancor.Não mereciam essa atitude, não tinham feito nada, eram as vítimas.— Diego, não tenho culpa... —
Pela enésima vez, Penélope Teixeira verificou sua imagem no grande espelho do salão principal da mansão Freitas. Apesar de o cabelo estar perfeitamente penteado e cortado na altura dos ombros, deslizou os dedos pelos fios marrons ajeitando-o. A maquiagem leve e o blush não conseguiam disfarçar sua palidez, nem o receio refletido em seus olhos cor de avelã.Não queria transparecer o quanto o retorno do filho de Roberto Freitas a abalava, no entanto, a cada segundo, a cada tique-taque do enorme relógio próximo à porta de madeira maciça, suas mãos suavam. A expectativa e o medo lhe causavam náuseas.Oito anos. Não via e nem falava com Diego há oito anos, mas parecia que se passara somente uma semana. O olhar furioso e ressentido de Diego a assombrava em muitos de seus pesadelos. O pior é que não era só as lembranças ruins daquele encontro que a preocupava...O celular em seu bolso a despertou do redemoinho de lembranças sugando-a, transportando-a para um tempo que era melhor esquecer.—
— É, e nós temos passe livre — informou Ana mostrando três cartões verdes com o logo da boate e a palavra VIP em destaque. — Relaxe e curta essa noite. A primeira de muitas. — prometeu com um sorriso brilhante, voltando-se para plantar um beijo estalado na boca do namorado.Despedindo-se de Pedro, Ana tomou a frente das amigas e as levou até a área VIP da festa, mostrando os crachás que recebera do namorado. Tinha a sorte do namorado conseguir a vaga para dividir com outro DJ a mesa de mixagem da boate, posicionada acima do lugar em que estavam. Assim que ele ocupou o lugar do outro rapaz, Ana gritou seu nome e balançou os braços no ar para chamar sua atenção. Se ele notou a festa da namorada, não demonstrou.Voltaram à atenção para as pessoas dançando na pista, a maioria nenhuma delas conhecia, em parte por serem meras estudantes, e também pelo mais óbvio: Só pessoas com muita grana ou influência podia entrar no Artêmis. Faziam parte da classe trabalhadora, não pertenciam aquele mund
O estranho só afastou seu toque flamejante quando se acomodaram em volta de uma mesa escolhida por Ana.O alívio durou pouco. No lugar havia um sofá em forma de U de seis lugares e uma mesa de vidro, enorme o suficiente para Penélope manter distância do atraente homem, mas Ana fez com que se senta-se ao lado dele. Estavam tão próximos que seu braço nu roçava o dele causando uma sensação gostosa que, ao mesmo tempo, a confundia. Era como se uma força invisível a atraísse para ele, envolvendo-a em um calor aconchegante, acelerando seus batimentos e fazendo-a desejar se aninhar a ele.— Oh, que cabeça a minha! Nem me apresentei. — Ana estendeu a mão com sua alegria esfuziante, sem vergonha alguma em dizer o sobrenome falso que estampava as identidades. — Sou Ana Waldorf. — O sujeito sorriu minimamente e aceitou o cumprimento, enquanto Ana terminava as apresentações. — Essas são minhas primas, Penélope e Jéssica.Penélope suava frio, com medo de ele associar o sobrenome falso ao da estrel