Os olhos castanho-escuros que tanto amava brilhavam incandescentes, não de paixão, como se habituara, e sim de ódio. Seu grande amor, Diego Freitas, a desprezava e não tinha a menor intenção de esconder esse fato.
O desejo flamejante de retaliação presente nos olhos do homem que amava - que durante dias dissera amá-la -, aumentou seu medo e insegurança. Instintivamente apertou o bebê de dois meses contra si, vergonhosamente utilizando-o como uma barreira entre eles.
Samuel remexeu-se em seu colo e choramingou. O olhar furioso de Diego foi atraído para o bebê por um instante, retornando fulminante para ela. Os lábios, que por tantas vezes tomaram os seus com paixão, comprimiram em uma linha fina, o desgosto transformando a face bonita em uma máscara de rejeição e asco. Ele apagara as promessas de amor que fizeram, fechara o coração para ela e reservara ao pequeno Samuel um buraco de rancor.
Não mereciam essa atitude, não tinham feito nada, eram as vítimas.
— Diego, não tenho culpa... — disse querendo esclarecer o que os levara a mansão Freitas, mesmo tendo muito a perder se o fizesse.
— Cale-se! — ele a interrompeu bruscamente. — Não ouvirei novas mentiras. São desnecessárias.
Diego caminhou com passos pesados até a fonte de sua raiva.
Com medo, Penélope encolheu-se e apertou Samuel ainda mais contra si.
— Eu te amei tanto. Estive disposto a abdicar do meu status e do dinheiro por você, e o que ganhei? — ele disse com a voz carregada de dor e desgosto, com ela e consigo mesmo. As úmidas íris cor de chocolate e a expressão dolorida não o apiedaram, ao contrário, aumentaram a raiva corroendo-o. — Você e esse moleque maldito destruíram a minha família, a minha vida. Odeio-te com o triplo da força que te amei. Não aguento ficar ao seu lado, te olhar ou escutar sua voz traidora, por isso vou sair dessa casa. Mas não pense que deixarei o caminho livre para você e esse bastardo tirarem o que me pertence e a minha mãe — avisou antes de erguer a mala pousada no chão e sair batendo a porta de madeira maciça.
O barulho alto fez Penélope ter um sobressalto e Samuel chorar. Para acalmá-lo, o embalou e beijou com carinho os fios escuros - iguais aos de Diego - que cobriam sua cabecinha e sussurrou para ficar calmo, que ficariam bem. Ele não parou de chorar. Sua voz alterada pelo choro não passava segurança e as lágrimas quentes que escorriam por sua face o molhavam. Queria transmitir a força que Samuel necessitava, mas não conseguia.
Diego fechara mais que uma porta física, ele selara o passado de amor e companheirismo que tiveram, encerrara o desejo de ficarem juntos para sempre. Dali em diante ela teria de esquecer esses momentos, pelo seu bem e o de Samuel.
Pela enésima vez, Penélope Teixeira verificou sua imagem no grande espelho do salão principal da mansão Freitas. Apesar de o cabelo estar perfeitamente penteado e cortado na altura dos ombros, deslizou os dedos pelos fios marrons ajeitando-o. A maquiagem leve e o blush não conseguiam disfarçar sua palidez, nem o receio refletido em seus olhos cor de avelã.Não queria transparecer o quanto o retorno do filho de Roberto Freitas a abalava, no entanto, a cada segundo, a cada tique-taque do enorme relógio próximo à porta de madeira maciça, suas mãos suavam. A expectativa e o medo lhe causavam náuseas.Oito anos. Não via e nem falava com Diego há oito anos, mas parecia que se passara somente uma semana. O olhar furioso e ressentido de Diego a assombrava em muitos de seus pesadelos. O pior é que não era só as lembranças ruins daquele encontro que a preocupava...O celular em seu bolso a despertou do redemoinho de lembranças sugando-a, transportando-a para um tempo que era melhor esquecer.—
— É, e nós temos passe livre — informou Ana mostrando três cartões verdes com o logo da boate e a palavra VIP em destaque. — Relaxe e curta essa noite. A primeira de muitas. — prometeu com um sorriso brilhante, voltando-se para plantar um beijo estalado na boca do namorado.Despedindo-se de Pedro, Ana tomou a frente das amigas e as levou até a área VIP da festa, mostrando os crachás que recebera do namorado. Tinha a sorte do namorado conseguir a vaga para dividir com outro DJ a mesa de mixagem da boate, posicionada acima do lugar em que estavam. Assim que ele ocupou o lugar do outro rapaz, Ana gritou seu nome e balançou os braços no ar para chamar sua atenção. Se ele notou a festa da namorada, não demonstrou.Voltaram à atenção para as pessoas dançando na pista, a maioria nenhuma delas conhecia, em parte por serem meras estudantes, e também pelo mais óbvio: Só pessoas com muita grana ou influência podia entrar no Artêmis. Faziam parte da classe trabalhadora, não pertenciam aquele mund
O estranho só afastou seu toque flamejante quando se acomodaram em volta de uma mesa escolhida por Ana.O alívio durou pouco. No lugar havia um sofá em forma de U de seis lugares e uma mesa de vidro, enorme o suficiente para Penélope manter distância do atraente homem, mas Ana fez com que se senta-se ao lado dele. Estavam tão próximos que seu braço nu roçava o dele causando uma sensação gostosa que, ao mesmo tempo, a confundia. Era como se uma força invisível a atraísse para ele, envolvendo-a em um calor aconchegante, acelerando seus batimentos e fazendo-a desejar se aninhar a ele.— Oh, que cabeça a minha! Nem me apresentei. — Ana estendeu a mão com sua alegria esfuziante, sem vergonha alguma em dizer o sobrenome falso que estampava as identidades. — Sou Ana Waldorf. — O sujeito sorriu minimamente e aceitou o cumprimento, enquanto Ana terminava as apresentações. — Essas são minhas primas, Penélope e Jéssica.Penélope suava frio, com medo de ele associar o sobrenome falso ao da estrel
Na ocasião os olhos escuros brilhavam de excitação, uma promessa muda de que voltariam em ser ver em breve. Naquele momento, apresentavam uma frieza e desprezo que apagaram imediatamente o sorriso amigável de boas vindas de Penélope.Ele a odiava, não havia a menor dúvida e nem esforço em ocultar esse fato.Aprumou o corpo, passando as mãos nervosamente por sua roupa, fazendo o seu melhor para que ele não percebesse o quanto o tratamento frio a afetava. Não era mais uma adolescente tola e sonhadora, era uma mulher realista e decidida, não o deixaria atingir seu coração novamente.— Que bom revê-lo, Diego — cumprimentou com educação, esperando que esse gesto o fizesse corresponder da mesma forma.Ledo engano. Ele ignorou totalmente a cortesia, fazendo questão de demonstrar isso com corpo, gesto e olhos.Contra a sua vontade e desgosto, estremeceu quando o olhar glacial percorreu seu corpo de baixo para cima, a boca retorcida de desdém.— Não posso dizer o mesmo — ele devolveu antes de
Bateu com firmeza na porta do quarto de Roberto e, após receber permissão, entrou devagar no recinto, crispando o rosto ao encontrar o ambiente na penumbra, as pesadas cortinas marrons cerradas, o ar pesado. Sem aguardar autorização, afastou as cortinas, deixando a luminosidade do fim de tarde irradiar sobre cada parte do dormitório, e abriu a porta dupla que dava passagem para uma pequena varanda.— Feche-as! — ordenou a voz severa que em outros tempos a fazia tremer de medo.— O senhor precisa de ar puro e luz — informou firme antes de sentar em uma das cadeiras acolchoadas da mesa de café próxima da cama. — Isso é um quarto, não um túmulo.— Esse é o seu ponto de vista — ele resmungou amargurado.Apesar de compadecida com a crescente fragilidade dele, Penélope ocultava seus reais sentimentos e o tratava com severidade. Roberto abominava sentimentalismos e cobrava o mesmo das pessoas ao seu redor, embora recorresse a eles desde o diagnóstico.Roberto sucumbira ao tom mórbido após a
Diego passou horas andando pela mansão, recordando em cada canto algo que o fazia sorrir ou entristecer. As conversas descontraídas, as brigas e birras com o irmão mais velho, Luiz, pareciam alojadas em seu quarto e no dele. As broncas carinhosas de sua mãe refletiam em cada objeto frágil, no corrimão de madeira e na janela com grades ao fim do corredor dos dormitórios. Sorriu ao tocar uma barra de ferro. Lembrando a época que não existia nada para impedir que pulasse por ela e quebrasse o braço na queda.Em alguns momentos amargurou o que podia ter sido e não foi. Os planos de Luiz para o futuro da fábrica, levitando pelo escritório principal. Os seus planos recepcionando-o na porta de entrada...Adiou ao máximo, mas no fim acabou parado em frente ao quarto de seu pai, sendo engolfado pelo fantasma de uma união que parecia indissolúvel. Sorrisos, lágrimas, carinhos e acusações, estavam trancados naquela quarto.Mergulhado em lembranças, moveu a cabeça devagar em direção as escadas ao
Diego nunca imaginou ter que odiar uma pessoa tão pequena, mas era isso que se cobrava ao olhar para o menino, fruto do caso extraconjugal de seu pai com a mãe de Penélope. Era uma criança, de redondos olhos inocentes, uma doçura latente em seu sorriso, no entanto, Diego não queria e nem podia simpatizar com o garoto. Por isso, no lugar de segurar a pequena mão estendida, cerrou a sua, negando-se a demonstrar qualquer sinal de que aceitava a presença do garoto em sua casa.— Diego — Roberto resmungou, encarando-o com advertência.O aviso na voz e o olhar imperioso de Roberto forçaram Diego a apertar a mão infantil. No entanto, não respondeu o cumprimento. Fazia muito não revelando que o homem que Samuel chamava de vovô, na verdade, era pai de ambos.— Senhor Freitas, Samuel precisa tomar banho e jantar — interveio Penélope levantando. Não suportava quando alguém destratava Samuel na sua frente. Era preferível retirar o irmão daquele quarto ao invés de socar o herdeiro do Freitas.Leve
Esse intenso desejo fez com que, após duas noites aguardando a volta de Penélope, Diego utilizou a amizade com o dono da Artêmis e o nome dado por Ana para alcançar seu propósito, conseguindo a informação de que Pedro, o novo DJ, pediu os crachás VIPs para a namorada e suas amigas. Assim que Pedro terminou o serviço na boate, Diego o abordou e pediu o telefone de Penélope. Ciente que se descobrissem a idade da jovem perderia o emprego, Pedro se negou com a desculpa de que não sabia. Persistente, Diego o convenceu a pedir para Ana ajuda-lo a encontrar Penélope. Com medo das mentiras serem descobertas, a princípio, Penélope se negou a encontrar Diego. Só que Ana choramingou tanto em seu ouvido que o namorado perderia o emprego, que terminou por aceitar. Não se perdoaria se um inocente se prejudicasse por sua causa. Seu ponto fraco era a consciência. No dia combinado, empapou o rosto de maquiagem, para parecer mais velha. O humor piorando a cada pincelada de sombra, blush e produtos q