Do que tem medo?

Esse intenso desejo fez com que, após duas noites aguardando a volta de Penélope, Diego utilizou a amizade com o dono da Artêmis e o nome dado por Ana para alcançar seu propósito, conseguindo a informação de que Pedro, o novo DJ, pediu os crachás VIPs para a namorada e suas amigas.

Assim que Pedro terminou o serviço na boate, Diego o abordou e pediu o telefone de Penélope. Ciente que se descobrissem a idade da jovem perderia o emprego, Pedro se negou com a desculpa de que não sabia. Persistente, Diego o convenceu a pedir para Ana ajuda-lo a encontrar Penélope.

Com medo das mentiras serem descobertas, a princípio, Penélope se negou a encontrar Diego. Só que Ana choramingou tanto em seu ouvido que o namorado perderia o emprego, que terminou por aceitar. Não se perdoaria se um inocente se prejudicasse por sua causa. Seu ponto fraco era a consciência.

No dia combinado, empapou o rosto de maquiagem, para parecer mais velha. O humor piorando a cada pincelada de sombra, blush e produtos que Ana lhe aplicava, que a deixaram com um visual gótico reforçado pelas roupas pretas. Logo o ódio por si mesma tornou-se maior que o medo. Se tivesse ficado em casa, em vez de bancar a adulta, jamais estaria nessa enrascada.

Foi de má vontade, sendo categórica ao combinar de encontrá-lo em uma lanchonete na zona leste da capital, um ponto estratégico de fuga ao lado da casa de Pedro. Também era um jeito de fazer o Freitas se arrepender do convite. Bairro pobre, estabelecimento decaído e uma jovem, toda de pretto, determinada a esnobar qualquer avanço.

Fácil. Pelo menos até ele aparecer lindo e sexy em uma calça jeans e camiseta branca, o cabelo desgrenhado pelo vento convidando os dedos dela a arrumá-lo. Quando os escuros se fixaram nela, Penélope teve a sensação de ser capturada pelo magnetismo dele.

Engolindo em seco, cruzou os braços em frente ao corpo. Resistiria bravamente aquele dia, mesmo que uma parte de si pulasse de vontade de se jogar nos braços da oportunidade.

— Não queria vir, mas como chantageou o Pedro... — acusou quando ele sentou a sua frente.

— Não chantageei — ele negou. — Usei minha influência.

— Tem diferença? — questionou fingindo-se de irritada.

— Não. — Ele sorriu de canto. Um sorriso sedutor que, vencendo a impossibilidade, o deixou ainda mais lindo e a fez estremecer de leve. — Mas consegui o que queria... ou quase — ele acrescentou olhando-a intensamente.

— Isso — Girou um dedo no ar para indicar o lugar — é tudo que terá de mim.

— Nesse caso, aproveitarei cada segundo ao seu lado, Penélope.

Como é que ele fazia para que seu nome soasse como uma carícia? Suspirou, fascinada com a voz grave e segura. Não era o primeiro cara com quem saia, mas era o primeiro que fazia seu corpo arrepiar só de ouvir sua voz.

O brilho de contentamento no olhar dele a fez parar de babar e voltar à realidade. Empertigou o corpo e pegou o folheto com o menu da lanchonete.

— Você vai pagar — informou percorrendo com os olhos a fileira de lanches, a procura da combinação mais cara, enquanto ressaltava: — Nem queria vir.

— Já me disse.

Ergueu o olhar do papel encontrando com o dele. Era impressão ou ele se divertia em vez de se zangar?

Fizeram os pedidos. Diego só quis uma xícara de café. Penélope pediu um sanduíche duplo, x-burguer, batatas fritas e uma garrafa de refrigerante. Única forma de sair caro, embora não o suficiente, pois Diego não demonstrou preocupação com o valor, nem com o tanto de comida pedido por ela.

— Do meu bolso não sairá uma nota sequer — disse quando o garçom se afastou com o pedido.

— Estou atraído por uma sovina — ele murmurou em um falso lamento. Apoiando um cotovelo na mesa, encaixou o rosto na mão. — Deixe-me adivinhar. Escolheu esse lugar para contenção de gastos?

— Não aprova a minha escolha?

— Desaprovo fastfood — respondeu, explicando em seguida: — Comida gordurosa não me agrada.

— E mesmo assim aceitou me encontrar aqui?

— Presumi que não tinha opção. — Deu de ombros. — Na próxima vez eu escolho.

— Não haverá próxima vez.

— Veremos.

— É sempre tão confiante?

— Sempre — confirmou olhando-a profundamente. — Graças a minha confiança, mesmo não querendo, você está aqui.

Ele sorriu e o coração de Penélope bateu acelerado. Malditos hormônios que explodiam ao ganhar a atenção de um homem bonito. Tinha que controlá-los, tinha que se controlar. Ele podia ser lindo, charmoso e ter um sorriso que deixava suas pernas bambas, mas ela resistiria. No fim do dia estaria a salvo em sua casa e nunca mais cruzaria o caminho dele. Seria forte, os empregos de sua mãe e dos pais de suas amigas estavam em jogo.

— Do que tem medo? — A pergunta de Diego a pegou de surpresa. Ele a analisou por alguns segundos antes de comentar: — Desde que cheguei você me come com os olhos e me repele com as palavras.

— O quê?! Não estou comendo...

— Está. E eu estou em relação a você.

— Você é tão direto — murmurou envergonhada e, para aumentar sua vergonha, encantada pela franqueza de Diego.

— Não tenho dificuldade em admitir quando desejo alguém.

— E me deseja? — questionou em dúvida, sem acreditar, mesmo depois da persistência em encontra-la, que atraíra a interesse dele.

— Desde que te vi dançando no Artêmis — ele confessou com a voz rouca, os olhos se fixando desejosos nos lábios pintados de preto.

A resposta a deixou boquiaberta e desconfiada.

— Você me seguiu até o balcão?!

Ele negou.

— Estava no balcão o tempo todo, observando meu amigo e suas primas dançando, quando a vi. — Diego esticou a mão e tocou a face de Penélope. — Não consigo te tirar da minha cabeça — confidenciou com o olhar ardente fixo no dela.

Nem a chegada do lanche enorme tirou Penélope do encantamento dos olhos escuros.

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