Sozinho após a partida de Enrique, Diego pegou uma garrafa de conhaque no barzinho e subiu as escadas, no entanto, no lugar de ir para seu quarto, foi na direção contrária. Andou devagar até o dormitório que o falecido irmão dividia com a esposa.Ao entrar surpreende-se ao encontra-lo do mesmo jeito de anos atrás. Móveis e jogo de cama perfeitamente limpos e arrumados, como se o cômodo não estivesse abandonado e a qualquer instante Luiz e a mulher fossem ocupa-lo.Viu um retrato de sua família sobre a estante e o pegou. Sentou no chão, ao pé da cama, destampou a garrafa e bebeu direto do gargalo. Com a garganta ardendo observou a fotografia. Seus pais lado a lado, ele e Luiz em cada ponta. A família que os Teixeira destruiu.Seu olhar recaiu sobre a imagem séria de Luiz, a saudade abatendo-o e o fazendo dar outro longo gole. Se Luiz estivesse vivo o ajudaria a expulsar os Teixeira e acabar com a ideia de casamento.Casar com Penélope...Seu pai estava maluco, só isso explicava o pedid
— Eu... Muito diferente do que Diego imaginou, Penélope ficou pálida e com os olhos arregalados. Tranquilizou-se ao supor ser a surpresa. — Diga sim e me faça o homem mais feliz do mundo. — Sorriu sedutor. — Sou um grande partido. — Eu... preciso pensar... — Pensar?! Em sua confusão Diego afrouxou o abraço e Penélope fugiu de seus braços. — Também te amo Diego. Muito. Mas tudo está rápido demais. Preciso de um tempo — justificou apressadamente vestindo o short que resgatou de perto do guarda-roupa. — Podemos esperar que se forme antes de casarmos — ofereceu, acreditando que o empecilho fosse o curso da namorada. — Podemos falar disso depois? — pediu sem olha-lo. Ela se concentrou em se arrumar, ignorando o silêncio pesado envolvendo ambos. ~*~ Horas depois de deixar a namorada na frente da pensão decadente que Penélope preferia em vez de seu loft, Diego remoía o ocorrido. Sua concentração era nula e remexia-se na cadeira, aborrecido tanto com o atraso de seu pai quanto pela
A lembrança da última vez que falou com o irmão fez Diego tomar um novo gole. Luiz tentou alerta-lo, mas ele - cego de amor - ignorou. Se soubesse o que aconteceria com o irmão, teria acreditado nele e o procurado após a reunião daquele dia em vez de esperar que Luiz o procurasse. Teria ido à fábrica confrontar Paloma e Penélope. Mas, imbecil que foi, planejou casar com a jovem de sorriso inocente, só para dias depois ver seu castelo de fantasias ruir. Sempre lamentaria que, enquanto fazia papel de bobo apaixonado, Penélope e sua mãe tramavam contra sua família. Jogou a garrafa longe, amaldiçoando o dia em que conheceu Penélope e prometendo transformar a vida dela em um inferno. Observando os cacos de vidro no chão e o líquido que restava na garrafa escorrer pela parede, ergueu-se apoiando as mãos no colchão. Bambeou para fora e caminhou para o próprio quarto. No meio do caminho viu Penélope sair do quarto de Samuel. A raiva, aliada ao álcool, o fez segui-la e entrar no aposento del
Trancada em seu quarto, Penélope afundou o rosto no travesseiro e gritou de frustração e medo. Uma combinação perigosa que a deixava a beira das lágrimas.Passou a pior noite de sua vida, revivendo o beijo de Diego, pensando no que deveria ter feito e não fez, nas palavras que não disse. Pouco antes de o sono vencê-la, concluiu que a recaída foi culpa da decepção com Lucas. Prometeu ser forte e evitar velhos sentimentos, no entanto, assim que o despertador do celular a acordou, as lembranças do dia anterior voltaram a atingi-la.Sua angústia não era por causa da briga com Lucas e nem por causa do beijo, embora deveria ser. Era antiga e profunda. Anos atrás tinha uma vida tranquila e repleta de sonhos apaixonados. Perdeu tudo em questão de meses. Primeiro o grande amor de sua vida, o homem que a pediu em casamento, virou as costas as suas súplicas. Depois abandonou a estabilidade do lar ao fugir com a mãe para outra cidade, e a viu definhar por amor e morrer. Por fim, desiludida e com
O bom de ser criança é que as mágoas não duram mais do que algumas horas. Penélope concluiu ao levar Samuel para a escola, ouvindo-o tagarelar sobre os seus planos para aquele dia, sem o menor sinal da irritação do dia anterior. Seu irmão era fácil de lidar quando não estava sobre a influência de Roberto. Quando estivessem longe do patriarca Freitas, lidaria com o humor de Samuel de modo a não evoluir para o egocentrismo típico dos Freitas. Despediu-se do irmão no portão da escola e seguiu para a cafeteria para encontrar as amigas. O delicioso aroma de café e pão fresco a atingiu ao adentrar o local. Sendo um estabelecimento pequeno, com cinco mesas circulares cobertas por toalhas brancas, além de quatro banquetas junto ao balcão, foi fácil encontrá-las. Ocupando uma das mesas próxima ao balcão, Ana tomava o habitual suco natural de laranja observando Jéssica em pé e Enrique, sentado na mesma mesa que ela, com um sorriso malicioso. Como esperado, Jéssica tinha as bochechas coradas, u
Com Enrique ao seu lado a receptividade dos funcionários foi maior que no dia anterior. Eles respondiam a tudo que perguntava, embora os olhos sempre procurassem a aprovação de Enrique antes de fazê-lo. Os anos longe o tornou um estranho para aquelas pessoas.Foi apresentado a Ulisses, o diretor de produção e, com o auxílio dele, examinou o setor, e todas as melhorias aplicadas por Penélope.Durante anos, seu irmão discutiu com o pai para modernizar a fábrica, trocar o maquinário e aumentar a segurança para os funcionários. Na época Roberto considerou desperdício de dinheiro. Penélope não só o convenceu a implantar mudanças, como o fez aprovar a construção de uma creche, para os filhos abaixo de sete anos dos funcionários, e uma enfermaria para emergências, pois o hospital mais próximo ficava a meia hora de carro. Era compreensível a popularidade de Penélope.Ulisses os deixou quando seguiram para o departamento financeiro, conduzido pela prima de Enrique, Fiona Mendez.A jovem mulher,
Estressado com a petulância de Penélope, Diego retornou para casa a fim de planejar os próximos passos. O conselho se reunia semestralmente, em breve reivindicaria a presidência, enquanto isso visitaria a fábrica todo dia e avaliaria de perto o trabalho de Penélope, cada mínimo movimento. Ultrapassando os portões da mansão, dirigindo para a garagem lateral, diminuiu a velocidade ao reparar em um furgão branco estacionado no pátio. Parou seu sedan prata em sua vaga, desceu e marchou para a porta que conectava a garagem a residência. Chegando ao salão principal, viu quatro homens descerem a escada carregando equipamentos de filmagem. Um deles, que carregava uma pesada filmadora, o encarou por um longo tempo com uma expressão estranha no rosto. — O que significa tudo isso? — perguntou para Carla, que acompanhava a equipe em direção à saída. — Coisas do seu pai — ela respondeu desinteressada. Em anos servindo os Freitas aprendeu a manter silêncio. Fofocar não lhe garantiria uma aposenta
Penélope foi a primeira sair da surpresa que a exigência de Diego causou, embora não conseguiu verbalizar algo mais eloquente que um sufocado: — Enlouqueceu Diego? — Não, querida, você que enlouqueceu se pensa que aceitarei que tenha um amante — ele revidou com dureza. Desnorteada, Penélope massageou as pálpebras fechadas com os dedos, depois deslizou as mãos pelo rosto para clarear a mente, verificar se não estava em um pesadelo. — Penélope, o que ele quis dizer com vocês estarem noivos? — Lucas cobrou, dando a Penélope a certeza que não era um pesadelo. Havia a opção de estar presa em uma alucinação causada pelo cansaço, se consolou sem saber como responder à pergunta de Lucas. Nem foi preciso, para seu alívio, ou aumento de desespero, Diego tomou a frente. — Tivemos um relacionamento no passado e agora, com meu retorno, decidimos continuar de onde paramos — ele explicou causando um engasgo em Penélope. — Penélope o que significa isso? Do que ele está falando? Penélope até ab