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Estressado com a petulância de Penélope, Diego retornou para casa a fim de planejar os próximos passos. O conselho se reunia semestralmente, em breve reivindicaria a presidência, enquanto isso visitaria a fábrica todo dia e avaliaria de perto o trabalho de Penélope, cada mínimo movimento. Ultrapassando os portões da mansão, dirigindo para a garagem lateral, diminuiu a velocidade ao reparar em um furgão branco estacionado no pátio. Parou seu sedan prata em sua vaga, desceu e marchou para a porta que conectava a garagem a residência. Chegando ao salão principal, viu quatro homens descerem a escada carregando equipamentos de filmagem. Um deles, que carregava uma pesada filmadora, o encarou por um longo tempo com uma expressão estranha no rosto. — O que significa tudo isso? — perguntou para Carla, que acompanhava a equipe em direção à saída. — Coisas do seu pai — ela respondeu desinteressada. Em anos servindo os Freitas aprendeu a manter silêncio. Fofocar não lhe garantiria uma aposenta
Penélope foi a primeira sair da surpresa que a exigência de Diego causou, embora não conseguiu verbalizar algo mais eloquente que um sufocado: — Enlouqueceu Diego? — Não, querida, você que enlouqueceu se pensa que aceitarei que tenha um amante — ele revidou com dureza. Desnorteada, Penélope massageou as pálpebras fechadas com os dedos, depois deslizou as mãos pelo rosto para clarear a mente, verificar se não estava em um pesadelo. — Penélope, o que ele quis dizer com vocês estarem noivos? — Lucas cobrou, dando a Penélope a certeza que não era um pesadelo. Havia a opção de estar presa em uma alucinação causada pelo cansaço, se consolou sem saber como responder à pergunta de Lucas. Nem foi preciso, para seu alívio, ou aumento de desespero, Diego tomou a frente. — Tivemos um relacionamento no passado e agora, com meu retorno, decidimos continuar de onde paramos — ele explicou causando um engasgo em Penélope. — Penélope o que significa isso? Do que ele está falando? Penélope até ab
Abandonado no escritório, Diego passou os dedos pelo cabelo frustrado e censurando-se por não controlar as palavras. Sua declaração impensada havia sido para si e não para Penélope. Um lembrete que inconvenientemente expressou em voz alta. Afundou o corpo na poltrona mais próxima, apoiando o cotovelo no braço do assento, o pulso fechando-se e batendo de leve em sua boca comprimida. Tinha de ser frio e metódico para cumprir as cláusulas do testamento de seu pai. Seus olhos recaíram no retrato da família. Ocupando quase que uma parede inteira ao lado da porta, mostrava quatro pessoas distintas: sentado à frente, estava Roberto, a austeridade captada até pela fotografia; Atrás dele, apoiando as delicadas mãos nos ombros do marido, estava Marcela com um sorriso gentil; à direita o primogênito, com seu constante ar de divertimento; à esquerda, o caçula imitando, sofrivelmente, a expressão severa do pai, em busca de agrada-lo, enquanto um riso bailava em seus lábios por algo que o irmão di
Deixando a água quente escorrer por seu corpo, retirando o sabão e despertando-a para o novo dia, Penélope lembrava-se horrorizada do ocorrido na noite anterior. O cansaço dos últimos dias era o culpado, tinha de ser! Seria mais cuidadosa em relação a Diego, determinou, mordiscando o interior do lábio inferior com nervosismo. Desligou o chuveiro e estendeu a mão para fora do box, pegando a toalha para envolver seu corpo e retornar ao quarto. Sua mente, assim como durante toda a noite e aquele começo de manhã, fixa em formas de evitar Diego, seus beijos e propostas de casamento. Naquele dia seria fácil, com todos os preparativos para a festa de aniversário de Roberto ocorrer sem contratempos, não teria tempo e nem oportunidade para sequer pensar na obsessão do patriarca Freitas e da decisão arbitraria do filho dele. Vestindo com simplicidade para auxiliar a equipe contratada, colocou calça jeans, camiseta vermelha e chinelo, prendendo o cabelo na nuca. Abriu a porta para sair quando
Ouvindo risos, Diego olhou para a janela de seu quarto no momento exato em que Penélope abraçava Samuel e o rodopiava no ar. Perguntou-se o que Penélope achou do presente que lhe enviou de manhã. Viu quando chegaram com as flores, estrategicamente solicitadas para vim junto com as da decoração. Também fez questão de incluir uma mensagem que esperava rodasse cada canto de Cezário nos próximos dias, chegando aos ouvidos de todos, incluindo Lucas. Não sabia se Lucas teria coragem de procurar Penélope após o beijo trocado na frente dele, então resolveu diminuir as chances de que o fizesse. Ainda custava a aceitar que ela seria sua esposa em breve, mesmo que por um curto espaço de tempo. A simples lembrança de que um dia a amou de todo coração, a perder a razão, o amargurava. Assim como era irônico que um dia o pai foi contra esse enlace, e agora o forçava a conquistar Penélope. Podia seduzi-la, deixa-la louca por ele, usa-la pelo tempo que a farsa do casamento durasse e então dispensa-
Os seletos convidados de Roberto enchiam o salão principal da casa, garçons serviam bebidas e canapés, esforçando-se em atender com rapidez os convidados ilustres que aguardavam ansiosos a chegada do aniversariante. Havia poucas atrações na pequena cidade, aquele era um evento social importante entre os mais ricos da cidade, dado por um dos donos da fábrica que empregava muitos dos habitantes. As músicas clássicas, escolhidas por Roberto, enchiam o ambiente e dava a oportunidade dos casais dançarem de corpo colado na área reservada à dança, improvisada em um espaço da sala de estar. Bebericando uma taça de champanhe, Penélope observava atentamente tudo ao seu redor, pronta para entrar em ação caso algo saísse do planejado. Infelizmente, Roberto não incluíra Ana a lista de convidados, então sem as amigas sentia-se deslocada em meio aquelas pessoas, muitas com as quais só tinha contato através de telefonemas de negócios. O elegante vestido verde enfatizava as curvas e revelava uma gen
A primeira vez que Roberto Freitas impôs sua vontade na vida de Penélope foi no mesmo dia em que o filho dele a pediu em casamento. Após deixar Diego sem resposta, e magoado, Penélope pegou carona na moto do namorado de Ana, retornando para Cezário a tempo de ir ao colégio. Queria tanto ter dito um sonoro “aceito” ao inesperado pedido. Vibrou eufórica ao recebê-lo, então, sufocando sua alegria, foi golpeada pelas mentiras contadas ao longo do namoro. Durante o trajeto, de quase duas horas, concluiu que era hora de contar a verdade a Diego. Explicaria seus motivos, pediria perdão pelas mentiras e torceria para o namorado não colocar um ponto final no relacionamento. Não duvidava do amor dele, porém temia sua reação às mentiras. Diego namorava Penélope Waldorf, de dezenove anos, estudante de administração em uma faculdade conceituada e cujos pais, rígidos e conservadores, tinham uma produtiva fazenda no interior de São Paulo. Imagem distante da Penélope Teixeira, uma colegial pobre d
Anestesiada. Era assim que Penélope sentia-se conforme a cumprimentavam pela futura boda. Queria gritar, negar, mandar Roberto ao inferno. Porém, seguindo os ensinamentos dados pelo próprio, manteve-se ereta e com um sorriso plastificado, aceitando passivamente as felicitações. Se rebelar custaria sua credibilidade diante dos habitantes influentes de Cezário e dos clientes da fábrica. Mostrar descontrole justo quando estava prestes a perder o emprego, e teria de encontrar outro, possivelmente, na empresa de alguém presente naquele salão, não era uma alternativa. Agradeceu mentalmente os anos com Roberto indicando que tinha de manter-se controlada, profissional e indiferente ao caos que a cercasse. Aquela era mais uma provação a ser vencida. O causador do caos em sua vida, depois de lançar a bomba, acomodou-se na cadeira de rodas e seguiu por meia hora na festa antes de se retirar como se a festa não fosse em sua homenagem. Samuel e Bruno ficaram o tempo todo ao lado dele, removendo