E ai, estrelas da minha vida, o que tão achando do livro?
A lembrança da última vez que falou com o irmão fez Diego tomar um novo gole. Luiz tentou alerta-lo, mas ele - cego de amor - ignorou. Se soubesse o que aconteceria com o irmão, teria acreditado nele e o procurado após a reunião daquele dia em vez de esperar que Luiz o procurasse. Teria ido à fábrica confrontar Paloma e Penélope. Mas, imbecil que foi, planejou casar com a jovem de sorriso inocente, só para dias depois ver seu castelo de fantasias ruir. Sempre lamentaria que, enquanto fazia papel de bobo apaixonado, Penélope e sua mãe tramavam contra sua família. Jogou a garrafa longe, amaldiçoando o dia em que conheceu Penélope e prometendo transformar a vida dela em um inferno. Observando os cacos de vidro no chão e o líquido que restava na garrafa escorrer pela parede, ergueu-se apoiando as mãos no colchão. Bambeou para fora e caminhou para o próprio quarto. No meio do caminho viu Penélope sair do quarto de Samuel. A raiva, aliada ao álcool, o fez segui-la e entrar no aposento del
Trancada em seu quarto, Penélope afundou o rosto no travesseiro e gritou de frustração e medo. Uma combinação perigosa que a deixava a beira das lágrimas.Passou a pior noite de sua vida, revivendo o beijo de Diego, pensando no que deveria ter feito e não fez, nas palavras que não disse. Pouco antes de o sono vencê-la, concluiu que a recaída foi culpa da decepção com Lucas. Prometeu ser forte e evitar velhos sentimentos, no entanto, assim que o despertador do celular a acordou, as lembranças do dia anterior voltaram a atingi-la.Sua angústia não era por causa da briga com Lucas e nem por causa do beijo, embora deveria ser. Era antiga e profunda. Anos atrás tinha uma vida tranquila e repleta de sonhos apaixonados. Perdeu tudo em questão de meses. Primeiro o grande amor de sua vida, o homem que a pediu em casamento, virou as costas as suas súplicas. Depois abandonou a estabilidade do lar ao fugir com a mãe para outra cidade, e a viu definhar por amor e morrer. Por fim, desiludida e com
O bom de ser criança é que as mágoas não duram mais do que algumas horas. Penélope concluiu ao levar Samuel para a escola, ouvindo-o tagarelar sobre os seus planos para aquele dia, sem o menor sinal da irritação do dia anterior. Seu irmão era fácil de lidar quando não estava sobre a influência de Roberto. Quando estivessem longe do patriarca Freitas, lidaria com o humor de Samuel de modo a não evoluir para o egocentrismo típico dos Freitas. Despediu-se do irmão no portão da escola e seguiu para a cafeteria para encontrar as amigas. O delicioso aroma de café e pão fresco a atingiu ao adentrar o local. Sendo um estabelecimento pequeno, com cinco mesas circulares cobertas por toalhas brancas, além de quatro banquetas junto ao balcão, foi fácil encontrá-las. Ocupando uma das mesas próxima ao balcão, Ana tomava o habitual suco natural de laranja observando Jéssica em pé e Enrique, sentado na mesma mesa que ela, com um sorriso malicioso. Como esperado, Jéssica tinha as bochechas coradas, u
Com Enrique ao seu lado a receptividade dos funcionários foi maior que no dia anterior. Eles respondiam a tudo que perguntava, embora os olhos sempre procurassem a aprovação de Enrique antes de fazê-lo. Os anos longe o tornou um estranho para aquelas pessoas.Foi apresentado a Ulisses, o diretor de produção e, com o auxílio dele, examinou o setor, e todas as melhorias aplicadas por Penélope.Durante anos, seu irmão discutiu com o pai para modernizar a fábrica, trocar o maquinário e aumentar a segurança para os funcionários. Na época Roberto considerou desperdício de dinheiro. Penélope não só o convenceu a implantar mudanças, como o fez aprovar a construção de uma creche, para os filhos abaixo de sete anos dos funcionários, e uma enfermaria para emergências, pois o hospital mais próximo ficava a meia hora de carro. Era compreensível a popularidade de Penélope.Ulisses os deixou quando seguiram para o departamento financeiro, conduzido pela prima de Enrique, Fiona Mendez.A jovem mulher,
Estressado com a petulância de Penélope, Diego retornou para casa a fim de planejar os próximos passos. O conselho se reunia semestralmente, em breve reivindicaria a presidência, enquanto isso visitaria a fábrica todo dia e avaliaria de perto o trabalho de Penélope, cada mínimo movimento. Ultrapassando os portões da mansão, dirigindo para a garagem lateral, diminuiu a velocidade ao reparar em um furgão branco estacionado no pátio. Parou seu sedan prata em sua vaga, desceu e marchou para a porta que conectava a garagem a residência. Chegando ao salão principal, viu quatro homens descerem a escada carregando equipamentos de filmagem. Um deles, que carregava uma pesada filmadora, o encarou por um longo tempo com uma expressão estranha no rosto. — O que significa tudo isso? — perguntou para Carla, que acompanhava a equipe em direção à saída. — Coisas do seu pai — ela respondeu desinteressada. Em anos servindo os Freitas aprendeu a manter silêncio. Fofocar não lhe garantiria uma aposenta
Penélope foi a primeira sair da surpresa que a exigência de Diego causou, embora não conseguiu verbalizar algo mais eloquente que um sufocado: — Enlouqueceu Diego? — Não, querida, você que enlouqueceu se pensa que aceitarei que tenha um amante — ele revidou com dureza. Desnorteada, Penélope massageou as pálpebras fechadas com os dedos, depois deslizou as mãos pelo rosto para clarear a mente, verificar se não estava em um pesadelo. — Penélope, o que ele quis dizer com vocês estarem noivos? — Lucas cobrou, dando a Penélope a certeza que não era um pesadelo. Havia a opção de estar presa em uma alucinação causada pelo cansaço, se consolou sem saber como responder à pergunta de Lucas. Nem foi preciso, para seu alívio, ou aumento de desespero, Diego tomou a frente. — Tivemos um relacionamento no passado e agora, com meu retorno, decidimos continuar de onde paramos — ele explicou causando um engasgo em Penélope. — Penélope o que significa isso? Do que ele está falando? Penélope até ab
Abandonado no escritório, Diego passou os dedos pelo cabelo frustrado e censurando-se por não controlar as palavras. Sua declaração impensada havia sido para si e não para Penélope. Um lembrete que inconvenientemente expressou em voz alta. Afundou o corpo na poltrona mais próxima, apoiando o cotovelo no braço do assento, o pulso fechando-se e batendo de leve em sua boca comprimida. Tinha de ser frio e metódico para cumprir as cláusulas do testamento de seu pai. Seus olhos recaíram no retrato da família. Ocupando quase que uma parede inteira ao lado da porta, mostrava quatro pessoas distintas: sentado à frente, estava Roberto, a austeridade captada até pela fotografia; Atrás dele, apoiando as delicadas mãos nos ombros do marido, estava Marcela com um sorriso gentil; à direita o primogênito, com seu constante ar de divertimento; à esquerda, o caçula imitando, sofrivelmente, a expressão severa do pai, em busca de agrada-lo, enquanto um riso bailava em seus lábios por algo que o irmão di
Deixando a água quente escorrer por seu corpo, retirando o sabão e despertando-a para o novo dia, Penélope lembrava-se horrorizada do ocorrido na noite anterior. O cansaço dos últimos dias era o culpado, tinha de ser! Seria mais cuidadosa em relação a Diego, determinou, mordiscando o interior do lábio inferior com nervosismo. Desligou o chuveiro e estendeu a mão para fora do box, pegando a toalha para envolver seu corpo e retornar ao quarto. Sua mente, assim como durante toda a noite e aquele começo de manhã, fixa em formas de evitar Diego, seus beijos e propostas de casamento. Naquele dia seria fácil, com todos os preparativos para a festa de aniversário de Roberto ocorrer sem contratempos, não teria tempo e nem oportunidade para sequer pensar na obsessão do patriarca Freitas e da decisão arbitraria do filho dele. Vestindo com simplicidade para auxiliar a equipe contratada, colocou calça jeans, camiseta vermelha e chinelo, prendendo o cabelo na nuca. Abriu a porta para sair quando