Diferente dos Freitas, os Mendez tinham construído a moradia na cidade, em uma parte com subida, de forma que se destacava das construções ao redor. O fato era que, enquanto Roberto prezava a privacidade, impondo distância dos populares; Leonardo Mendez, pai de Enrique, preferia se misturar à população de Cezário. Tal atitude lhe garantiu o posto de prefeito da pequena cidade.As diferenças entre os sócios também era perceptível em seus gostos. Apesar de a casa ser tão grande quanto as dos Freitas, o lar dos Mendez não era opulenta por dentro e nem fria, constatou Diego ao pisar novamente na casa do amigo.Antes de o pai manda-lo estudar fora do país, Diego passava mais tempo na casa do amigo, do que na própria, por causa daquela sensação de aconchego. Mostrando que nada mudara no lar dos Mendez, Erika, mãe de Enrique, recepcionou ambos com abraços apertados e lanches antes de deixa-los sozinhos na sala de estar.Aproveitando o lanche, mesmo após ter tomado um café da manhã fortificad
O dia de Penélope foi agitado. Reuniu-se com o encarregado das máquinas; passou horas acalmando um cliente irado com o atraso de uma entrega; e destrinchou uma pilha de documentos. Foi com alívio que encerrou o trabalho para buscar Samuel na escola.De mãos dadas com Samuel, caminhando em direção à mansão, ouvia distraída o irmão narrar tudo o que aconteceu no dia dele, enquanto imaginava quanto tempo mais teria a frente da fábrica. Agora que Diego retornara a cidade, e até visitara a fábrica, era óbvio que em breve a dispensaria. Era hora de procurar um novo emprego e uma casa. Ficar na mesma que Diego não era uma opção.Olhou para Samuel, que continuava tagarelando, e imaginou como prepará-lo para a mudança de casa e de estilo de vida. Não havia maneira de manter o padrão da mansão Freitas quando fossem somente os dois... Somente os três. Sorriu ao se corrigir.— O vovô vai ficar feliz com as minhas notas. Vamos assistir vingadores para comemorar.Os filmes de super-heróis era a pai
O coração de Penélope disparou ao ouvir o apelido na mesma entonação doce que ele utilizava quando estavam juntos. As íris cor de avelã se fixaram nas pre.tas vendo, pela primeira vez desde seu retorno, o seu Diego. Algo se remexeu em seu âmago e Penélope sentiu os olhos umedecerem sem motivo.— Vamos, Penélope! — Lucas a chamou, puxando-a para a realidade.Penélope hesitou entre ficar ou sair, entre Diego e Lucas, seu passado e seu presente. Inspirou fundo e tomou a decisão correta para seu futuro.~*~Empurrando a comida para o canto do prato, Penélope forçava-se a apreciar o jantar com o namorado, porém, enquanto seu corpo estava no elegante restaurante, seus pensamentos estavam em Diego, relembrando a decepção dele quando se negou a conversar. O instinto de proteção, adquirido duramente após anos de rejeição e desconfiança, era maior que a curiosidade.Pousou o garfo e a faca, a ironia da situação acabando de vez com sua fome. Anos atrás ela pedira para conversarem e ele não quise
Sozinho após a partida de Enrique, Diego pegou uma garrafa de conhaque no barzinho e subiu as escadas, no entanto, no lugar de ir para seu quarto, foi na direção contrária. Andou devagar até o dormitório que o falecido irmão dividia com a esposa.Ao entrar surpreende-se ao encontra-lo do mesmo jeito de anos atrás. Móveis e jogo de cama perfeitamente limpos e arrumados, como se o cômodo não estivesse abandonado e a qualquer instante Luiz e a mulher fossem ocupa-lo.Viu um retrato de sua família sobre a estante e o pegou. Sentou no chão, ao pé da cama, destampou a garrafa e bebeu direto do gargalo. Com a garganta ardendo observou a fotografia. Seus pais lado a lado, ele e Luiz em cada ponta. A família que os Teixeira destruiu.Seu olhar recaiu sobre a imagem séria de Luiz, a saudade abatendo-o e o fazendo dar outro longo gole. Se Luiz estivesse vivo o ajudaria a expulsar os Teixeira e acabar com a ideia de casamento.Casar com Penélope...Seu pai estava maluco, só isso explicava o pedid
— Eu... Muito diferente do que Diego imaginou, Penélope ficou pálida e com os olhos arregalados. Tranquilizou-se ao supor ser a surpresa. — Diga sim e me faça o homem mais feliz do mundo. — Sorriu sedutor. — Sou um grande partido. — Eu... preciso pensar... — Pensar?! Em sua confusão Diego afrouxou o abraço e Penélope fugiu de seus braços. — Também te amo Diego. Muito. Mas tudo está rápido demais. Preciso de um tempo — justificou apressadamente vestindo o short que resgatou de perto do guarda-roupa. — Podemos esperar que se forme antes de casarmos — ofereceu, acreditando que o empecilho fosse o curso da namorada. — Podemos falar disso depois? — pediu sem olha-lo. Ela se concentrou em se arrumar, ignorando o silêncio pesado envolvendo ambos. ~*~ Horas depois de deixar a namorada na frente da pensão decadente que Penélope preferia em vez de seu loft, Diego remoía o ocorrido. Sua concentração era nula e remexia-se na cadeira, aborrecido tanto com o atraso de seu pai quanto pela
A lembrança da última vez que falou com o irmão fez Diego tomar um novo gole. Luiz tentou alerta-lo, mas ele - cego de amor - ignorou. Se soubesse o que aconteceria com o irmão, teria acreditado nele e o procurado após a reunião daquele dia em vez de esperar que Luiz o procurasse. Teria ido à fábrica confrontar Paloma e Penélope. Mas, imbecil que foi, planejou casar com a jovem de sorriso inocente, só para dias depois ver seu castelo de fantasias ruir. Sempre lamentaria que, enquanto fazia papel de bobo apaixonado, Penélope e sua mãe tramavam contra sua família. Jogou a garrafa longe, amaldiçoando o dia em que conheceu Penélope e prometendo transformar a vida dela em um inferno. Observando os cacos de vidro no chão e o líquido que restava na garrafa escorrer pela parede, ergueu-se apoiando as mãos no colchão. Bambeou para fora e caminhou para o próprio quarto. No meio do caminho viu Penélope sair do quarto de Samuel. A raiva, aliada ao álcool, o fez segui-la e entrar no aposento del
Trancada em seu quarto, Penélope afundou o rosto no travesseiro e gritou de frustração e medo. Uma combinação perigosa que a deixava a beira das lágrimas.Passou a pior noite de sua vida, revivendo o beijo de Diego, pensando no que deveria ter feito e não fez, nas palavras que não disse. Pouco antes de o sono vencê-la, concluiu que a recaída foi culpa da decepção com Lucas. Prometeu ser forte e evitar velhos sentimentos, no entanto, assim que o despertador do celular a acordou, as lembranças do dia anterior voltaram a atingi-la.Sua angústia não era por causa da briga com Lucas e nem por causa do beijo, embora deveria ser. Era antiga e profunda. Anos atrás tinha uma vida tranquila e repleta de sonhos apaixonados. Perdeu tudo em questão de meses. Primeiro o grande amor de sua vida, o homem que a pediu em casamento, virou as costas as suas súplicas. Depois abandonou a estabilidade do lar ao fugir com a mãe para outra cidade, e a viu definhar por amor e morrer. Por fim, desiludida e com
O bom de ser criança é que as mágoas não duram mais do que algumas horas. Penélope concluiu ao levar Samuel para a escola, ouvindo-o tagarelar sobre os seus planos para aquele dia, sem o menor sinal da irritação do dia anterior. Seu irmão era fácil de lidar quando não estava sobre a influência de Roberto. Quando estivessem longe do patriarca Freitas, lidaria com o humor de Samuel de modo a não evoluir para o egocentrismo típico dos Freitas. Despediu-se do irmão no portão da escola e seguiu para a cafeteria para encontrar as amigas. O delicioso aroma de café e pão fresco a atingiu ao adentrar o local. Sendo um estabelecimento pequeno, com cinco mesas circulares cobertas por toalhas brancas, além de quatro banquetas junto ao balcão, foi fácil encontrá-las. Ocupando uma das mesas próxima ao balcão, Ana tomava o habitual suco natural de laranja observando Jéssica em pé e Enrique, sentado na mesma mesa que ela, com um sorriso malicioso. Como esperado, Jéssica tinha as bochechas coradas, u