Cheguei em casa completamente cansada, para o meu alívio Maria Fernanda estava dormindo, me senti até culpada por esse pensamento, mas eu estava cansada demais e minha filha é muito elétrica. Me joguei na cama completamente cansada.
— An, o que houve? Por que está com essa cara?
Joyce perguntou e contei a ela sobre o meu dia cansativo e estressante, ela ouviu tudo atentamente e depois riu.
— Que loucura! Você anda vendo muitos olhos verdes ultimamente.
— De tudo que eu te contei, você só ouviu isso? – Perguntei a ela que deu de ombros. — Tem a parte da trombada com o gostosão também. Você não tirou nenhuma casquinha?
Encarei minha amiga por um momento e balancei a cabeça em negativa, me levantei, tomei banho e voltei para sala, Joyce estava retirando um prato de macarrão do microondas e disse que estava esquentado para mim, agradeci a ela e comecei a comer.
— Come devagar para não engasgar. – Minha amiga pediu.
— Estou faminta, eu tinha tanta tarefa para realizar que não consegui comer. Você acredita que o meu novo chefe me acusou de tentar matá-lo? E me fez separar as cores das guloseimas?
Joyce balançou a cabeça em negativa e depois gargalhou e perguntei o motivo.
— Você tem que fazer isso em casa e agora no trabalho também?
— Nem me fale Joy, estou cansada e estressada. Ele tem problemas com derivados do leite e ficou puto porque encomendei ensopado de peixe com leite de coco, como eu iria saber que ele tem esse problema se eu não o conheço e se o próprio não me contou.
— Nossa, An! Já vi que esse seu novo chefe é um pé no saco.
— Estou me preparando mentalmente, para estar ao seu lado amanhã, teremos cinco reuniões e uma delas é em um restaurante, saudades do senhor Diogo.
— É minha amiga, você lembra do livro do Garotinho que a gente leu no orfanato?
— Qual? Virou o carro mudou a minha vida? – Perguntei a ela confusa.
— Se aplica a você gata, termina de comer e vá descansar deixa que eu lavo a louça, ah! Antes que eu me esqueça, consegui o emprego como garçonete, como vamos fazer com a MaFê? Vou poder buscá-la, mas não vou poder ficar com ela e a dona Jura se mudou, o que você iremos fazer?
Respirei fundo e disse a ela que amanhã resolveria essa questão. O que vou fazer agora? Quer saber como eu disse amanhã eu penso nisso, minha cabeça está muito cheia e preciso descansar. Na manhã seguinte acordei atrasada, droga! Nunca me atrasei e logo com esse novo chefe isso veio acontecer.
Acordei Maria Fernanda e ajudei a se arrumar, dei apenas café a ela e pedi que fosse rápida, peguei nossas coisas e levei para o carro, voltei para dentro e peguei minha filha. Chegando na escola a entreguei no portão e voltei correndo para o carro.
Ao chegar na empresa Berenice, me avisou que Jhonathan já havia chegado, merda! Agora que ele vai reclamar mesmo. Bati na porta e recebi permissão para entrar.
— Bom dia, senhor!
— Pra você é boa tarde! Quase meia hora de atraso. – Disse, olhando para o relógio.
— Desculpe, senhor! Não irá se repetir. – Ele olhou para mim e não respondeu, apenas me mandou me preparar para sairmos.
O acompanhei nas reuniões e quando estávamos partindo para a terceira, meu estômago roncou e Jhonathan olhou para mim enquanto eu estava envergonhada.
— Não tomou café? – Ele perguntou e neguei — vem, ainda temos tempo.
Ele falou algo para o motorista e não demorou muito paramos em frente a uma cafeteria.
— Vamos alimentar você? – senti um formigamento estranho quando ele disse isso, mas logo balancei a cabeça, deve ser apenas o jeito americano de dizer.
Confesso que quando senti o cheirinho de café, entrei rapidamente, fiz o meu pedido e Jhonathan pegou o cardápio e fez o dele. Depois de alimentados voltamos para o carro e partimos para a próxima reunião.
Chegamos ao local da próxima reunião e eu entreguei a pasta a Jhonathan, ficando ao seu lado enquanto nos encaminhávamos para a sala de reuniões. Assim que entramos, pude sentir o olhar curioso dos presentes sobre nós.
Quando o senhor Ricardo, um dos parceiros comerciais, entrou na sala, ele me cumprimentou com um sorriso cordial.
— Anthonella, como vai? — Ele disse, estendendo a mão.
— Estou bem, obrigada, senhor Ricardo. — Respondi, retribuindo o aperto de mão.
Então, aproveitei o momento para apresentar meu novo chefe.
— Senhor Ricardo, gostaria de lhe apresentar Jhonathan Lancaster, nosso novo diretor executivo.
— Então, o que está achando do Brasil, senhor Lancaster? – Senhor Ricardo perguntou.
— Meu avô é brasileiro, então conheço bem a cultura. – Ele disse em seu português com forte sotaque inglês.
Rodrigo, o assistente do senhor Ricardo entrou e deram início a reunião, eu tomava notas das coisas importantes, e quando a reunião foi encerrada e nos despedimos.
— Anthonella, por favor, desmarque as últimas duas reuniões e vamos voltar para a empresa.
— Como quiser, senhor.
Ao chegarmos na empresa fiz o que ele me pediu, encomendei a sua comida com cautela depois me juntei a Berenice que quando viu o meu semblante perguntou se eu estava cansada e disse que sim.
— Ele é durão, né? – Berenice perguntou e afirmei.
— Mas não é dos piores viu, eu tive um chefe que era horrível, você não faz ideia do que eu passava nas mãos dele, principalmente quando estava grávida.
— Ainda bem que saiu daquele trabalho.
— Nem me fale Bere.
Nós duas rimos animadas, o almoço de Jhonathan chegou e depois de conferir levei para ele.
— Pode deixar aqui, por favor. – Ele pediu.
Deixei o almoço onde ele me pediu e saí em seguida. Berenice me mandou almoçar, mas eu disse a ela que deveria ir primeiro e que eu ficaria a postos.
— Tem certeza, Anthonella? – Berenice me perguntou pela segunda vez.
— Tenho sim, pode ir. Você toma medicações, então precisa se alimentar bem e não se preocupe em demorar, eu posso esperar. – Ela sorriu para mim, agradecendo.
Estava de cabeça baixa fazendo algumas anotações para não esquecer, quando alguém se aproximou de mim.
— Quero falar com Jhonathan Lancaster. – Levantei a cabeça e vi uma mulher linda.
— Quem deseja? – Perguntei a mulher que me encarou com cara de poucos amigos.
— Avise a ele que é Camila Olivas.
Enquanto eu ligava para o meu chefe, a mulher batia as unhas perfeitas impacientemente.
— Que demora é essa? Você é muito incompetente – sua voz era anasalada e irritante. — Desculpe, senhora. Ele não está atendendo. – Ela franziu o cenho e me encarou. — Então porque ainda está pregada na cadeira? Se levante e vá falar com ele, agora! Diga que estou aqui. Ela voltou a bater as unhas na mesa impaciente, me levantei e bati na porta do meu chefe. — O que foi agora? – Ele perguntou sem olhar para mim. — Desculpe, senhor. Tem uma moça aí fora querendo falar com o senhor, o nome dela é Camila Olivas. Sua feição se transformou e ele soltou um longo suspiro e depois olhou para mim e me pediu para chamá-la, avisei a ela que meu chefe iria atendê-la, a mulher sorriu de orelha a orelha e eu reprimi a vontade de revirar os olhos, assim que ela passou eu estava para fechar a porta e ela me chamou novamente. — Pois não. A senhorita deseja alguma coisa? — Que faça o seu trabalho direito, leve essa bandeja embora agora. – Que mulher irritante. “Calma, An, pessoas assim você encon
Jhonathan Lancaster Nova York, 2018. Estava em minha sala repleto de papéis quando interfonaram da sala do meu pai e me avisaram que ele queria falar comigo. Organizei a minha mesa e fui até ele. — Oi pai, quer falar comigo? – perguntei a ele, que me mandou sentar. — Filho, mês que vem preciso que você vá para o Rio de Janeiro. – Olhei para ele e perguntei por que eu. — Porque você tem mais tato com as pessoas do que os seus irmãos, além de falar bem o português. — Tudo bem, pai. – Respondi apenas e ele sorriu satisfeito. Janeiro chegou e eu estava pronto para ir ao Brasil. Meu pai disse que precisava de conexões com empresas brasileiras e estava me mandando para a conferência. Chegando ao Brasil, cumpri os compromissos que meu pai havia me mandado, e como ia embora no dia seguinte, um amigo que havia feito me chamou para o bar. Estávamos bebendo quando vi uma mulher entrar no bar, ela estava sozinha e triste, sentou, pediu uma bebida e tomou em um único gole e depois pedi
Anthonella Fagundes Estava acertando a agenda pessoal de Jhonathan quando alguém se aproximou da minha mesa. Berenice pigarreou e, quando olhei para ela, fez um gesto me mandando olhar para frente. Assim que levantei o rosto, vi um cara muito bonito que tinha aparência do meu chefe. Será ele um irmão ou parente dele?— Good Afternoon! – O homem me encarou.— Good Afternoon, would you like to speak with someone?— Yes, my brother, Jhonathan Lancaster.Ele não tem o português perfeito como irmão e acaba misturando as duas línguas. Ainda bem que a empresa nos deu um curso de inglês. Levei-o até a sala do meu chefe e, enquanto caminhava, senti que estava sendo observada por ele, aquilo estava me deixando muito sem graça. Depois que deixei os dois sozinhos, voltei para minha mesa e me sentei.— Parece que você tem um admirador secreto.— Estou passando longe de homens, ainda mais no meu caso que tenho a minha filha pequena, meu tempo é totalmente dela.— Sempre tem um tempinho para o amor
A linha ficou muda por um bom tempo, e de repente, minha amiga soltou um grito esganiçado.— Porra! Para de gritar no meu ouvido. – Falei com ela enquanto massageava meu ouvido.— Você me taca uma bomba dessas e quer que eu fique como? Como descobriu?Contei a ela que ele estava com uma camiseta regata e vi o escorpião em seu braço e depois disso tudo se esclareceu.— O que você vai fazer, An?— Trabalhar e manter a MaFê mais afastada possível dele, não quero que minha filha sofra uma rejeição ou que queiram arrancá-la de mim.Uma vez eu ouvi uma frase que se aplica muito a esse momento: “O destino é mesmo um filho da puta”. Joy me falou que assim que chegamos em casa tínhamos que conversar e concordei.Trabalhei o dia todo pensativa, deixei algumas papeladas caírem no chão, Jhonathan me encarou quando me viu juntando os documentos.Berenice me ajudou a separar os documentos e me grampeou.— Anthonella, o que está acontecendo com você, mulher? Está mais dispersa do que antes.— Minha
Río de Janeiro, 2015Estava escrevendo a redação da escola quando Joyce e Priscila se jogaram na cama me assustando. — Aí, suas doidas! Vocês me assustaram. – Reclamei com elas. — E o que a senhorita está fazendo de tão importante que estava concentrada? – Priscila tomou o caderno da minha mão e começou a ler. — Que merda é essa que você está escrevendo? Expliquei a elas que era a minha redação da escola e Pri riu de mim me deixando confusa. — Você acha mesmo que antes dos trinta vai estar formada, e vai se casar com um cara legal, olha para onde vivemos An, somos órfãos em breve estaremos por nossa própria conta pare de sonhar amiga, teremos sorte de encontrar um cara que não nos bata. — Priscila deixa a An sonhar, não podemos ser amarguradas igual a você. – Joyce tomou a frente.— Vocês duas chatas, porque não tentam arrumar um cara rico? A gente vai sair daqui e não vamos ter saída.— Temos sim, já combinei com o Marinho e ele vai arrumar vagas pra gente no Dolore’s burguer. E
Río de Janeiro, 2023Meu despertador anunciou a chegada de um novo dia e me levantei rapidamente, fiz o que tinha que fazer e preparei o café para MaFê, fui ao quarto da minha princesa e a chamei que resmungou.— Cinco minutinhos mamãe. – Ela pede virando pro outro lado. — Nem cinco e nem três, vamos dona Maria Fernanda, ou levanta ou vou te atacar com cosquinhas. Minha filha riu e eu sabia que ela queria que eu fizesse cócegas nela, ela gargalhava animadamente e a levei ao banheiro, depois banho estava secando seu cabelo quando a vi olhar fixamente para minha barriga. — Mamãe, que ‘maca’ é essa? — Essa marca aqui? – Apontei e ela assentiu. — Foi por aqui que você saiu. – Ela olhou pra mim curiosa. — Eu que te cortei? — Não meu amor, o médico que fez esse corte pra você sair. – MaFê passou a mão pela cicatriz e depois me abraçou pedindo desculpa. — O que a mamãe sempre fala pra você? — Que eu ‘so’ a luz que ilumina. — Isso mesmo, você é o presente mais lindo que recebi do céu
Rapidamente me aproximei de Jhonathan e expliquei a ele o que estava acontecendo. Ele me ofereceu ajuda, mas recusei, dizendo que daria um jeito. No entanto, ele, como alguém que não aceita um "não" como resposta, pôs a mão em minhas costas e me guiou até o carro, pedindo que eu desse o endereço de onde estava minha filha. Durante todo o trajeto, eu balançava as pernas nervosamente, ansiosa pelo que encontraria. Assim que chegamos, agradeci e saí rapidamente do carro. Bati no portão e Verinha atendeu, com a minha filha no colo, tentando respirar. Rapidamente peguei sua bombinha e fiz os procedimentos necessários. Quando minha filha respirou normalmente, senti o alívio me tomar.— Desculpe mesmo, Anthonella. Eu não sei o que aconteceu. – Verinha parecia preocupada.— Não foi o que ela comeu, era a crise de asma. Lembra das instruções e dos medicamentos que eu deixei pra você? Como você estava nervosa, eu não consegui entender o que era. – Expliquei calmamente, tentando acalmá-la.Ela s
— An, você não vai me cumprimentar? – Priscila sorriu para mim e respirei fundo. — Anthonella não tem nada para falar com você Priscila, vamos An. – Minha amiga puxou o meu braço. — Mamãe, quem é essa moça? – Maria Fernanda perguntou e Priscila a encarou. — Quem é essa menina? – Ela perguntou. — Menininha quantos anos você tem. — Eu tenho assim “ó”. – Ela fez o sinal de quatro com os dedos. Quando minha filha disse a idade que tinha, Priscila me encarou e eu sabia o que ela estava pensando. — Antes que diga alguma coisa ela não é a filha de quem está pensando — Pela as minhas contas, ela é sim filha de Ramón, ele vai adorar isso. — Como Joyce já disse, ela não é a filha do Ramón, agora se nos der licença temos mais o que fazer. Peguei a mão da minha filha e sai de lá, tenho certeza que Priscila vai contar ao Ramón e ele vai ficar com ideias erradas. No caminho de volta para casa, o silêncio no carro era quebrado apenas pelo suave som que Maria Fernanda, que adormecera no ba