Naquela noite, o sonho com o homem dos olhos verdes atormentou meus pensamentos. Enquanto tomava o chá de camomila, me senti inquieta, tentando desesperadamente lembrar seu rosto. Mas tudo o que vinha à mente eram flashes desconexos, sem uma imagem clara.
Meus pensamentos vagaram para o passado, para um tempo em que minha vida era diferente, antes de Maria Fernanda, eu estava quase em depressão pela traição do meu ex marido e da mulher que um dia considerei minha amiga.
Decidi tentar distrair minha mente com algo, então peguei meu caderno de desenhos e comecei a rabiscar. Enquanto desenhava, deixava minha mente vagar, me perdendo nos traços e formas que criava. Era uma sensação reconfortante, quase meditativa.
Quando finalmente me senti sonolenta o suficiente, voltei para o quarto e me aconcheguei na cama. Fechei os olhos, esperando que o sono me levasse para longe daquelas incertezas.
No entanto, mesmo depois de adormecer, o rosto do homem dos olhos verdes ainda rondava meus sonhos, uma presença misteriosa e intrigante que eu não conseguia entender.
Quando finalmente acordei na manhã seguinte, estava me sentindo cansada e desorientada, como se não tivesse realmente descansado. Mas havia trabalho a ser feito, responsabilidades a cumprir, então levantei e me preparei para mais um dia.
Umas semanas havia se passado e eu estava me preparando psicologicamente para receber o meu novo chefe, a festa de despedida do senhor Diogo havia sido linda, e todos ficamos chorosos e saudosistas. Quando ele nos viu cabisbaixos, sorriu e nos pediu para nos alegrarmos dizendo que ele não estava morto, estava se aposentando apenas.
Enquanto passava pelo corredor, meu celular tocou e vi que era o nome da minha amiga e quando fui atender trombei em alguém e fui parar no chão espalhando as pastas que eu levava.
— Desculpe! Estava um pouco distraída. – Juntei as pastas e o homem me entregou uma pasta, quando os nossos olhos se encontraram, lá estava um lindo par de olhos verdes, vívidos exatamente como eu via no meu sonho. Ele ficou me encarando também e antes que aquilo ficasse ainda mais constrangedor me levantei rapidamente, me desculpei novamente e segui o meu caminho.
Ajeitei a sala para receber meu novo chefe e fiquei ao lado da dona Berenice a secretária aguardando.
Estava de cabeça baixa quando senti alguém passar por mim, ao levantar meus olhos só vi a nuca do homem entrando em sua sala.
— Menina, você viu o homem parece um armário? Ele é lindo!
— Berenice, Berenice, o que seu marido vai pensar se te ouvir falando isso? – Ela soltou uma gargalhada animada.
— Aquele velho me conhece há tantos anos que já nem liga mais. – Rimos mais uma vez e o nosso ramal tocou e ela atendeu, ouviu atentamente e depois desligou.
— O que foi? – Perguntei intrigada.
— O chefe quer falar com você, se prepare por que ele tem uma voz imponente, com um sotaque americano.
Ela suspirou e sorriu animadamente, me levantei balançando a cabeça e rindo também. Bati na porta e recebi permissão para entrar, assim que o fiz vi os belos olhos verdes novamente.
— Você é a minha assistente?
— Sim, muito prazer me chamo Anthonella – ele me encarou de uma forma estranha novamente.
Ele balançou a cabeça e olhou para mim rapidamente antes de falar comigo. Jhonathan me entregou uma lista de afazeres e disse que a enviou para mim por e-mail. Depois, me dispensou com um gesto da mão. Quando já estava saindo da sala, ele me chamou novamente. Virei-me para encará-lo, e ele pediu para que eu não me distraísse e evitasse trombar com alguém.
Revirei os olhos diante da sua observação, sentindo-me um pouco incomodada com sua maneira direta. No entanto, mantive a compostura e respondi com um simples "Entendi, senhor", antes de deixar a sala.
Ao sair, senti um misto de curiosidade e nervosismo em relação ao meu novo chefe. Seu olhar e sua voz imponente deixaram uma forte impressão em mim, e eu sabia que teria que me esforçar para impressioná-lo.
Com a lista de afazeres em mãos, voltei para minha mesa e comecei a organizar as tarefas do dia. Quando li a minha lista de afazeres, encarei a tela por alguns segundos. A lista consistia em buscar seu terno na alfaiataria, eu nem sabia que havia uma dessas no Rio de Janeiro, comprar bala de café, M&M’s e separar por cores, depois comprar jujubas e tirar as verdes, na parte de doces ele parece com a minha filha, buscar algumas pastas, o acompanhar em uma reunião, e mais algumas coisas. Sinto saudades do senhor Diogo, porque não tinha que fazer essas coisas sem sentido.
Depois de encomendar o seu almoço, avisei a Berenice que estaria saindo para cumprir a lista que meu novo chefe me encomendou. Busquei seu terno, levei para seu apartamento, comprei os doces que me pediu e comprei uns potes para separar as guloseimas, quando cheguei com as sacolas Berenice me perguntou o que era aquilo tudo e contei que era para o meu novo chefe.
— Pensei que era para a sua filha?
— Não, é para o novo chefe, mas aproveitei para comprar para a Mafê também, ela também adora essas guloseimas.
— Por falar nele, ele estava soltando fogo pelas ventas, disse que você encomendou uma porcaria de comida, e depois perguntou se você queria matá-lo.
— Oxi! O que eu fiz agora? Depois que acabar aqui vou na sala dele procurar saber o que eu fiz.
Depois que separei todos os doces, peguei os potes e levei para a sala de Jhonathan. Quando recebi a permissão para entrar, arrumei os doces em seus devidos lugares e assim que terminei, virei para ele que me encarava de cara feia.
— Eu te fiz alguma coisa para você tentar me matar? – Olhei para ele confusa.
— Não entendi o que eu fiz de errado?
Jhonathan me encarava com uma expressão séria, seus olhos verdes pareciam penetrar fundo em minha alma. Senti um calafrio percorrer minha espinha quando ele finalmente quebrou o silêncio.
— Você não sabia que eu tenho alergia severa a derivados do leite? – Sua voz soou firme e direta.
Fiquei momentaneamente atordoada com a pergunta, tentando processar a informação. Não tinha recebido nenhum aviso sobre essa alergia.
— Não, senhor, eu não recebi esse aviso. – Respondi, tentando manter a calma diante da sua intensidade.
Ele soltou um suspiro frustrado e balançou a cabeça.
— Dessa vez você se safou, mas não deixe isso acontecer de novo. – Sua voz era dura e autoritária.
Me senti aliviada por não ter cometido um erro grave, mas também um pouco desconfortável com a maneira como ele me repreendeu. Assenti rapidamente e me retirei da sala, deixando-o para trás com sua expressão séria e imponente.
Enquanto caminhava de volta para minha mesa, respirei fundo e me concentrei em seguir para a próxima tarefa.
Cheguei em casa completamente cansada, para o meu alívio Maria Fernanda estava dormindo, me senti até culpada por esse pensamento, mas eu estava cansada demais e minha filha é muito elétrica. Me joguei na cama completamente cansada. — An, o que houve? Por que está com essa cara? Joyce perguntou e contei a ela sobre o meu dia cansativo e estressante, ela ouviu tudo atentamente e depois riu. — Que loucura! Você anda vendo muitos olhos verdes ultimamente. — De tudo que eu te contei, você só ouviu isso? – Perguntei a ela que deu de ombros. — Tem a parte da trombada com o gostosão também. Você não tirou nenhuma casquinha? Encarei minha amiga por um momento e balancei a cabeça em negativa, me levantei, tomei banho e voltei para sala, Joyce estava retirando um prato de macarrão do microondas e disse que estava esquentado para mim, agradeci a ela e comecei a comer. — Come devagar para não engasgar. – Minha amiga pediu. — Estou faminta, eu tinha tanta tarefa para realizar que não conseg
— Que demora é essa? Você é muito incompetente – sua voz era anasalada e irritante. — Desculpe, senhora. Ele não está atendendo. – Ela franziu o cenho e me encarou. — Então porque ainda está pregada na cadeira? Se levante e vá falar com ele, agora! Diga que estou aqui. Ela voltou a bater as unhas na mesa impaciente, me levantei e bati na porta do meu chefe. — O que foi agora? – Ele perguntou sem olhar para mim. — Desculpe, senhor. Tem uma moça aí fora querendo falar com o senhor, o nome dela é Camila Olivas. Sua feição se transformou e ele soltou um longo suspiro e depois olhou para mim e me pediu para chamá-la, avisei a ela que meu chefe iria atendê-la, a mulher sorriu de orelha a orelha e eu reprimi a vontade de revirar os olhos, assim que ela passou eu estava para fechar a porta e ela me chamou novamente. — Pois não. A senhorita deseja alguma coisa? — Que faça o seu trabalho direito, leve essa bandeja embora agora. – Que mulher irritante. “Calma, An, pessoas assim você encon
Jhonathan Lancaster Nova York, 2018. Estava em minha sala repleto de papéis quando interfonaram da sala do meu pai e me avisaram que ele queria falar comigo. Organizei a minha mesa e fui até ele. — Oi pai, quer falar comigo? – perguntei a ele, que me mandou sentar. — Filho, mês que vem preciso que você vá para o Rio de Janeiro. – Olhei para ele e perguntei por que eu. — Porque você tem mais tato com as pessoas do que os seus irmãos, além de falar bem o português. — Tudo bem, pai. – Respondi apenas e ele sorriu satisfeito. Janeiro chegou e eu estava pronto para ir ao Brasil. Meu pai disse que precisava de conexões com empresas brasileiras e estava me mandando para a conferência. Chegando ao Brasil, cumpri os compromissos que meu pai havia me mandado, e como ia embora no dia seguinte, um amigo que havia feito me chamou para o bar. Estávamos bebendo quando vi uma mulher entrar no bar, ela estava sozinha e triste, sentou, pediu uma bebida e tomou em um único gole e depois pedi
Anthonella Fagundes Estava acertando a agenda pessoal de Jhonathan quando alguém se aproximou da minha mesa. Berenice pigarreou e, quando olhei para ela, fez um gesto me mandando olhar para frente. Assim que levantei o rosto, vi um cara muito bonito que tinha aparência do meu chefe. Será ele um irmão ou parente dele?— Good Afternoon! – O homem me encarou.— Good Afternoon, would you like to speak with someone?— Yes, my brother, Jhonathan Lancaster.Ele não tem o português perfeito como irmão e acaba misturando as duas línguas. Ainda bem que a empresa nos deu um curso de inglês. Levei-o até a sala do meu chefe e, enquanto caminhava, senti que estava sendo observada por ele, aquilo estava me deixando muito sem graça. Depois que deixei os dois sozinhos, voltei para minha mesa e me sentei.— Parece que você tem um admirador secreto.— Estou passando longe de homens, ainda mais no meu caso que tenho a minha filha pequena, meu tempo é totalmente dela.— Sempre tem um tempinho para o amor
A linha ficou muda por um bom tempo, e de repente, minha amiga soltou um grito esganiçado.— Porra! Para de gritar no meu ouvido. – Falei com ela enquanto massageava meu ouvido.— Você me taca uma bomba dessas e quer que eu fique como? Como descobriu?Contei a ela que ele estava com uma camiseta regata e vi o escorpião em seu braço e depois disso tudo se esclareceu.— O que você vai fazer, An?— Trabalhar e manter a MaFê mais afastada possível dele, não quero que minha filha sofra uma rejeição ou que queiram arrancá-la de mim.Uma vez eu ouvi uma frase que se aplica muito a esse momento: “O destino é mesmo um filho da puta”. Joy me falou que assim que chegamos em casa tínhamos que conversar e concordei.Trabalhei o dia todo pensativa, deixei algumas papeladas caírem no chão, Jhonathan me encarou quando me viu juntando os documentos.Berenice me ajudou a separar os documentos e me grampeou.— Anthonella, o que está acontecendo com você, mulher? Está mais dispersa do que antes.— Minha
Río de Janeiro, 2015Estava escrevendo a redação da escola quando Joyce e Priscila se jogaram na cama me assustando. — Aí, suas doidas! Vocês me assustaram. – Reclamei com elas. — E o que a senhorita está fazendo de tão importante que estava concentrada? – Priscila tomou o caderno da minha mão e começou a ler. — Que merda é essa que você está escrevendo? Expliquei a elas que era a minha redação da escola e Pri riu de mim me deixando confusa. — Você acha mesmo que antes dos trinta vai estar formada, e vai se casar com um cara legal, olha para onde vivemos An, somos órfãos em breve estaremos por nossa própria conta pare de sonhar amiga, teremos sorte de encontrar um cara que não nos bata. — Priscila deixa a An sonhar, não podemos ser amarguradas igual a você. – Joyce tomou a frente.— Vocês duas chatas, porque não tentam arrumar um cara rico? A gente vai sair daqui e não vamos ter saída.— Temos sim, já combinei com o Marinho e ele vai arrumar vagas pra gente no Dolore’s burguer. E
Río de Janeiro, 2023Meu despertador anunciou a chegada de um novo dia e me levantei rapidamente, fiz o que tinha que fazer e preparei o café para MaFê, fui ao quarto da minha princesa e a chamei que resmungou.— Cinco minutinhos mamãe. – Ela pede virando pro outro lado. — Nem cinco e nem três, vamos dona Maria Fernanda, ou levanta ou vou te atacar com cosquinhas. Minha filha riu e eu sabia que ela queria que eu fizesse cócegas nela, ela gargalhava animadamente e a levei ao banheiro, depois banho estava secando seu cabelo quando a vi olhar fixamente para minha barriga. — Mamãe, que ‘maca’ é essa? — Essa marca aqui? – Apontei e ela assentiu. — Foi por aqui que você saiu. – Ela olhou pra mim curiosa. — Eu que te cortei? — Não meu amor, o médico que fez esse corte pra você sair. – MaFê passou a mão pela cicatriz e depois me abraçou pedindo desculpa. — O que a mamãe sempre fala pra você? — Que eu ‘so’ a luz que ilumina. — Isso mesmo, você é o presente mais lindo que recebi do céu
Rapidamente me aproximei de Jhonathan e expliquei a ele o que estava acontecendo. Ele me ofereceu ajuda, mas recusei, dizendo que daria um jeito. No entanto, ele, como alguém que não aceita um "não" como resposta, pôs a mão em minhas costas e me guiou até o carro, pedindo que eu desse o endereço de onde estava minha filha. Durante todo o trajeto, eu balançava as pernas nervosamente, ansiosa pelo que encontraria. Assim que chegamos, agradeci e saí rapidamente do carro. Bati no portão e Verinha atendeu, com a minha filha no colo, tentando respirar. Rapidamente peguei sua bombinha e fiz os procedimentos necessários. Quando minha filha respirou normalmente, senti o alívio me tomar.— Desculpe mesmo, Anthonella. Eu não sei o que aconteceu. – Verinha parecia preocupada.— Não foi o que ela comeu, era a crise de asma. Lembra das instruções e dos medicamentos que eu deixei pra você? Como você estava nervosa, eu não consegui entender o que era. – Expliquei calmamente, tentando acalmá-la.Ela s