Após mais um dia cansativo de trabalho, fui para casa completamente cansada e quando cheguei Maria Fernanda estava jogando bola na sala e quanto Joyce falava ao celular animadamente, fui até minha filha peguei sua bola e dei com ela na cabeça de Joyce que protestou.
— Aí, doida! O que foi? Não viu que estou no telefone? – Joy, alisou sua cabeça onde eu havia acabado de lhe dar na bolada.
— E você, não viu a MaFê jogando bola dentro de casa? O que eu disse para você sobre isso? Ela podia quebrar a televisão que ainda nem terminamos de pagar.
— Para de ser chata! A bichinha só estava jogando um pouquinho. Ela não quebrou nada.
Decidi que não iria me estressar com as duas, estava cansada e só queria tomar um banho e relaxar um pouco, mas aí minha filha insistiu para que eu a levasse para a praça um pouquinho e depois de ver que ela havia feito a lição de casa, chamei minha amiga para o ir junto, mas ela disse que iria sair com um cara. Minha amiga continua saindo com esses caras aleatórios, isso é outro assunto que não vou mais discutir com ela, parece que não ver noticiários.
— Mamãe, ‘vamo’ logo na pracinha. – Maria Fernanda estava animada e me fez levar a sua bola.
Chegando lá ela não encontrou crianças para brincar de bola com ela, então mesmo cansada fui brincar de bola, assim que ela se cansou compramos um sorvete e sentamos um pouco para descansar.
— Mamãe, as minhas amigas tem avós, ‘po que’ não tenho?
Olhei para seus olhos verdes e respirei fundo, como explicar para uma criança de quatro anos que a mãe dela não tem mãe?
— Filha, a mamãe, cresceu em um lugar chamado orfanato, lá as crianças como eu e a dinda não tinham pais, eram as cuidadoras que cuidavam da gente.
— Vocês não tinham mãe? – Neguei a ela. — Então quem fazia café da manhã de aniversário, cuidava dos machucados e dava beijinho de boa noite.
— A mamãe não teve nada disso, então por isso que eu faço tudo por você meu amor e sempre vou fazer.
Ela olhou para mim com pesar e me deu um abraço bem apertado. Acho que ela entendeu o que eu quis dizer.
— Mamãe, e meu papai? O que aconteceu com ele?
— Hoje tirou o dia para perguntas difíceis, não é? – Fiz cócegas nela que sorriu. — Um dia a mamãe te conta sobre ele tá bom.
Ela assentiu e quando terminou o seu sorvete fomos para casa, enquanto caminhavamos ela me contava animada como havia sido o seu dia e eu ouvia tudo atentamente. Quando chegamos pedi a ela que fosse para a sala enquanto eu preparava o jantar.
Joyce se aproximou, olhou para mim e perguntou o que havia acontecido, contei a ela sobre as perguntas difíceis que Maria Fernanda havia me feito e ela sentou na mesa.
— Ela te perguntou tudo isso? – Joy, estava incrédula.
— Sim, sobre a vó dela eu não soube responder, mas sobre seu pai disse que contaria outra hora, mas quando chegar essa hora não faço ideia do que dizer.
— Inventa algo como: ter comido sementinha de abóbora, cegonha. Alguma coisa do tipo.
— Joyce, às crianças de hoje não são bobas como a gente era na idade delas.
Joyce ponderou por um momento, enquanto pegava café na garrafa.
— Você tem razão, An. Talvez seja melhor ser honesta com ela, mas de uma forma que ela possa entender.
— Tenho que pensar nisso direitinho, não quero confundi-la ainda mais. – Voltei a me concentrar nas panelas.
Terminei de preparar o jantar e chamei Maria Fernanda para a mesa. Enquanto comíamos, ela começou a contar sobre seus planos para o futuro: queria ser médica para cuidar das pessoas e dos animais e ser goleira da seleção brasileira feminina de futebol, ela se inspirava na goleira Bárbara e me fazia assistir os jogos da seleção, na verdade ela assistia qualquer jogo e por conta dela deixei de ser flamenguista e me tornei vascaína assim como ela. Sua empolgação era contagiante, e me fez sorrir.
— Você pode ser tudo o que quiser filha, estude bastante e se dedique ao máximo e assim você irá conseguir tudo que sonhar. – Minha pequena balançou a cabeça concordando.
Depois do jantar, ajudei Maria Fernanda a tomar banho e a se preparar para dormir. Enquanto ela estava deitada em sua cama, pronta para dormir, me sentei ao seu lado e acariciei seus cabelos.
— Mamãe, quando você vai me contar sobre meu pai? – Ela me olhou com expectativa. Droga! Não sabia que ela iria me perguntar sobre isso novamente.
Engoli em seco, me preparando para a conversa difícil que viria a seguir.
— Filha, sei que tem muitas perguntas sobre seu pai, e eu prometo que vou te contar tudo quando você estiver pronta para entender. Por enquanto, o mais importante é que saiba o quanto é amada e especial para mim e pra dinda também.
Ela olhou para mim com seus olhos verdes, cheios de confiança e carinho.
— Eu sei, mamãe. E você também é muito especial para mim.
Um nó se formou em minha garganta, e eu a abracei com força, fiquei fazendo carinho em sua cabecinha, até que ela fechou os olhos.
Depois que ela adormeceu, voltei para a sala, onde Joyce estava sentada no sofá, mexendo no celular.
— Como foi? Ela perguntou mais alguma coisa?
— Sim, sobre o pai dela novamente. Eu disse que vou contar quando ela estiver pronta. – Soltei o ar pesarosamente.
Joyce assentiu, colocando o celular de lado e olhando para mim.
— Você vai encontrar as palavras certas quando chegar o momento. Ela confia em você, An.
Agradeci a Joyce por suas palavras reconfortantes e me sentei ao seu lado, ao observar as suas roupas de dormir perguntei sobre o encontro que ela teria, mas ela me avisou que o cara furou.
— Amiga, vamos assistir O Diário de Uma Paixão? – Esse é o nosso filme favorito.
— Vou fazer a pipoca.
Me levantei rapidamente e fui para cozinha preparar a pipoca, coloquei no balde do filme da Barbie e nos acomodamos para assistir, como previsto, chegando ao final estávamos com os olhos vermelhos de tanto chorar, e essa foi mais uma das nossas noites.
Quando o filme acabou, me despedi de minha amiga e fui para minha cama, durante a madrugada, tive um sonho erótico com o cara forte tatuado dos olhos verdes. Como o sono resolveu me abandonar, fui para a cozinha e preparei um chazinho de camomila para tentar dormir. Porque toda vez que sonho com esse homem, não consigo me lembrar do seu rosto?
Naquela noite, o sonho com o homem dos olhos verdes atormentou meus pensamentos. Enquanto tomava o chá de camomila, me senti inquieta, tentando desesperadamente lembrar seu rosto. Mas tudo o que vinha à mente eram flashes desconexos, sem uma imagem clara.Meus pensamentos vagaram para o passado, para um tempo em que minha vida era diferente, antes de Maria Fernanda, eu estava quase em depressão pela traição do meu ex marido e da mulher que um dia considerei minha amiga. Decidi tentar distrair minha mente com algo, então peguei meu caderno de desenhos e comecei a rabiscar. Enquanto desenhava, deixava minha mente vagar, me perdendo nos traços e formas que criava. Era uma sensação reconfortante, quase meditativa.Quando finalmente me senti sonolenta o suficiente, voltei para o quarto e me aconcheguei na cama. Fechei os olhos, esperando que o sono me levasse para longe daquelas incertezas.No entanto, mesmo depois de adormecer, o rosto do homem dos olhos verdes ainda rondava meus sonhos,
Cheguei em casa completamente cansada, para o meu alívio Maria Fernanda estava dormindo, me senti até culpada por esse pensamento, mas eu estava cansada demais e minha filha é muito elétrica. Me joguei na cama completamente cansada. — An, o que houve? Por que está com essa cara? Joyce perguntou e contei a ela sobre o meu dia cansativo e estressante, ela ouviu tudo atentamente e depois riu. — Que loucura! Você anda vendo muitos olhos verdes ultimamente. — De tudo que eu te contei, você só ouviu isso? – Perguntei a ela que deu de ombros. — Tem a parte da trombada com o gostosão também. Você não tirou nenhuma casquinha? Encarei minha amiga por um momento e balancei a cabeça em negativa, me levantei, tomei banho e voltei para sala, Joyce estava retirando um prato de macarrão do microondas e disse que estava esquentado para mim, agradeci a ela e comecei a comer. — Come devagar para não engasgar. – Minha amiga pediu. — Estou faminta, eu tinha tanta tarefa para realizar que não conseg
— Que demora é essa? Você é muito incompetente – sua voz era anasalada e irritante. — Desculpe, senhora. Ele não está atendendo. – Ela franziu o cenho e me encarou. — Então porque ainda está pregada na cadeira? Se levante e vá falar com ele, agora! Diga que estou aqui. Ela voltou a bater as unhas na mesa impaciente, me levantei e bati na porta do meu chefe. — O que foi agora? – Ele perguntou sem olhar para mim. — Desculpe, senhor. Tem uma moça aí fora querendo falar com o senhor, o nome dela é Camila Olivas. Sua feição se transformou e ele soltou um longo suspiro e depois olhou para mim e me pediu para chamá-la, avisei a ela que meu chefe iria atendê-la, a mulher sorriu de orelha a orelha e eu reprimi a vontade de revirar os olhos, assim que ela passou eu estava para fechar a porta e ela me chamou novamente. — Pois não. A senhorita deseja alguma coisa? — Que faça o seu trabalho direito, leve essa bandeja embora agora. – Que mulher irritante. “Calma, An, pessoas assim você encon
Jhonathan Lancaster Nova York, 2018. Estava em minha sala repleto de papéis quando interfonaram da sala do meu pai e me avisaram que ele queria falar comigo. Organizei a minha mesa e fui até ele. — Oi pai, quer falar comigo? – perguntei a ele, que me mandou sentar. — Filho, mês que vem preciso que você vá para o Rio de Janeiro. – Olhei para ele e perguntei por que eu. — Porque você tem mais tato com as pessoas do que os seus irmãos, além de falar bem o português. — Tudo bem, pai. – Respondi apenas e ele sorriu satisfeito. Janeiro chegou e eu estava pronto para ir ao Brasil. Meu pai disse que precisava de conexões com empresas brasileiras e estava me mandando para a conferência. Chegando ao Brasil, cumpri os compromissos que meu pai havia me mandado, e como ia embora no dia seguinte, um amigo que havia feito me chamou para o bar. Estávamos bebendo quando vi uma mulher entrar no bar, ela estava sozinha e triste, sentou, pediu uma bebida e tomou em um único gole e depois pedi
Anthonella Fagundes Estava acertando a agenda pessoal de Jhonathan quando alguém se aproximou da minha mesa. Berenice pigarreou e, quando olhei para ela, fez um gesto me mandando olhar para frente. Assim que levantei o rosto, vi um cara muito bonito que tinha aparência do meu chefe. Será ele um irmão ou parente dele?— Good Afternoon! – O homem me encarou.— Good Afternoon, would you like to speak with someone?— Yes, my brother, Jhonathan Lancaster.Ele não tem o português perfeito como irmão e acaba misturando as duas línguas. Ainda bem que a empresa nos deu um curso de inglês. Levei-o até a sala do meu chefe e, enquanto caminhava, senti que estava sendo observada por ele, aquilo estava me deixando muito sem graça. Depois que deixei os dois sozinhos, voltei para minha mesa e me sentei.— Parece que você tem um admirador secreto.— Estou passando longe de homens, ainda mais no meu caso que tenho a minha filha pequena, meu tempo é totalmente dela.— Sempre tem um tempinho para o amor
A linha ficou muda por um bom tempo, e de repente, minha amiga soltou um grito esganiçado.— Porra! Para de gritar no meu ouvido. – Falei com ela enquanto massageava meu ouvido.— Você me taca uma bomba dessas e quer que eu fique como? Como descobriu?Contei a ela que ele estava com uma camiseta regata e vi o escorpião em seu braço e depois disso tudo se esclareceu.— O que você vai fazer, An?— Trabalhar e manter a MaFê mais afastada possível dele, não quero que minha filha sofra uma rejeição ou que queiram arrancá-la de mim.Uma vez eu ouvi uma frase que se aplica muito a esse momento: “O destino é mesmo um filho da puta”. Joy me falou que assim que chegamos em casa tínhamos que conversar e concordei.Trabalhei o dia todo pensativa, deixei algumas papeladas caírem no chão, Jhonathan me encarou quando me viu juntando os documentos.Berenice me ajudou a separar os documentos e me grampeou.— Anthonella, o que está acontecendo com você, mulher? Está mais dispersa do que antes.— Minha
Río de Janeiro, 2015Estava escrevendo a redação da escola quando Joyce e Priscila se jogaram na cama me assustando. — Aí, suas doidas! Vocês me assustaram. – Reclamei com elas. — E o que a senhorita está fazendo de tão importante que estava concentrada? – Priscila tomou o caderno da minha mão e começou a ler. — Que merda é essa que você está escrevendo? Expliquei a elas que era a minha redação da escola e Pri riu de mim me deixando confusa. — Você acha mesmo que antes dos trinta vai estar formada, e vai se casar com um cara legal, olha para onde vivemos An, somos órfãos em breve estaremos por nossa própria conta pare de sonhar amiga, teremos sorte de encontrar um cara que não nos bata. — Priscila deixa a An sonhar, não podemos ser amarguradas igual a você. – Joyce tomou a frente.— Vocês duas chatas, porque não tentam arrumar um cara rico? A gente vai sair daqui e não vamos ter saída.— Temos sim, já combinei com o Marinho e ele vai arrumar vagas pra gente no Dolore’s burguer. E
Río de Janeiro, 2023Meu despertador anunciou a chegada de um novo dia e me levantei rapidamente, fiz o que tinha que fazer e preparei o café para MaFê, fui ao quarto da minha princesa e a chamei que resmungou.— Cinco minutinhos mamãe. – Ela pede virando pro outro lado. — Nem cinco e nem três, vamos dona Maria Fernanda, ou levanta ou vou te atacar com cosquinhas. Minha filha riu e eu sabia que ela queria que eu fizesse cócegas nela, ela gargalhava animadamente e a levei ao banheiro, depois banho estava secando seu cabelo quando a vi olhar fixamente para minha barriga. — Mamãe, que ‘maca’ é essa? — Essa marca aqui? – Apontei e ela assentiu. — Foi por aqui que você saiu. – Ela olhou pra mim curiosa. — Eu que te cortei? — Não meu amor, o médico que fez esse corte pra você sair. – MaFê passou a mão pela cicatriz e depois me abraçou pedindo desculpa. — O que a mamãe sempre fala pra você? — Que eu ‘so’ a luz que ilumina. — Isso mesmo, você é o presente mais lindo que recebi do céu