Capítulo 02

Rio de Janeiro, 2023

Desde que me descobri grávida cinco anos se passaram, no dia 17 de Dezembro de 2018, com 3,950, nasceu a luz da minha vida, minha pequena espoletinha Maria Fernanda, apelidada por mim e Joyce de MaFê. Enquanto estava grávida dela passei por muitos percalços e só não me senti sozinha por que em todas vezes a minha amiga estava lá me dando apoio. 

— Mamãe… Mamãe… você está chorando? – Minha pequena pergunta me encarando com seus lindos olhos verdes vividos. 

— Mamãe, só estava lembrando de uma coisa especial. – Ela me olhou curiosa. — Vamos pentear esse cabelo princesa? 

Me levantei e peguei o banquinho, o pote de xuxinhas e escova. Hoje era dia de penteado maluco e sempre nesses dias, precisávamos acordar cedo para arrumar os cabelos cacheados e um pouco indomáveis que ela tem. Minha. Filha tem muitos traços meus como o nariz, o formato da boca, e parece que será de estatura baixa como eu, ah! E a cor também é parecida com a minha, mas o formato do rosto, a cor dos olhos e um pouco do temperamento explosivo tenho certeza que puxou do pai. 

Depois de fazer o penteado de galáxia que minha filha pediu, preparei o seu café e lhe entreguei. 

— ‘Brigado’, mamãe! – Ela falou sorrindo. 

— É, obrigado. – Beijei a sua testa. 

— Deixe a menina falar como quiser – minha amiga acordou com os cabelos desgrenhados. 

Ela sentou na mesa e lhe passei um café bem forte, Joyce me agradeceu. 

— Bom dia, dindinha! 

— Bom dia, MaFê! Como está a minha lindinha hoje? – Joyce perguntou fazendo cócegas na minha pequena que estava rindo animada. 

— A brincadeira está boa, mas a dona Maria Fernanda precisa terminar o seu café para poder irmos para a escola certo! 

Minha filha tomou seu café rapidamente e saiu para escovar os dentes, deixando Joyce e eu a sós. 

— Parece que a noitada foi boa? – Minha amiga concordou. — E então como está a minha mais nova desempregada? 

— Me sentindo livre da porra daquele emprego, eu tinha que ter ido embora assim como você anos atrás, já estou com um trabalho de garçonete a vista, bem melhor do que passar o dia inteiro limpando por uma ninharia. 

— Não se esqueça que eu fui enxotada. 

Estava com quatro meses de gestação, e não estava me aguentando mais de tanto limpar, meu antigo chefe me fez subir na escada e limpar a vidraça, me senti tonta e cai precisando ir ao hospital, estava apavorada com medo de perder meu bebê, mas graças aos céus, ela sobreviveu, peguei atestado de uma semana e quando acabou os dias voltei só para encontrar o meu chefe com meus dias trabalhados e me dispensando dizendo que não precisava de uma mulher grávida para trabalhar, implorei a ele  dizendo que não poderia ficar sem emprego, mas ele não se importou, apenas me mandou pegar o meu dinheiro e sumir. 

Estava desnorteada sem saber o que fazer, mas quando cheguei no meu curso, o professor Fernando percebeu que eu não estava bem e me ajudou a arrumar um emprego como estagiária na empresa de um conhecido dele, agradeci muito a ele pela oportunidade e o Fernanda da minha filha é em homenagem a ele, meu professor maravilhoso que me ajudou muito a ter fé em mim. 

Conforme eu ia mostrando as minhas habilidades, passei de estagiária a recepcionista e de recepcionista a secretária e quando achei que estava bom pra mim, veio mais uma promoção e cheguei a assistente do presente senhor Diogo Casanova, um homem latino muito bom que infelizmente está com a idade avançada e terá que passar a sua empresa já que seu único filho não quis deixar a Espanha para assumir seu lugar. Ontem fiquei sabendo que a empresa foi vendida e eu estava com medo do que iria acontecer, logo agora que eu coloquei a MaFê no colégio particular. Preciso confiar e acreditar que alguém no céu olha por mim e que as coisas darão certo. 

Joyce me perguntou se havia algo errado e eu disse que não que só estava cansada mesmo, MaFê apareceu animada perguntando se estava na hora de ir para a escola e eu disse que sim, pegamos seu material ela se despediu da dinda e a acomodei na cadeirinha. 

— Mamãe, cê tá ‘preucupada’ com alguma coisa? – Ela perguntou e neguei. — ‘Poque’ cê nunca me fala a verdade? 

— Eu estou te falando a verdade pequena. O que você quer ouvir? 

— Podcast de caso real.  

— Não vai ouvir nada disso bonita! – Ela tentou argumentar, mas fui taxativa. — Você ainda é pequena pra ouvir essas coisas. 

Sinceramente não sei a quem essa menina puxou e quando ela me contou que minha amiga a deixava ouvir essas coisas, decidi que quando chegar em casa terei uma conversinha com Joyce sobre isso. 

Coloquei música da galinha pintadinha e ela ainda estava emburrada, assim que paramos no sinal vermelho eu peguei o saquinho de m&m’s e dei a ela. 

— Você separou as cores mamãe, valeu! 

Outra coisa estranha da minha filha, ela só como m&m’s se as cores estiverem separadas, nunca vi outra criança fazendo isso. Chegamos na porta da escola e a entreguei no portão assim que ela entrou, voltei para o carro e dirigi até meu trabalho, passei na cafeteria que meu chefe gosta e já comprei o seu café preferido, chegando a empresa cumprimentei alguns colegas no meio do caminho e subi para sala presidencial, arrumei o café do senhor Diogo e já confirmei com sua secretária os compromissos que ele teria e o que eu teria que fazer.  Meia hora depois ele subiu nos cumprimentou e interfonou me chamando para a sua sala. 

— Senhor Diogo deseja falar comigo? 

— Sim, Anthonella, por favor. Sente-se. 

Ele estava me olhando sério e eu sabia que era algo referente ao meu trabalho, só espero que não seja demitida. 

 — Anthonella, pode relaxar minha filha, não te chamei aqui para te demitir, ao contrário, te chamei aqui por que vou precisar de um grande favor seu. Como você já deve saber, a empresa foi vendida para o grupo Lancaster. 

— Esse grupo é muito famoso. 

— Sim, e a nossa empresa é uma das melhores do mercado no ramo de telecomunicações, por isso quando eles souberam que eu iria vender entraram em contato comigo imediatamente, parece que o seu novo chefe será Jhonathan Lancaster, o terceiro filho do senhor Lancaster. 

Então quer dizer que atenderei o dono da empresa em pessoa. 

— Ouvi dizer que ele é meio duro com os funcionários, e é difícil parar assistentes com ele, te recomendei como sua assistente pessoal. Então faça jus a minha recomendação. – Senhor Diogo sorriu.

— Obrigada, senhor Diogo, muito obrigada! 

— Não me agradeça, você é muito jovem e esforçada, merece essa oportunidade. Obrigado pelo café. 

Ele fez um sinal me dispensando e sai da sala bem animada, nem acredito que ele realmente me deu essa oportunidade, agora cabe a mim agarrá-la com unhas e dentes, até porque dependo disso para sustentar a minha filha. 

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