Anthonella Fagundes
Estava acertando a agenda pessoal de Jhonathan quando alguém se aproximou da minha mesa. Berenice pigarreou e, quando olhei para ela, fez um gesto me mandando olhar para frente. Assim que levantei o rosto, vi um cara muito bonito que tinha aparência do meu chefe. Será ele um irmão ou parente dele?
— Good Afternoon! – O homem me encarou.
— Good Afternoon, would you like to speak with someone?
— Yes, my brother, Jhonathan Lancaster.
Ele não tem o português perfeito como irmão e acaba misturando as duas línguas. Ainda bem que a empresa nos deu um curso de inglês. Levei-o até a sala do meu chefe e, enquanto caminhava, senti que estava sendo observada por ele, aquilo estava me deixando muito sem graça. Depois que deixei os dois sozinhos, voltei para minha mesa e me sentei.
— Parece que você tem um admirador secreto.
— Estou passando longe de homens, ainda mais no meu caso que tenho a minha filha pequena, meu tempo é totalmente dela.
— Sempre tem um tempinho para o amor, minha querida! – Olhei para ela e balancei a cabeça negando.
Quando os dois saíram da sala, o irmão do meu chefe me encarou de maneira maliciosa, esse olhar eu conhecia bem, recebia muitos desses olhares quando era casada e isso me rendia um problemão.
— Bom querida, parece que vamos sair cedo, hoje. – Berenice disse animada.
— Vou poder ficar um pouco mais com minha filha e quem sabe eu consiga levá-la ao shopping um pouco.
Arrumamos as nossas coisas e fomos para o elevador, assim que ele chegou, Breno, um colega de trabalho, surgiu com algumas pastas.
— Oi, Bere, oi Anthonella, estava indo levar essas pastas para o chefe.
— Ele limpou a agenda e foi embora mais cedo, Breno, me dê aqui que ponho em sua sala. – Peguei as pastas de suas mãos.
Berenice me avisou que iria me esperar e agradeci a ela, coloquei as pastas arrumadas e deixei um bilhete para Jhonathan, tranquei a sua sala e voltei para o elevador encontrando Berenice à minha espera.
— Por que não foi?
— Fiquei te esperando para descermos juntos e aproveitei para fazer companhia a Berenice. – O elevador chegou e entramos, Breno me encarava de maneira estranha e tentei ignorar. — Anthonella, será que um dia podemos sair, tipo assim: como amigos ou…
— Breno, você é um bom amigo, eu gosto muito de você, mas no momento não tenho tempo para sair com ninguém.
Ele me encarou por alguns momentos e abaixou a cabeça, assim que ele saiu, Berenice ficou me falando das oportunidades que eu não deveria deixar escapar e mantive a minha fala de não ter tempo para isso.
Cheguei ao meu carro e liguei para Verinha pedindo a ela que arrumasse a minha filha, porque iria levá-la ao shopping. Assim que desliguei o celular, liguei o carro e fui para casa, chegando lá me arrumei e peguei a minha filha e fomos ao shopping.
— Mamãe, a gente pode ir no cinema? – Ela pede com os olhinhos brilhando.
— Hoje não, nós vamos dar uma volta no shopping e comprar um brinquedo, tá bom?
— E um sorvete, a gente pode chupar?
— Um sorvete sim.
Ela vibrou e sorriu para mim agradecendo abraçando a minha perna. Como prometido, ela tomou sorvete, comprou um brinquedo e tiramos algumas fotos legais para o nosso álbum de lembranças, faço questão de registrar cada momento, pois se um dia eu vier a faltar, minha filha terá as nossas lembranças.
— Se divertiu no passeio, filha?
— Sim sim. Eu gostei muito, a gente pode ‘faze’ isso amanhã?
Expliquei a ela que não é sempre que posso sair cedo, só trabalho, e ela balançou a cabeça entendendo tudo o que eu falava. Compramos comida e quando chegamos, Joyce estava sentada massageando os pés.
— Que fedor de queijo podre é esse? – Brinquei.
— Tenta ficar em pé o dia inteiro atendendo os clientes chatos que só reclamam?
— Eu sei amiga, já se esqueceu que fui garçonete assim que saímos do orfanato.
— Nem me lembre daquele inferno, a gente querendo trabalhar em um fast food famoso e fomos parar no Dolore’s burguer.
— Aquele lugar deveria ser chamado de inferno burguer. – Olhei meu pulso onde havia uma queimadura do meu primeiro dia na chapa.
— An, não lembre dos tempos ruins.
— Eu tento juro. – Ela fez uma careta e eu gargalhei. — Comprei comida, mas deixa eu dar banho em MaFê primeiro.
Depois que dei banho em minha filha, jantamos e ficamos assistindo televisão até que minha pequena deu sinal de sono e a pus na cama, como estava cansada também fui para a cama e dormi.
Na manhã seguinte, me telefonaram avisando que havia um documento que meu chefe deveria assinar com urgência, então imprimi o arquivo e fui para a casa de Jhonathan. Assim que cheguei, fui recepcionada por Beatriz, ela me pediu para esperar enquanto chamava Jhonathan. Estava prestes a me sentar quando Dave apareceu, sei lá de onde, ele me assustou e sorriu.
— Sorry! Não queria te assustar.
— Tudo bem.
— Alguém já disse que você é linda? Seu nome também é. – Olhei para ele confusa. — Perguntei seu nome ao meu irmão, e aí topa uma saidinha, acho que você iria gostar.
Ele deu um sorriso de lado, sabia? Ele é um cretino. Dave se aproximava e eu me afastava, até que a voz do meu chefe ecoou.
Seu irmão parou e Jhonathan percebeu meu desconforto.
— Dave, só sai daqui, antes que eu ligue para Mirtes e tenho certeza que ela não vai gostar de saber que você está dando em cima de mais uma assistente. – Ele bufou e antes de sair, me deu uma piscadela.
— Cretino! – balbuciei.
— Desculpe por isso, Anthonella, meu irmão às vezes passa dos limites, o que veio fazer aqui?
Entreguei o documento a ele e expliquei que ele precisava assinar com urgência. Jhonathan estava com uma camiseta regata e, quando olhei para o seu braço, arregalei os olhos. O universo só pode estar brincando comigo?
— Anthonella! – Jhonathan, estalou os dedos na minha direção e me entregou a pasta. Apenas peguei e saí daquele lugar praticamente correndo.
Quando cheguei no carro, peguei meu celular e liguei para Joy que atendeu no quarto toque.
— O que foi chata?
— Amiga, eu achei o pai da Maria Fernanda e você não vai acreditar quem é.
— Conta logo! O suspense está me matando.
Minha amiga pediu e respirei fundo.
— O pai da MaFê é ninguém menos que o meu chefe.
A linha ficou muda por um bom tempo, e de repente, minha amiga soltou um grito esganiçado.— Porra! Para de gritar no meu ouvido. – Falei com ela enquanto massageava meu ouvido.— Você me taca uma bomba dessas e quer que eu fique como? Como descobriu?Contei a ela que ele estava com uma camiseta regata e vi o escorpião em seu braço e depois disso tudo se esclareceu.— O que você vai fazer, An?— Trabalhar e manter a MaFê mais afastada possível dele, não quero que minha filha sofra uma rejeição ou que queiram arrancá-la de mim.Uma vez eu ouvi uma frase que se aplica muito a esse momento: “O destino é mesmo um filho da puta”. Joy me falou que assim que chegamos em casa tínhamos que conversar e concordei.Trabalhei o dia todo pensativa, deixei algumas papeladas caírem no chão, Jhonathan me encarou quando me viu juntando os documentos.Berenice me ajudou a separar os documentos e me grampeou.— Anthonella, o que está acontecendo com você, mulher? Está mais dispersa do que antes.— Minha
Río de Janeiro, 2015Estava escrevendo a redação da escola quando Joyce e Priscila se jogaram na cama me assustando. — Aí, suas doidas! Vocês me assustaram. – Reclamei com elas. — E o que a senhorita está fazendo de tão importante que estava concentrada? – Priscila tomou o caderno da minha mão e começou a ler. — Que merda é essa que você está escrevendo? Expliquei a elas que era a minha redação da escola e Pri riu de mim me deixando confusa. — Você acha mesmo que antes dos trinta vai estar formada, e vai se casar com um cara legal, olha para onde vivemos An, somos órfãos em breve estaremos por nossa própria conta pare de sonhar amiga, teremos sorte de encontrar um cara que não nos bata. — Priscila deixa a An sonhar, não podemos ser amarguradas igual a você. – Joyce tomou a frente.— Vocês duas chatas, porque não tentam arrumar um cara rico? A gente vai sair daqui e não vamos ter saída.— Temos sim, já combinei com o Marinho e ele vai arrumar vagas pra gente no Dolore’s burguer. E
Río de Janeiro, 2023Meu despertador anunciou a chegada de um novo dia e me levantei rapidamente, fiz o que tinha que fazer e preparei o café para MaFê, fui ao quarto da minha princesa e a chamei que resmungou.— Cinco minutinhos mamãe. – Ela pede virando pro outro lado. — Nem cinco e nem três, vamos dona Maria Fernanda, ou levanta ou vou te atacar com cosquinhas. Minha filha riu e eu sabia que ela queria que eu fizesse cócegas nela, ela gargalhava animadamente e a levei ao banheiro, depois banho estava secando seu cabelo quando a vi olhar fixamente para minha barriga. — Mamãe, que ‘maca’ é essa? — Essa marca aqui? – Apontei e ela assentiu. — Foi por aqui que você saiu. – Ela olhou pra mim curiosa. — Eu que te cortei? — Não meu amor, o médico que fez esse corte pra você sair. – MaFê passou a mão pela cicatriz e depois me abraçou pedindo desculpa. — O que a mamãe sempre fala pra você? — Que eu ‘so’ a luz que ilumina. — Isso mesmo, você é o presente mais lindo que recebi do céu
Rapidamente me aproximei de Jhonathan e expliquei a ele o que estava acontecendo. Ele me ofereceu ajuda, mas recusei, dizendo que daria um jeito. No entanto, ele, como alguém que não aceita um "não" como resposta, pôs a mão em minhas costas e me guiou até o carro, pedindo que eu desse o endereço de onde estava minha filha. Durante todo o trajeto, eu balançava as pernas nervosamente, ansiosa pelo que encontraria. Assim que chegamos, agradeci e saí rapidamente do carro. Bati no portão e Verinha atendeu, com a minha filha no colo, tentando respirar. Rapidamente peguei sua bombinha e fiz os procedimentos necessários. Quando minha filha respirou normalmente, senti o alívio me tomar.— Desculpe mesmo, Anthonella. Eu não sei o que aconteceu. – Verinha parecia preocupada.— Não foi o que ela comeu, era a crise de asma. Lembra das instruções e dos medicamentos que eu deixei pra você? Como você estava nervosa, eu não consegui entender o que era. – Expliquei calmamente, tentando acalmá-la.Ela s
— An, você não vai me cumprimentar? – Priscila sorriu para mim e respirei fundo. — Anthonella não tem nada para falar com você Priscila, vamos An. – Minha amiga puxou o meu braço. — Mamãe, quem é essa moça? – Maria Fernanda perguntou e Priscila a encarou. — Quem é essa menina? – Ela perguntou. — Menininha quantos anos você tem. — Eu tenho assim “ó”. – Ela fez o sinal de quatro com os dedos. Quando minha filha disse a idade que tinha, Priscila me encarou e eu sabia o que ela estava pensando. — Antes que diga alguma coisa ela não é a filha de quem está pensando — Pela as minhas contas, ela é sim filha de Ramón, ele vai adorar isso. — Como Joyce já disse, ela não é a filha do Ramón, agora se nos der licença temos mais o que fazer. Peguei a mão da minha filha e sai de lá, tenho certeza que Priscila vai contar ao Ramón e ele vai ficar com ideias erradas. No caminho de volta para casa, o silêncio no carro era quebrado apenas pelo suave som que Maria Fernanda, que adormecera no ba
Entrei na sala do meu chefe e perguntei o que estava acontecendo e ela praticamente jogou a bandeja em cima de mim. — Já é a segunda vez que eu venho aqui e vejo a bandeja com resto de comida, você como assiste pessoal está fazendo um péssimo serviço, leve isso daqui imediatamente. – Ela falou exatamente como da outra vez. — Camila não…— Você é muito bonzinho com os funcionários Jhonjhon, temos que tratá-los com punhos de ferro já que pagamos o seu salário. Espero que da próxima vez eu não tenha que te ensinar o seu trabalho. Agora pode sair. — Corja de arrogantes do caralho! – Falei baixinho para mim mesma. — O que disse? – Ela perguntou. — Não disse nada, senhorita, com licença. — Acho bom, por que se não estiver satisfeita é só pedir demissão, está cheio de gentinha como você precisando de trabalho. Respirei fundo e contei até dez para não retrucar aquela mulher maluca e sem noção. Antes de sair olhei para meu chefe que nada disse.— Argh! Esses dois filhos da puta se merec
Estacionei no portão de casa e limpei as lágrimas para que minha filha não percebesse que eu estava chorando, entrei em casa e ela estava animada dançando as músicas do mundo Bita e pediu para que eu brincasse com ela, me abaixei ficando a sua altura e expliquei que estava com dor de cabeça, mas que amanhã não ia ter trabalho e eu poderia ficar com ela o dia todo, minha pequena logo se animou e beijei topo de sua cabeça.Joyce percebeu que eu não estava bem e disse que colocaria MaFê para dormir e agradeci a ela, entrei no meu quarto e me joguei na cama com a roupa que estava, me permitir chorar tudo que estava preso em mim, que vergonha passei hoje, por que eu tive que esbarrar com Priscila? Um tempo depois minha amiga entrou trazendo chá de camomila e me fez beber, ela sentou na beirada da cama e me pediu para contar tudo o que havia acontecido e contei todos os detalhes a ela. — Não creio amiga! Que dia de merda você teve hoje e eu estava reclamando que uma criança vomitou no chã
Jhonathan Lancaster Trabalhar no Brasil tem sido um desafio de diversas maneiras, as pessoas aqui são… elas tem uma visão diferente a respeito de tudo, a maneira delas agirem às vezes espalhafatosas, chega ser estranho e olha que o sangue brasileiro também corre em minhas veias. Preciso ter muito mais tato para falar com as pessoas daqui, acho que por isso meu pai me mandou para cá, pois meus irmão seriam processados na primeira oportunidade. Outro desafio é trabalhar com a minha assistente, Anthonella não é uma má funcionária, pelo contrário ela está sempre atenta e disposta a me atender, confesso que às vezes sou muito duro com ela e não sei o motivo. Camila tem sido muito insistente, ela não aceita não como resposta e como os meus pais aprovam a nossa união e por isso resolvi dar mais uma chance para nós, porém não me vejo preso novamente em relacionamento com ela e nem com ninguém para ser exato me sinto feliz com a minha vida de solteiro. Anthonella entrou em minha sala traze