— Que demora é essa? Você é muito incompetente – sua voz era anasalada e irritante.
— Desculpe, senhora. Ele não está atendendo. – Ela franziu o cenho e me encarou.
— Então porque ainda está pregada na cadeira? Se levante e vá falar com ele, agora! Diga que estou aqui.
Ela voltou a bater as unhas na mesa impaciente, me levantei e bati na porta do meu chefe.
— O que foi agora? – Ele perguntou sem olhar para mim.
— Desculpe, senhor. Tem uma moça aí fora querendo falar com o senhor, o nome dela é Camila Olivas.
Sua feição se transformou e ele soltou um longo suspiro e depois olhou para mim e me pediu para chamá-la, avisei a ela que meu chefe iria atendê-la, a mulher sorriu de orelha a orelha e eu reprimi a vontade de revirar os olhos, assim que ela passou eu estava para fechar a porta e ela me chamou novamente.
— Pois não. A senhorita deseja alguma coisa?
— Que faça o seu trabalho direito, leve essa bandeja embora agora. – Que mulher irritante. “Calma, An, pessoas assim você encontra em todo lugar.” Respirei fundo e me virei para ela.
Com um sorriso no rosto peguei a bandeja e sai da sala, Berenice apareceu e quando viu o meu semblante perguntou o que estava acontecendo e eu disse que depois explicaria a ela, peguei a bandeja e fui até a cozinha, esquentei a minha marmita e comi rapidamente, Zeus me free do meu chefe me chamar e eu estar aqui comendo.
Após terminar minha refeição apressada, voltei para a sala de trabalho, onde Berenice me esperava com uma expressão preocupada.
— O que houve, Anthonella? Você parece abalada.
Respirei fundo antes de responder, tentando manter a compostura.
— Uma situação desagradável com uma das visitantes do senhor Jhonathan. Ela não estava satisfeita com o serviço e fez questão de me lembrar disso.
Berenice colocou uma mão reconfortante em meu ombro, demonstrando seu apoio silencioso.
— Sinto muito que tenha que lidar com isso. Algumas pessoas simplesmente não sabem respeitar os outros. Eu a vi sair da sala do senhor Jhonathan, a mulher tem o nariz empinado e um olhar de soberba, credo!
— Exatamente Berenice, horrível o jeito que ela olha para nós como se fôssemos seus serviçais.
Encerramos o assunto e voltamos para as nossas tarefas. Pouco tempo depois, Jhonathan saiu de sua sala com uma expressão séria, chamando minha atenção.
— Anthonella, preciso que você me acompanhe. Temos um compromisso urgente.
Sem questionar, segui meu chefe até o carro, onde fomos em direção a uma reunião fora do escritório. Durante o trajeto, Jhonathan permaneceu em silêncio, o que apenas aumentava minha ansiedade.
Ao chegarmos ao local da reunião, fui encarregada de organizar os documentos necessários enquanto Jhonathan se preparava para o encontro. Acho que algo muito sério está acontecendo aqui, mas não quis saber.
Quando a reunião começou, observei como Jhonathan falava, ele liderava a discussão com confiança e habilidade. Era evidente que ele era um profissional experiente e competente, um líder nato.
Após a conclusão da reunião, voltamos ao escritório e quando deu o horário fomos para casa.
— Amiga, você demorou. – Minha amiga se levantou assim que me viu passar.
— O pneu furou no meio da rua, tive que trocar e depois levar ao borracheiro. – Me joguei no sofá cansada.
— MaFê não parou de perguntar por você. – Varri o local procurando por minha filha — ela está brincando com a filha da Verinha. Você conseguiu resolver a questão sobre a Nanda? Amanhã começa o meu turno e não vou poder ficar com ela à tarde.
Eu sabia que ainda tinha esse problema para resolver, fui buscar minha filha e perguntei à Verinha se ela poderia ficar com minha filha à tarde, ela aceitou e acertamos o valor. Verinha tem três meninas e toma conta da sobrinha, então com isso fico mais tranquila.
— Vou deixar a MaFê com a Verinha. – Contei a minha amiga assim que entramos.
— Por que não pensamos nisso antes? Ela já toma conta de uma menininha mesmo.
— É sobrinha dela. Pelo menos uma coisa a menos, vamos tomar banho porquinha você está suada. – Fiz cócegas na minha filha.
Depois do banho, consegui colocar Maria Fernanda para dormir após contar a história dos três porquinhos, conforme ela me pediu. Ela adora essa história, principalmente quando faço as vozes dos personagens. Após a narrativa, MaFê me fez diversas perguntas e depois de responder todas elas a cobri e ela fechou os olhinhos para dormir.
Ao sair do quarto, encontrei Joyce na sala, que me olhou com curiosidade.
— O que houve? Você parece pensativa.
Respirei fundo antes de responder, deixando escapar um suspiro.
— Cada dia que passa, Maria Fernanda fica mais curiosa e esperta. Às vezes, fico me perguntando como vou lidar com todas as perguntas que ela vai começar a fazer.
Joyce sorriu compreensiva e colocou uma mão amiga em meu ombro.
— Você vai lidar com tudo isso da melhor forma possível, Anthonella. Você é uma mãe incrível e sempre encontra as palavras certas para explicar as coisas para ela.
— Obrigada, amiga e você também é uma boa dinda, tirando a parte que você a deixa ouvir podcast de caso criminal, ela só vai fazer cinco anos não a trate como adolescente.
— Tá bom amiga, é que ela é tão esperta que às vezes esqueço que nossa pequena só tem quatro anos. – Joy se desculpou.
— Nem acredito que ela já vai fazer cinco anos. – Um sorriso formou pelos meus lábios.
— Parece que foi ontem que a vi. An, temos que fazer um festão pra ela. – Minha amiga adora uma festa, não sei como aguenta.
— Vamos com calma, meu salário está todo comprometido, mas vamos ver se conseguimos guardar um dinheiro até dezembro, se não der para fazer uma festa pelo menos vamos levá-la a um parque aquático.
Joyce se animou e disse que iria me ajudar a guardar um dinheirinho para a festa dela. Conversei sobre meu dia com minha amiga e me levantei dizendo que iria tomar um banho e dormir. Espero que o dia de amanhã seja melhor que o de hoje, e que meu chefe dê uma trégua.
Jhonathan Lancaster Nova York, 2018. Estava em minha sala repleto de papéis quando interfonaram da sala do meu pai e me avisaram que ele queria falar comigo. Organizei a minha mesa e fui até ele. — Oi pai, quer falar comigo? – perguntei a ele, que me mandou sentar. — Filho, mês que vem preciso que você vá para o Rio de Janeiro. – Olhei para ele e perguntei por que eu. — Porque você tem mais tato com as pessoas do que os seus irmãos, além de falar bem o português. — Tudo bem, pai. – Respondi apenas e ele sorriu satisfeito. Janeiro chegou e eu estava pronto para ir ao Brasil. Meu pai disse que precisava de conexões com empresas brasileiras e estava me mandando para a conferência. Chegando ao Brasil, cumpri os compromissos que meu pai havia me mandado, e como ia embora no dia seguinte, um amigo que havia feito me chamou para o bar. Estávamos bebendo quando vi uma mulher entrar no bar, ela estava sozinha e triste, sentou, pediu uma bebida e tomou em um único gole e depois pedi
Anthonella Fagundes Estava acertando a agenda pessoal de Jhonathan quando alguém se aproximou da minha mesa. Berenice pigarreou e, quando olhei para ela, fez um gesto me mandando olhar para frente. Assim que levantei o rosto, vi um cara muito bonito que tinha aparência do meu chefe. Será ele um irmão ou parente dele?— Good Afternoon! – O homem me encarou.— Good Afternoon, would you like to speak with someone?— Yes, my brother, Jhonathan Lancaster.Ele não tem o português perfeito como irmão e acaba misturando as duas línguas. Ainda bem que a empresa nos deu um curso de inglês. Levei-o até a sala do meu chefe e, enquanto caminhava, senti que estava sendo observada por ele, aquilo estava me deixando muito sem graça. Depois que deixei os dois sozinhos, voltei para minha mesa e me sentei.— Parece que você tem um admirador secreto.— Estou passando longe de homens, ainda mais no meu caso que tenho a minha filha pequena, meu tempo é totalmente dela.— Sempre tem um tempinho para o amor
A linha ficou muda por um bom tempo, e de repente, minha amiga soltou um grito esganiçado.— Porra! Para de gritar no meu ouvido. – Falei com ela enquanto massageava meu ouvido.— Você me taca uma bomba dessas e quer que eu fique como? Como descobriu?Contei a ela que ele estava com uma camiseta regata e vi o escorpião em seu braço e depois disso tudo se esclareceu.— O que você vai fazer, An?— Trabalhar e manter a MaFê mais afastada possível dele, não quero que minha filha sofra uma rejeição ou que queiram arrancá-la de mim.Uma vez eu ouvi uma frase que se aplica muito a esse momento: “O destino é mesmo um filho da puta”. Joy me falou que assim que chegamos em casa tínhamos que conversar e concordei.Trabalhei o dia todo pensativa, deixei algumas papeladas caírem no chão, Jhonathan me encarou quando me viu juntando os documentos.Berenice me ajudou a separar os documentos e me grampeou.— Anthonella, o que está acontecendo com você, mulher? Está mais dispersa do que antes.— Minha
Río de Janeiro, 2015Estava escrevendo a redação da escola quando Joyce e Priscila se jogaram na cama me assustando. — Aí, suas doidas! Vocês me assustaram. – Reclamei com elas. — E o que a senhorita está fazendo de tão importante que estava concentrada? – Priscila tomou o caderno da minha mão e começou a ler. — Que merda é essa que você está escrevendo? Expliquei a elas que era a minha redação da escola e Pri riu de mim me deixando confusa. — Você acha mesmo que antes dos trinta vai estar formada, e vai se casar com um cara legal, olha para onde vivemos An, somos órfãos em breve estaremos por nossa própria conta pare de sonhar amiga, teremos sorte de encontrar um cara que não nos bata. — Priscila deixa a An sonhar, não podemos ser amarguradas igual a você. – Joyce tomou a frente.— Vocês duas chatas, porque não tentam arrumar um cara rico? A gente vai sair daqui e não vamos ter saída.— Temos sim, já combinei com o Marinho e ele vai arrumar vagas pra gente no Dolore’s burguer. E
Río de Janeiro, 2023Meu despertador anunciou a chegada de um novo dia e me levantei rapidamente, fiz o que tinha que fazer e preparei o café para MaFê, fui ao quarto da minha princesa e a chamei que resmungou.— Cinco minutinhos mamãe. – Ela pede virando pro outro lado. — Nem cinco e nem três, vamos dona Maria Fernanda, ou levanta ou vou te atacar com cosquinhas. Minha filha riu e eu sabia que ela queria que eu fizesse cócegas nela, ela gargalhava animadamente e a levei ao banheiro, depois banho estava secando seu cabelo quando a vi olhar fixamente para minha barriga. — Mamãe, que ‘maca’ é essa? — Essa marca aqui? – Apontei e ela assentiu. — Foi por aqui que você saiu. – Ela olhou pra mim curiosa. — Eu que te cortei? — Não meu amor, o médico que fez esse corte pra você sair. – MaFê passou a mão pela cicatriz e depois me abraçou pedindo desculpa. — O que a mamãe sempre fala pra você? — Que eu ‘so’ a luz que ilumina. — Isso mesmo, você é o presente mais lindo que recebi do céu
Rapidamente me aproximei de Jhonathan e expliquei a ele o que estava acontecendo. Ele me ofereceu ajuda, mas recusei, dizendo que daria um jeito. No entanto, ele, como alguém que não aceita um "não" como resposta, pôs a mão em minhas costas e me guiou até o carro, pedindo que eu desse o endereço de onde estava minha filha. Durante todo o trajeto, eu balançava as pernas nervosamente, ansiosa pelo que encontraria. Assim que chegamos, agradeci e saí rapidamente do carro. Bati no portão e Verinha atendeu, com a minha filha no colo, tentando respirar. Rapidamente peguei sua bombinha e fiz os procedimentos necessários. Quando minha filha respirou normalmente, senti o alívio me tomar.— Desculpe mesmo, Anthonella. Eu não sei o que aconteceu. – Verinha parecia preocupada.— Não foi o que ela comeu, era a crise de asma. Lembra das instruções e dos medicamentos que eu deixei pra você? Como você estava nervosa, eu não consegui entender o que era. – Expliquei calmamente, tentando acalmá-la.Ela s
— An, você não vai me cumprimentar? – Priscila sorriu para mim e respirei fundo. — Anthonella não tem nada para falar com você Priscila, vamos An. – Minha amiga puxou o meu braço. — Mamãe, quem é essa moça? – Maria Fernanda perguntou e Priscila a encarou. — Quem é essa menina? – Ela perguntou. — Menininha quantos anos você tem. — Eu tenho assim “ó”. – Ela fez o sinal de quatro com os dedos. Quando minha filha disse a idade que tinha, Priscila me encarou e eu sabia o que ela estava pensando. — Antes que diga alguma coisa ela não é a filha de quem está pensando — Pela as minhas contas, ela é sim filha de Ramón, ele vai adorar isso. — Como Joyce já disse, ela não é a filha do Ramón, agora se nos der licença temos mais o que fazer. Peguei a mão da minha filha e sai de lá, tenho certeza que Priscila vai contar ao Ramón e ele vai ficar com ideias erradas. No caminho de volta para casa, o silêncio no carro era quebrado apenas pelo suave som que Maria Fernanda, que adormecera no ba
Entrei na sala do meu chefe e perguntei o que estava acontecendo e ela praticamente jogou a bandeja em cima de mim. — Já é a segunda vez que eu venho aqui e vejo a bandeja com resto de comida, você como assiste pessoal está fazendo um péssimo serviço, leve isso daqui imediatamente. – Ela falou exatamente como da outra vez. — Camila não…— Você é muito bonzinho com os funcionários Jhonjhon, temos que tratá-los com punhos de ferro já que pagamos o seu salário. Espero que da próxima vez eu não tenha que te ensinar o seu trabalho. Agora pode sair. — Corja de arrogantes do caralho! – Falei baixinho para mim mesma. — O que disse? – Ela perguntou. — Não disse nada, senhorita, com licença. — Acho bom, por que se não estiver satisfeita é só pedir demissão, está cheio de gentinha como você precisando de trabalho. Respirei fundo e contei até dez para não retrucar aquela mulher maluca e sem noção. Antes de sair olhei para meu chefe que nada disse.— Argh! Esses dois filhos da puta se merec