Rio de Janeiro, Março de 2018.
Acordei com uma dor de cabeça terrível, meus olhos estavam pesados, tentando se habituar à claridade. Encarei o teto desconhecido e me perguntei onde estava. Quase nenhuma lembrança preenchia minha mente, exceto por um lindo par de olhos verdes.Enquanto tentava processar o que aconteceu, ouvi batidas na porta. Uma pessoa desconhecida me entregou o café da manhã, aumentando minha vergonha. Nunca imaginei estar em uma situação assim.Após o desajeitado café da manhã, escapei para o apartamento de minha amiga Joyce, onde estava temporariamente hospedada. Assim que cheguei, vi a preocupação estampada no rosto de Joyce.— Criatura, onde você estava? Te liguei milhares de vezes! – Joyce exclamou assim que me viu.— Ai, Joyce, nem eu sei, amiga. – Respondi, desanimada.— Como assim? – Ela me questionou sobre minha noite, e eu, envergonhada, disse que saí para beber e tentar esquecer dos problemas. Bebi tanto que mal me lembrava do que havia acontecido.A expressão de Joyce se suavizou, mas sua preocupação permaneceu.— Você sabe que a bebida nunca é a melhor solução, né?— Eu sei, mas você sabe do que ando passando e como é a única amiga que sobrou já que Priscilla que se dizia minha amiga me apunhalou pelas costas ficando com meu marido.— Eu nem sei o que te dizer sobre isso, como ela pôde fazer isso? Éramos amigas, saímos do mesmo orfanato juntas e juramos que sempre seríamos amigas.— Acho que a lealdade e a amizade vinham só de nossa parte.— Também acho. – Joyce concordou. — An, vai tomar banho, você está precisando.Antes de ir para o banho, Joyce me perguntou se eu passei a noite com algum cara gostoso, e eu a lembrei que minha memória da noite anterior estava fragmentada.— Não se lembra de nada mesmo, amiga?— A única coisa que me lembro perfeitamente são de belos pares de olhos verdes vívidos e cativantes.— Só você mesmo, amiga. Como eu sempre disse, a melhor decisão que tomei foi não me apaixonar, pelo menos não sofro. Agora, vá logo tomar banho. Vou te preparar um chá para ressaca.Agradeci a Joyce e fui para o banheiro. Um tempo depois, voltei para a sala e encontrei um chá bem quentinho à minha espera. Tomei tudo e me deitei ali mesmo para descansar.Um mês depoisEstava tomando meu habitual café da manhã quando de repente a bile subiu e eu rapidamente precisei correr para o banheiro. Joyce gritou meu nome perguntando se eu precisava de ajuda, e disse que não.— Amiga, tem certeza que não precisa da minha ajuda? – Ela insistiu.— Já estou terminando aqui, por favor, vá terminar o seu café, pois precisamos sair logo. Durante todo o dia, eu passei muito mal, minha barriga se revirava, e eu tentava ao máximo controlar.— Amiga, agiliza essa limpeza, o seu Márcio tá olhando pra gente.— Joyce, estou tentando, mas estou passando muito mal. – Respondi, enquanto lutava contra a náusea.A noite estava me preparando para ir ao curso quando novamente passei mal e minha amiga foi à farmácia. Quando voltou, jogou um pacote em cima de mim.— Vai ao banheiro e só volta com o resultado. – Ordenou.Quando voltei, estava com os quatro testes na mão.— E então, o que deu? – Joyce perguntou, ansiosa.— Não tenho coragem de olhar, amiga...— Nem precisa pedir.Me sentei e ela olhou um a um e depois me encarou.— É amiga, parece que eu vou ser titia. – Ela sorriu e eu fiquei boquiaberta, por que só pode ser do cara do bar.Aquela revelação me atingiu como um raio. Grávida? Não podia ser. A última lembrança que tinha era de uma noite embriagada e confusa. Não havia espaço para uma gravidez nessa equação caótica da minha vida.— Como assim, grávida? Isso não pode estar acontecendo... – murmurei, mais para mim mesma do que para Joyce.Ela me olhou com uma mistura de preocupação e compaixão.— An, respira. Vai ficar tudo bem, eu estou aqui para te apoiar. Eu queria acreditar nisso. Queria poder simplesmente respirar fundo e acreditar que tudo se resolveria por conta própria. Mas a realidade era muito mais assustadora do que qualquer coisa que eu já havia enfrentado.— Mas... E agora? O que eu faço? – perguntei, sentindo o peso do desconhecido se abater sobre mim.Joyce me abraçou, e por um momento, senti-me um pouco mais forte. Mas a incerteza ainda pairava sobre nós, envolvendo-nos em seu manto sombrio.— Primeiro, vamos fazer um teste de sangue para confirmar, certo? – ela sugeriu com serenidade, mas com uma urgência subjacente em sua voz.No dia seguinte fomos à clínica bem cedo e fiz o exame e a enfermeira me avisou que eu só poderia pegar o resultado no dia seguinte.— Droga! Pensei que a gente poderia saber o resultado hoje ainda. – Minha amiga estava fazendo beicinho. — Eu que possivelmente estou grávida de um cara que só lembro dos olhos e… – De repente me lembrei que ele tinha braços fortes e uma tatuagem de escorpião. — O que foi? Ficou muda de repente? – Joyce chamou a minha atenção e eu disse que não era nada demais. — Tem certeza que não é nada demais? – Balancei a cabeça afirmando e ela deu de ombros. Na manhã seguinte minha amiga me acordou animada e me lembrou que hoje era dia de pegar o resultado do teste. — Até parece que é você quem está grávida. — É como se fosse! Agora para de resmungar levanta, se arruma enquanto eu preparo o café, você quer ovos ou mortadela? – Só de ouvir a pergunta de Joyce, senti meu estômago se revirar e precisei correr para o banheiro.Aproveitei, tomei um banho, me arrumei e disse a ela que tomaria só café, Joyce ralhou comigo dizendo que eu deveria comer algo, pois agora tinha um bebê a caminho e eu disse que enquanto não pegasse o resultado clínico, eu não acreditava que estava grávida, ela muito contrariada deu de ombros e ficou calada. Após o café fomos para o ponto e não demorou muito o nosso ônibus chegou, paramos em frente a clínica e peguei meu resultado, minhas mãos estavam trêmulas, então mais uma vez pedi a Joyce que lesse o resultado e quando ela me disse a olhei em choque e pus a mão na barriga. — É real... Eu estou grávida... – sussurrei, me sentindo vulnerável e assustada.Joyce me abraçou novamente, suas palavras de conforto ecoando em meus ouvidos.— Estamos juntas nessa, An. Vamos dar um jeito. E assim, com a força de minha amiga ao meu lado, comecei a aceitar a realidade de minha gravidez e a enfrentar os desafios que estavam por vir.Rio de Janeiro, 2023Desde que me descobri grávida cinco anos se passaram, no dia 17 de Dezembro de 2018, com 3,950, nasceu a luz da minha vida, minha pequena espoletinha Maria Fernanda, apelidada por mim e Joyce de MaFê. Enquanto estava grávida dela passei por muitos percalços e só não me senti sozinha por que em todas vezes a minha amiga estava lá me dando apoio. — Mamãe… Mamãe… você está chorando? – Minha pequena pergunta me encarando com seus lindos olhos verdes vividos. — Mamãe, só estava lembrando de uma coisa especial. – Ela me olhou curiosa. — Vamos pentear esse cabelo princesa? Me levantei e peguei o banquinho, o pote de xuxinhas e escova. Hoje era dia de penteado maluco e sempre nesses dias, precisávamos acordar cedo para arrumar os cabelos cacheados e um pouco indomáveis que ela tem. Minha. Filha tem muitos traços meus como o nariz, o formato da boca, e parece que será de estatura baixa como eu, ah! E a cor também é parecida com a minha, mas o formato do rosto, a cor dos
Após mais um dia cansativo de trabalho, fui para casa completamente cansada e quando cheguei Maria Fernanda estava jogando bola na sala e quanto Joyce falava ao celular animadamente, fui até minha filha peguei sua bola e dei com ela na cabeça de Joyce que protestou. — Aí, doida! O que foi? Não viu que estou no telefone? – Joy, alisou sua cabeça onde eu havia acabado de lhe dar na bolada. — E você, não viu a MaFê jogando bola dentro de casa? O que eu disse para você sobre isso? Ela podia quebrar a televisão que ainda nem terminamos de pagar. — Para de ser chata! A bichinha só estava jogando um pouquinho. Ela não quebrou nada. Decidi que não iria me estressar com as duas, estava cansada e só queria tomar um banho e relaxar um pouco, mas aí minha filha insistiu para que eu a levasse para a praça um pouquinho e depois de ver que ela havia feito a lição de casa, chamei minha amiga para o ir junto, mas ela disse que iria sair com um cara. Minha amiga continua saindo com esses caras aleat
Naquela noite, o sonho com o homem dos olhos verdes atormentou meus pensamentos. Enquanto tomava o chá de camomila, me senti inquieta, tentando desesperadamente lembrar seu rosto. Mas tudo o que vinha à mente eram flashes desconexos, sem uma imagem clara.Meus pensamentos vagaram para o passado, para um tempo em que minha vida era diferente, antes de Maria Fernanda, eu estava quase em depressão pela traição do meu ex marido e da mulher que um dia considerei minha amiga. Decidi tentar distrair minha mente com algo, então peguei meu caderno de desenhos e comecei a rabiscar. Enquanto desenhava, deixava minha mente vagar, me perdendo nos traços e formas que criava. Era uma sensação reconfortante, quase meditativa.Quando finalmente me senti sonolenta o suficiente, voltei para o quarto e me aconcheguei na cama. Fechei os olhos, esperando que o sono me levasse para longe daquelas incertezas.No entanto, mesmo depois de adormecer, o rosto do homem dos olhos verdes ainda rondava meus sonhos,
Cheguei em casa completamente cansada, para o meu alívio Maria Fernanda estava dormindo, me senti até culpada por esse pensamento, mas eu estava cansada demais e minha filha é muito elétrica. Me joguei na cama completamente cansada. — An, o que houve? Por que está com essa cara? Joyce perguntou e contei a ela sobre o meu dia cansativo e estressante, ela ouviu tudo atentamente e depois riu. — Que loucura! Você anda vendo muitos olhos verdes ultimamente. — De tudo que eu te contei, você só ouviu isso? – Perguntei a ela que deu de ombros. — Tem a parte da trombada com o gostosão também. Você não tirou nenhuma casquinha? Encarei minha amiga por um momento e balancei a cabeça em negativa, me levantei, tomei banho e voltei para sala, Joyce estava retirando um prato de macarrão do microondas e disse que estava esquentado para mim, agradeci a ela e comecei a comer. — Come devagar para não engasgar. – Minha amiga pediu. — Estou faminta, eu tinha tanta tarefa para realizar que não conseg
— Que demora é essa? Você é muito incompetente – sua voz era anasalada e irritante. — Desculpe, senhora. Ele não está atendendo. – Ela franziu o cenho e me encarou. — Então porque ainda está pregada na cadeira? Se levante e vá falar com ele, agora! Diga que estou aqui. Ela voltou a bater as unhas na mesa impaciente, me levantei e bati na porta do meu chefe. — O que foi agora? – Ele perguntou sem olhar para mim. — Desculpe, senhor. Tem uma moça aí fora querendo falar com o senhor, o nome dela é Camila Olivas. Sua feição se transformou e ele soltou um longo suspiro e depois olhou para mim e me pediu para chamá-la, avisei a ela que meu chefe iria atendê-la, a mulher sorriu de orelha a orelha e eu reprimi a vontade de revirar os olhos, assim que ela passou eu estava para fechar a porta e ela me chamou novamente. — Pois não. A senhorita deseja alguma coisa? — Que faça o seu trabalho direito, leve essa bandeja embora agora. – Que mulher irritante. “Calma, An, pessoas assim você encon
Jhonathan Lancaster Nova York, 2018. Estava em minha sala repleto de papéis quando interfonaram da sala do meu pai e me avisaram que ele queria falar comigo. Organizei a minha mesa e fui até ele. — Oi pai, quer falar comigo? – perguntei a ele, que me mandou sentar. — Filho, mês que vem preciso que você vá para o Rio de Janeiro. – Olhei para ele e perguntei por que eu. — Porque você tem mais tato com as pessoas do que os seus irmãos, além de falar bem o português. — Tudo bem, pai. – Respondi apenas e ele sorriu satisfeito. Janeiro chegou e eu estava pronto para ir ao Brasil. Meu pai disse que precisava de conexões com empresas brasileiras e estava me mandando para a conferência. Chegando ao Brasil, cumpri os compromissos que meu pai havia me mandado, e como ia embora no dia seguinte, um amigo que havia feito me chamou para o bar. Estávamos bebendo quando vi uma mulher entrar no bar, ela estava sozinha e triste, sentou, pediu uma bebida e tomou em um único gole e depois pedi
Anthonella Fagundes Estava acertando a agenda pessoal de Jhonathan quando alguém se aproximou da minha mesa. Berenice pigarreou e, quando olhei para ela, fez um gesto me mandando olhar para frente. Assim que levantei o rosto, vi um cara muito bonito que tinha aparência do meu chefe. Será ele um irmão ou parente dele?— Good Afternoon! – O homem me encarou.— Good Afternoon, would you like to speak with someone?— Yes, my brother, Jhonathan Lancaster.Ele não tem o português perfeito como irmão e acaba misturando as duas línguas. Ainda bem que a empresa nos deu um curso de inglês. Levei-o até a sala do meu chefe e, enquanto caminhava, senti que estava sendo observada por ele, aquilo estava me deixando muito sem graça. Depois que deixei os dois sozinhos, voltei para minha mesa e me sentei.— Parece que você tem um admirador secreto.— Estou passando longe de homens, ainda mais no meu caso que tenho a minha filha pequena, meu tempo é totalmente dela.— Sempre tem um tempinho para o amor
A linha ficou muda por um bom tempo, e de repente, minha amiga soltou um grito esganiçado.— Porra! Para de gritar no meu ouvido. – Falei com ela enquanto massageava meu ouvido.— Você me taca uma bomba dessas e quer que eu fique como? Como descobriu?Contei a ela que ele estava com uma camiseta regata e vi o escorpião em seu braço e depois disso tudo se esclareceu.— O que você vai fazer, An?— Trabalhar e manter a MaFê mais afastada possível dele, não quero que minha filha sofra uma rejeição ou que queiram arrancá-la de mim.Uma vez eu ouvi uma frase que se aplica muito a esse momento: “O destino é mesmo um filho da puta”. Joy me falou que assim que chegamos em casa tínhamos que conversar e concordei.Trabalhei o dia todo pensativa, deixei algumas papeladas caírem no chão, Jhonathan me encarou quando me viu juntando os documentos.Berenice me ajudou a separar os documentos e me grampeou.— Anthonella, o que está acontecendo com você, mulher? Está mais dispersa do que antes.— Minha