Ana Jully Meireles Olho no espelho pela terceira vez numa ansiedade absurda. Nunca fui vaidosa, entendo muito pouco de maquiagem e moda, e com a correria do dia a dia quase não tenho tempo para isso, mas confesso que sinto vontade de mudar um pouco, talvez minha autoestima melhore.Situações como esta, me deixam um pouco perdida. Nicolas, meu amigo de trabalho, acaba de me enviar uma mensagem dizendo que está a caminho, faz alguns dias que estou revisando sua tese de mestrado, e segundo ele, precisamos discutir o assunto, hoje. Depois que ele e Laura romperam, ficamos mais próximos, e mesmo minha amiga Lili insistindo que é fruto da minha imaginação, às vezes sinto que ele me paquera. Talvez ela esteja certa, Nicolas sempre esteve ocupado com todas as mulheres que se lançam ao seus pés, para me notar. Não posso negar que me sinto muito atraída por ele, afinal se tratando de um homem tão charmoso, fica difícil não ter nenhum tipo de interesse, é do tipo alto, forte, pratica vários esp
Ana MeirelesDepois daquele dia em meu apartamento, ainda tivemos alguns encontros, não sei que tipo de relacionamento temos, mas Liliane insiste em me dizer que encontros apenas a noite e em meu apartamento, sem assumir publicamente, não se trata de nenhum tipo de relacionamento. Eu a ignoro, afinal, ela nunca gostou de Nicolas.Lili e eu, passamos no Café Mix, o nosso preferido, ela paga nossas bebidas, e o atendente nos entrega dois cafés. Se trata de um homem aparentemente tímido por trás de seus belos olhos claros, mas é visível que ele nutre algum interesse por minha amiga, mas nunca entendi o motivo de Liliane fingir não notar, as vezes ele coloca gotas de chocolate em formato de coração no capuccino dela, ou tenta puxar algum assunto que minha amiga ignora, mas já a peguei olhando para ele antes de sair.Já estamos na saída do café seguindo para a redação, eu seguro meu café com uma mão fazendo um esforço enorme para não me queimar enquanto com a outra mão estou conferindo min
AnaPrecisei de alguns minutos no café mix sentada e completamente desolada para me recompor. Aquele atendente, o mesmo que paquera minha amiga, está alí, gentil e simpático com todos os clientes, sempre sorridente e educado. Talvez Liliane esteja errada, nem todos os homens são iguais, apenas não tivemos a sorte de encontrar um que não seja canalha ou que nos use apenas com interesses pessoais ou sexuais.Minha amiga me envia várias mensagens, ela está bastante preocupada, em uma delas, Liliane me avisa que o casal top não estava mais na redação. Então consigo retornar mais tranquila e me esforço para voltar ao trabalho.O dia se arrasta, durante um intervalo, decido fazer algo que já deveria ter feito, crio uma conta no Instagram. A princípio é muito mais fácil do que imaginava, em instantes Liliane já está me mandando mensagem histérica quando descobre, e é a primeira a me seguir. A sigo de volta e logo o algoritmo me sugere várias contas que estão vinculadas a minha amiga e a pri
Ana Enquanto passo pela cidade fico dando voltas a fim de não voltar pra casa, afinal, Nicolas disse que passaria lá. Então sigo por um caminho diferente, quase nunca passo por aqui. Ainda estou refletindo acerca da droga que minha vida se tormou. Trabalho a cinco anos no jornal, sou bem sucedida em minha carreira profissional, mas não tenho muitos amigos, e nem tempo pra fazer novos. Tenho pouco mais de vinte cinco anos, não tenho filhos, nem um relacionamento estável, talvez um cachorro tenha mais vida social do que eu.Já é tarde, confesso que estou exausta, preciso de um bom banho e comer algo. Vejo que há pouco movimento na rua. Está muito frio e me arrependo pela segunda vez por não ter trazido uma blusa mais grossa.Meu carro para de repente.— Droga! Era só o que me faltava.Desço e abraço meu próprio corpo por causa do ar gélido. Na semana passada tive problemas com a parte elétrica, talvez seja o mesmo problema, não pude deixar o carro na oficina, o mecânico me avisou que f
Ana Faz quase duas horas que estou no hospital, sentada na recepção aguardando notícias do homem que me salvou.Liguei para Lili assim que cheguei aqui, a pobrezinha estava desesperada atrás de notícias minha, afinal desapareci o dia todo. Conto a ela parte do que aconteceu e como boa amiga que é, sem pensar duas vezes disse que está a caminho. Não tenho muitos amigos, e Lili é mais que especial.Os médicos me chamam para dar notícias do homem internado, estou angustiada por informações dele. - Senhorita, Ana Meireles.Me levanto para falar com o doutor.- Sim, sou eu.Ele analisa a prancheta em suas mãos e se vira para mim novamente.- Bom, o homem que a polícia trouxe, não tem nome, nem endereço... Não conseguimos nenhum contato de familiar pra avisar sobre a briga. O quadro dele é estável. Fizemos um raio x, todos os exames necessários, ele teve muitas escoriações e... Uma entorse de tornozelo grave. Vai ficar em observação por vinte e quatro horas. Mas o que nos preocupa é sobre
AnaQuando estaciono no meu prédio, vejo que meu convidado, observa cada detalhe. Ajudo-lhe a subir até o elevador, enquanto ele me pergunta:— Você mora aqui há muito tempo?Aperto o botão do 3° andar enquanto respondo:— Há 5 anos.Chegamos e abro meu apartamento, somente agora me lembro sobre o quanto está tudo sujo e bagunçado. Sou a desorganização em pessoa. Tem roupas espalhadas por toda parte e enquanto ele se senta vou recolhendo pelo menos algumas peças, principalmente meu sutiã branco de renda na qual ele acaba de se sentar em cima. Fico vermelha de vergonha, ele sorri como se não se importasse. Porém, eu me importo, e desejo sumir neste momento. Noto também, que há sacos de salgadinhos espalhados, latinhas de refrigerante no canto da sala e meus sapatos próximos do corredor.Bufo.— Me desculpe a bagunça, é que não tenho muito tempo para faxinar a casa.— Tudo bem.Tudo bem nada! Estou morta de vergonha. Procuro um assunto para disfarçar:— Já que você resolveu vir, pode fi
AnaDepois do meu chororô, meu amigo, foi se vestir para comemos nossa pizza, o que é bom, pois estava difícil focar em algo que não fosse seu corpo escultural e nu tão próximo de mim. O que é estranho, não costumo ser tão assanhada.Me recomponho e coloco a mesa para o nosso almoço. Ele chega e percebo que as roupas ficaram perfeitas, uma blusa de gola alta e um jeans básico. São roupas usadas que arrecado para doar todos os anos aos nessecitados, levando em consideração que ele é um morador de rua, não saí da proposta.— As roupas serviram, ficaram ótimas — ele fala animado.Ainda estou analisando a perfeição desse homem. É incrível como ele estava escondido naquela cabeleira toda, parece outra pessoa.— Sim, ficaram, boas!— falo sem conseguir tirar os olhos dele.Nosso olhos se encontram e ele disfarça, mas eu, não consigo desviar. Não se trata somente de atração física, a forma como ele me defendeu ainda não sai da minha cabeça, ele parece ser uma boa pessoa.Fico rubra de vergonh
AnaAcordo cedo e saio bem devagar para não acordar meu hóspede. Na noite de ontem ele chegou tarde, me avisou que precisava sair mas que não iria longe. Fiquei preocupada, pensei várias coisas, mas não perguntei nada. Esse homem é um verdadeiro mistério.Encontro Lili logo na entrada do café, hoje decidimos sentar em uma mesa, temos muita coisa pra conversar. Ela parece ansiosa como sempre fica. Faz tempo que rola uma química entre ela e o rapaz atendente, porém minha amiga é muito orgulhosa pra assumir. Seu término com Bruno foi doloroso, ela quase nunca fala sobre o que houve entre eles. Mas sei que Lili ainda não superou tudo, e acredita naquela famosa frase que diz " que todos os homens são iguais e não prestam".Quando entramos, começo a compreender o motivo de sua aflição, mesmo que Lili tente disfarçar, sei que toda essa inquietação é porque já fizemos nossos pedidos e o rapaz que nos atende todos os dias, ainda não apareceu.— Por que será que ele não está aqui. Logo hoje que